Terceiro andar do Palacio Povolide (Atheneu Comercial) onde funcionou a "Companhia Cinematográfica de Portugal", em foto de Maio de 1934
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8 de dezembro de 2024
Companhia Cinematográfica de Portugal
Terceiro andar do Palacio Povolide (Atheneu Comercial) onde funcionou a "Companhia Cinematográfica de Portugal", em foto de Maio de 1934
4 de dezembro de 2024
Salomão Cardoso - Chapéus
A famosa casa de chapéus para senhora "Salomão Cardoso", terá sido inaugurada por volta de 25 de Dezembro de 1912, na Rua Garrett, 25-27, em Lisboa. Era propriedade de Salomão Cardoso, que tinha sido co-proprietário de outra famosa chapelaria de senhora e crianças "Cardoso & Cardoso", igualmente na Rua Garrett, esquina com a Rua do Carmo.
"Salomão Cardoso" à direita na foto
A casa "Cardoso & Cardoso" - conhecida pelo "Cardoso dos Chapéus" - era pertença da firma "Cardoso & Cardoso, Lda." tendo sido constituída em 1907 pelos sócios Salomão Cardoso e Pepe Cardoso, e terá aberto pela primeira vez, o seu estabelecimento na Rua Garrett, 2-6 esquina com a Rua do Carmo, em Lisboa por volta do dia 8 de Novembro de 1908.
Acerca desta casa transcrevo uma nota publicada no jornal "Diário Illustrado" de 8 de Novembro de 1908:
Quem descer o Chiado, ao voltar para a rua do Carmo, refestela, mui naturalmente que sobresahe um variegado sortido de modelos no genero vindos do estranjeiro e todos reveladores d'um fino gosto.
Nao admira que com semelhantes predicados alli concorra a «elite» das nossas damas que no momento buscam fornecer-se de chapéos proprios da estação que começa.
Entre a clientela d'estes ultimos dias teem alli sido vistas a fazer compras as ex.mas sr.a *: Marqueza de Valle Flor, Condessa de S. Lourenco, Condessa de Pinhel e filhas, Condessa d'Almeida, Condessa de Alferrarede, Baroneza da Varzea do Douro, Madame Eduardo Pinto Basto, Madame Joseph Bello, Madame Alboim (Bomtim), Madame Macieira Reis, Madame Hintze Ribeiro, Madame Elisa Barbosa, Madame Chaigruean, Madame Belio, Madame Arrobas. Madame Anjos e lilhas, D. Grabiella e D. Celeste Anjos, etc.»
8 de Novembro de 1908
Com a saída de Salomão Cardoso da sociedade, a loja de chapéus de senhora ficou na posse de Pepe Cardoso e passou a designar-se "P. Cardoso Palace" sob a firma "Pepe Cardoso, Lda.". Por ali ficou até ser substituída por uma loja de roupa feminina e depois em 1942 pela "Secção de Turismo dos Caminhos de Ferro Alemães" seguida da livraria "Ática" inaugurada em 7 de Dezembro de 1946.
Após o encerramento da "P. Cardoso Palace" apareceria em 1938 outra loja de chapéus, de seu nome "Cardoso", na Rua da Prata, 13e e 136. Presumo eu, poder ser do mesmo Pepe Cardoso, ou seu descendente. Repito, presumo eu ...
1938
Quanto à "Salomão Cardoso", veio substituir a loja de bicyclettes "Casa Columbia" da firma "J. de Carvalho & Brandão" que ali estava nos números 25 e 27 da Rua Garrett, desde os finais do século XIX.
