O "Palace-Hotel Leixões", foi inaugurado em 20 de Junho de 1915, na Rua de Sta. Catharina, nº 2 em Leixões-Leça da Palmeira-Matosinhos. Foram seus promotores Manoel Pinto de Mesquita, Domingos Pereira d'Azevedo, José Luiz Ribeiro, Manoel da Silva Moreira e Manoel Caetano Rodrigues Correia.
A nossa terra, até agora presa e acorrentada á mais criminosa indolência, tende a progredir extraordinariamente, mercê dos extraordinarios esforços de um grupo de indivíduos que, sacrificando tudo, acabam de tomar a seu cargo a exploração de um grande e comodo hotel e restaurante, situado num dos principais pontos da nossa vila.
Esse hotel e restaurante, denominado Palace-Hotel Leixões, reune em si o maior número de comodidades imaginaveis; situado num dos principais pontos da nossa terra, em frente á bacia de Leixões, comporta comodos para grande número de hospedes; os seus quartos, arejados, igienicos e confortáveis, estão mobilados com simplicidade mas com manifesta comodidade e igiene; não ha quarto algum que não tenha uma excelente janela donde se disfruta um belo e atraente panorama; todos eles, com raras excepções, estão providos de excelentes estufas para inverno, alimentadas a gaz; o serviço de limpeza e igiene é completo; os quartos de banho estão distribuídos com proficiência no primeiro e segundo pavimento, de forma que os hospedes se não possam incomodar.
A convite dos ilustres proprietarios desta excelente casa, srs. Manoel Pinto de Mesquita, Domingos Pereira d'Azevedo, José Luiz Ribeiro, Manoel da Silva Moreira e Manoel Caetano Rodrigues Correia, tivemos ensejo de apreciar a sua bela montagem e as vantagens que apresenta, comparadas com as que nos oferecem as outras casas congeneres. A sala de visitas, mobilada com simplicidade mas com notavel gosto e arte, é confortavel; a sala de jantar, disposta como aconselha a nova estetica, recomenda-se pela bela paisagem marítima que dela se disfruta e é duma comodidade extraordinaria; nela se podem servir jantares para mais de sessenta comensais!
Finalmente o Palace-Hotel Leixões é um estabelecimento modelar que, além de muitas outras vantagens tem a de facilitar que as pessoas hospedadas em hoteis do Porto, que tenham contrato com este, podem fazer aqui as suas refeições sem dispenderem coisa alguma; quer dizer, um hospede do Hotel do Porto pode almoçar ali, vir jantar a Leixões e regressar ao Porto, sem que tenha de pagar o jantar aqui, o que constituiria uma despesa extraordinaria. É, portanto, digna dos maiores elogios a iniciativa dos seus proprietarios, dotando a nossa terra com um estabelecimento modelar, que se pode pôr a par dos seus congeneres, nas principais terras da península.
Aos seus dignos proprietários os nossos agradecimentos pela gentileza do convite, e bem assim pelo excelente menu que se dignaram oferecer-nos por ocasião da nossa visita ao seu estabelecimento.»
Umas décadas mais tarde, a sua denominação passa de "Palace-Hotel Leixões" para "Palácio Pensão Leixões".
Quanto às lojas do edifício do "Palácio Pensão Leixões" nos anos 60 do século XX estavam assim distribuídas: «no canto esquerdo, em baixo, a tabacaria do sr Delfim; a entrada ao lado da tabacaria do sr. Delfim é a do "Café Golfinho" (do sr. Oliveira); à direita do edifício, o "Bar Leixões" onde mais tarde foi o café "Mar à Vista" (o proprietário sr. Florival abriu mais tarde o "Café Palmeira" na Rua do Vareiro) e a entrada junto ao "Bar Leixões" era a da pensão».
Mas, eis que na manhã de 31 de Dezembro de 1964, deflagrou um incêndio em fardos de algodão descarregado do navio holandês “Laarderkerk”, quase em frente ao actual quartel dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos - Leça. Aparentemente extinto, o fogo reacendeu, mais tarde, noutros fardos de algodão a salvo do incêndio inicial. Para salvaguardar o navio, primeiro, ele foi conduzido para fora do Porto de Leixões, mas acabaria, embora salvando-se das chamas, por encalhar numas rochas à saída do porto.
O pior aconteceria ao "Palácio Pensão Leixões", localizado no outro lado da avenida junto ao restaurante "Bem Arranjadinho". Os farrapos de algodão, transformados em fagulhas, seriam levados pelo vento e sobrevoando Leça da Palmeira, atingiriam o hotel, pelas 18 horas, transformando-o num pasto de chamas. O edifício, ardeu quase na sua totalidade, por ter recebido larga quantidade de flocos de algodão a arder, e não resistiu ao fogo que o consumiu até restar apenas o esqueleto de pedra em pé.
No dia 2 de Janeiro de 1965 o jornal "Diário de Lisbôa" dava a notícia:
Entretanto, ontem, pela manha, as chamas reacenderam-se no prédio pertencente a sra. D. Alice Bastos Messeder, onde se encontrava instalada a Pensão-Bar «Golfinho», do sr. Jose de Oliveira, tendo, por isso, estado em perigo um outro imóvel, contiguo aquele, em cujos baixos funciona o Bar «Leixões».
Poucas horas depois do primeiro foco ter sido debelado, deflagrou o segundo incêndio, a regular distancia daquele, não se admitindo qualquer relação entre os dois. Os bombeiros locais e os sapadores voltaram a atacar, mas em breve houve que dar o alarme geral ás corporações do distrito, que compareceram em força, excepto a de Avintes, que ficou de prevenção. (…) »
No dia seguinte, 1 de Janeiro de 1965, podia-se ver as ruínas do hotel e, durante anos, a tabacaria do sr. Delfim, que resistiu porque era toda revestida a chapa que a isolou do resto do prédio não pegando aí o fogo, manteve-se a funcionar vendendo jornais e revistas durante anos. Passado anos, viria a ser demolida para se proceder ao alinhamento da avenida.
Já outro hotel tinha sido atingido por outro violento incêndio em 1957, o "Hotel Golfinho", que ficava na mesma correnteza do famoso restaurante "Garrafão".
fotos in: Biblioteca Nacional Digital, Porto Antigo de José Rodrigues (Flickr), Porto de Antanho