Restos de Colecção

8 de dezembro de 2024

Companhia Cinematográfica de Portugal

A "Companhia Cinematographica de Portugal" foi fundada em 17 de Dezembro de 1912, tendo a sua sede na Avenida da Liberdade, 18 em Lisboa. Foram seus principais fundadores, Raul Lopes Freire (dono do "Salão Central"), o alemão Arthur Gottschalk (engenheiro), o austríaco Carlos Stella, Leopoldo O'Donell (dono do "Olympia"), Salomão Levy, etc.


Em 20 de Dezembro de 1912 o jornal "A Capital" noticiava:

«Inaugura no dia 1 do proximo mez de janeiro as suas installacoes a Companhia Cinematographica de Portugal, successora da Empresa Portugueza Cinematographica e da União Cinematographica Limitada. Esta companhia, cujo capital realisado à de 400:000$000 réis, destina-se á compra, venda, fabrico e aluguer de fitas e apparelhos cinematographicos, bem como a exploração de todos os negocios que digam respeito a estas industrias. Fazem d'ella parte, como clientes e accionistas, quasi todos os animatographos de Lisboa, Porto, provincias, ilhas e colonias, o que garantira um futuro prospero a nova empreza, e e um penhor seguro da apresentacão de films, que, se não fosse a formacão da nova empreza, decerto não viriam a Lisboa pela sua elevação de precos.» 


                                                   1910                                                                                   1911

A 30 de Janeiro de 1913, a "Companhia Cinematográfica de Portugal" estreia, no "Chiado Terrasse", "Salão Central", "Salão da Trindade", "Olympia" (Lisboa), e no "Jardim Passos Manoel" (Porto), o film "Desastre do Monoplano 'Gnome' na Amadora", em reportagem da "Lusa Film" sobre a ocorrência em 26 de Janeiro; o piloto francês Sallé assistiu no "Salão da Trindade" e, a 6 de Fevereiro, viria a ser vítima de outro acidente em Belém, também filmado, com o aeroplano "Bleriot".


5 de Setembro de 1913

«Hoje, o mercado cinematográfico português é dominado, directa ou indirectamente, pelas grandes majors americanas. Mas nem sempre foi assim. Nas primeiras décadas de cinema, as salas eram dominadas pelos filmes das casas produtoras europeias, nomeadamente a Pathé, a Gaumont, a Films d’Art, a Italo Films, a Ambrosio e a Eclair, representadas pela Empresa Cinematográfica Portuguesa, fundada em 1908 pelo austríaco Karl Stella.
Em 1912, Stella associa-se ao luso-irlandês Leopoldo O’Donnell e ao alemão Arthur Gottschalk para criar a Companhia Cinematográfica de Portugal, uma distribuidora ainda mais forte. Nas salas nacionais, o cinema americano era então escasso e pouco conhecido, resumindo-se essencialmente a alguns filmes de Edison, sendo dominantes as produções francesas, italianas, alemãs e escandinavas.» in blog: "À pala de Walsh" por Paulo Cunha (2019)


Principal actividade profissional de Arthur Gottschalk, desde 1903, em anuncio de 1908


Leopoldo O'Donnell e Raul Lopes Freire

Devido à entrada de Portugal na Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), foram expulsos de Portugal dois nomes então influentes nos sectores da exibição e distribuição, o alemão Arthur Gottschalk e o austríaco Carlos Stella. Este último, fora uma figura particularmente importante nos primeiros tempos da actividade de distribuição cinematográfica em Portugal e ambos, como já foi referido, ocupavam lugar de destaque entre os sócios fundadores da "Companhia Cinematographica de Portugal", que, desde 1916, controlava o "Cinema Condes" (ex-"Theatro da Rua dos Condes" desde 1916), a mais recente sala de estreia da capital. Os destinos desta companhia ficariam depois nas mãos da família Levy.

