Restos de Colecção

4 de fevereiro de 2025

Lisboa Sheraton Hotel

O conjunto formado pelos "Edifício Aviz" e "Lisboa Sheraton Hotel", foi promovido entre 1966 e 1970, pelas empresas "Tecnical - Empresa de Construções S.A.R.L." e a americana "ITT Corporation", respectivamente.

O espaço que veio a ser ocupado por este conjunto, já era emblemático para a cidade de Lisboa. Primeiramente ocupado pelo "Palacete Silva Graça", propriedade de José Joaquim da Silva Graça, dono do jornal "O Século", e concluído em 1907, palacete onde  posteriormente onde se instalou o famoso "Aviz Hotel", inaugurado em 24 de Outubro de 1933, com projecto do arquitecto Vasco Regaleira (1897-1968), que entre 1934 e 1935 viria a ser presidente do "Sindicato Nacional dos Arquitectos", actual "Ordem dos Arquitectos".

"Aviz Hotel"

Inicialmente o projecto do arquitecto Fernando Silva (1914-1983) era de construir 2 torres gémeas que foram apelidadas de "Edifícios Aviz", tendo a construção do primeiro "Edifício Aviz", a cargo da empresa "Empec - Empresa de Estudos e Construções, Lda.", começado em 1966. Com a conclusão deste em 1969, foi posta de parte a ideia da construção do segundo "Edifício Aviz", e foi iniciada a construção do "Lisboa Sheraton Hotel", em 1970, cujo projecto também foi da autoria do arquitecto Fernando Silva.


26 de Dezembro de 1967




O "Lisboa Sheraton Hotel", na altura propriedade da multinacional americana "ITT Sheraton" abriu ao público em 15 de Agosto de 1972, mas só seria oficialmente inaugurado pelo Chefe de Estado Almirante Américo Thomaz (1894-1987) em 9 de Novembro de 1972.

Foi durante muitos anos o edifício mais alto do país, com os seus 30 andares (incluindo as  5 caves) e 92 metros de altura. O Hotel tinha 401 quartos e suites e cerca de 400 funcionários. Oferecia nas suas instalações uma piscina exterior aquecida, um ginásio e salas de massagens. O "Panorama" restaurante e bar, ex-líbris do hotel, no topo do edíficio com um terraço de vista deslumbrante sobre Lisboa, viria a ser um dos melhores restaurantes da cidade e local de eleição da alta sociedade.

Por ocasião da sua abertura não oficial, o jornal "Diario de Lisbôa" descrevia assim o "Lisboa Sheraton Hotel":

Lisboa passou a contar com mais um hotel, ainda não inaugurado, mas já em pleno funcionamento. Trata-se do Hotel Sheraton, situado no local onde durante muitos anos esteve em funcionamento o velho e luxuoso Aviz. 
O novo hotel pertence a uma cadeia internacional de estabelecimentos de hotelaria, que alastra da América para todo o mundo. O velho era uma casa apalaçada, de quartos grandes, ao gosto de determinada época, onde viveram as mais diversas personalidades mundiais, desde o general Eisenhower até à Rainha Isabel.
De qualquer modo, a nova unidade, neste momento jå com 240 hóspedes, vem suprir, pelo menos em parte, graves lacunas no capítulo de alojamentos, no nosso País. A sua categoria é cinco estrelas, o que corresponde à antiga classificação de hotel de luxo. Quartos são 401 tendo, portanto, capacidade para cerca de 800 pessoas, O edifício é uma torre de vinte e oito pisos, incluindo as caves. Do alto avista-se uma grande parte de Lisboa, numa panorâmica prodigiosa. Ja lhe chamam a oitava colina de Lisboa.


Para agrado dos clientes foi concebida a decoração. No vasto «hali» de entrada e recepção pode logo ver-se uma cerâmica de Querubim Lapa. Junto dos elevadores (quatro, que demoram trinta segundos a percorrer os vinte e oito pisos) um painel de azulejos do século XVII. Tapetes desenhados e pensados por vários artistas portugueses preenchem outras paredes. Em alguns quartos existem quadros da autoria de Mário Silva. Tudo isso permite ao director comercial, Mendes Leal, afirmar que o Sheraton «tem a melhor e maior colecção de objectos antigos e modernos de qualquer hotel português».
Começando pela cave: há um «grill» e um snack-bar. O primeiro, o «Alfama» é de serviço à carta. O segundo, um pouco mais barato (uma refeiçao ficará mais ou menos por cem escudos), é o «Caravela». Tem uma feição moderna, e o serviço está a cargo de hospedeiras, algumas das quais recrutadas entre estudantes universitárias. Ainda na cave, há lugar para lojas, tabacaria, boutique, cabeleireiro, etc. que serão concedidas à exploração de particulares.




