A empresa "F. Street & C.º, Lda. - Engenheiros", foi fundada em 1887 por uma família de origem inglesa e instalou-se no Palácio Flor da Murta, no gaveto da Rua do Poço dos Negros com a Rua de S. Bento, em Lisboa. Tinha a sua sede na Rua Ferreira Borges (mais tarde na Rua Sá da Bandeira, 64-68), na cidade do Porto.
22 de Dezembro de 1894
Esta casa liderada por Silvester Fish e que tinha iniciado a sua actividade desde os finais do século XIX na área dos motores estacionários e de máquinas para a indústria e lavoura, vem logo no início do século XX a iniciar a distribuição dos automóveis a vapor, da marca "Locomobile", que era nessa altura a viatura mais vendida nos Estados Unidos. Esta seria uma das primeiras marcas de automóveis a serem comercializadas em Portugal: a americana "Locomobile" (junção dos nomes "locomotive" e "automobile"). Esta marca, fabricada pela "Locomobile Company of America" fundada em 1899 foi pioneira no mundo automóvel.
16 de Outubro de 1902
A empresa fabricou pequenos carros a vapor acessíveis até 1903, quando a produção mudou inteiramente para automóveis de luxo movidos a combustão interna. A "Locomobile" foi adquirida em 1922 pela "Durant Motors" e acabou fechando as portas em 1929. Todos os carros já produzidos pela empresa original sempre foram vendidos sob a marca "Locomobile". A "Durant Mototors" despareceria em 1929.
Em 17 de Agosto de 1902, tiveram lugar no "Hipódromo de Belém" as corridas velocipédicas e de automóveis organizadas pelo "Sport Club de Lisboa". Segundo o jornal "O Século" do dia 18 de Agosto ...
«Teve finalmente lugar a grande corrida de automóveis na qual tomaram parte as seguintes: do sr. Street & Cº - guiado pelo sr. Abbott, do sr. Beauvalet - pelo sr. Panhard e do sr. Alfredo Vieira – pelo sr. Darracq. O sr. Street apresentou uma máquina magnífica e muito elegante, que chegou com duas voltas de avanço sobre os outros automóveis, causando esta corrida grande entusiasmo».
Por outro lado o jornal "O Ciclista" de 20 de Agosto ...
«O primeiro prémio foi ganho pelo Locomobile com a força de 4 ½ cavalos, que chegou à meta com cerca de 2000 metros de avanço. O segundo e o terceiro foram ganhos respectivamente pelo Panhard e Darracq, também com 4 ½ cavalos de força. Pode dizer-se afoitamente que foi a corrida que maior entusiasmo despertou atendendo a que foi a primeira que se fez em Portugal.»
O vapor era outra das alternativas mas também essa pouco vingou no mercado nacional. Vários distribuidores apostaram nessa forma de motorização entre nós, com particular destaque para a "F. Street, Lda," com a "Locomobile" e com a qual chegou a participar em competições desportivas, anunciando mais tarde um contrato de distribuição exclusivo com a inglesa "Thornycroft", que também produzia automóveis desse tipo.
Publicidade à "F. Street & C.ª ", na esquina do Arco de Jesus com a Rua Cais de Santarém, em Lisboa
Os pequenos «buggies» a vapor da "Locomobile" também eram propostos a 1.100$000 réis, nas suas versões mais acessíveis, enquanto os automóveis "Ader" tinham no pequeno 9 cavalos de 2 cilindros o seu modelo mais barato, que valia 1.950$000 réis.
15 de dezembro de 1905
Porém, os automóveis mais baratos anunciados na imprensa portuguesa eram os pequenos "Oldsmobile", uns buggies semelhantes na sua concepção e simplicidade aos "Locomobile" mas equipados com um motor a gasolina de um único cilindro, que valiam, na sua versão mais acessível, a 850$000 réis.
16 de Dezembro de 1902
No princípio de 1903, o exército ainda promoveu testes com outro tipo de veículos, nomeadamente com os "Locomobile" a vapor, mas os resultados não terão correspondido às exigências do caderno de encargos imposto pelas chefias militares.