Por outro lado numa passagem do livro "Praça de Lisboa", de 1945, na história da empresa "Salm Levy Junior & C.ª" (escrita pela própria empresa) pode-se ler:
«Começando a dedicar-se ao comércio de importação de fitas através da firma Salm Levy & C.ª, Salomão Levy, em 1912, formou um organismo distribuidor, a Companhia Cinematografica de Portugal, actualmente a mais antiga entidade similar, e fomentou a criação e desenvolvimento de novas casa de espectáculos. Assim financeou as instalações do cinema Olimpia, em Lisboa, e do Pró-Cine, em Santarém, vindo depois a explorar o Chiado-Terrasse, Odeon e Palácio, além de outros cinemas nesta capital e nos Açores. A exploração do Chiado-Terrasse ainda se conserva nas mãos de Salm Levy & C.ª.»


A firma "Salm Levy Junior & C.ª" fundada, em Lourenço Marques, Moçambique em 1905 por Salomão Levy Junior, tinha como seu sócios seu irmão Isaac Levy e Carlos Vicente Ribeiro, ambos residentes e comerciantes em Lourenço Marques. A sua entrada no mundo cinematográfico teve início com a compra «no estrangeiro um lote de fitas com destino a Lourenço Marques, furtando a colónia portuguesa a influência de estranhos. Se a transacção o não compensou financeiramente, deixou-lhe, pelo menos, a satisfação moral dum dever cumprido e o interesse pela sétima arte.»

Para o sucesso de Salomão Levy, na área cinematográfica muito contribuiu o facto de ter criado em Madrid, a "Companhia Cinematografica Hispano-Portuguesa" a fim de poder comprar directamente os direitos das fitas para Portugal, que anteriormente eram adquiridos por intermédio dos importadores espanhóis, os quais dispunham da sua concessão exclusiva para a Península Ibérica. 


4 de Junho de 1932


10 de Dezembro de 1932

A "Portugalia Film", fundada em 1909 por João Freire Correia e Manoel Cardoso, foi reconstituída em 17 de Março de 1921, e de cuja direcção faziam parte Salomão Levy Junior, Dr. Augusto de Castro, D. Jose Barahona, Dr. Alberto de Magalhães de Barros, Jorge Matos e Júlio Petra Viana. Tinha como director de propaganda José Maria Pinto Coelho e como diretor artístico e de exploração Leopoldo O'Donell.  

Salomão Levi Junior financiaria alguns filmes portugueses, entre os quais "Lisboa Crónica Anedótica" dirigido por Leitão de Barros, em 1929, com a assistência de realização de António Lopes Ribeiro. Antes, e através da sua "Espectaculos de Arte, Lda.", tinha produzido os filmes de D. Virginia de Castro e Almeida, "Olhos da Alma" (1923) e "Sereia de Pedra" (1923)


1923


23 de Junho de 1929


Ambos os anúncios de 29 de Dezembro de 1932



Terceiro andar do Palacio Povolide (Atheneu Comercial) onde funcionou a "Companhia Cinematográfica de Portugal", em foto de Maio de 1934


1 de Janeiro de 1943

Salomão Levy Junior, através da firma "Salm Levy Junior & C.ª", ainda constituiria, em 1943, a firma "A Internacional - Sociedade de Cinematografia, Lda." ("Internacional Filmes"), e que em 16 de Novembro de 1950 procederia a um aumento de capital de 25.000$00 para 100.000$00 com a entrada dos novos sócios Abraham Joshua Levy e a "Sociedade União Industrial , Lda.". Já eram sócios as firmas "Salm Levy Júnior & C.ª", "Comptoir Universal de Cinematografia - James & C.ª", Joshua Levy,  Isaac Levy, Miriam Sequerra e Moses Bensabat Amzalak.


