A fábrica de lâmpadas "Lumiar", propriedade da empresa "ENAE - Empresa Nacional de Aparelhagem Eléctrica, S.A.R.L.", foi inaugurada em 25 de Abril de 1933, na avenida 24 de Julho, 158 em Lisboa. Para gerente da empresa foi nomeado um dos sócios, Dr. António Ferreira Pinto Basto (1905-1968).
25 de Abril de 1933
O fabrico de lâmpadas eléctricas, a par de uma organização económica de absoluta segurança, exigia recursos técnicos de grande amplitude, pois só à base de um perfeito conhecimento e de enormes sacrifícios financeiros poderia ter possibilidades de concorrer com o artigo estrangeiro que abastecia o mercado interno. Muito embora o negócio mostrasse perspectivas lisonjeiras, durante muito tempo foi receado. A ideia da sua montagem surgiu no Porto e um grupo de portuenses chegou a constituir-se em sociedade e a obter o respectivo alvará, mas decorreram anos sem que se decidissem.
Nessa emergência refinaram-se alguns capitalistas mais ousados que, em 1932, formaram a "ENAE - Empresa Nacional de Aparelhagem Eléctrica, S.A.R.L." , a qual foi dotada de condições financeiras que lhe permitiram não só comprar o alvará da sociedade do Porto, que se dissolveu, como montar uma fábrica dotada com todos os requisitos necessários a uma laboração moderna.
Veio ocupar os antigos armazéns da firma de materiais de construção civil "F. H. d'Oliveira, & C.ª, Lda.", fundada no ano de 1895 num edifício contíguo, e que entretanto tinha mudado de instalações. Tinha como vizinha a firma "Pinhol" que ali se instalara nos finais do século XIX.
Armazéns da "F. H. d'Oliveira, & C.ª, Lda.", dentro do rectângulo vermelho. "Pinhol" no edifício de esquina
Quarteirão com: "Hotel Residencial Infante Santo", "F. H. d'Oliveira, & C.ª, Lda.", Fábrica "Lumiar", "Pinhol", em foto de 1957 - ano da inauguração do Hotel
A "ENAE" manteve a sua fábrica com entradas pela Avenida 24 de Julho, 158 e pelas traseiras, Rua Tenente Valadim, 6, onde, tinha a loja e assistência técnica aos motores eléctricos, transformadores e geradores, que a "ENAE" viria a comercializar sob licença da "Siemens, Schuckert-Werk, A.G." Manteve uma filial na cidade do Porto, na Rua Alferes Malheiro, 33
A "ENAE - Empresa Nacional de Aparelhagem Eléctrica, S.A.R.L.", foi a primeira fábrica de lâmpadas incandescentes do nosso País e empregava cerca de duzentos e cinquenta operários. Nessa altura o facto tinha de ser considerado uma ousada iniciativa e um empreendimento industrial arriscado, uma vez que as condições industriais, especialmente no sector da electrificação e seu desenvolvimento, não eram muito prometedoras: a actividade do País era essencialmente agrícola, a energia eléctrica não abundava e existiam ainda numerosas regiões não electrificadas, tudo isto com a agravante do preço da energia eléctrica ser, ao tempo, um dos mais elevados da Europa. A electricidade aplicada na iluminação constituía pois, ainda, quase um «luxo».
1934
Todas essas condições adversas, contudo, não impediram a "ENAE" de, em 1933, tornar uma realidade o lançamento da lâmpada de fabrico português, a "Lumiar", no dia 1 de Abril de 1933.
A actividade da "ENAE" durante os anos da sua actividade fez-se notar, não só no Continente como também nas Ilhas Adjacentes e nas Províncias Ultramarinas. As lâmpadas "Lumiar", graças à sua rápida implantação, manteve uma posição definida no mercado de lâmpadas eléctricas no nosso País.
Representante da "ENAE" em Angola em 1934
Em 16 de Novembro de 1940, constituí o seu Grupo Desportivo com a denominação de "Grupo Desportivo da Empresa Nacional de Material Eléctrico", cuja sede era a mesma da empresa. No sentido de proteger as condições físicas do seu pessoal, a empresa auxiliava moral e financeiramente o grupo desportivo, tendo chegado a pensar na organização de um serviço de refeições económicas a fornecer pela F.N.A.T.
Cartazes das "CRGE - Companhias Reunidas de Gaz e Electricidade, S.A.R.L.", em 1937
Em 1945, e com um capital de 2.000 contos, gozava de crédito e bom nome em todas as zonas do país, tendo contibuído para essa situação os seus Conselhos de Administração e Fiscal. O primeiro constituído por: engº Fernando Ennes Ulrich (Presidente), Dr. António Bacelar Cravelhas, DR. Fausto Lopes de Carvalho e Pierrre de Saleon; o segundo está a cargo do Dr. Armando Cancela de Abreu, António Correia de Figueiredo e D. José de Lencastre e Távora.
Com a intenção de acompanhar e adoptar continuamente os mais modernos processos técnicos de fabrico a bem dos consumidores dos seus produtos, a "ENAE" apoiou a sua actividade, na assistência técnica da empresa alemã "OSRAM Licht AG ", do Grupo "Siemens, A.G.", uma das maiores empresas de lâmpadas eléctricas e com fábricas espalhadas por todo o Mundo, o que foi permitindo manter um actualizado nível de qualidade de acordo com a permanente evolução técnica correspondente à dos principais concorrentes internacionais.
1940
1941
A partir da entrada em vigor do acordo firmado com esta importante empresa alemã, foram renovados e automatizados os métodos de trabalho e aperfeiçoada a qualidade das lâmpadas fabricadas, em conformidade com os padrões técnicos da "Osram".
Dentro desta linha de orientação "ENAE", iniciou por volta de 1964 a fabricação de lâmpadas fluorescentes e arrancadores também nas marcas "Osram" e "Lumiar".
Como pioneira do fabrico de lâmpadas eléctricas em Portugal, e contando com a colaboração e assistência técnica da sua parceira "Osram", mundialmente reconhecida, a "ENAE" reunia todas as condições necessárias para continuar a ser em Portugal uma das empresas industriais do futuro de referência. Mas, infelizmente assim não aconteceu, como a muitas outras ...
1973
A "ENAE" , não só remunerava os operários com salários acima da tabela, como tinha à disposição um pôsto clínico privativo, com médico e enfermeiro, para serviço local e nas casas dos doentes, aos quais fornecia gratuitamente os medicamentos.
A seguir a Abril de 1974, primeiramente foi substituída pela "Osram", que foi utilizando as suas instalações para continuar a fabricação de lâmpadas, agora vendidas sob a sua marca. Depois encerrou as sua instalações fabris, e os seus produtos passaram a ser importados directamente da casa-mãe na Alemanha, pela subsidiária "Osram - Empresa de Aparelhagem Eléctrica, Lda.", sediada em Carnaxide.
1981
As suas antigas instalações, não foram demolidas e, na primeira década do século XXI, foram transformadas num condomínio de luxo, projectado pelos arquitectos Raúl Abreu e Miguel Varela Gomes. A antiga fábrica foi completamente restaurada sob a responsabilidade do engenheiro João Appleton, tendo sido mantidas as fachadas dos anos 20 do século passado. Numa das fachadas existe um painel de azulejos, da "Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, Lda.", fundada em 1848, no Largo do Intendente, em Lisboa.