30 de Março de 1903
Com a mudança estratégica da "Locomobile", que decidiu abandonar a produção dos pequenos «buggies» a vapor em favor dos luxuosos automóveis a gasolina, a "F. Street & C.º ", em 1903 já anunciava a representação de outra marca americana, igualmente caracterizada pela sua simplicidade de construção, a "Oldsmobile", bem como da marca inglesa "Wolseley".
1904
1905
1905
Mais tarde, em 1907, passou a distribuir também os veículos da marca holandesa "Spiker", marca fundada em Amesterdam em 1898, por Jacobus e Hendrik-Jan Spijker - «o único carro que não necessitou de mudar qualquer peça durante o percurso de 14.000 km” da prova Pequim-Paris».
1909
1909
No início da segunda década do século XX, a "F. Street & C.º" terá deixado o negócio dos automóveis e passou a dedicar-se a trabalhos de engenharia, serralharia e fundição, aliadas à comercialização de máquinas, tubagens, correias, baterias "Tungstone" e dos pneus ingleses "Avon" através da sua firma no Porto, a "Streets, Limitada".
1892
17 de Fevereiro de1912
16 de Dezembro de 1926
29 de Dezembro de 1914
Quanto aos trabalhos de engenharia passo a transcrever os seguintes textos, que atestam a sua actividade especializada em determinados sectores:
Em 1912 por ocasião do concurso de fornecimento de uma máquina a vapor, dois dínamos e um quadro de distribuição, para a "Companhia Eborense de Electricidade":
«Face ao aumento crescente do consumo neste mesmo ano a Companhia de Electricidade começou a encarar a hipótese de montar um motor de 300HP e substituir os motores a gás existentes na Central por motores a vapor. Assim, em 1912 abriram um concurso para o fornecimento de uma máquina a vapor, dois dínamos e um quadro de distribuição. Em 30 de Julho de 1912, altura em que terminava o prazo do concurso, concluiu-se que tinham sido entregues propostas pelas seguintes seis empresas: A.E.G. Thompson Houston Ibérica; F. Street & C.ª; Companhia Portuguesa de Electricidade; Siemens Scherckertverke; Empresa Eléctrica H.B.C.; R. Wolf, Magdeburg Buckan. Após a análise das condições apresentadas pelas várias empresas decidiu-se adjudicar o fornecimento da maquinaria necessária à empresa F. Street & Cª, Ldª do Porto, que se propunha entregar o material pronto a funcionar no prazo de 6 meses. A máquina a vapor era do sistema Compound e conjugada com os dois dínamos podia desenvolver a energia eléctrica para alimentar 150.000 velas. O quadro eléctrico de grandes dimensões era de lousa esmaltada e possuía “todos os aparelhos eléctricos mais modernos e aperfeiçoados de modo a garantir uma regularidade absoluta no funcionamento da luz e uma fácil verificação e manobras por parte do maquinista». in: A electricidade na cidade de Évora: da Companhia Eborense de Electricidade à União Eléctrica Portuguesa - Ana Cardoso de Matos
Aquando do concurso público para Central Hidroeléctrica de Santa Rita, em Fafe a 18 de Setembro de 1913:
«Em 18 de Setembro de 1913 o Presidente da Comissão Executiva apresentou à Câmara o projecto e o orçamento do açude, canal e central de Santa Rita, com vista ao fornecimento de energia eléctrica para iluminação pública e particular. Concorreram quatro casas de material eléctrico: a F. Street & C.ª, Lda., Porto (23.100$00); os Ateliers de Constructions Oerlikon, Suíça (22.500$00); a Companhia Portuguesa de Electricidade Siemens Schuckert Werke, Lda., Lisboa, (20.293$00); e a A.E.G. Thomson-Houston Ibérica (18.550$00).» in: A Central Hidroeléctrica de Santa Rita e o advento da electricidade (Fafe, 1914) - Paula R. Nogueira
Nota: Foi consultada Dissertação para obtenção do Grau de Doutor em História, Filosofia e Património da Ciência e da Tecnologia "A Implantação do Automovel em Portugal (1850-1910)" - José Carlos Barros Rodrigues - 2012 UNL.
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital de Lisboa