17 de Abril de 1933


10 de Novembro de 1941

Para termos uma ideia da negociação de aluguer de films - neste caso para o cinema da Pampilhosa (ou Pampilhosa do Botão no município da Mealhada) na época 1931/1932, propriedade da "Empresa Cinematográfica Pampilhosense" (1924-1986) - transcrevo um parágrafo retirado da Tese de Doutoramento em História de Joaquim José Carvalhão Teixeira Santos intitulada "O Cinema no Entroncamento do Progresso - Contributo para a História do Espectáculo Cinematográfico em Portugal" - Vol I  (FLUC - 2011):

«Na resposta da Companhia Cinematográfica de Portugal referia-se, por exemplo, a propósito das condições de contratação do filme Os Miseráveis, que a empresa dispunha de duas cópias, em bom estado, sendo debitada a todos os clientes da categoria deste cinema da Pampilhosa pelo preço de 300$00 por cada espectáculo, ou seja, de 600$00 por toda a fita. Comprovava-se, assim, a escassez de um número de cópias em circulação que só podia levar a um maior tempo de espera, de acordo com uma hierarquia de salas. Verificava-se, ainda, o sentido negocial mais amplo de que se podia revestir o acesso, em condições vantajosas, às produções de maior vulto: “Como Vª Sª nos promete marcar outras fitas, e tratar-se dum salão de poucos recursos, podemos fazer-lhe o preço excepcional de 25$00 por cada parte ou seja 450$00 pela fita completa”. O custo mais elevado do aluguer de certos filmes definia-se, como se compreende, desde a sua produção, passando pelas condições firmadas para efeitos da sua distribuição no nosso país: “A Hora Suprema não nos é possível alugá-la por menos de 400$00, em virtude de tratar-se dum filme que nos custou imensamente caro”. Esperando mais algum tempo, foi possível exibir essa longa metragem na Pampilhosa, a 4 e 5 de Janeiro de 1930, por um preço de aluguer de 300$00.»

A actual "Companhia Cinematografica de Portugal, S.A.", sediada na Rua Luciano Cordeiro, 80 -1º F, em Lisboa encontra-se inativa. A sua última actividade oficial era: «Distribuição de filmes, de vídeos e de programas de televisão».

E para terminar, foto dos actuais inquilinos da loja onde foi a primeira sede da "Companhia Cinematographica de Portugal", na Avenida da Liberdade, 18 em Lisboa. Para variar .... "Tabacaria e Turista". 


Via Google Maps (2024)


4 de dezembro de 2024

Salomão Cardoso - Chapéus

A famosa casa de chapéus para senhora "Salomão Cardoso", terá sido inaugurada por volta de 25 de Dezembro de 1912, na Rua Garrett, 25-27, em Lisboa. Era propriedade de Salomão Cardoso, que tinha sido co-proprietário de outra famosa chapelaria de senhora e crianças "Cardoso & Cardoso", igualmente na Rua Garrett, esquina com a Rua do Carmo.

"Salomão Cardoso" à direita na foto


Casa "Salomão Cardoso" com os seus painéis em vidro pintado estilo "Art Noveau"

A casa "Cardoso & Cardoso" - conhecida pelo "Cardoso dos Chapéus" - era pertença da firma "Cardoso & Cardoso, Lda." tendo sido constituída em 1907 pelos sócios Salomão Cardoso e Pepe Cardoso, e terá aberto pela primeira vez, o seu estabelecimento na Rua Garrett, 2-6 esquina com a Rua do Carmo, em Lisboa por volta do dia 8 de Novembro de 1908.


O "Cardoso dos chapéus" na esquina da Rua Garrett com a Rua do Carmo


Pedido de registo de desenho para caixas de chapéus, em 27 de Março de 1907

Acerca desta casa transcrevo uma nota publicada no jornal "Diário Illustrado" de 8 de Novembro de 1908:

«Evocar esta firma e lembrar ao mesmo tempo. em qualquer meio elegante, o mais aprimorado estabelecimento de Lisboa n'essa tão rara quão delicada especialidade de chapéos para senhoras e creanças
Quem descer o Chiado, ao voltar para a rua do Carmo, refestela, mui naturalmente que sobresahe um variegado sortido de modelos no genero vindos do estranjeiro e todos reveladores d'um fino gosto.
Nao admira que com semelhantes predicados alli concorra a «elite» das nossas damas que no momento buscam fornecer-se de chapéos proprios da estação que começa.
Entre a clientela d'estes ultimos dias teem alli sido vistas a fazer compras as ex.mas sr.a *: Marqueza de Valle Flor, Condessa de S. Lourenco, Condessa de Pinhel e filhas, Condessa d'Almeida, Condessa de Alferrarede, Baroneza da Varzea do Douro, Madame Eduardo Pinto Basto, Madame Joseph Bello, Madame Alboim (Bomtim), Madame Macieira Reis, Madame Hintze Ribeiro, Madame Elisa Barbosa, Madame Chaigruean, Madame Belio, Madame Arrobas. Madame Anjos e lilhas, D. Grabiella e D. Celeste Anjos, etc.»

