Restos de Colecção

28 de março de 2023

Elysio Santos & C.ª, Lda.

A casa de fabrico e venda de mobiliário, estofos, e afins "Elysio Santos & C.ª , Lda.", foi fundada em 1880 por Elysio Santos, na Rua Augusta, 83-93, em Lisboa. Nessas instalações tinha estado, anteriormente, uma loja de mercador de Antonio Germano de Carvalho Ferreira, «estabelecimento modesto, absolutamente afastado de toda a intuição do gosto moderno mas que, mesmo assim, fez a prosperidade e independencia do seu proprietario.»



Elysio Santos

1887


4 de Dezembro de 1891

As suas instalações ocupavam quase todo o prédio, comunicando com vastas dependências que faziam o prolongamento para a Rua do Arco do Bandeira, para onde também fazia frente. Com o evoluir dos negócios, viria a abrir a sua fábrica designada por "Grande Marcenaria Moderna".


3 de Dezembro de 1938



Mesmo do outro lado da Rua Augusta, a partir de 1904 ...


15 de Março de 1905


26 de Novembro de 1909

A "Grande Marcenaria Moderna", foi fundada por Elysio Santos associado com Manuel Filipe Silva Junior em 1906, na Rua de S. Lázaro, 80 em Lisboa representando «pelo desenvolvimento com que foi estabelecida, uma iniciativa louvavel, como poucas, infelizmente, se revelam em nosso país, onde os capitaes procuram de preferencia o comodo juro da agiotagem, desde os bilhetes do tesouro publico, até á casa de prego, onde a miseria vae deixar as ultimas migalhas do seu pão negro.»


Edifício da "Grande Marcenaria Moderna" na R. de São Lázaro

Manuel Junior era um artista de reconhecido mérito na arte de entalhar madeira, tendo sido discípulo dum famoso entalhador Leandro Braga, cuja influência do seu talento artístico deixou marcas indeléveis na marcenaria portuguesa. Além de seu discípulo, Manuel Junior tinha frequentado a "Academia de Belas-Artes" de Lisboa. 

Manuel Filipe Silva Junior

Pelo excerto do "Almanach Commercial de Lisboa" editado em 1885, Manuel Junior seria filho de José Martins Franco Junior, que tinha fundado em 1867 uma marcenaria na mesma Rua de S. Lázaro, mas no nº 142.

1885

"Grande Marcenaria Moderna", seria destruída por um incêndio em 1911, mas em Agosto de 1912 ... «acha-se ao presente completamente restaurada e com todos os maquinismos mais modernos da sua industria, cabalmente montados e funcionando nas oficinas como as nossas gravuras mostram.»  As gravuras a que o texto se referia, são as fotografias que publico do seu interior.

Em 20 de Agosto de 1912

«Com tão boa escola o sr. Filipe da Silva Junior possue habilitações pouco vulgares para o logar que desempanha de director artistico e tecnico na Grande Marcenaria Moderna, não admirando, por isso, que n'esta importante fabrica se produzam moveis como os que tivemos ocasião de examinar, na nossa visita.

Desde o mobiliario mais suntuoso ao mais modesto ali se encontra; aquele no regoroso desenho dos diferentes estilos Luis XIV, Luis XVI, Renascensa, etc., estes na elegancia de sua simplicidade, e todos num acabamento de irrepreensivel perfeição. (...)

Uma potente maquina motora transmite movimento ás serras sem fim e de recorte, ás maquinas de aplainar, de moldar, de furar e respigar, de faciar e de tornear.

Todo este trabalho mecanico garante, além de precisão matematica, a economia da mão de obra, e destas vantagens participa o publico que se fornece na Grande Marcenaria Moderna.


Um pessoal constante de 100 operarios permite a rapida execução dos trabalhos, não só de mobiliario em todos os estilos, mas de capelas, imagens, fogões, tétos, lambris, molduras, escadas, portões, moldes para fundição, armações para estabelecimentos, etc.» citações in: revista "Occidente", Agosto 1916.