28 de Junho de 1974





No piso da recepção existe ainda uma pequena sala de conferências, divisível em três, por um moderno processo de portas, importado da América. Esta sala tem capacidade para 150 pessoas. Seu nome, « Algarve».


No piso seguinte fica um enorme salão de festas com 450 metros quadrados, com capacidade para 700 ou 800 pessoas.


O piso seguinte é de administração. Depois começam os quartos, todos iguais, distribuídos em número de 17 por cada piso. 45 destes quartos têm cama larga, sendo os restantes de camas separadas. Canais de rádio, música gravada, gira-discos e possibilidade de instalar um aparelho de televisão em cada quarto, juntamente com o ar  condicionado dão um aspecto agradável a cada um dos aposentos.
O 23.° e 24.° andares são ocupados por 22 suites, das quais 8 são de luxo. Assim chegamos ao último piso ocupado por um grande restaurante com vista panarâmica, sobre a cidade. Existe também um bar, e uma sala de espera. Ai existe uma das cinco cozinhas com que o «Sheraton» está equipado. Este é um dos sete locais onde é possível fornecer comida, dentro deste luxuoso estabelecimento hoteleiro.
A completar diremos que o hotel tem garagem privada com capacidade para 70 carros, tem três elevadores de carga, e um gerador próprio de corrente, para as emergencias.
Quanto a empregados são em número de 400. Como curiosidade deve assinalar-se que seis antigos empregados do Hotel Aviz voltaram ao local em que este estava situado. Agora com outras categorias profissionais, bastante mais velhos, com uma certa saudade do hotel desaparecido.»


27 de Julho de 1972

Lembro que no gaveto dos dois edifícios foi construído o, já desparecido, "Centro Comercial Imaviz", que foi inaugurado em 20 de Dezembro de 1975, e que albergou a famosa boite "Whispers". Depois de ter encerrado, reabriu em 2013 como "Imaviz Underground", e que encerraria definitivamente em 2015.


Etiqueta de bagagem


2 de Março de 1979

Depois da profunda renovação efetuada em 2007, que fez com que o "Lisboa Sheraton Hotel" ficasse como um dos mais modernos da cidade, indo de encontro às necessidades dos seus clientes, incluindo, e com uma maior profundidade, o SPA e áreas públicas.

O actual "Sheraton Lisboa Hotel & SPA", conhecido como a «oitava colina de Lisboa» pertenceu, a partir de 1998, ao grupo americano “Starwood Hotels & Resorts”, que viria a ser incorporado no grupo americano "Marriott International".







27 de janeiro de 2025

Empreza do Bolhão, Lda.

A "Empreza do Bolhão, Lda." foi fundada em 16 de Maio de 1923 e teve a sua génese na extinta  "ETP - Empreza Technica Publicitaria" de "Raul de Caldevilla & Cª, Lda." que tinha sido fundada, em 1912,  por Raul de Caldevilla  (1877-1957), na Rua 31 de Janeiro,165, no Porto, como "Organização de Propagandas de Raul de Caldevilla & C.ª , Lda.". após o seu regresso à sua cidade, depois de ter sido vice-cônsul em Cádiz e agente comercial na América Latina, Egipto e Médio Oriente. A "Empreza do Bolhão, Lda." ficou sediada nas mesmas instalações que a sua antecessora utilizava desde 1917, no Palácio do Bolhão, na Rua Formosa no Porto.


"Palácio do Bolhão", onde funcionaram a "ETP - Empreza Technica Publicitaria" e "Empreza do Bolhão, Lda." Pode-se avistar a fotografia "Emilio Biel, Lda."

Esta empresa viria a ser pioneira na introdução da publicidade exterior tendo-se celebrizado quando patenteou os primeiros outdoors e quando começou a afixar os primeiros cartazes publicitários de grandes dimensões. O seu dinamismo e criatividade depressa fizeram com que se transformasse numa das mais conceituadas empresas no sector, assim como mais tarde a outra empresa do sector, “Empreza do Bolhão, Lda.”, sua sucessora.