8 de Novembro de 1908

Com a saída de Salomão Cardoso da sociedade, a loja de chapéus de senhora ficou na posse de Pepe Cardoso e passou a designar-se "P. Cardoso Palace" sob a firma "Pepe Cardoso, Lda.". Por ali ficou até ser substituída por uma loja de roupa feminina e depois em 1942 pela "Secção de Turismo dos Caminhos de Ferro Alemães" seguida da livraria "Ática" inaugurada em 7 de Dezembro de 1946. 



"P. Cardoso Palace" e Hortense Luz em 21 de Janeiro de 1928, por ocasião da "Semana dos Artistas"


"P. Cardoso Palace" em liquidação


"P. Cardoso Palace" já encerrada definitivamente

Após o encerramento da "P. Cardoso Palace" apareceria em 1938 outra loja de chapéus, de seu nome "Cardoso", na Rua da Prata, 13e e 136. Presumo eu, poder ser do mesmo Pepe Cardoso, ou seu descendente. Repito, presumo eu ...

1938

Quanto à "Salomão Cardoso", veio substituir a loja de bicyclettes "Casa Columbia" da firma "J. de Carvalho & Brandão" que ali estava nos números 25 e 27 da Rua Garrett, desde os finais do século XIX.  

15 de Junho de 1901


25 de Dezembro de 1912


3 de Fevereiro de 1913

O jornal "A Capital" em 14 de Julho de 1916, a propósito da "Salomão Cardoso", observava:

«Onde esteve o Amieiro, presentemente em liquidação, foi a Casa de madame Aline Neuville, a grande modista que tão grande fama e renome alcançou. Ao lado fol a  Ourivesaria Mourao e é presentemente a Casa de Chapéus de sr. Salomao Cardoso, uma das mais chics da capital e dos que maior clientella poseue na alta roda lisboeta. E com justiça. E' que nem todos os estabelecimentos que se consagrem a este genero de commercio, que tem tanto de interessante como do difficil, pela porção de faculdades excepcionaes que exhige, podem lograr attrahir as criaturas que apreciam n'um chapeu mais do que os veludos, as plumas e as rendas caríssimas mas, esse nao sei que subtil que se chama o bom gosto e que nao se adquire por que nasce com a pessoa. E os chapéus do sr. Salomio Cardoso conseguem lançar em pleno Chiado a nota alegre do sua inexcedivel elegância e da sua original composicão, cheia de novidade e do imprevisto. Lá fóra, nos grandes centros elegantes do estrangeiro, pouco deve haver que exceda em delicadeza de gosto e em perfeicao de acabamento os chapeus que sahem da casa onde outr'ora teve a sua installaçao a ourivesaria que nao logrou ganhar no Chiado profundas raizes.


1915


24 de Junho de 1916

Na sobreloja deste mesmo prédio, que é o que tem os nos 25 e 27, foi também a casa de modas de madame Cid, mãe do médico Jorge Cid e do consul de Portugal em Bremen Paulo Cid, e viúva do Cid caçador, que não era raro ver-se de chapeu de largas abas, polainas, botas grossas, sacco de caça e espingarda, seguido e precedido de uma matilha de perdigueiros de boa casta.»

Como se pode ler na página da revista "Ilustração Portuguesa" de 8 de Dezembro de 1918, e que publico de seguida, a casa "Salomão Cardoso", já funcionava sob a firma "Salomão Cardoso, Sucessor Leite, Limitada"

8 de Dezembro de 1918

A "Salomão Cardoso, Sucessor Leite, Limitada", viria a encerrar uns anos mais tarde para dar lugar à sapataria de luxo "Onix", após remodelação exterior e interior das suas instalações, que ocorreram em 1939. Na sobreloja viria a instalar-se a loja de modas de luxo, "Dior".

