Restos de Colecção: março 2019

13 de março de 2019

Folheto “RTP” em 1956

Para enquadrar a publicação deste 1º folheto/revista promocional editado em 1956 da, então, recém criada “RTP - Radiotelevisão Portuguesa S.A.R.L.”, recordo os primeiros parágrafos do artigo acerca da sua história, publicado neste blog em 2 de Setembro de 2012 e que poderá consultar no seguinte link: “RTP - Radiotelevisão Portuguesa”:

«Em 1955 é nomeada uma Comissão de Estudos com a finalidade de coordenar e de se pronunciar sobre os estudos realizados, por sua vez, pelo Grupo de Estudos de televisão e definir os moldes das futuras emissões. Esta comissão era constituída pela direcção "Emissora Nacional", um representante do "Rádio Clube Português" (Botelho Moniz) e outro do Ministério das Comunicações.

Por iniciativa do Governo, a constituição da "RTP - Radiotelevisão Portuguesa, SARL" é feita a 15 de Dezembro de 1955. Tratava-se, portanto de uma sociedade anónima, com capital social de 60.000 contos, tripartido entre o Estado, emissoras de radiodifusão privadas e particulares. Em 16 de Janeiro de 1956 é assinado o contrato de concessão de Serviço Público de Televisão, assinado pelo 1º Presidente da RTP Camilo Mendonça, os 2 administradores Jorge Botelho Moniz e Stichini Vilela e o Prof. Marcelo Caetano Ministro da Presidência e Ministro das Comunicações interino, e grande dinamizador da ideia da criação da RTP junto do Presidente do Conselho Dr. Oliveira Salazar.

Jorge Botelho Moniz a assinar o contrato de concessão

A 18 de Julho de 1955, no “Pavilhão das Indústrias Portuenses”, instalado na "Feira Popular do Porto", têm lugar as sessões experimentais em circuito fechado.

As emissões experimentais da RTP iniciaram-se às 21h 30m do dia 4 de Setembro 1956, a partir da "Feira Popular de Lisboa", no Parque da Palhavã em Lisboa.»

 

Folheto “RTP” publicado em 1956 (50.000 ex.)

«No início a televisão era vista, sobretudo em cafés ou montras de lojas que vendiam aparelhos. A RTP também possuía a sua própria loja na Praça de Londres, esquina com a Avenida Paris, onde igualmente comercializava aparelhos de televisão. Também afixava a programação da emissão diária da RTP no exterior da mesma.»

Loja da RTP , na Praça de Londres em Lisboa e programação para 30 de Maio de 1958 afixada no exterior

      

Anúncio em 22 de Março de 1958

 fotos in:  Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Colecção Particular

11 de março de 2019

Hotel Universo

O “Hotel do Universo”, propriedade do galego Francisco González y González,  abriu as suas portas no primeiro semestre de 1888, no edifício esquina da Rua Aurea com a Praça D. Pedro IV, e com entrada pela, então, Rua Nova do Carmo, 102 em Lisboa.

Na foto seguinte o “Hotel do Universo”, e no piso térreo (e da esquerda para a direita) as lojas “Lopes de Sequeira”  fundada em 1902, e a Tabacaria Costa fundada em 1892.

 

Anúncio de 1888

Hotel do Universo.3

Não consegui saber muito acerca desta unidade hoteleira. Em 1865 estava instalada neste mesmo edifício a hospedaria “Pomba de Oiro”, que, a partir de 1879, já aparecia referenciada nos guias do viajante e almanachs, como “Hotel Pomba de Oiro”.

“Hospedaria Pomba de Ouro”, em 1865

“Hotel Pomba de Oiro”, em 1879

A partir do primeiro semestre de 1888, o “Hotel Pomba de Oiro” é adquirido, pelo galego José Maria Trigo Gonzalez que aparece referenciado como proprietário em anúncios de 1933, que passa a ocupar, também, o prédio contíguo da Rua do Ouro. Entretanto, muda a  designação para “Hotel do Universo”, que anos mais tarde passará apenas a “Hotel Universo”. Este galego abriria mais dois hotéis com o nome "Hotel Universo". Um em Angola e outro em Pontevedra (Galiza).