Raul de Caldevilla, actor teatral nos primórdios do século XX, como inspirado publicitário, destacar-se-ia no cinema português em 1917. Em 1919, Raul de Caldevilla prestigiou-se ao organizar o lançamento comercial do filme “A Rosa do Adro”, dirigido por Georges Pallu para a Invicta Film, anunciado sob o lema «Romance Português - Filme Português - Cenas Portuguesas - Actores Portugueses».




Interiores da "Organização de Propagandas de Raul de Caldevilla & C.ª , Lda.", que seria herdada pela "Empreza do Bolhão, Lda.

Em 1921 com a comparticipação dos capitalistas nortenhos Eduardo Kendall, João Manuel Lopes de Oliveira e António de Oliveira, cria a Empreza Tecnica Publicitaria Film Grafica Caldevilla - abreviadamente apelidada "Caldevilla Film".

Em 26 de Junho de 1923, estreia-se no “Jardim Passos Manoel”, o filme "As Pupilas do Senhor Reitor" realizado por Maurice Mariaud (1875-1958). Viria ser o último filme produzido pela “Caldevilla Film”. De facto, sobrevieram litígios financeiros com os sócios capitalistas da empresa, pelo que, em 1923, Raul de Caldevilla pediu a demissão de administrador-gerente da “Caldevilla Film”, e que viria a ditar o fim desta empresa. 

1923

Os sócios Eduardo Kendall, João Manuel Lopes de Oliveira e António de Oliveira, fundariam, logo de seguida, e a 16 de Maio do mesmo ano, a  "Empreza do Bolhão, Lda.". Esta nova empresa deu seguimento ao trabalho da ETP que tinha sido pioneira na introdução da publicidade exterior, tornando-se célebre quando patenteou os primeiros "outdoors" ou "tabuletas" e quando começou a afixar os primeiros cartazes publicitários de grandes dimensões. O seu dinamismo e criatividade depressa fizeram com que se transformasse numa das mais conceituadas empresas no sector, O seu dinamismo e criatividade depressa fizeram com que se transformasse numa das mais conceituadas empresas no sector.


No ano de 1928, a "Empreza do Bolhão, Lda." passa a ter como únicos sócios João Manuel Lopes de Oliveira e Raul Lopes de Oliveira. Decorridos os primeiros anos, a empresa evoluiu, concentrando o seu foco na publicidade de vinhos e águas, através das relações privilegiadas que mantinha com as famílias Calém, Adriano Ramos Pinto, com ênfase no universo “Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas”.

No ano de 1939, Raul Lopes de Oliveira fica à frente dos destinos desta empresa, continuando a obra iniciada por seu pai, juntamente com o seu irmão João Lopes de Oliveira. Após o prematuro falecimento do irmão, Raul Lopes de Oliveira viria a dedicar toda a sua vida a esta empresa, desenvolvendo-a e modernizando-a.


1924

1925

Além da colaboração dos distintos designers, ilustradores e artista gráficos Diogo de Macedo (1889-1959), Fred Kradolfer (1903-1968), Almada Negreiros (1893-1970), Roque Gameiro (1864-1935), destacou-se como criador e designer da nova empresa o ilustrador, caricaturista, cenógrafo e publicitário o portuense António Cruz Caldas (1898-1975). Entre as muitas funções que exerceu, destacam-se as publicações regulares na imprensa da época - "O Comércio do Porto", "O Tripeiro" - e a colaboração, a partir de 1934, com a "Empreza do Bolhão, Lda." - empresa gráfica e litográfica. O trabalho, grande interesse e pioneirismo de Raul Caldevilla na publicidade, em muito influenciou este designer.


1925


"Futebol Feminino" em 1927


1929


1930

António Cruz Caldas ao ter frequentado a "Escola de Belas Artes do Porto", o desenho teve um peso significativo na sua obra, composta por uma considerável coleção de caricaturas. Começa, aliás, a colaborar como caricaturista nos jornais "Sporting" e "Cócórócó". O trabalho de Cruz Caldas inscreve-se no contexto do modernismo, seja por influência da formação artística (foi discípulo de Acácio Lino e Teixeira Lopes), seja na vertente profissional ou mesmo pessoal, uma vez que a pintora Aurélia de Sousa era sua madrinha. Assim se afirmou um criador multifacetado que entendida o papel que a comunicação adquiria em todos os domínios da vida, bem como a dimensão artística que lhe estava associada. 