1 de Julho de 1905


1912


4 de Maio de 1914

Não sei em que ano terá encerrado definitivamente, mas pelos anúncios publicitários, publicados no "Século Ilustrado" em 3 de Dezembro de 1938, depreendo que, nesta altura, já só mantinha a loja na Rua do Arco do Bandeira, 38 comercializando apenas veludos, damascos, tapeçarias, carpetes, passadeiras, tapetes, pérgamoide, camurcinas, lonas, etc ...



3 de Dezembro de 1938


Actualmente nas instalações da antiga "Grande Marcenaria Moderna" estão as "Carpintarias de São Lázaro" 

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian

11 de março de 2023

Antigamente (171)

 

"Casino Beira-Ria" em Ílhavo (Aveiro)


Reservatórios de combustíveis da "Shell" na "outra banda"


Antigo lago no "Parque Eduardo VII" em Lisboa


"Tarzan Taborda" (1935-2005)


Instalações da "Cinzano Portugal, S.A.R.L." na Avenida Infante D. Henrique em Lisboa

fotos in: Hemeroteca DigitalBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdios Horácio Novais, Mário Novais e Abreu Nunes)

5 de março de 2023

Galerias Ritz e Snack-Bar Monumental

Quando em 24 de Novembro de 1959 foi inaugurado o "Hotel Ritz", em Lisboa e projectado pelo arquitecto Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957), o seu complexo não incluía, ainda, as "Galerias Ritz", apesar de ser uma das hipóteses para aquele espaço esquina da Rua Castilho com a Avenida Joaquim António de Aguiar.


"Hotel Ritz" em 1959, ano da sua inauguração, ainda sem as "Galerias Ritz"

As "Galerias Ritz", projectadas por Leonardo Castro Freire (1917-1970) - discípulo de Pardal Monteiro que falecera durante a construção do hotel - foram finalizadas em 1964 e não tinham qualquer ligação interna ao hotel - «edifício num podium inacessível, apenas quebrado pelas entradas pontuais para os espaços de restauração ou exposições.». A sua construção ficou a cargo da firma "Diamantino F. Tojal, Sucessores, Lda.".



Fases de construção das "Galerias Ritz"


"Galerias Ritz" concluídas em 1964

Entre a garagem do Hotel e o espaço das lojas nas "Galerias Ritz", instalou-se o famoso e muito frequentado "Snack-Bar Monumental", promovido pelo industrial hoteleiro Amadeu Dias, e inaugurado em 19 de Maio de 1969. Lembro que Amadeu Dias já explorava os três bares do "Cinema-Teatro Monumental" e o "Café Monumental", inaugurado em 17 de Setembro de 1955 no mesmo edifício do cinema-teatro. O projecto de decoração e arquitectura deste espaço foi do arquitecto, pintor, escultor e designer, Luís Ralha (1935-2008).



18 de Maio de 1969


Com os seus três pisos, oferecia balcões corridos à semelhança do snack-bar "Galeto" - inaugurado em 30 de Julho de 1966 na Avenida da República, em Lisboa - e que, ao contrário do hotel, não era um equipamento de luxo. A mencionar: "Bife à Robin dos Bosques", os gelados e as pizzas que também ali eram servidas e pouco usuais nos distantes anos 70 do século XX. Lembro-me que a sua inauguração foi um acontecimento lisboeta e nos meses seguintes, nos finais de semana, formavam-se filas à porta para almoçar ou lanchar.


Viria a encerrar, não sei em que ano, e por sua vez as "Galerias Ritz" entraram em decadência e o seu espaço foi abandonado e encerrado por alguns anos.

Em 2019, foram iniciadas obras de demolição e requalificação das antigas "Galerias Ritz", a cargo da construtora "Alves Ribeiro, S.A.", e projectadas por "RRJ Arquitectos", entretanto já terminadas. Com 15 milhões de euros de investimento depois, os míticos espaços comerciais, deram lugar a um novo local de escritórios de luxo "Castilho 77 Offices" e no lugar do antigo "Snack-Bar Monumental" o restaurante japonês de sushi "Kabuki", inaugurado em 2021 e pertença do "Grupo Kabubki". Ao mesmo tempo a área de estacionamento automóvel interior foi aumentada.


