A “Casa da Moeda’” de Lisboa é talvez o mais antigo estabelecimento fabril do Estado português, com uma laboração contínua desde, pelo menos, o final do século XIII. As mais antigas notícias da sua existência como estrutura oficinal fixa datam do reinado de D. Dinis, quando ela se localizaria perto da «Porta da Cruz», a Santa Apolónia.
No século XIV foi mudada para o local onde mais tarde esteve a cadeia do Limoeiro, junto à Sé, e no reinado de D. João I vamos encontra-la na Rua Nova, defronte da ermida de Nossa Senhora da Oliveira.
Limoeiro
Em meados do século XVI terá sido transferida um pouco mais para ocidente e funcionaria na Rua da Calcetaria, não longe do Paço da Ribeira, onde permaneceu até 1720.
Localização da Casa da Moeda no mapa de Bráunio, em 1596
Em 12 de Setembro de 1720, foi transferida para a Rua de São Paulo, conforme se lê numa «lembrança» registada a fls. 253 v do livro 2º do Registo Geral, que informa que nessa data: «se fes mudança da fabrica e mais materiaes e o cofre da Caza da Moeda desta cidade de Lisboa a qual estava situada em a rua da Calsetaria pª o chão em q. estava situada a Junta do Comercio Geral, em o qual chão se adeficou noua Caza da Moeda.».
«Á beira do Tejo, para a parte do Poente de Lisboa, vê-se a Casa da Moeda, onde se fabrica o dinheiro, com tanta perfeição, pelo menos, como em França» in Description de la Ville de Lisbonne, 1730
Cédula de 2.400 réis de 1798 Cédula de 20.000 réis de 1798
Em 1845, com o Decreto de 28 de Julho, dá-se a fusão da Casa da Moeda com a Repartição do Papel Selado, sob uma mesma Administração-Geral, e a Casa da Moeda passa a designar-se Casa da Moeda e Papel Selado.
Com a introdução em Portugal, em 1853, dos selos postais, a Casa da Moeda e Papel Selado passa também a fabricar valores postais e sofre nova remodelação pelo Decreto de 7 de Dezembro de 1864. Em finais do século XIX a empresa ganha uma posição de maior relevo na garantia de qualidade dos metais nobres, quando, em 1882 as Contrastarias ficam subordinadas à Administração-Geral da Casa da Moeda e Papel Selado. Esta passou a fiscalizar a indústria e comércio de ourivesaria em Portugal, função que ainda mantém.
«Pouco importa conhecer que data tinham as primeiras moedas ali cunhadas. Basta que se parta da lei de 29 de Julho de 1854, e se vá perscrutar o numero de contos de réis de lá sahidos até hoje, nos diferentes metaes, desde o velho ouro, em que fizeram as delicias de muitos cordões de peixeiras dos nossos avós e ainda hoje são o adorno preferido de muita burgueza moradora na Baixa, dilletante de procissões e possuidora do seu pé de meia, até ao nickel, em que o ultimo ministerio houve por bem transformar aquelles pequeninos papeis, muito bem impressos, mas faceis vehiculos de todoso os microbios conhecidos e ignorados para as nossas carteiras.»
“Caza da Moeda” na Rua de S. Paulo, em 1891
Director da “Caza da Moeda”, em 1891
Desde 1854 a moeda que circulava até 1901 dividia-se em quatro espécies: « (…) o ouro que despareceu; a prata que arromba as algibeiras; o nickel que as suja; e o cobre que innunda o mercado».
Na grande reforma e ampliação do edifício da ‘Casa da Moeda’ na rua de São Paulo iniciada em 1889 e finalizada em 1901, além da fachada ter sido reconstruída, algumas oficinas foram alargadas e outras restauradas, obras dirigidas pelo arquitecto José António Gaspar. Nestas oficinas gravavam-se não só o cunho das moedas, como os selos de correio, os bilhetes postais e o papel selado. Outras oficinas faziam a cunhagem, ensaio e fundição, recorte, tempera, branqueio, laminagem laboratório e fieira.
“Casa da Moeda”, na Rua de São Paulo
Interior da “Casa da Moeda”, em 1901
Oficina de Fundição Laminadores na oficina de amoedação
Oficina de selos e máquinas de impressão Aparelho de branqueamento de metais
Máquinas de cortar papel Depósito de papel selado e selos
A notícia da conclusão destas importantes obras de melhoramentos concluía: «Sirva-nos ao menos isto de consolação no meio de tantos flagelos que nos perseguem sendo d'elles o mais temerosos o nosso deficit financeiro.» .....
Cédulas de 1891
Cédula de 20 centavos, em 1925
Aí permaneceu até 1941, quando mudou para o Bairro do Arco de Cego num novo edifício projectado pelo arquitecto Jorge Segurado, e mandado construir pelo engenheiro Duarte Pacheco, onde ainda hoje se encontra. As instalações da rua de S. Paulo mais tarde viriam a albergar o “Arquivo de Identificação”.
Maqueta do complexo da “Casa da Moeda”
“Casa da Moeda” no bairro do Arco do Cego, a partir de 1941
Páteo interior Sala de trabalho
Casa forte Armazém de matérias primas
Fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian
Já no século XX a ‘Casa da Moeda’ depois de ver os seus serviços reestruturados sucessivamente em 1911, 1920, 1929 e 1938, fundiu-se finalmente, em 1972, com a ‘Imprensa Nacional’., formando a empresa “Imprensa Nacional Casa da Moeda” (INCM).