Futura loja "Onix" em obras em foto de 9 de Abril de 1939

12 de Outubro de 1939


Sapataria "Onix" e loja "Dior"


fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Nacional da Torre do Tombo


1 de dezembro de 2024

"Olimpia Club" em Lisboa

O Salão “Olympia”, situado na Rua dos Condes, em Lisboa, foi inaugurado a 22 de Abril de 1911, na Rua dos Condes, em Lisboa. Propriedade da “Empreza do Olympia, Limitada” de Leopoldo e Henrique O'Donell, Júlio Petra Viana e Victor Alves da Cunha Rosa, - os mesmos que viriam a fundar o Salão Lisboa, e inaugurado em 20 de Novembro de 1915 - o Salão “Olympia”  tinha cabina de projecção de filmes isolada da sala de espectáculos, salões para concertos, gabinete de leitura e restaurante, etc ... tornando «esta casa de espectáculos como a primeira da capital.»


"Olimpia Club" no 1º piso


"Orquestra-Salão" - Sexteto residente que acompanhava os filmes mudos e dava pequenos concertos



Leopoldo O'Donell (1870-1941) e artigo na "Folha de Lisboa" de 2 de Janeiro de 1922

Desde início que este Salão oferecia um serviço de "bufete" com «esmerado serviço», mas não passou disso mesmo até 1 de Junho de 1924, dia em que Leopoldo O'Donnell inaugura o novo "Bufete Olimpia" anunciado na seguinte notícia:

«Leopoldo O'Donell o infatigável emprezario acaba de iniciar mais um importante melhoramento no Salão Olimpia.
De ora ávante todos os espectadores do Olimpia poderão aproveitar-se dum beneficio interessante que lhes permitirá sem sairem do edificio, tomar qualquer refeição por preços convidativos.
O novo bufete Olimpia tem o seu serviço organizado para o fornecimento diario de almoços, chás, jantares e ceias, estando a sua direção a cargo de Camilo Fernandes.
Durante as refeições haverá sempre concerto musical por um grupo de distintos artistas.»

film "Fatima Milagrosa" (mudo) de Rino Lupo, depois de estreado no "Teatro Rivoli" no Porto em 7 de Abril  a que se seguiu a sua estreia no "Teatro Politeama" em Lisboa a 12 de Maio de 1928, em 28 de Julho era a vez de estrear no "Olimpia" que foi acompanhado «com partitura adequada por Guilherme Ferreira, violino director do Olimpia-Orquestra-Jazz e pelos distintos artistas Alberto Fernandes (pianista), Jose de Sousa Pinto (saxofone), Francisco Furtado (trompete), Antonio Moreira (trombone de varas), Francisco Fonseca (contrabaixo) e Antonio Lopes (jazz-band).» No final do texto anterior jazz-band equivaleria a bateria.

Publico de seguida, anúncio do jornal "Diario de Lisbôa", de 13 de Julho de 1927, ao "Restaurant Olimpia", (ex-"bufete") explorado pela firma "Amoedo Portela & Nazaret", que confirma que até esta data ainda não funcionava como club nocturno.


13 de Julho de 1927

Este novo «bufete» que virou «restaurant», e que funcionava no 1º andar do edifício do Salão "Olimpia", terá sido o embrião para o aparecimento, dois anos depois, do "Olimpia Club", cujo primeiro anúncio a que tive acesso publico de seguida, e que data de 6 de Fevereiro de 1929, por altura do Carnaval.

Primeiro anúncio que tive acesso ao "Olimpia Club", de 6 de Fevereiro de 1929


Nota: foto anterior (s.d. colecção Silvestre Navarro) do livro "Roteiro do Jazz na Lisboa dos anos 20-50" de João Moreira dos Santos.