"Castilho 77 Offices", via Google Maps





Restaurante sushi "Kabuki", nas antigas instalações do "Snack-Bar Monumental"


fotos in: Hemeroteca DigitalBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Grupo Kabuki

27 de fevereiro de 2023

Fábricas Vulcano e Collares

Pretendia fazer uma única resenha histórica sobre a empresa "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L.", criada em 1963, a partir da empresa "Alfredo Alves & C.ª (Filhos)" na Amadora. Por sua vez esta fábrica tinha incorporado a empresa "Fábricas Vulcano & Collares" em 1945, e esta resultado da união das duas metalúrgicas "Fábrica Vulcano" e a "Fábrica Collares". Para informar da história da "Cometna" em condições,  num único artigo resultaria longo e fastidioso. A solução foi, dividir a história em duas partes, com títulos diferentes, a serem publicadas em dois meses seguidos.  Assim o artigo intitulado: "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L." será publicado no próximo mês de Março. 

* Fabrica Collares * 

A "Fábrica José Pedro Collares", foi fundada em 1809 por José Pedro Collares, na Rua Augusta, 160 em Lisboa, como serralharia e caldeiraria de cobre, com apenas sete operários. Em 1842, já com mais de trinta operários, e já sob a firma "José Pedro Collares & Filhos" muda as instalações para um estaleiro com frente para o Largo Conde Barão (na zona da Boa-Vista) reunindo oficinas, escritórios, armazéns, loja de vendas e sua habitação, «talvez o maior estabelecimento deste genero no nosso paiz». Este estaleiro tinha sido aforado, por escritura de 15 de Novembro de 1800, pela Direcção do Senado da Câmara Municipal de Lisboa, pela quantia de 100$375 réis, quando era ainda Marinha da Boa-Vista.

Antigo edifício de loja e escritórios da "José Pedro Collares  & Filhos" no Largo do Conde Barão

Em 1845 seu filho, José Pedro Collares Junior, que começou a trabalhar com 10 anos na oficina de seu pai,  aos 25 anos assume a direcção da fábrica.

As outras fábricas, concorrentes e vizinhas, eram muito mais recentes, tendo sido fundada a "Fabrica Vulcano" em 1843 e a "Phenix" em 1844. Mas a própria Collares só na década de 40 do século XIX arrancou para uma fase de crescimento  industrial, coincidindo com a passagem da administração para José Pedro Colares Júnior.

1853

Foi nas fábricas Collares e Phenix que se iniciou, respectivamente em 1842 e 1845, o fabrico de máquinas de vapor em Portugal. 

Em  1845,  José  Pedro  Collares dá  sociedade  aos  seus  dois  filhos  mais  velhos, confiando  a  direcção  do  estabelecimento  ao  filho  mais  velho  e  ao  segundo  a direcção das máquinas a vapor. Para esta sociedade entra, em 1848, o terceiro filho e a firma passa a designar-se como "José Pedro Collares Junior & Irmãos". Em 1851 junta-se ao grupo, o quarto irmão,  António Pedro Collares e a firma passa a denominar-se "José Pedro Collares Junior & Irmãos",empregando 120 operários.

Em  1854  a  fábrica  é destruídapor  um  incêndio,  e  é  reconstruída  dois  anos  mais tarde,  graças  ao  esforço  financeiro  dos  vários  empresários  e  do  apoio  do  governo.

No  início  do  mês  de  Dezembro  de  1856  o  estabelecimento  fabril,  reedificado  no Largo de Conde Barão, abriu as suas portas e foi visitado por inúmerosempresários do ramo ou meros curiosos que ficavam extasiados perante:“o magnifico espectáculo (que era) ver um edifício de três pavimentos, onde em todos parece  estar  o  moto  continuo,  desde  o  tecto  até  ao  chão;  e  os  efeitos  daquele incansável  rodar,  a  aparecerem  completamente,  acabados,  completos,  milagrosos!” 

Em 1849, a "Fábrica Jose Pedro Collares & Filhos" já empregava mais de 60 operários.


Artigo sobre a "Fabrica Collares"

Em Setembro de 1849 acontece a primeira greve em Portugal, e em Lisboa, envolvendo quatro fábricas. Os operários das fábricas Collares, Phenix, Vulcano e João Bachelay, todas elas situadas na zona industrial localizada entre o Tejo, a Rua da Boa-Vista e o Largo do Conde Barão, fizeram greve em luta contra … o serão. Naqueles tempos, o horário de trabalho compreendia um serão no Outono e Inverno, quando os dias eram mais curtos. Os operários exigiam trabalhar apenas de sol a sol, todo ano, sem diminuição de salário pelo facto de não trabalharem ao serão. Ter-se-ão verificado anteriores conflitos laborais mas a primeira greve, tecnicamente merecedora desse nome, foi esta de 1849.


