O actual "Café Império", foi inaugurado 14 de Outubro de 1955, com a denominação de "Café do Império", três anos após a inauguração do cine-teatro "Império", ocorrida em 24 de Maio de 1952 e em cujo edifício foi implantado o café. O edifício construído pelo empreiteiro Herculano José Pinheiro, era propriedade da "Empresa Cinematográfica Império, Lda.", e o café propriedade do comerciante e industrial Américo dos Santos.
"Café Império" e loja de máquinas de escrever "Olympia", em 1963
O edifício do "Império" foi inicialmente projectado pelo arquitecto Cassiano Branco (1897-1970), em 1945, sob um traço de arquitectura modernista, mas não viria a ser ele o responsável pelo projecto final, devido a problemas de saúde. Assim de acordo com José Augusto França (in "Arte em Portugal no séc. XX", pág. 558) a solução arquitectónica final foi da responsabilidade do arquitecto António Varela (1902-1962) , tendo posteriormente havido ainda outras intervenções finais de outros dois arquitectos, como refere Augusto França: «finalmente remediadas por Raul Chorão Ramalho e Frederico George».
Alçado lateral (corte) da Avenida Almirante Reis onde se observa a galeria do futuro Café
Inicialmente, o projecto já contemplava um «Café, Bar-Dancing», como é referido na página da revista "Construção Civil e Obras Públicas" de 1950, e que reproduzo em seguida. O acesso a este café era feito a partir dos foyers do cine-teatro "Império". Em 1955 é aprovado o projecto de alteração, da autoria do arquitecto Raúl Chorão Ramalho (1914-2002), do «Café, Bar-Dancing», suprimindo os acessos pelos foyers e passando a sua entrada a ser exclusivamente pelo exterior do edifício. O projecto contemplou, ainda, a organização e ampliação dos serviços de cozinha e copa, a supressão de um corredor previsto ao longo da parede sul da cave, e modificações determinadas pelas soluções decorativas da autoria do escultor Joaquim Martins Correia (1910-1999) e do pintor Luís Dourdil (1914-1989).
As mesas e cadeiras foram fornecidas pela "Metalúrgica da Longra, Lda.", fundada por Américo Teixeira Martins em 1920, em Longra-Felgueiras, e encerrada, definitivamente, em 1993.
Devemos também dizer que o luxuoso Café do Império dispõe de um magnífico salão de chá, bar, pastelaria, bilhares - estes separados das dependencias do café. Não lhe falta sequer a mais moderna aparelhagem de refrigeração e aquecimento, que lhe dão uma temperatura agradável em qualquer estação do ano.» in: "Diario de Lisbôa"
Neste café-restaurante, muitos espectáculos foram apresentados, e neles actuaram, nas décadas de 50 e de 60 do século XX, artistas como Madalena Iglésias, António Calvário e Artur Garcia.
No ano de 1955, outros dois grandes, e famosos, café-restaurantes de Lisboa, foram inaugurados: o "Monumental" e o "Monte Carlo", ambos já desaparecidos.
O "Café Império" esteve encerrado, entre Maio e Agosto de 2006, reabrindo em 26 de Agosto do mesmo ano, após uma polémica que envolveu a "Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)", que ao adquirir o edifício accionou o direito de preferência do trespasse do café, e encerrou o estabelecimento, gerando a contestação dos 18 funcionários, de vizinhos e da Câmara Municipal de Lisboa, devido à possibilidade de o café ser transformado num local de culto. A "IURD" ainda iniciou as obras, e procedeu a um despedimento colectivo, mas estas foram embargadas pela autarquia. A igreja acabou por trespassar o "Café Império" à antiga arrendatária, a empresa de restauração "Oraboni & Ribeiro, Lda.", que manteve os mesmos funcionários.
Além do restaurante, o "Café Império" tem ainda um espaço de pastelaria, entre outros. Nele ainda se pode assistir a espectáculos de música ao vivo, com artistas convidados, entre as 23h00 e as 02h00.
fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Café Império, Mosca Publicidade
2 comentários:
Obrigado por mais um interessante postal, desta importante zona de Lisboa
Por mais de uma década fui frequentador do Café Império, e do Cinema, importante centro de convivência daquela zona da cidade.
Estranho final dos edifícios dos cinemas em Lisboa, transformados em "igrejas" de evangélicos/protestantes. Com as velhas igrejas católicas deu-se o contrário, estão a ser aproveitadas para concertos de música erudita e, até, transformadas em livrarias.
Por um lado o aproveitamento imobiliário, por outro conseguir evitar esse aproveitamento.
Cumprimentos
Valdemar Silva
Este edifício do Cinema Império foi vendido ou alugado e transformado numa igreja de culto evangélico/protestante.
Todo o Edifício e o Café Império estão classificados como de Imóveis de Interesse Público, então como é que foi autorizado, já não digo o terem retirado "Cinema Império", retirar as esferas armilares existentes no alto das extremidades laterais que faziam parte da estrutura arquitectónica do Edifício?
Cumprimentos
Valdemar Silva
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