15 de Junho de 1901
O jornal "A Capital" em 14 de Julho de 1916, a propósito da "Salomão Cardoso", observava:
«Onde esteve o Amieiro, presentemente em liquidação, foi a Casa de madame Aline Neuville, a grande modista que tão grande fama e renome alcançou. Ao lado fol a Ourivesaria Mourao e é presentemente a Casa de Chapéus de sr. Salomao Cardoso, uma das mais chics da capital e dos que maior clientella poseue na alta roda lisboeta. E com justiça. E' que nem todos os estabelecimentos que se consagrem a este genero de commercio, que tem tanto de interessante como do difficil, pela porção de faculdades excepcionaes que exhige, podem lograr attrahir as criaturas que apreciam n'um chapeu mais do que os veludos, as plumas e as rendas caríssimas mas, esse nao sei que subtil que se chama o bom gosto e que nao se adquire por que nasce com a pessoa. E os chapéus do sr. Salomio Cardoso conseguem lançar em pleno Chiado a nota alegre do sua inexcedivel elegância e da sua original composicão, cheia de novidade e do imprevisto. Lá fóra, nos grandes centros elegantes do estrangeiro, pouco deve haver que exceda em delicadeza de gosto e em perfeicao de acabamento os chapeus que sahem da casa onde outr'ora teve a sua installaçao a ourivesaria que nao logrou ganhar no Chiado profundas raizes.
Como se pode ler na página da revista "Ilustração Portuguesa" de 8 de Dezembro de 1918, e que publico de seguida, a casa "Salomão Cardoso", já funcionava sob a firma "Salomão Cardoso, Sucessor Leite, Limitada".
8 de Dezembro de 1918
A "Salomão Cardoso, Sucessor Leite, Limitada", viria a encerrar uns anos mais tarde para dar lugar à sapataria de luxo "Onix", após remodelação exterior e interior das suas instalações, que ocorreram em 1939. Na sobreloja viria a instalar-se a loja de modas de luxo, "Dior".
Futura loja "Onix" em obras em foto de 9 de Abril de 1939
12 de Outubro de 1939
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Nacional da Torre do Tombo
1 de dezembro de 2024
"Olimpia Club" em Lisboa
O Salão “Olympia”, situado na Rua dos Condes, em Lisboa, foi inaugurado a 22 de Abril de 1911, na Rua dos Condes, em Lisboa. Propriedade da “Empreza do Olympia, Limitada” de Leopoldo e Henrique O'Donell, Júlio Petra Viana e Victor Alves da Cunha Rosa, - os mesmos que viriam a fundar o “Salão Lisboa”, e inaugurado em 20 de Novembro de 1915 - o Salão “Olympia” tinha cabina de projecção de filmes isolada da sala de espectáculos, salões para concertos, gabinete de leitura e restaurante, etc ... tornando «esta casa de espectáculos como a primeira da capital.»
Desde início que este Salão oferecia um serviço de "bufete" com «esmerado serviço», mas não passou disso mesmo até 1 de Junho de 1924, dia em que Leopoldo O'Donnell inaugura o novo "Bufete Olimpia" anunciado na seguinte notícia:
De ora ávante todos os espectadores do Olimpia poderão aproveitar-se dum beneficio interessante que lhes permitirá sem sairem do edificio, tomar qualquer refeição por preços convidativos.
O novo bufete Olimpia tem o seu serviço organizado para o fornecimento diario de almoços, chás, jantares e ceias, estando a sua direção a cargo de Camilo Fernandes.
Durante as refeições haverá sempre concerto musical por um grupo de distintos artistas.»
Este novo «bufete» que virou «restaurant», e que funcionava no 1º andar do edifício do Salão "Olimpia", terá sido o embrião para o aparecimento, dois anos depois, do "Olimpia Club", cujo primeiro anúncio a que tive acesso publico de seguida, e que data de 6 de Fevereiro de 1929, por altura do Carnaval.
Primeiro anúncio que tive acesso ao "Olimpia Club", de 6 de Fevereiro de 1929
Como «casa de jogo» presume-se que já funcionaria desde 1918, a fazer fé na seguinte passagem, que transcrevo, do "Diario da Câmara dos Deputados" da sessão de 25 de Fevereiro de 1920, na página 7:
Eu vou ler à Câmara.