Em 31 de Dezembro de 1851 a firma "Fábrica José Pedro Collares & Filhos" é dissolvida:

«E tendo os outros tres socios, e mais seu Irmão Antonio Pedro Collares, tambem abaixo assignado, por Escriptura publica comprado a seu antigo socio, e Pae, todo o seu Estabelecimento fabril, reorganizaram entre si uma nova Sociedade, para principiar na data de hoje, a qual prosseguindo com o mesmo ramo de commercio, girará debaixo da firma de - José Pedro Collares Junior & Irmãos. (...)
O Escriptorio da nova Sociedade continua a ser no mesmo Estabelecimento do Largo do Conde Barão nº 3 A, e bem assim a Loja da rua Augusta nº 160, a fazer parte do mesmo. (...) - José Pedro Collares, José Pedro Collares Junior, João Pedro Collares, Thomaz Pedro Collares, Antonio Pedro Collares» in: Revista Universal Lisbonense 


No jornal "O Commercio do Porto" em 1857

Em  1854  a  fábrica "José Pedro Collares Junior & Irmãos", que já contava com 140 operários é destruída por  um  incêndio,  mas  seria  reconstruída  dois  anos  mais tarde,  graças  ao  esforço  financeiro  dos  vários  empresários  e  do  apoio  do  governo.

No  início  do  mês  de  Dezembro  de  1856  o  estabelecimento  fabril,  reedificado  no Largo de Conde Barão, abriu as suas portas e foi visitado por inúmeros empresários do ramo ou meros curiosos que ficavam extasiados perante «o magnifico espectáculo (que era) ver um edifício de três pavimentos, onde em todos parece  estar  o  moto  continuo,  desde  o  tecto  até  ao  chão;  e  os  efeitos  daquele incansável  rodar,  a  aparecerem  completamente,  acabados,  completos,  milagrosos!» 

Em 1863 cerca de 230, em 1881 perto de 250 operários e aprendizes, sempre sob a gerência de José Pedro Collares Junior, que dizia-se o iniciador em Portugal da indústria de construção de máquinas. Nas oficinas da Boa-Vista fabricavam-se muitas outras obras em ferro fundido e forjado, cobre e outros metais, tais como máquinas de destilação, tornos para tornear metais e madeiras, prensas, calandras, rodas hidráulicas, bombas de rega e incêndio, moinhos e máquinas diversas para a agricultura, charruas e  ferramentas, grades para habitações e jardins, fogões de cozinha e de sala, camas, tubos de chumbo condutores de gás, etc. A grande maioria destes produtos eram fabricados por encomenda. As fábricas Collares e Phenix (e talvez a Vulcano) dispunham já em 1849 de máquinas de vapor que moviam diferentes máquinas de trabalhar os metais.

Em  1858,  João  Pedro Collares  e  António  Pedro Collares  desligam-se  amigavelmente  da  Sociedade, que ficou  a  pertencer  apenas  aos  dois outros irmãos. No  ano seguinte,  venderam  a fábrica  à "Companhia  Perseverança", que fora fundada e organizada por José Pedro Collares, recebendo o valor da venda em acções da companhia, e transforma-se em sociedade anónima de responsabilidade limitada. Em 1870, esta Companhia que já alcançara uma prosperidade evidente, pedia a patente de invenção para todas as prensas que, em breve se tornariam muito conhecidas em todo o país.


Em 1881, a empresa, agora com 240 operários, atravessou uma crise por ter investido dinheiro na compra de matéria‑prima para a produção de tubos destinados à iluminação a gás de Lisboa, projecto que foi  abandonado. O Governo tinha decidido autorizar a "Companhia Lisbonense de Illuminação a Gaz" (fundada em 1943) a importar, livre de direitos, tudo o que necessitasse. Disso mesmo se queixou José Pedro Colares Júnior, referindo que o percalço quase custara a vida da empresa.