“Hotel do Universo” frente para a Rua do Ouro e entrada pela Rua do Carmo, 102

           

1934

             

Etiqueta de bagagem

Entrada pela Rua do Carmo, 102 nos anos 60 do século XX

 

Como se pode observar pelas fotos atrás publicadas, uma das lojas do edifício foi ocupada, desde 1892, pela conhecida Tabacaria Costa até finais dos anos 30 do século XX. Em 1939 é aprovado o projecto de alteração da fachada para a  “Tabacaria Rossio”, pela CML. Em 1940/1941 abre a “Tabacaria Rossio” que, felizmente, ainda funciona e gerida pela 2ª geração da família galega fundadora do estabelecimento.

 

Não sei ao certo em que ano terá encerrado o “Hotel Universo”, mas creio que durante os anos 70 do século XX, já que a foto a cores que publico um dos automóveis tem matrícula (IH) de 1971. Os pisos outrora ocupados pelo “Hotel Universo” são, desde os os anos 90 do século XX ocupados pela, “GrandVision Portugal, Unipessoal, Lda.”, actual detentora da cadeia de lojas “MultiOpticas”.

Recentemente, via “Google Maps”

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Municipal de Lisboa

8 de março de 2019

Lojas “Pinheiros”

O grupo de lojas "Pinheiros", teve a sua origem na "Casa Pinheiro", fundada em 1840 por Manuel Pinheiro Ribeiro, na Rua Augusta, em Lisboa. Por morte do fundador, a casa passou para a posse de seu sobrinho e colaborador Francisco Maria da Costa, prestigiada figura do comércio, que, a par de proprietário da firma, foi, também, diretor do “Banco de Portugal”.

“Pinheiros” à direita na foto, na Rua Augusta. À esquerda na foto a sede do banco “Crédit Franco-Portuguais

Francisco Maria da Costa ensinou aos seus três filhos os segredos do seu comércio, trabalhando estes todos na casa e ficando o mais velho, Manuel Pinheiro Ribeiro da Costa, por morte de seus irmãos, único proprietário da firma. Continuando
as tradições da família, Manuel Ribeiro da Costa valorizou,  quanto possível, o seu estabelecimento promovendo obras de renovação e ampliação.

Perspectiva da localização da loja “Pinheiros” (dentro da elipse desenhada), na Rua Augusta, no início do século XX

Dos seus dois filhos, o mais velho, Francisco Manuel Tomaz Pinheiro Ribeiro da Costa, herdou a firma e as responsabilidades de prestígio que esta, como decorrer dos anos, ia ganhando. Este seria o pai dos últimos sócio-gerentes: Manuel Pinheiro Jardim Ribeiro da Costa, Luís Filipe Jardim Pinheiro Ribeiro e Fernão Vasco Jardim Pinheiro Ribeiro. Por este motivo a designação da loja seria mudada para "Pinheiros".

A "Pinheiros" experimenta um notável impulso, atestado pela abertura, em 1962, da sua belíssima filial na Avenida de Roma, no prédio contíguo ao snack-bar e pastelaria "Tique-Taque".

Filial da “Pinheiros”, na Avenida de Roma (dentro da elipse desenhada)

Edifício onde estava instalada, com o reclame visível por detrás do transeunte de óculos

 

Três anos depois, em 1965, é inaugurada a segunda filial na Avenida da República, junto à Praça Duque de Saldanha, com características idênticas à da Avenida de Roma.

Filial da “Pinheiros” na Avenida da República, à direita na foto, (dentro da elipse desenhada) e junto ao Saldanha

 

 

Entretanto a "Pinheiros”, inaugura, em 1967, na sua sede na Rua Augusta, uma nova secção de Pronto a Vestir para homem. Nesta secção, no primeiro andar, grande parte do seu sortido era confeccionado em fábricas suas fornecedoras. Alguns desenhos para do seu pronto a vestir masculino, eram da autoria do famoso alfaiate inglês Louis Stanbury, um dos sócios da conhecida firma londrina "Kilgour, French & Stanbury, Ltd.", que para o efeito celebrou o devido contrato com a "Pinheiros". Nesta secção da sua sua sede, existia, ainda, uma secção de venda de tecidos a metro, com mais de mil peças de fazenda diferentes.


Também na filial da Avenida de Roma, se encontrava a secção de venda a metro de tecidos para homem, assim como , e a partir de Abril de 1967, a nova secção de pronto a vestir para homem. O mesmo se passaria com a sua filial na Avenida da República/Saldanha. Quanto à secção de tecidos a metro para senhoras, o stock era, em 1967, de cerca de sete mil artigos diferentes,  situando--se este departamento, com as secções de lãs, sedas e forros , no rés-do-chão da sua sede na Rua Augusta.