Como «casa de jogo» presume-se que já funcionaria desde 1918, a fazer fé na seguinte passagem, que transcrevo, do "Diario da Câmara dos Deputados" da sessão de 25 de Fevereiro de 1920, na página 7:

«Informação que colhi convencido do que apenas poderia trazer à Camara a nota das verbas cobradas e distribuídas desde 1918 para cá.
Eu vou ler à Câmara.
O Sr. Eduardo de Souza (interrompendo): - Peço a V. Ex,a que leia primeiramente os nomes das casas de jogo que pagaram.
O Orador (lendo): - Clube Vila Garcia, Pedrouços, 100$; Palácio da Regaleira, rã, 1.500$; Sporting Clube de Lisboa, 1.000$; Clube dos Restauradores, (Ma-xime), 4.0000-; Clube dos Patos, 1.000$; Grémio Português (Redondo), 800$; Clube Nacional, 1.000$; Palace Clube, 3.000$; Clube da Restauração, 200$; Clube a Fita, 200$; Recreativo Popular, 200$; Clube Internacional, 800$; Rossio Clube, 1:000$; Bristol Clube, 1.000$; Majestic Clube, 3.000$; Índia Clube, 200$; Clube da Forra, 200$; Olímpia Clube, 200$; Petit Foz, 200$; Palais Royal, 300$; Moulin Rouge, 200$; Clube Montanha, 200$; Academia Recreativa Estrela Polar, 200$; Clube Recreativo Internacional, 200$; Clube Recreativo do Monte, 200$; Rato Clube, 200$: Clube dos Bebianos, 200$; Clube Recreativo, 200$; Clube dos Quatro, 200$; Recreativo Aliança, 200$; Beato Clube, 200$: Clube 31 de Janeiro, 200$; Clube Recreativo 5 de Outubro, 200$; Clube Luso-Breme, 200$; Ritz-Club, 1.500$. »

Penso que seria uma sala dedicada exclusivamente a jogo, como era costume na época, não tendo espectáculos nem jazz-band. Neste tipo de salas os jogos mais concorridos eram a roleta, o bacarat e a banca francesa, todos jogos de azar proibidos. Mas também se jogava bilhar, mah-jong, king, e bridge. A partir de 1929 (deduzo eu) terá se transformado exclusivamente em cabaret, com jazz-band privativa, ou convidada, e, como já referi, passa a denominar-se "Olimpia Club".


1929

Acerca dos clubs nocturnos, aqui fica um artigo da autoria de Félix Correia, publicado no jornal "Diario de Lisbôa", em 13 de Julho de 1927. 

(clicar para ampliar)

Nesta altura reinavam o "Alhambra", no "Parque Mayer", o "Bal-Tabarin Montanha" na Rua da Glória, o "Avenida Palace Club" no Palácio Lima Mayer, "Monumental Club" (ex-"Majestic Club") na Rua Eugénio dos Santos, o "Palace Dancing" (ex-"Ritz Club") e o "Maxim's" ambos no Palácio Foz.

Foi nesta sala que o famoso guitarrista Armandinho (1891-1946), fez a sua estreia como guitarrista profissional, acompanhado à viola por João da Mata Gonçalves. Continuaria a manter em simultâneo com outros trabalhos como sapateiro, operário da "Companhia Nacional de Fósforos", servente do "Casão Militar" ou fiscal do "Mercado da Ribeira".


1930

O "Olimpia Club" esteve presente no desenvolvimento do jazz em Portugal ao ter estreado, em 12 de Março de 1930, a jazz-band cubana  "The Ibero American Syncopators", liderada por Santiago Sanches, e composta por nove músicos, a maioria dos quais negros. A sua contratação para o "Olímpia Club" entre 12 e 28 de Março foi resultado do grande sucesso que alcançara no decurso d o evento «Semana Portuguesa» na "Exposição Ibero-Americana" realizada em Sevilha entre Maio de 1929 e Junho de 1930, onde actuara no restaurante "Plantación". Também deu espectáculo o bailarino Elias Pierre, anunciado na imprensa como «o rei do charleston e do black-bottom». Aqui deu, aliás, lições grátis, tendo ensinado «a dançar todas as damas e cavalheiros em 10 segundos o black bottom».