Stand da "Companhia Perseverança" na "Exposição Industrial de Lisboa" em Junho de 1888

Em 4 de Novembro de 1889, Frederico Collares, - filho de Thomaz Collares e sobrinho de José Pedro Collares Junior - alegando ser possuidor da totalidade das acções da "Companhia Perseverança", pediu a sua extinção, tendo-lhe sido concedida. Em resultado disso, é constituída a firma "Frederico Collares & C.ª" cujos sócios são Frederico Collares e João Collares Pereira.


Tabuleta da "Frederico Collares & C.ª" (à direita na foto)

Em 13 de Dezembro de 1890, João Collares Pereira efetiva promessa de venda da "Fabrica Collares" ao Dr. Custodio Moniz Galvão, que em 29 de Março de 1900 constitui, com Augusto José Xavier, a firma "Moniz Galvão & C.ª". Esta empresa manter-se-ia em funcionamento até à sua união com a "Fabrica Vulcano", em 1915.

10 de Maio de 1896


"Fabricas Vulcano e Collares" na capa da revista "Industria Portuguesa" da AIP

As oficinas são transferidas para o Boqueirão  do  Duro,  ao  mesmo  tempo  que  são  introduzidas  algumas  inovações: a fábrica é electrificada e a soldadura passa a ser a electricidade e a autogéneo. O número total de operários era cerca de 200, tendo, diminuído um pouco em relação a 1890.

* Fábrica Vulcano *

A "Fabrica Vulcano - Fundição de Ferro e Serralharia", foi fundada em 1843, por Jacinto Dias Damásio, no Boqueirão do Duro (ao Conde Barão), na zona da Boa-Vista em Lisboa, e actuava nos mesmos segmentos de mercado da "Fábrica José Pedro Collares & Filhos", sendo sua vizinha. 

A "Fabrica Vulcano" foi estabelecida nos terrenos do Estaleiro do Boqueirão do Duro, comprado em 1837 por António Lamas, ao conselheiro Miguel José Martins Dantas, que o venderia a António Rodrigues Tarujo.


Instalações da "Fabrica Vulcano"


O sucesso desta unidade fabril motiva Henry Peters a comprar a "Fábrica Vulcano" em 1851, com a intenção de aumentar as instalações da sua "Phenix" instalada na Travessa Nova do Cais do Tojo, para o Boqueirão do Duro. Mas ... paralelamente à compra das instalações, José Pedro Collares Junior compra toda a maquinaria impedindo, desse modo o funcionamento da fábrica, o que obrigará Peters a cessar a actividade da mesma, durante os seis anos seguintes. Em 1857, após reequipar a "Fabrica Vulcano" com nova maquinaria, volta a funcionar e em poucos anos já contava com 66 operários.

Henry Peters morre em 1899 e a "Fabrica Vulcano" passa a designar-se "Fábrica Vulcano - Viuva Peters & Filhos", passando a ser explorada pela sociedade de investidores industrias "Carlos Alves & C.ª, Lda." ao qual se junta Carlos Alfredo da Silva em 1905, que viria a assumir a sua propriedade, individualmente, em 1908. 

1885

Em 13 de Abril de 1904, Carlos Alfredo da Silva adquire a "Fábrica Collares" à firma "Moniz Galvão & C.ª", e de seguida promove a fusão das fábricas Collares e Vulcano, - "Fábricas Vulcano e Collares" - dando origem a uma das maiores metalúrgicas lisboetas e do país. Um ano depois, o empresário faleceu, e em 4 de Dezembro de 1916, é criada uma sociedade por quotas com objectivo de continuar a sua actividade: "Carlos Alfredo da Silva, Lda - Fábricas Vulcano e Collares". Apesar da sua morte e devido à I Grande Guerra Mundial (1914-1918) e o consequente aumento significativo de encomendas, a fábrica prospera e, em 1917, já empregava 538 operários.

1904


1909

1910

Em 1920 , a "Empresa Industrial Portuguesa", a "Companhia Alliança - Fundição de Massarellos" (fundada no Porto, em 1851) e a "Carlos Alfredo da Silva, Lda. - Fábricas Vulcano & Collares", eram as três maiores empresas metalomecânicas de Portugal, sendo as suas actividades industriais classificadas como: serralharia mecânica, caldeiraria e fundição.