A fim de completar a sua actividade no ramo de alta costura, a "Pinheiros", criaria outra firma, nascida da actividade independente de uma das suas secções,  tendo sido designada de "Pinheiro - Costura, Lda.". Com ela apoiava a alta costura portuguesa, sendo representante das firmas "G. Petillaut, S.A." de Paris, malhas "Racine", de Nice-Paris e "Cadena, S.A." de Madrid. Na sua sede e filiais, a "Pinheiros", comercializou artigos de muitas origens, tais como: portugueses, ingleses, franceses, alemães, italianos, suíços, espanhóis, americanos, austríacos, belgas e irlandeses.

«A fama da qualidade e eficiência dos serviços da Pinheiros espalhou-se por todo o Portugal Continental, Ilhas e Províncias Ultramarinas, donde recebe mensalmente milhares de pedidos de amostras. Tal facto levou á criação duma secção de vendas por correspondência.
Os pedidos acima referidos são cuidadosamente analisados, e uma vez seleccionadas as amostras pedidas, são enviadas aos clientes interessados. Por este motivo a firma recebe mensalmente centenas de encomendas que são expedidas pelo correio para os respectivos destinos.
Desde  a sua criação que a PInheiros
tomou como lema servir da melhor maneira todos quanto directa ou indirectamente dependem da sua actividade.»

1967

Em 1967, a "Pinheiros", tinha ao seu serviço cerca de duzentos empregados, quarenta e cinco dos quais com mais de 20 anos ao serviço, assim distribuídos por antiguidade: quatro empregados com mais de 50 anos de serviço; oito com mais de 40 anos de serviço; dezasseis com mais de 30 anos de serviço e dezassete com mais de 20 anos de serviço. O seu corpo administrativo e directivo era composto por vinte e cinco funcionários.

O excerto seguinte, foi retirado do artigo «Shopping in Lisbon – The Pick of Portugal», da autoria de E. C. Dessewffy, correspondendo a um dos capítulos do guia “Fodor’s” sobre Portugal, edição de 1974:

«No final da Rua Augusta, ao chegar à famosa Praça do Cavalo Negro (Terreiro do Paço), Pinheiros, no número 62, é especializado exclusivamente em têxteis, lãs e algodões, no rés-do-chão, e em sedas e roupa masculina no primeiro andar. É uma loja algo antiquada, mas de inteira confiança. A Casa Monteiro, Rua do Ouro 265, primeiro andar, tem uma grande escolha de tweeds, sedas e algodões.»

Na rua dos Fanqueiros existiu a “Casa dos Panos”, da família do mestre olisipógrafo Luís Pastor de Macedo, que, em meados do século XIX, terá pertencido aos Pinheiros. Da família Pinheiro, ainda a dizer que, teria ligações familiares ao grande actor teatral António Augusto de Chaby Pinheiro (1873-1933).

Em Dezembro de 1980 existiam lojas “Pinheiros”, na Rua Augusta, Avenida de Roma, Campo de Ourique, Cascais e Setúbal. Encerrariam definitivamente, poucos anos depois. Tanto a sua sede na Rua Augusta, como a loja da Avenida de Roma, seriam adquiridas pelo “BCP - Banco Comercial Português”. A filial do Saldanha seria adquirida pelo “Barclays Bank”.

5 de março de 2019

“Hotel de Paris” no Estoril

O “Hotel de Paris” foi fundado em 11 de Fevereiro de 1899 por Léon Lacam, em Santo António do Estoril (actual Estoril), perto do “Convento de Santo António”, e junto à “Estrada Real”  e atrás da Estação de Caminhos de Ferro.

Até à implementação do projecto da firma “Figueiredo & Sousa”, - constituída por Fausto de Figueiredo e Augusto carreira de Sousa -  a partir de 1914, Santo António do Estoril (actual Estoril) continuava a ser sobretudo divulgado pelo seu pinhal e parque termal, inserido na quinta de José Viana da Silva Carvalho. Existiam, então, dois estabelecimentos termais, inaugurados em 1880 e 1894, respectivamente, assim como um grupo de casas de aluguer instaladas no Pátio do Viana, a quem se deveu, depois, a construção do edifício para hotel, defronte da linha férrea, que viria a ser adquirido pelo francês "Léon Lacam” e que viria a ser o “Hotel de Paris”. Para além da Quinta do Viana, outras parcelas adquiridas pertenciam às antigas quintas do Machado e do Caldas.

Carta topográfica (antes de 1914)

“Quinta do Viana”, sua Estação Termal e a “Estrada Real”, em 1910. O “Hotel de Paris” situava-se à esquerda

Quanto às águas termais do Estoril, no “Roteiro de Portugal, Antigo e Moderno” de João Baptista de Castro em 1870 

Estação do Estoril ,da “Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes” na linha “Pedrouços-Cascais” inaugurada em 30 de Setembro de 1889

 

O “Hotel Paris”, tornava-se na primeira unidade hoteleira a entrar em funcionamento nesta região, igualmente afamada pela sua praia, hoje conhecida porTamariz”, onde se destacavam três belíssimos exemplares de arquitectura de veraneio: o “Chalet Barros” ; “Chalet Schröter” e de “Casa de S. Roque”.

1904

                                 “Chalet Barros”                                                                        “Chalet Schröter”

 

Panorama da costa de St. António do Estoril podendo-se observar a Estação de C.F. (à direita na foto) o “Hotel de Paris” (à esquerda da vela do barco) e o “Convento de Santo António” (à esquerda na foto)

 

Entretanto em 1913, já este Hotel pertencia a Emile Renault, que não o seria, naquele lugar, por muito mais tempo, já que, em 1914, teriam início as demolições da vasta área da antiga “Quinta do Viana”, entretanto adquirida pela firma “Figueiredo e Sousa”, para dar lugar ao grandioso e arrojado projecto de Fausto de Figueiredo.

Anúncio no “Guia Official dos Caminhos de Ferro de Portugal” de 1913

Artigo na revista “Illustração Portugueza” em 10 de Agosto de 1914

Num artigo do jornal "A Capital" em 26 de Agosto de 1918 podia-se ler:

«No rez do chão, n'um comprimento de algumas dezenas de metros estende-se um terraço vastissimo, todo cheio de mezas, onde, no verão, são servidos os admiraveis e tradicionaes jantares e almoços do Hotel-Restaurant Paris a que um mestre habilissimo de cozinha sabe dar os mais delicados tons de gosto.
É o seu intelligente proprietario que vem n'um requinte de amabilidade, receber-nos. Chama-se Louis Vergani  e é bem conhecido entre todos o que habitualmente viajam com frequencia pelo paiz. É socio do Grand Hotel Club das Caldas das Felgueiras e foi durante largos annos, gerente do Hotel de Inglaterra e de outros hoteis do Mont'Estoril.
No Hotel Restaurant Paris, que conta com cincoenta aposentos, fala-se francez, inglez, o italiano e o hespanhol, o que é uma enorme vantagem para a clientella cosmopolita que é a que a mais o frequenta.
Os preços, apesar de todas as grandes difficuldades de hoje, são mais baixos do que em Lisboa. Assim, por exemplo, a pensão é de trez a cinco escudos por dia. Os almoços 1$40, e os jantares 1$50.
Realmente, quem é que não quererá vir passar um tempo ao Estoril, no tão magnifico hotel, por tão favoraveis preços? Mas apressem-se que poucos são os quartos ainda disponiveis no Hotel-Restaurant Paris.»

Este Hotel passaria para outro edifício no Estoril, e por volta de 1920 seria adquirido pelo suiço Louis Vergani, que em 11 de Julho de 1924, requereria aval para que Domingos Teixeira dos Santos edificasse novo projeto aprovado em sessão camarária. A 5 de Maio de 1928, Vergani requereu permissão para aumentar o hotel onde vivia e, em Julho de 1930, o Ministério das Finanças isentou-o de contribuição predial e industrial, por dez anos.

Em 1932, o hoteleiro suiço Louis Vergani viria a inaugurar um novo Hotel, no alto do Estoril, de seu nome Hotel Paris”, projectado pelo arquitecto Inácio Peres Fernandes, e que ainda hoje existe, sob a designação de “Sana Estoril Hotel”.

Hotel Paris

foto in: Delcampe.net, Arquivo Municipal de Cascais, Hemeroteca Digital de Lisboa