António Cruz Caldas e esposa na "Noite de Orvalhadas" no Orfeão do Porto


Raúl Alves Machado de Oliveira com Cruz Caldas a seu lado no cinquentenário da "Empreza do Bolhão, Lda.", em 1973 no "Vidago Palace Hotel"

Do seu arquivo fazem parte, por exemplo, estudos para o cartaz da “Bienal Internacional de Arte de São Paulo”, o cartaz da opereta "O Pardal de São Bento", ou o estudo e maquetas para logotipo e anúncios da firma "Jomar". Em 1926, participou no "Salão dos Humoristas Portugueses Salão Silva Porto", um espaço cultural por onde passaram outros artistas do modernismo, como o pintor Júlio Resende. Além da caricatura e publicidade, trabalhou, também, como ilustrador de capas de livros e começou a colaborar assiduamente com instituições da cidade, como o "Teatro Sá da Bandeira" ou "Orfeão do Porto", na elaboração de cartazes e programas, ao serviço da "Empreza do Bolhão, Lda.".


Cenário de Cruz Caldas  para a revista "Ó Meu Rico São João" , no "Teatro Sá da Bandeira", em 1938


Biscoitos e bolachas "Bolhão

Na década de 60 do século XX, o filho de Raúl Lopes de Oliveira, Raul Manuel Alves Machado de Oliveira torna-se Administrador da "Empresa do Bolhão, Lda." Viria a conseguir a a sobrevivência da empresa resistindo às convulsões políticas e laborais do pós 25 de Abril de 1974, que se manifestaram no plano financeiro e laboral. Depois de anos difíceis, e de um acumular de prejuízos, Raúl de Oliveira consegue uma injecção de capital por parte do "Banco Borges & Irmão", o que permitiu não só a empresa sobreviver como recuperar e voltar aos resultados positivos.


1950


Calendário de parede


1950


1960

Os anos foram passando, e consegui aceder a alguns "Diário da República" que me ajudaram a conhecer os sócios e gerentes desta empresa, a partir da década de oitenta do século XX, assim:

- Em 14 de Maio de 1982, escritura de unificação de quotas e partes de quotas, «o capital social, integralmente realizado, é de 600 000$ e dele pertence uma quota do valor de 420 000$ ao socio Dr. Raul Manuel Alves Machado de Oliveira e uma do valor de 20 000$ a cada um dos sócios Maria da Conceição Capelo Alves Machado da Costa Sousa Macedo, Dr. Pedro Paulo de Morais Alves Machado, Dr. Manuel Gonçalo de Morais Alves Machado, Dr.ª Maria Isabel Alves Machado Guedes, Fernando Pedro Alves Machado Guedes, Luís Manuel Alves Machado Guedes, Dr. Roberto Cristiano Alves Machado Guedes, Maria Helena Alves Machado Guedes da Cruz Almeida e engenheiro Antônio Gil Alves Machado Guedes».

- Em 2 de Novembro de 1988, escritura de aumento de capital de 600.000$00 para 16.200.000$00. «O capital social, inteiramente deliberado, é de 16.200.000$, sendo de 11.340.000S00 a quota do sócio Dr. Raul Manuel Alves Machado de Oliveira e de 540 000$ a quota de cada um dos restantes sócios Maria da Conceição Capelo Alves Machado da Costa de Sousa Macedo, Pedro Paulo de Morais Alves Machado, Manuel Gonçalo de Morais Alves Machado, Maria Isabel Alves Machado Guedes, Fernando Pedro Alves Machado Guedes, Luís Manuel Alves Machado Guedes, Roberto Cristiano Alves Machado Guedes, Maria Helena Alves Machado Guedes da Cruz Almeida e Antônio Gil Alves Machado Guedes».


Postal publicitário



Raul Machado de Oliveira sofre um acidente em Dezembro de 1988 e acaba por falecer em 1990. Em Outubro desse ano, a "Higifarma, SGPS, S.A.". torna-se na única acionista da "Empresa do Bolhão, Lda." .

