Restos de Colecção: "Café Império" em Lisboa

12 de outubro de 2022

"Café Império" em Lisboa

O actual "Café Império", foi inaugurado 14 de Outubro de 1955, com a denominação de "Café do Império", três anos após a inauguração do cine-teatro "Império", ocorrida em 24 de Maio de 1952 e em cujo edifício foi implantado o café. O edifício construído pelo empreiteiro Herculano José Pinheiro, era propriedade da "Empresa Cinematográfica Império, Lda.", e o café propriedade do comerciante e industrial  Américo dos Santos.


Fachada do "Café do Império" e loja de máquinas de escrever "Olympia" , ao lado


"Café Império" e loja de máquinas de escrever "Olympia", em 1963

O edifício do "Império" foi inicialmente projectado pelo arquitecto Cassiano Branco (1897-1970), em 1945, sob um traço de arquitectura modernista, mas não viria a ser ele o responsável pelo projecto final, devido a problemas de saúde. Assim de acordo com José Augusto França (in "Arte em Portugal no séc. XX", pág. 558) a solução arquitectónica final foi da responsabilidade do arquitecto António Varela (1902-1962) , tendo posteriormente havido ainda outras intervenções finais de outros dois arquitectos, como refere Augusto França: «finalmente remediadas por Raul Chorão Ramalho e Frederico George».

Alçado lateral (corte) da Avenida Almirante Reis onde se observa a galeria do futuro Café

Inicialmente, o projecto já contemplava um «Café, Bar-Dancing», como é referido na página da revista "Construção Civil e Obras Públicas" de 1950, e que reproduzo em seguida. O acesso a este café era feito a partir dos foyers do cine-teatro "Império". Em 1955 é aprovado o projecto de alteração, da autoria do arquitecto Raúl Chorão Ramalho (1914-2002), do «Café, Bar-Dancing», suprimindo os acessos pelos foyers e passando a sua entrada a ser exclusivamente pelo exterior do edifício. O projecto contemplou, ainda, a organização e ampliação dos serviços de cozinha e copa, a supressão de um corredor previsto ao longo da parede sul da cave, e modificações determinadas pelas soluções decorativas da autoria do escultor Joaquim Martins Correia (1910-1999) e do pintor Luís Dourdil (1914-1989).

As mesas e cadeiras foram fornecidas pela "Metalúrgica da Longra, Lda.", fundada por Américo Teixeira Martins em 1920, em Longra-Felgueiras, e encerrada, definitivamente, em 1993.

«É o local ideal para se tomar café, para se conversar, podendo ser frequentado pelos dois sexos. Um verdadeiro salão confortável, largo, arejado, onde se está bem, já convivendo, já criando um relativo isolamento. (...)
Devemos também dizer que o luxuoso Café do Império dispõe de um magnífico salão de chá, bar, pastelaria, bilhares - estes separados das dependencias do café. Não lhe falta sequer a mais moderna aparelhagem de refrigeração e aquecimento, que lhe dão uma temperatura agradável em qualquer estação do ano.»  in: "Diario de Lisbôa"

Neste café-restaurante, muitos espectáculos foram apresentados, e neles actuaram, nas décadas de 50 e de 60 do século XX, artistas como Madalena Iglésias, António Calvário e Artur Garcia.

No ano de 1955, outros dois grandes, e famosos, café-restaurantes de Lisboa, foram inaugurados: o "Monumental" e o "Monte Carlo", ambos já desaparecidos.




Conjunto escultórico de Joaquim Martins Correia

O "Café Império" esteve encerrado, entre Maio e Agosto de 2006, reabrindo em 26 de Agosto do mesmo ano, após uma polémica que envolveu a "Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)", que ao adquirir o edifício accionou o direito de preferência do trespasse do café, e encerrou o estabelecimento, gerando a contestação dos 18 funcionários, de vizinhos e da Câmara Municipal de Lisboa, devido à possibilidade de o café ser transformado num local de culto. A "IURD" ainda iniciou as obras, e procedeu a um despedimento colectivo, mas estas foram embargadas pela autarquia. A igreja acabou por trespassar o "Café Império" à antiga arrendatária, a empresa de restauração "Oraboni & Ribeiro, Lda.", que manteve os mesmos funcionários.






Além do restaurante, o "Café Império" tem ainda um espaço de pastelaria, entre outros. Nele ainda se pode assistir a espectáculos de música ao vivo, com artistas convidados, entre as 23h00 e as 02h00.


  

                                                    2016                                                                              2017

2 comentários:

Valdemar Silva disse...

Obrigado por mais um interessante postal, desta importante zona de Lisboa
Por mais de uma década fui frequentador do Café Império, e do Cinema, importante centro de convivência daquela zona da cidade.
Estranho final dos edifícios dos cinemas em Lisboa, transformados em "igrejas" de evangélicos/protestantes. Com as velhas igrejas católicas deu-se o contrário, estão a ser aproveitadas para concertos de música erudita e, até, transformadas em livrarias.
Por um lado o aproveitamento imobiliário, por outro conseguir evitar esse aproveitamento.

Cumprimentos
Valdemar Silva

Valdemar Silva disse...

Este edifício do Cinema Império foi vendido ou alugado e transformado numa igreja de culto evangélico/protestante.
Todo o Edifício e o Café Império estão classificados como de Imóveis de Interesse Público, então como é que foi autorizado, já não digo o terem retirado "Cinema Império", retirar as esferas armilares existentes no alto das extremidades laterais que faziam parte da estrutura arquitectónica do Edifício?

Cumprimentos
Valdemar Silva