O Sr. Eduardo de Souza (interrompendo): - Peço a V. Ex,a que leia primeiramente os nomes das casas de jogo que pagaram.
O Orador (lendo): - Clube Vila Garcia, Pedrouços, 100$; Palácio da Regaleira, rã, 1.500$; Sporting Clube de Lisboa, 1.000$; Clube dos Restauradores, (Ma-xime), 4.0000-; Clube dos Patos, 1.000$; Grémio Português (Redondo), 800$; Clube Nacional, 1.000$; Palace Clube, 3.000$; Clube da Restauração, 200$; Clube a Fita, 200$; Recreativo Popular, 200$; Clube Internacional, 800$; Rossio Clube, 1:000$; Bristol Clube, 1.000$; Majestic Clube, 3.000$; Índia Clube, 200$; Clube da Forra, 200$; Olímpia Clube, 200$; Petit Foz, 200$; Palais Royal, 300$; Moulin Rouge, 200$; Clube Montanha, 200$; Academia Recreativa Estrela Polar, 200$; Clube Recreativo Internacional, 200$; Clube Recreativo do Monte, 200$; Rato Clube, 200$: Clube dos Bebianos, 200$; Clube Recreativo, 200$; Clube dos Quatro, 200$; Recreativo Aliança, 200$; Beato Clube, 200$: Clube 31 de Janeiro, 200$; Clube Recreativo 5 de Outubro, 200$; Clube Luso-Breme, 200$; Ritz-Club, 1.500$. »
Penso que seria uma sala dedicada exclusivamente a jogo, como era costume na época, não tendo espectáculos nem jazz-band. Neste tipo de salas os jogos mais concorridos eram a roleta, o bacarat e a banca francesa, todos jogos de azar proibidos. Mas também se jogava bilhar, mah-jong, king, e bridge. A partir de 1929 (deduzo eu) terá se transformado exclusivamente em cabaret, com jazz-band privativa, ou convidada, e, como já referi, passa a denominar-se "Olimpia Club".
1929
Acerca dos clubs nocturnos, aqui fica um artigo da autoria de Félix Correia, publicado no jornal "Diario de Lisbôa", em 13 de Julho de 1927.
(clicar para ampliar)
Nesta altura reinavam o "Alhambra", no "Parque Mayer", o "Bal-Tabarin Montanha" na Rua da Glória, o "Avenida Palace Club" no Palácio Lima Mayer, "Monumental Club" (ex-"Majestic Club") na Rua Eugénio dos Santos, o "Palace Dancing" (ex-"Ritz Club") e o "Maxim's" ambos no Palácio Foz.
Foi nesta sala que o famoso guitarrista Armandinho (1891-1946), fez a sua estreia como guitarrista profissional, acompanhado à viola por João da Mata Gonçalves. Continuaria a manter em simultâneo com outros trabalhos como sapateiro, operário da "Companhia Nacional de Fósforos", servente do "Casão Militar" ou fiscal do "Mercado da Ribeira".
O "Olimpia Club" esteve presente no desenvolvimento do jazz em Portugal ao ter estreado, em 12 de Março de 1930, a jazz-band cubana "The Ibero American Syncopators", liderada por Santiago Sanches, e composta por nove músicos, a maioria dos quais negros. A sua contratação para o "Olímpia Club" entre 12 e 28 de Março foi resultado do grande sucesso que alcançara no decurso d o evento «Semana Portuguesa» na "Exposição Ibero-Americana" realizada em Sevilha entre Maio de 1929 e Junho de 1930, onde actuara no restaurante "Plantación". Também deu espectáculo o bailarino Elias Pierre, anunciado na imprensa como «o rei do charleston e do black-bottom». Aqui deu, aliás, lições grátis, tendo ensinado «a dançar todas as damas e cavalheiros em 10 segundos o black bottom».