18 de Março de 1930


28 de Março de 1930

Também em Março de 1930, apresentou-se no "Olímpia Club" a orquestra do pianista António Roman Navarro. Além desta, passaram por esta sala a "Orquestra Abel Rezende", que se estreou no Salão "Olímpia" em 1927 e que aqui atuou regularmente durante mais de 14 anos, assim como, nos anos 50 do século XX, a "Orquestra Royal Jazz", com o violinista Rosário, o cantor Abreu Moreira e "Os Magos do Ritmo".

29 de Março de 1935


1939

1940


1949

«Mais importante nesta década foi a presença do conjunto de Domingos Vilaça, músico que aqui atuava em Fevereiro de 1954 e cujo prestígio como instrumentista era já tão significativo na época que a direção do Olímpia Club chegou mesmo a publicar anúncios na imprensa para realçar a sua contratação. Justamente distinguido, Vilaça foi um dos pioneiros no jazz em Portugal, tendo gravado nos anos 50, para a editora Alvorada, os primeiros dois discos deste género musical realizados por músicos portugueses» in: "Roteiro do jazz na Lisboa dos anos 20-30" de João Moreira dos Santos (2012).

27 de Fevereiro de 1954

Após uns tempos encerrado, reabriria em 4 de Dezembro de 1958. O jornal "Diario de Lisbôa" assinalaria o evento com o seguinte artigo:

«O «Olympia Clube» - o popular «Sempre em Festa» - que sempre beneficiou da circunstancia de ser considerado o ponto de reunião favorito das mais diferentes camadas sociais, reabre, esta noite, integrado nas suas tradições, mas com um programa de inciativas cuidadosamente estudadas, que vão merecer os mais vivos aplausos do publico e lhe asseguram vir a ocupar condignamente o lugar a que se propõe entre os mais selectos «dancings» da capital. Agora sob a direcção técnica e artística do sr. António Martins, ex-chefe do grande Casino de Espinho, que sempre soube corresponder as crescentes exigências de diversão impostas pelas novas concepções de espírito moderno, o «Olympia Clube» assinala: a partir de hoje. o começo de uma actividade que visa proporcionar melhores horas de conforto e de convívio alegre aos que vivem sob a intensa fadiga de terem de suportar os mesmos hábitos nocturnos há muito estagnados no mais absoluto marasmo. E' contra esse espírito rotineiro, em que o «Olympia Clube» sempre viveu, que o sr. 'António Martins decidiu reagir, com a certeza de que o seu esforço será amplamente recompensado pela presença não só dos mais selectos sectores sociais, mas também para todos aqueles que se deslocam da Província ou se encontrem de passagem em Lisboa. Além destes motivos, já de si suficientes para darem foros de grande acontecimento á reabertura do «Sempre em Festa», concorrem, ainda. para o justificar a circunstancia da nova gerência caprichar em apresentar um notável serviço de «bar» e de restaurante e de ter contratado um esplêndido conjunto de artistas de «music-hall», entre os quais se destaca a actuação, pela primeira vez: em Portugal, de Margarita Ruiz, famosa vedeta de baile, e Paquita Fortes, admirável intérprete da canção moderna. Do elenco fazem parte, ainda. a  extraordinária parelha coreográfica «Adoracion y Jose Luis» e outras brilhantes atraccões, além da reputada Orquestra Almeida Cruz, com o seu cantor Fernando de Oliveira. (Adultos - Maiores 17 anos).»


5 de Dezembro de 1958

Mas foi «Sol de pouca dura», o "Olimpia Clube", explorado pela "Empresa António Martins", encerraria em definitivo no Carnaval de 1959. Nestes anos «reinavam» o "Tágide", "Maxime" "Ritz Club", "Negresco", "Bico Dourado", "Nina", "Príncipe Negro", "Pasapoga", etc. Outras casas, outras espanholas ...

9 de Fevereiro de 1959


25 de Novembro de 1959

"Olimpia" em foto de 1960


fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaCasa Comum, Publisite