Ainda no "Diario da Republica" de 19 de Julho de 1991,  a aquisição da "Empresa do Bolhão, Lda." pela "Higifarma, SGPS, S.A.". «O capital social, inteiramente realizado, é de 16 200 000$00, representado por uma quota de igual montante pertencente à Higifarma, S. G. P. S., S. A.». A sede continuou na Rua Formosa, 342, no Porto. A "Higifarma, SGPS, S.A." torna-se, assim, a única acionista da "Empresa do Bolhão, Lda.", passando a ter como administradores, Dr. Caetano Beirão da Veiga, Dr. Alexandre Martins e Hélder Bexiga Tomás de Almeida que se tornará o Presidente da "Higifarma, SGPS, S.A.".

Em 17 de Fevereiro de 1994, e segundo o "Diário da República" são nomeados os gerentes para a "Sociedade do Bolhão, Lda."«Certifico que, na sociedade em epígrafe, foram nomeados para o cargo de gerentes António Alexandre de Almeida Martins, Caetano Espírito Santo Beirão da Veiga e Hélder Bexiga Tomás de Almeida.»

Pouco tempo depois a "Sociedade do Bolhão, Lda.", passa a sociedade anónima de responsabilidade, mudando a sua designação para "Sociedade do Bolhão, S.A.", aumentando o seu capital social para 90 000 000$00.


A "Empreza do Bolhão, S.A." viria a absorver a "Poligráfica" - herdeira da "Litografia Progedior" e da antiga "Litografia Progresso"- e a "R. Durão". Estavam assim reunida numa só empresa uma série de valências que seriam mais valias para o futuro. Se a "Empresa do Bolhão, S.A." baseava a sua actividade nos catálogos, cartazes, placards, calendários, rótulos, desdobráveis, cartas, postais, selos, acções, letras, cheques, mapas e embalagens, a Poligráfica estaria mais vocacionada para o PPV, artes gráficas e displays.

Pouco tempo depois viria a surgir a "Packigráfica, S.A.", que era o resultado directo da aquisição de uma instituição centenária por um dinâmico e seguro grupo. «É a vibrante evolução de produto de duas companhias de sucesso: Empreza do Bolhão e Grupo Higifarma», podia-se ler numa brochura do Grupo.

Com a criação deste grande grupo económico "Higifarma, SGPS, S.A." o objetivo da formação de um grande cartel empresarial na cartonagem e embalagens era uma realidade. Empresas como a "Lifresca S.A.", a "Etiforma Lda", a "José Henriques Lda", a "Eurembal Lda", a "Laboplaste Lda", as Packigráfica/Empreza do Bolhão S.A., a "Litográfica do Sul S.A.", a "Litografia Nacional S.A.", a "Unipromo, Noripex, Blister SA", a "Nova Proemba" e a "Eurodisplay" englobavam assim a ""Higifarma, SGPS, S.A.".

Outra das questões que se levantou entre 1994 e 1995, já na gestão de Caetano Espírito Santo Beirão da Veiga, foi a transferência das instalações da "Empresa do Bolhão, S.A." para a Maia. Este facto relevante na vida da empresa foi confirmado numa carta assinada por Caetano Beirão da Veiga, onde transmitia que «como estava previsto aquando da aquisição da empresa, e é do conhecimento de todos, o funcionamento da Empreza do Bolhão Lda nas suas actuais instalações seria por tempo determinado, o qual estará prestes a terminar. A mudança de instalações ter-se-á de efectuar até ao mês de junho do corrente ano. Além daquele motivo, é manifesto que a Empreza não poderia continuar nas actuais instalações por mais tempo. Desde logo, o seu desenvolvimento e, consequentemente, a sua viabilização estava a ser posta em causa.
Com estas instalações industriais, em pleno centro da cidade do Porto, o acesso para aprovisionamento de matérias-primas e carregamento de obra acabada, torna-se dia-a-dia mais problemático. A situação tornou-se mesmo inviável com a alteração recente das condições de trânsito na rua de acesso, ao ser suprimido o estacionamento em frente à Empresa, tornando a rua na sua totalidade de faixa de rodagem.
Por outro lado, a impossibilidade de expansão das instalações tornou impossível qualquer tentativa de renovação do parque de máquinas, sendo que as aquisições ultimamente efectuadas não estão a laborar nas melhores condições de rendimento. Acresce a isto e de acrescida importância, que é quase impossível, - pela impossibilidade de efectuar obras -, dar cumprimento a determinações.
Assim, procurou a gerência da Empreza proceder à transferência da mesma para umas instalações que permitissem satisfazer todas aquelas condições o que, e após uma primeira tentativa e que se gorou, - aliás por questões de saúde pois fazia sentir-se, de forma não aconselhável, os efeitos de uma indústria de tratamento de lixos -, acabou por se encontrar solução e localiza-se no concelho da Maia, mais concretamente, no lugar do Rio – (E.N. 107) Nogueira da Maia, junto à instalações da Finexport e Giannone»

Pelo que, em Janeiro de 1995, é efectivada a transferência das instalações para a Rua Dr. Joaquim Nogueira dos Santos, 135 no lugar do Rio em Nogueira - Maia, distrito do Porto.