Também em Março de 1930, apresentou-se no "Olímpia Club" a orquestra do pianista António Roman Navarro. Além desta, passaram por esta sala a "Orquestra Abel Rezende", que se estreou no Salão "Olímpia" em 1927 e que aqui atuou regularmente durante mais de 14 anos, assim como, nos anos 50 do século XX, a "Orquestra Royal Jazz", com o violinista Rosário, o cantor Abreu Moreira e "Os Magos do Ritmo".
1940
«Mais importante nesta década foi a presença do conjunto de Domingos Vilaça, músico que aqui atuava em Fevereiro de 1954 e cujo prestígio como instrumentista era já tão significativo na época que a direção do Olímpia Club chegou mesmo a publicar anúncios na imprensa para realçar a sua contratação. Justamente distinguido, Vilaça foi um dos pioneiros no jazz em Portugal, tendo gravado nos anos 50, para a editora Alvorada, os primeiros dois discos deste género musical realizados por músicos portugueses» in: "Roteiro do jazz na Lisboa dos anos 20-30" de João Moreira dos Santos (2012).
27 de Fevereiro de 1954
Após uns tempos encerrado, reabriria em 4 de Dezembro de 1958. O jornal "Diario de Lisbôa" assinalaria o evento com o seguinte artigo:
«O «Olympia Clube» - o popular «Sempre em Festa» - que sempre beneficiou da circunstancia de ser considerado o ponto de reunião favorito das mais diferentes camadas sociais, reabre, esta noite, integrado nas suas tradições, mas com um programa de inciativas cuidadosamente estudadas, que vão merecer os mais vivos aplausos do publico e lhe asseguram vir a ocupar condignamente o lugar a que se propõe entre os mais selectos «dancings» da capital. Agora sob a direcção técnica e artística do sr. António Martins, ex-chefe do grande Casino de Espinho, que sempre soube corresponder as crescentes exigências de diversão impostas pelas novas concepções de espírito moderno, o «Olympia Clube» assinala: a partir de hoje. o começo de uma actividade que visa proporcionar melhores horas de conforto e de convívio alegre aos que vivem sob a intensa fadiga de terem de suportar os mesmos hábitos nocturnos há muito estagnados no mais absoluto marasmo. E' contra esse espírito rotineiro, em que o «Olympia Clube» sempre viveu, que o sr. 'António Martins decidiu reagir, com a certeza de que o seu esforço será amplamente recompensado pela presença não só dos mais selectos sectores sociais, mas também para todos aqueles que se deslocam da Província ou se encontrem de passagem em Lisboa. Além destes motivos, já de si suficientes para darem foros de grande acontecimento á reabertura do «Sempre em Festa», concorrem, ainda. para o justificar a circunstancia da nova gerência caprichar em apresentar um notável serviço de «bar» e de restaurante e de ter contratado um esplêndido conjunto de artistas de «music-hall», entre os quais se destaca a actuação, pela primeira vez: em Portugal, de Margarita Ruiz, famosa vedeta de baile, e Paquita Fortes, admirável intérprete da canção moderna. Do elenco fazem parte, ainda. a extraordinária parelha coreográfica «Adoracion y Jose Luis» e outras brilhantes atraccões, além da reputada Orquestra Almeida Cruz, com o seu cantor Fernando de Oliveira. (Adultos - Maiores 17 anos).»
Mas foi «Sol de pouca dura», o "Olimpia Clube", explorado pela "Empresa António Martins", encerraria em definitivo no Carnaval de 1959. Nestes anos «reinavam» o "Tágide", "Maxime" "Ritz Club", "Negresco", "Bico Dourado", "Nina", "Príncipe Negro", "Pasapoga", etc. Outras casas, outras espanholas ...
9 de Fevereiro de 1959
"Olimpia" em foto de 1960
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Casa Comum, Publisite