A "Companhia Nacional Editora" teve a sua origem na "Tipografia Guedes", fundada em 1873 por Justino Roque Gameiro Guedes (1852-1924), irmão do pintor e desenhador Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) - filho do primeiro casamento de seu pai com Quitéria de Jesus Guedes.
Alfredo Roque Gameiro (1864-1935)
A actividade da "Tipografia Guedes" é conhecida a partir de 1873, na antiga Rua Vasco da Gama, 9, em Lisboa, ano em que começou a imprimir "O António Maria", a revista ilustrada de Rafael Bordallo Pinheiro. Era uma empresa especializada na impressão litográfica, e por isso, muito requisitada para trabalhos gráficos com grande exigência, em que o papel de Alfredo Roque Gameiro poderia ser relevante. Em 1880, a tipografia já se tinha mudado para novas instalações na Rua da Oliveira ao Carmo, 12. Cerca de 1883, Alfredo Roque Gameiro começa a trabalhar como desenhador na "Tipografia Guedes".
Acerca desta tipografia e litografia o jornal "Diario de Noticias" de 30 de Abril de 1887 relatava:
«As machinas que funccionam já são: duas de lithographar modernas, uma franceza, outra allemã, de Marinoni e Offenbac; uma de dourar, uma de envernisar, uma de gauffrer ou granitar o papel para as aguarellas, uma calandra mechanica de assetinar, de um trabalho novo, rapido, e de uma perfeição a que até agora se não havia chegado cá.»
Alfredo Roque Gameiro em 1887 regressa a Portugal - após ter completado um estágio de 3 anos em na Academia de Desenho, Pintura e Arquitectura de Leipzig - e assume a direcção de oficinas na "Tipografia Guedes". Para além do desenvolvimento das artes gráficas da tipografia, Alfredo Roque Gameiro iniciou um curso de desenho aplicado à tipografia, contribuindo assim para um grande aperfeiçoamento desta profissão no país.
Litografia de Rafael Bordallo Pinheiro pela Litografia Guedes
Em finais de 1888, a "Tipografia Guedes" inicia nova etapa ao adquirir a "Editora David Corazzi". Um dos últimos trabalhos desta editora foi o "Álbum Costumes Portugueses", em que Alfredo Roque Gameiro também colaborou com cinco ilustrações. Com esta aquisição, em Dezembro de 1888, surge com novo nome: "Companhia Nacional Editora", com instalações ainda na Rua da Oliveira ao Carmo, passando pouco tempo depois, para o Largo do Conde Barão, 50 e oficinas na Rua da Rosa. Teve em Justino Guedes o seu sócio principal e administrador. Neste período Alfredo Roque Gameiro fica como responsável pela concepção e orientação gráfica da "Companhia Nacional Editora".
Em 1907, a "Companhia Nacional Editora" já tinha dado origem a uma nova designação, "A Editora, Limitada", e composição societária cujos sócios eram: Justino Guedes, fundador e sócio principal, Clarimundo Emilio, Henrique Pereira e Rafael Bordallo Pinheiro.
Jornal "A Parodia" composto e impresso pela "A Editora"
Capa de partitura em 1907
Em 30 de Outubro de 1913 e por ocasião da "Exposição Nacional de Artes Gráficas", a revista "Occidente" fez uma reportagem da visita à empresa "A Editora, Limitada", da qual retirei algumas passagens que ilustram as instalações e funcionamento desta tipografia:
«Acham-se as oficinas da Editora Limitada instaladas num vastissimo salão, construido de ferro e vidro, ocupando a area de 1:200 metros quadrados. É neste enorme espaço que funcionam, em secções, as oficinas de fundição, stereotipia, composição, impressão, litografia e encadernação, tendo ainda um anexo com o atelier de desenho. Todas estas secções com suas maquinas funcionam perfeitamente. á vontade e nelas se empregam mais de 200 operarios de ambos os sexos. (...)
Justino Guedes - introdutôr da litografia em Portugal - assentou, de concerto com David Corazzi, os alicerces da Companhia Nacional Editôra que exerceu um poderoso ascendente na industria grafica portuguêsa.(...)
Mais tarde, essa sociedade remodelou-se na organisação da Editora que arcou valentemente com o compromisso de honra de continuar sem desdouro a obra iniciada. E a prova surge insofismavel dos seus belissimos trabalhos que o publico conhece e admira com enlevo: - As Pupillas do Senhor Reitor, de Julio Diniz e Tojos e Rosmaninhos, de Alfredo Keil.»
Com o objectivo de absorver a Imprensa Nacional, a "Companhia Nacional Editora" tornou-se a maior tipografia privada em Portugal.
A 4 de Abril de 1931 a "Companhia Nacional Editora" lança o número 1 do jornal "Diário da Manhã", sua propriedade e orgão oficial da "União Nacional", com sede, redacção e oficinas, na Rua do Mundo, 95 - antigas instalações do jornal "O Mundo" - em Lisboa.
Exemplar nº 3 do "Diário da Manhã", em 6 de Abril de 1931
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital de Lisboa
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