Restos de Colecção: Livraria Mattos Moreira & Irmão

21 de janeiro de 2024

Livraria Mattos Moreira & Irmão

A livraria editora "Mattos Moreira & C.ª ", foi fundada em 1873, na Praça de D. Pedro IV (Rossio), 67  e 68 em Lisboa. Faziam parte da sociedade J. B. Mattos Moreira e Henrique d'Araujo Tavares (tio de Avelino Tavares Cardoso). Esta livraria editora, nesse ano lança o dicionário enciclopédico, em volumes, "Portugal Antigo e Moderno" de Pinho Leal, que foi uma maravilha para a sua época, e que era um repositório ao mesmo tempo geográfico, estatístico, corográfico, heráldico, arqueológico, histórico, biográfico e etimológico. 

"Mattos Moreira & C.ª "


12 de Outubro de 1873

«Teve a obra 1:500 assignantes, de que só 1:000 arcaram até ao fim com a despeza da assignatura. Mas a tiragem era de 5:000 exemplares, o que, multiplicado pelos seus 12 tomos, dá um total de 60:000 grossos volumes, 44:000 dos quaes sem collocação. Logo o capital de um dos socios, réis 9.500$000 réis, foi anullado pelo prejuizo ...». Como vemos, pela sua dimensão, esta obra começou a dar prejuízo e um dos sócios da livraria, Henrique d'Araujo Tavares, foi substituído pelo seu sobrinho Avelino Tavares Cardoso. A nova firma resultante, tomou a nova designação de "Mattos Moreira & Cardosos". Avelino Tavares Cardoso tinha ido muito novo para o Brasil, para o estado do Pará, e lá almejou o sucesso com a sua livraria que tinha fundado e tendo mais tarde se associado com seu irmão.




1875


1876


Não só de livros vivia a "Mattos Moreira & C.ª" ... em 25 de Dezembro de 1878


1880


1881

Inicia a sua direcção na "Mattos Moreira & Cardosos", com o formidável plano de colocar no Brasil o stock de tomos imobilizados do "Portugal Antigo e Moderno", fretando para isso um grande navio para o carregar com os 44.000 volumes. Data daí o grande movimento de exportação do livro português para o Brasil. As duas livrarias dirigidas pelos dois irmãos Tavares Cardoso, um de Lisboa e outro do Pará, tornam-se como embaixadores, ligando os dois povos pelo laço intelectual.

1882


1883


Livro do cozinheiro João da Matta em 3 de Janeiro de 1885

A importância desse movimento reflecte-se de imediato na organização da firma comercial "Mattos Moreira & Cardoso", levando Mattos Moreira a retirar-se da sociedade amigavelmente, em 1884. A firma passa a denominar-se de "Tavares Cardoso & Irmão". Com a morte de Avelino Tavares Cardoso em 19 de Fevereiro de 1896, a firma muda de denominação para "Viuva Tavares Cardoso".


Livraria "Tavares Cardozo & Irmão" e posteriormente "Viuva Tavares Cardoso", no Largo de Camões 5 e 6




1885


"Viúva Tavares Cardoso" (Livraria Editora) e "Mattos Moreira & Irmão" ao fundo


Postal de 1899

«Para erguer a livraria á altura que mantivera no passado, ao desenvolvimento que lhe impunham as modernas exigencias para dirigir a ingrata campanha contra tantos elementos de insuccesso, procurou largo tempo a viuva Tavares Cardoso o homem capaz de similhante commettimento, e encontrou-o enfim n'um dos melhores collaboradores de Avelino Tavares Cardoso, o actual gerente, nosso amigo e correliogionario Gomes de Carvalho.»

Gomes de Carvalho aceitaria a direcção da livraria editora "Viuva Tavares Cardoso" em Novembro de 1903. «Ao aceitar, por dedicação á casa, e accedendo a muitas instancias, a difficil missão, tanto mais espinhosa quanto lamentaveis questões internas o haviam de embaraçar, distrair-lhe a atenção, dividir-lhe a actividade: dirigia proficientemente Gomes de Carvalho a sua casa editora, a acreditada Livraria Central, da rua da Prata, 158 e 160.»



1907



1904

Quanto a Mattos Moreira, a firma inicial "Mattos Moreira & C.ª " já mantinha, desde 1878 uma papelaria, brindes livraria e tipografia na Praça D. Pedro V, 67 esquina com o, então, Largo de Camões, 1 e 2 - mesmo ao lado do antigo "Café Gelo" Em 1884, constitui com o seu irmão a firma "Mattos Moreira & Irmão". No entretanto, no ano anterior de 1883, o escritor Camillo Castello Branco (1825-1890) tinha entregue à firma anterior "Mattos Moreira & Cardoso" a direcção do leilão da sua riquíssima biblioteca.

A "Typogrphia Mattos Moreira", com oficinas na Praça dos Restauradores 15 e 16, publicaria livros até cerca de 1887, altura em que passa à sociedade "Typographia Mattos Moreira & Pinheiro" com oficinas na Rua Jardim do Regedor, 39 e 41. Estaria activa até 1901 altura em que cessa as suas actividades assim como a loja na Praça D. Pedro IV, como veremos a seguir.



15 de Fevereiro de 1890

A papelaria e livraria "Mattos Moreira & Irmão", encerraria definitivamente em 1901, e a sua loja seria ocupada pela espingardaria "Baptista & Ferreira" que ali permaneceria por pouco mais de um ano, já que a loja ao ficar apenas na posse de um dos sócios G. Heitor Ferreira, ficará apenas no nº 3 do Largo de Camões. Viria tornar-se na "Espingardaria Central G.Heitor Ferreira - Sucessor A. Montez", a partir de 1920.

1902


31 de Dezembro de 1902

Entretanto a loja de esquina (Praça D. Pedro IV 66 e 68) ex-"Baptista & Ferreira" tornar-se-ia, primeiramente, numa loja de artigos de utilidade, e mais tarde no luxuoso stand dos automóveis “Cadillac” e “Rolls-Royce”, da firma Castanheira Lima & Rugeroni, Lda”, inaugurado em Junho de 1913. Este mesmo stand seria transformado, em 1931, numa loja da “APT - Anglo Portuguese Telephone”, que incluía cabines telefónicas, tendo sido aproveitados os seus alpendres e decoração exterior.

Antiga "Mattos Moreira & Irmão", já como loja de utilidades


Já como loja da firma Castanheira Lima & Rugeroni, Lda”, comércio de automóveis e acessórios

Quanto à  livraria editora "Viuva Tavares Cardoso" , terá terminado a sua actividade editorial em 1906, já que não encontrei mais livro nenhum (por aqui ...) publicado por esta casa a partir de 1906. Em 2 de Setembro de 1906 no final de um artigo acerca desta casa informava-se ...

Pelo que consegui apurar, o livro "Auto da Natural Invenção" de Antonio Ribeiro Chiado, viria a acabar de ser editado, pela primeira vez, em 10 de Dezembro de 1917, e pela "Livraria Ferreira, Ferreira, Lda. Editores".

Finda a actividade da "Viuva Tavares Cardoso" como editora, continuou como livraria por mais uns anos. No "Almanach Palhares" para 1909 ainda aparecia esta livraria. A partir desse ano não encontrei referência alguma publicitária. O seu espaço viria a ser ocupado, em 1922 pelo "Café La Gare".

1909

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca Nacional Digital

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