Instalações da "Packigráfica" na Maia

Em 1998, a grande "Litografia Nacional", que tinha sido fundada em 1894, na cidade do Porto, por João Ignacio da Cunha e Souza (1821-1905), entra para a "Packigrafica, S.A.".

Ainda, e segundo publicação em "Diário da República" de 2 de Maio de 2005, e segundo deliberação de 31 de Março de 2004, nomeação de administradores da "Empresa do Bolhão, S.A." para o triénio: «Certifico que foi depositada acta onde consta a designação dos membros dos órgãos sociais para o triênio de 2004-2006.
Conselho de administração: presidente, Hélder Bexiga Tomás de Almeida, casado, residente (...), Cascais; vogais: Caetano Espírito Santo Beirão da Veiga, casado, residente (...), Vila Franca de Xira; António Alexandre de Almeida Martins, divorciado, residente (...), Barreiro; Fernando Manuel de Oliveira Ribeiro, casado, residente (...) Porto; Joaquim de Sousa Nunes, casado, residente (...) Matosinhos; Fabrice Max Rozemblum Tomás de Almeida, casado, residente (...) Cascais; Bruno Afonso Fernandes de Arriscada Molarinho do Carmo, casado, residente (...), Sintra.»

Com a queda do "Banco Espírito Santo" em 2014, o "Grupo Higifarma SGPS começou a sentir dificuldades de financiamento e o que parecia uma sólida concentração empresarial, acaba por entrar em processo de insolvência, arrastando consigo todas as empresas do Grupo - Packigráfica, EuroDisplay, Litográfica do Sul, Lifresca, Etiforma, Laboplaste e Eurembal.

Na altura do seu encerramento definitivo a actividade (CAE) da "Empresa do Bolhão, S.A." era: «Indústria gráfica, organizar e dirigir propaganda no País e no Estrangeiro, vender todos os materiais destinados à publicidade, explorar concessões, impressionar e vender filmes.». Depois dos seus bens imóveis terem ido a leilão em 25 de Fevereiro de 2021, a insolvência da "Packigráfica" viria a ser declarada insolvente em Maio de 2023.

Contudo, e felizmente, «o espólio da Empreza do Bolhão foi adquirido pelo município da Maia, na sequência da liquidação da "Packigráfica", com intuito de manter a integridade do valioso património gráfico e de o manter disponível na esfera pública. Quando a Empreza do Bolhão fechou, "esse espólio foi vendido em hasta pública e a Câmara Municipal da Maia conseguiu adquiri-lo". Rui Menezes revela que o objetivo sempre foi o de "preservar e depois o pôr à disposição da comunidade para ela poder ser estudada e para lhe darem valor".»


"Arquivo" histórico da "Empreza do Bolhão, Lda." aquando do leilão das instalações da "Parkigráfica"

Entre 1 de Abril de 2022 e 31 de Março de 2023 esteve patente no "Museu de História e Etnologia da Terra da Maia", a exposição "A Empreza do Bolhão - 100 anos de História(s)", «que reúne grande parte do espólio documental das empresas de Caldevilla e da Empreza do Bolhão e que ilustra, de forma significativa, a evolução da indústria litográfica do séc. XX em Portugal.»


Nota: Este artigo foi elaborado a pedido da "Revista da Maia 2024", que amavelmente o publicou na mesma.

Bibliografia: Mestrado em Design - "O cartaz publicitário na obra gráfica de António Cruz Caldas" de Tina Joanna de Castro Moreiras - Escola Superior de Media Artes e Design Politécnico do Porto - Dezembro de 2019.

Agradecimento: à colaboração histórica do Dr. Rui Teles de Menezes - Técnico Superior de História no Gabinete de História do Departamento de Educação, Ciência e Cultura da Câmara Municipal da Maia.

fotos in: Arquivo Municipal do Porto, Biblioteca Nacional DigitalArquivo Nacional da Torre do Tombo