"Fabricas Vulcano e Collares" na capa da revista "Industria Portuguesa" da AIP


1915


1888

* Fábricas Vulcano e Collares *

Segundo uma reportagem da revista "Indústria Portuguesa", da "Associação Industrial Portuguesa", a empresa "Fábricas Vulcano & Collares", entre 1928 e 1929, tinha capacidade para produzir «material agrícola (…) trabalhos de caldeiraria de cobre e de ferro (…) trabalhos de forja; fundição de ferro, aço (a cadinho) e metais (…)»

A mesma revista caracterizava a área da fábrica em cerca de 8 mil metros quadrados, com edifícios dois e três andares, localizada no Boqueirão do Duro, com frente para a rua 24 de Julho e salão de vendas e escritórios, de frente para o Largo do Conde Barão.


Edifícios das "Fábricas Vulcano e Collares" (dento da área desenhada)


1908


Complexo das "Fábricas Vulcano e Collares" (na cor castanha), já em fase de abandono

A "Carlos Alfredo da Silva, Lda. - Fábricas Vulcano & Collares", funcionou nesse local até 1942, ano em que é comprada por Henrique de Araújo Sommer (1886-1944) - fundador da "Companhia de Cimentos de Leiria" em 1920 - que começa, gradualmente, a mudar as instalações para a Amadora. As antigas instalações, que ocupavam um quarteirão, viriam a ser vendidas à firma "Manuel Duarte Leão & C.ª ".


Henrique Araújo Sommer (1886-1944)


1931

Como presidente do Conselho de Administração da "Fábricas Vulcano e Colares" esteve José Maria Àlvares, que também seria Presidente da "AIP - Associação Industrial Portuguesa" entre 1924 e 1940.


José Maria Álvares (1875-1940)

Quando em 1944 a fábrica já labora na Amadora em pleno, falece Henrique Sommer. Por não ter filhos, a divisão da sua herança daria origem a um longo e mediático processo judicial, conhecido pelo caso "Herança Sommer", que se arrastou por dez anos. Daí resultaram dois factos: António Champalimaud, seu sobrinho, herdou o quarteirão norte da Boavista onde se encontravam as antigas instalações da fábrica; e a incorporação da "Fábrica Vulcano & Collares", em 1945, pela firma metalúrgica "Alfredo, Alves & C.ª (Filhos)" - antiga Alfredo Alves (Filhos), fundada em 1898.


1958




Este quarteirão norte viria a ser arrendado à "Sorel, Lda.", - concessionária dos automóveis e camions da "General Motors Overseas Corporation" - que aí inauguraria, em 6 de Maio de 1947, as suas oficinas. No mesmo ano o quarteirão norte é comprado pelo "Banco Espírito Santo & Comercial de Lisboa", que viria a ser utilizado para oficina de automóveis, supermercado, ginásio e pequenos negócios.


Acerca da "Sorel, Limitada" consultar neste blog "Sorel"

Em 1963, a empresa "Alfredo, Alves & C.ª (Filhos)" é transformada na "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L.", cuja história será publicada no próximo mês.

Bibliografia e algumas fotos: 

- "Repensar a 'Fábrica' Proposta de Reconversão para a Antiga Fábrica Vulcano e Collares na Boavista" - Projecto Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura da Arquitecta Ana Cordeiro Leal - Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa - Dezembro de 2016

- "Grandes Empresas Industriais de um País Pequeno: Portugal da Década de 1880 Á 1ª Guerra Mundial" - Dissertação apresentada para a otenção do grau de Doutor em História Económica e Social de Pedro José Marto Neves - Universidade Técnica de Lisboa - ISEG - Janeiro de 2007

Arqueologia em Portugal - "A Ferro e Fogo - A Fundição Vulcano & Collares, Lisboa" - 2017

- "A Produção de Mobiliário Urbano de Fundição em Portugal: 1850 a 1920 - Tese para grau de Doutora - Sílvia Barradas - Universidade de Barcelona (Julho de 2015)

fotos in:  Hemeroteca Digital de LisboaBiblioteca Nacional DigitalArquivo Municipal de LisboaBiblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian