Restos de Colecção: maio 2022

22 de maio de 2022

Som e Imagem em Portugal (10)

 


Exterior e interior de televisão nos anos 60 do século XX




Conjunto de televisão e HI-FI



Gravador de bobines portátil VC 2 ( "Valentim de Carvalho 2" )



Rádio portátil "Mediator"

16 de maio de 2022

Feira das Amoreiras e os Irmãos Dallot

 A "Feira das Amoreiras", instalava-se na Praça das Amoreiras, sempre entre Junho e Agosto. A primeira realizou-se em 1851. «Em 1865 a mudou para o largo da Patriarchal Queimada; mas decidindo-se fazer alli um jardim, a tornou pouco depois a mudar para as Amoreiras». A última na Patriarchal teve lugar em 1868, já que «assim se decidiu em sessão de 27 de Maio». De regresso às Amoreiras, era principalmente frequentada por forasteiros e vendilhões, que quase todas as noites armavam zaragata. Esta passou depois para Alcântara, passando chamar-se "Feira de Alcântara".


Praça das Amoreiras, já transformado no "Jardim das Amoreiras"


Referência no "Guia do Viajante em Lisboa (Anno 1880)"

«Eil-as que se approximam abafadiças, quentes, replectas de luar e de semsaboria! Os theatros fecham as portas, jardins públicos nao os temos, apenas o Colyseu nos sorri com uma companhia de zarzuella, e o Martinho nos acena com os seus sorvetes apetitosos! E muito pouco para quem detesta os perfumes culinários da feira das Amoreiras, e os perfumes nauseabundos da praça de D. Luiz! Nos clubs, os bilhares, as cartas, o dominó e o xadrez preparam-se para um encerramento provLorio, ao passo que os cafés franqueiam as suas portas. ao vento, que teima, a seu turno, em não comparecer.» in: "Gazeta Theatral", de 30 de Junho de 1884

Planta de 1857 com a localização da Praça das Amoreiras e da "Floresta Egípcia"

Nota: acerca da "Floresta Egipcia" falarei num próximo artigo neste blog, assim como de outros  lugares de divertimento nocturno, em Lisboa, no século XIX.

Já nos anos 20 do século XIX «o Juiz e mais festeiros da capella de Monserrate ás Amoreiras promoviam, todos os anno, pela Paschoa, uma feira que durava tres dias, e que se fazia no largo das Amoreiras». Foi nesta feira que Alexandre Herculano que  em 29 de Maio de 1828 «sem se saber como nem porquê, foi ferido» fruto de uma zaragata.

Os irmãos Dallot e Eduardo Villar eram proprietários de dois teatros de feira, começando como empresários na "Feira das Amoreiras". Aqui os teatros eram um amontoado de tábuas pintadas, de lonas às riscas e papéis de cores mal definidas. Ali se exibiram arlequins, robertos, circos de pulgas, alem dos citados teatrinhos. Ali nasceu o "Pim-Pam-Pum" (cada bola mata um), que resistiu até à extinta "Feira Popular de Lisboa" em Entre-Campos.


                                                    Joseph Dallot                                        Irmãos Charles e Joseph Dallot 


Teatro de Fantoches

Segundo Matos Sequeira , destes teatros de feira, o mais notável era o dos irmãos Dallot. Filhos de  funâmbulos, Charles Dallot, seu irmão Joseph e a irmã Júlia , terão nascido em Versalhes e vindo parar a Portugal, em meados do século XIX, tendo começado por trabalhar na Praça do Salitre, em seguida, na velha Praça do Campo de Santana e, posteriormente, no "Theatro-Circo de Price". De regresso a Portugal, na segunda metade do século XIX, os irmãos Dallot montaram o seu próprio teatro -barraca - de arlequins, como era costume dizer-se - representando umas «comédias ingénuas entremeadas com as habilidades do célebre cavalo elástico (...) "O Mosca" e com as graçolas e as truanices do Joaquim Confeiteiro , que ficou célebre na personagem do "Malhão" , no "Processo do Rasga" , e que foi durante muito tempo o palhaço do "Teatro Infantil das Amoreiras" »

O teatro de “boulevard”, do famoso "Boulevard du Temple", em Paris, chegou a Portugal pela mão dos Dallot, que criaram uma escola de artes do espectáculo para muitos actores populares. Será o caso do actor espanhol Jaime Venâncio, autor de uma famosa opereta "O Processo do Rasga", e de sua mulher, a actriz Eliza Aragonez, que fez sucesso no "Theatro do Rato" e no segundo "Theatro da Alegria", onde representou Torpeza, e, posteriormente, no "Theatro da Rua dos Condes" e no do "Theatro do Principe Real" (1897), na paródia "José João".

Á porta dos teatros de feira chamavam-se os clientes espectadores: 

« – Entrar, senhores! Entrar!... grita lá de cima, do alto do corrimão do proscénio da parada, um arlequim de boa voz, meio pendurado no ar, irmão dos cometas e das estrelas, passeando no éter como os deuses, e berrando a seguinte frase, singela e grande
– Esta é a barraca frequentada pelas damas diplomáticas!... (…)
– Vai principiar, senhores!
– Já vai tocar-se a grrrande sinfonia, e dar começo ao espectáculo!
– Toca a música! berra um d’esses Cíceros da feira, rompendo em eloquência. Comprem os seus bilhetes, senhores; a função hoje é a melhor. Admirável! É admirável! Entram todos os artistas da companhia.
É um delírio. As três barracas da entrada (…) abalam-se de júbilo e de bulha! É a metralha toda do motim musical, abrindo com os latões, que são o artigo de fundo da harmonia, trrrão, tão tão, até já não haver forças para tocar o rufo, e assoar com os beiços o nariz de pau de pifano!...
E o palhaço grita ainda por cima daquela inferneira:
– Entrem senhores! Aproveitem os poucos lugares que ainda há e passem a tomar assento no meio da numerosa e escolhida sociedade, que está lá dentro à espera de que vá o pano acima! » Por Julio Cesar Machado (1835-1890)

Quanto à "Feira das Amoreiras" e os artistas, o livro "Mulheres da Beira - Contos por Abel Botelho", de 1898, descrevia:

«Então aquella feira das Amoreiras, essa era o seu maior incanto ! Achava ali augmentada, embellezada, enriquecida a feira franca de Viseu; era como se a estivesse vendo pola lente ampliadora de um cosmorama.
Elle pertencia a Caçadores 2, aquartelado em Valle do Pereiro; portanto, não longe do largo do pittoresco mercado, que a magestosa arcaria do aqueducto ladeia, n'uma affirmacào colossal de solícita previdência. Assim, cada tarde seguia para lá invariavelmente, e por lá vagueava ditoso, até ao recolher. Por vezes mesmo levava o seu enthusiasmo polos Dallot e o peixe frito ao ponto de se arriscar a pedir uma dispensa do recolher. Se a lograva, que reinação impagavel !
Plantava-se, horas seguidas, ante os barracões dos theatros, a remirar convulsionado os palhaços, os gladiadores, as actrizes, sobretudo as dançarinas, - anemicas, doentes, soffredoras, - sujamente vestidas de cassa, de papel doirado e de panninho.
Aquelles pernis desangrados e esguios que a malha cor de carne vestia, n'uma escarnecedora abundância de rugas sobrepostas; aquelles seios murchos, longos, pendentes, numa bandalhice aceusando a fome, a crapula e o desmazêlo ; aquellas claviculas salientes e pontudas, escala- vrando os collos em desegualdades tragicas de protesto, eram outros tantos aphrodisiacos poderosos para o bom do rapaz. Davam lhe energicos rebates na sensualidade ; punham lhe desejos febris na carne.
Emfim... rapaziadas, verdores, éstos do sangue dos 20 annos, — que admira!»


Artigo de Pinheiro Chagas no "Diario Illustrado" de 17 de Julho de 1872

Quanto aos Dallot o livro "Estroinas e Estroinices" de Eduardo Noronha, publicado em Maio de 1922, faz uma belíssima descrição, que passo a transcrever alguns passos:

«Por traz das barracas de quinquilharias, das que vendiam fructa sêcca, das mais ou menos luxuosas onde se tomavam refrescos, da fila de queijadeiras assentadas em bancos com as canastras dos esplendidos doces da Sapa e do Ramalhão na frente, arruavam-se as dos petiscos cosinhados n'essa quadra com puríssimo azeite ou banha e que rescendíam apetitosos e convidativos aromas. A'retaguarda d'estas prolongava se a dos espectáculos, com os seus phenomenos, os seus monstros, figuras de cera, a imprescindível "Cabeça falante", a "Mulher gigante», a "Eléctrica", e ainda o mais indispensável theatro dos irmãos Dallot, artistas desconhecidos da hodierna juventude, mas que ainda se exhíbem na memoria dos que transpuzeram a edade madura e se preparam para atravessar as fronteiras da velhice.
O occorrido nos nossos antigos e portuguezissimos tablados, bafôrdos, pateos, corros, mogigangas, festas, recreios e diversões populares e da corte fornecia elementos para se elaborar uma obra recheada de interesse e de attractivos.
Entre os innúmeros donos de barracas de espectaculos, que peregrinavam por todas as feiras do paiz, o mais popular, o mais applaudido, o que attingiu maior longevidade, foi Carlos Dallot.
Filho de funambulos, Carlos Dallot, seu irmão Joseph e a irman Julia, tinham os trez nascido em Versailles. Porque sahiram da sua terra, em 1846 ou 1848. elle, Carlos, na edade de nove annos? Naturalmente por causa da profissão dos pães, que os obrigava a deslocarem-se sem descanço n'uma existência nómada. O que os trouxe a Portugal de preferencia a outro paiz? Ninguém o averiguou. O que se sabe, segundo as suas próprias declarações, é que se apresentaram pela primeira vez ao publico lisboeta na antiga pista do Salitre, simultaneamente praça de toiros e circo equestre. Tempos depois mostra-se na velha praça do Campo de Sant'Anna e em seguida no circo do Price, sacrificado em holocausto á expansão da avenida da Liberdade.
Clowns, gymnastas, acrobatas, elles ; "jongleuse", a Julia, depressa conquistaram nomeada entre os frequentadores d'essa espécie de diversões. O Price escriptura os três irmãos na sua companhia e leva-os comsigo primeiro para Hespanha, que percorrem de um extremo ao outro, depois para Inglaterra, onde arrancam entusiásticos applausos ao publico de Londres, de Liverpool, de Manscheter, de Olasgow, das principaes cidades do Reino Unido, em competência com Wittoyne e outros artistas de egual renome.
Na feira das Amoreiras, entre outros números de sensação, hypnotiza as pessoas que se prestam a isso. Adormecia um rapaz, agarrado a uma vara. Em seguida, no somno magnético, elevava-o até formar com a vara um angulo recto. Abandonava o corpo que se mantinha n'essa impossível posição até que acordavam o somnolento. Nunca mais, nem o Onofroff, um hypnotizador inventado por António Santos, e que no Coliseu de Lisboa, da rua da Palma, deu alli enchentes successivas, com todas as pantomimices, nem outros magnetistas de egual jaez, precedidos de retumbante fama, realizaram trabalho mais limpo.


Julia Dallot no regresso enamora se de um portuguez e casa com elle. Morre ha cerca de quatorze annos em Pedrouços dei- xando descendência, que continua o mesmo género de vida da familia, sendo dona de barracas que surgem e se armam confor- me o itinerário das feiras.
Os irmãos Dallot visitam todo o paiz. Ha quasi quarenta annos estadeavam as suas habilidades na Madeira e nos Açores e em especial nas ilhas de S. Miguel e da Terceira. Improvizam os seus theatros em Santarém, no largo dos Pastelleiros, no Campo de Sá da Bandeira, por occasião da feira da Piedade; e, em outubro, e no largo do Milagre, em abril, no mercado d'essa designa- ção. Ahi morreu ha perto de vinte annos Joseph Dallot, que deixou uma filha. Estrella Dallot, actriz mais tarde na companhia ambulante do actor Oliveira Tainha.
Trabalham com igual exito na feira de S. Miguel, no Porto, na rotunda da Boavista; na feira de S. Lazaro, no Poço das Patas; na romaria de Mattosinhos, em diversas das cercanias.
Um dos dois irmãos torna se proprietário do antigo theatro das Carmelitas do Porto, hoje desapparecido. Pôe em scena a magica O ramo de oiro. Ganhou muito dinheiro. Um dia apaixona-se pela mulher de um sapateiro. Foge com ella. Para se precaver contra as exigências dos credores antigos, deposita em nome da transitória amante dez contos, que forrara. A divindade morre. O marido vinga se ao abrigo da lei. Saboreia o lucrativo castigo da traição da cara metade e do seductor, recebendo como legitimo herdeiro, os dez contos de Dallot.
Em 1909 o mallogrado Eduardo Coelho encontra Carlos Dallot a dirigir uma barraca no Dafundo com o titulo de Recreio Gloria. Formava essa casa de espectáculos uma parte de madeira - o proscenio - e a outra de lona - a sala. Estava alli ha dez dias, pois viera de Mafra e Cintra e pensava em ir para Cezimbra. Rodeavam-n'o então o filho, Carlos Dallot Junior, os netos, Domingos Dallot, Sofia e Henriqueta Sequeira, filhas de Manuel Sequeira, actor da companhia, recolhido por elle aos dez annos, e de Elisa Dallot Sequeira. Cercavam-n'o ainda outros descendentes : Augusto Salvado, Rosalia Dallot, Silva Piedade, etc.
A companhia representava n'essa occasião a peça "Resonar sem dormir" e incluia no seu reportório os dramas : "Gatuno consciencioso"; "João, o Corta-mar", "Pena de Morte", "Veteranos da Liberdade", etc. N'esse momento um dos números que o publico ovacionava com phrenesi era o "Manto Magico", imitação da "Dança serpentina", bailada com projecções por sua filha Salud Dallot. O velho saltimbanco emprezario introduzira melhoramentos nas suas récitas e explorava tambem o animatógrapho.
Decorrido tempo ergue a barraca em Villa Franca de Xira. Enferma dos ouvidos e vê-se obrigado com a sua edade avançadissima a internar-se no hospital de S. José. Recolhe á enfermaria Sousa Martins, cama 22. O Diário de Noticias relata a desagradável occorrencia. Surgem diversos alvitres e publicam-se differentes cartas. Entre essas, uma de E. N. Andrade appella para a caridade dos antigos companheiros para suavizar a sorte do provecto artista, que tanto dinheiro ganhara e dispendera.


Um teatrinho na "Feira de Belém"



Outro exemplo de um Teatro desmontável

As barracas de feira exercem salutar influencia no animo do publico pouco culto, favorável em extremo ao theatro : habituam-n'o a esse género de diversão. Cito os irmãos Dallot porque, pela sua barraca passaram artistas que depois subiram de categoria e que o publico muito apreciou. Obedeceram a estas condições, além d'outros, o Joaquim "Confeiteiro"; ; o tão popular Malhão do "Processo do Rasga", applaudidissimo nas farças e scenas cómicas da época , Alfredo de Carvalho, o chistoso «compére» das revistas de Sousa Bastos; Joaquim Silva, da Trindade, inimitável no Homem da Bomba ; actriz Elisa Aragonez ; Conde ; o scenographo Venâncio, etc. Os irmãos Dallot primavam na arte da mímica e alguma coisa ensinaram aos seus discipulos, portuguezes e hespanhoes, disseminados por vários rincões do paiz e que eram convocados na perspectiva de qualquer funcção.»


"Theatro União e Capricho" e "Theatro Infantil" dos Irmãos Dallot, ambos na "Feira das Amoreiras"

Voltando á "Feira das Amoreiras":

«Qual foi a sua origem? Divergem a opinião dos archeologos. Querem uns que principiasse depois do terramoto de 1755, nas proximidades da Mae de Agua, onde se formou o bairro dos tecelões, em sitio onde só alvejavam casaes, quintas, entre outras a de José Ribeiro, escrivão dos armazens e onde existia uma capella de que era padroeira Nossa Senhora Mae dos Homens. O largo, a arborização, o bairro dos fabricantes, compunham-se de vinte e sete ruas e duzentas e setenta e duas moradias, cada uma com quatro teares. Tanto importância consagrava o marquez de Pombal a este seu emprehendimento que assistiu pessoalmente a cerimonia da plantação da primeira amoreira, lançada ao chão naquelle local, o que lhe grangeou a denominação de largo das Amoreiras.
A feira, depois de ir da Patriarcal para esse sitios, decahiu successivamente. Em 1868 a falta de concorrência obrigou os únicos dois theatros alli armados a fecharem. Em 1877 ainda ahi se enfileiraram cincoenta e nove barracas. Esse esforço equivaleu ao canto do cysne. Esta anedocta para terminar o capitulo :

- Sou o recomendado do sr. Silva, para ser porteiro do theatro e venho pôr-me ás suas ordens.
- Oh ! com a fortuna ! Não posso ser agradável ao sr. Silva. Vocemecê precisa de um bonnet especial para desempenhar esse logar, e emquanto lhe fazem o bonnet... desarma-se a barraca!... »

Em 1909, Charles Dallot encontrava-se no Dafundo, onde montara o seu teatro-barraca, feito de madeira e lona, a que chamara de "Theatro Chalet Recreio Gloria". Viria a falecer a 6 de Dezembro de 1916. Seu irmão Joseph Dallot já tinha falecido cerca de dois anos antes.

A "Feira das Amoreiras" acabou no final do século XIX, por volta de 1880, como se pode ler no seguinte excerto do livro "Lisboa Illustrada" de Alfredo Mesquita e publicado em 1903:

«Já quasi não resta memória da Feira dos Prazeres, acabou a Feira das Amoreiras, foi se depois a Feira de Belem, mas lá está a Feira de Alcantara e lá temos ainda a Feira do Campo Grande. Ha ali regalos para todos os apetites: theatros, restaurantes, cavallinhos, tombolas, barracas de petiscos, fantoches e pim-pam-pum, animatografos e figuras de cêra, refrescos e queijadas da Sapa, tiro ao alvo e bazares, a boa isca de fígado e a rica pera cosida, o gigante e a mulher gorda, o gallo com tres pernas e a eirós de caldeirada. D’ antes, o ir á feira era uma das maiores venturas para o alfacinha. Ia-se á feira nos omnibus que largavam do Pelourinho, aos solavancos ; ia-se de burro, e ia-se alugar o burro ao Poço do Borratem. 

12 de maio de 2022

Rádio Cine

A sala de espectáculos "Radio Cine" terá aberto pela primeira vez as suas portas em Montemor-o-Novo no mês de Abril de 1935. Propriedade da "Empresa Rádio Cine, Lda,", e com os seus 488 lugares, funcionou no edifício do antigo "Hospital do Espírito Santo e Santo André", até ao final dos anos 50 do século XX. 


Interior do "Rádio Cine"


"Hospital do Espírito Santo e Santo André", onde funcionou o "Rádio Cine"

Nos arquivos da Torre do Tombo, há uma menção existe uma referência à exibição de uma peça teatral de seu nome "João de Montemor", em 1953 : «Peça em quatro actos da autoria de Joaquim Caetano Pinto a ser representada em Montemor-o-Novo na Empresa Rádio Cine por um grupo de amadores.»

No mesmo ano, ainda há referência a outra peça teatral "Trinta Botões" : «Comédia em um acto da autoria de Eduardo Garrido. Peça representada em 1932 na União Social Católica, em 1938 no Sport Cclu Intendente e em 1953 pelo Radio Cine de Montemor o Novo.»

No desdobrável histórico editado pelo Posto de Turismo desta localidade, com o título "Montemor | O | Novo centro histórico | arrabalde" pode-se ler:

«O seu nome deve-se à junção de duas Albergarias: Espírito Santo e Santo André. Aqui funcionou este hospital até 1882, altura em que foi transferido para o Antigo Recolhimento de Nossa Senhora da Luz.
Na Igreja do Espírito Santo, funcionou no séc. XX uma sala de espectáculos, o "Rádio-Cine".»


Montemor-o-Novo nos finais do século XIX



Montemor-o-Novo nos anos 40 do século XX

Por outro lado o "Portal Montemor o Novo" refere:

«Em 1878 o recolhimento foi extinto e as instalações hospitalares anteriormente localizadas no Hospital Espírito Santo e Santo André (actualmente conhecido como edifício Rádio-Cine) foram para aqui transferidas, decorria o ano de 1882, e onde se mantém.
Neste antigo edifício conventual de grandes dimensões, com dois pisos, estão actualmente instalados, para além do já referido hospital, uma farmácia e o Centro de Saúde de Montemor. A igreja á atualmente usada como capela funerária.»

Outras duas colectividades de cultura e recreio de Montemor-o-Novo ...



E a propósito de "Carlista",  no jornal "Diario Illustrado" de  3 de Abril de 1875 ...


Em 17 de Janeiro de 1960, era inaugurado o "Cine-Teatro Curvo Semedo". Com capacidade para 700 espectadores foi projectado pelo arquitecto Raúl Lino (1897-1974), tendo a sua construção sido iniciada em 1925 (!) ... Este cine-teatro veio substituir o "Theatro Montemorense", consumido pelas chamas em Maio de 1922.

A propósito do "Theatro Montemorense", e segundo o "Diccionario do Theatro Portuguez" (1908) da autoria de Souza Bastos ...
«É propriedade de uma companhia edificadora, que o construiu. Começou a ser edificado em 1879 e foi inaugurado pouco tempo depois por alguns artistas de Lisboa, que representaram a comedia: 'A voz do sangue'. Já ali representavam muitos artistas distinctos, entre os quaes: Taborda, Antonio Pedro, Cesar Polla, Augusto de Mello, Posser, etc. Possue vistas de bosque, jardim, praça, diversos gabinetes, etc. O rendimento d'este theatro é de 120$000 réis e a despeza réis 25$000 em cada recita. Tem 13 camarotes de 1ª ordem, 13 de 2ª, 8 frizas, 30 fauteuils, 80 logares de superior e 100 de geral. O theatro aluga-se por 84000 réis em cada recita.»



Dentro da elipse desenhada, o Hospital e os "restos mortais" do "Theatro Montemorense"


"Cine-Teatro Curvo Semedo" por altura da sua inauguração


Interior e exterior actuais



Hospital e Centro de Saúdo, e à sua esquerda (na foto) o "Cine-Teatro Curvo Semedo"

Aqui ficam alguns folhetos ilustrativos da sua actividade cinematográfica e teatral do "Rádio Cine", entre 1946 e 1948, disponibilizados "Arquivo Municipal de Montemor-o-Novo". De referir que escolhi folhetos sobre filmes e peças teatrais portugueses, mas exibiu principalmente filmes americanos da distribuidora "Rádio Filmes, Lda." cuja história pode ser consultada, neste blog, no seguinte link: "Rádio Filmes".


Balcão da "Rádio Filmes, Lda.", na Av. Duque de Loulé em Lisboa