Restos de Colecção: julho 2019

30 de julho de 2019

A Pompadour

A loja "A Pompadour" situada na Rua Garrett, ao Chiado, em Lisboa, projectada pelo arquitecto Raúl Lino (1879-1974), foi inaugurada em 23 de Junho de 1924. Pertencia à firma "Pompadour - Pinto de Lima, Lda." cujos sócios-gerentes eram Joaquim Pinto de Lima e Virgínia Costa e cujas instalações iniciais, tinham sido os seus ateliers nas Rua Gomes Freire. Esta família já era proprietária, desde 1909, da famosa “Perfumaria da Moda” na Rua do Carmo, que veio a ser consumida pelo grande incêndio na baixa lisboeta a 25 de Agosto de 1988, e que em consequência deste fatídico acontecimento, viria, posteriormente, a funcionar provisoriamente na loja "A Pompadour".


"A Pompadour" na Rua Garrett, em Lisboa


Joaquim Pinto de Lima


Que veio ocupar a loja onde tinha funcionado a "Trianon" (na foto seguinte e dentro da elipse desenhada)


Localização de "A Pompadour" na Rua Garrett (dentro da elipse desenhada) em foto nos anos 60 do séc. XX

"A Pompadour" terá sido fundada uns meses antes, por volta de Março de 1924 na Rua Gomes Freire 163-2º, onde se localizavam os seus ateliers e mantinha um balcão de vendas. Já em 1923 Pinto de Lima tinha montado uma fábrica da especialidade na Rua Vítor Cordon.


Anúncio publicitário em 2 de Abril de 1924

Seu nome foi inspirado na “Madame de Pompadour”, amante de Luis XV de França e uma das mulheres mais influentes de França no seu tempo. De seu nome Jeanne-Antoinette Poisson, apesar de vir de uma classe social inferior, com perseverança e determinação rapidamente alcançou um lugar de destaque na corte de França. Luis XV apaixonou-se por ela e esta chegou a governar Versailles, com a astúcia de um verdadeiro monarca.


Madame de Pompadour

No dia da sua inauguração o jornal "Diario de Lisbôa" noticiava:
«No Chiado, em frente á Rua Ivens, na casa onde estava instalado o "Trianon" inaugurou-se esta tarde a séde de "A Pompadour, Limitada", a elegante casa de espartilhos e cintas que tem os seus "ateliers" na Rua Gomes Freire, 163, 2º (Tel. N. 4193).
Foi muito visitada, tendo feito explendido negocio.
Foi uma feliz ideia a dos proprietarios do novo estabelecimento, abrindo-o no Chiado, onde tanto se fazia sentir a falta duma casa deste genero.»



 Interior de "A Pompadour" na Rua Garrett







Projecto do arquitecto Raúl Lino



As pinturas ornamentais ficaram a cargo da pintora Estrela Faria


Estrela Faria (1910-1976)

No mesmo ano de 1925 abrem uma sucursal na cidade do Porto, na Rua das Carmelitas, nos "Armazéns da Capela".



Foto mais recente da sucursal portuense


1925


1933


Cartaz publicitário produzido pela "A.P.A. - Agência de Publicidade Artística"


Pano publicitário num Cinema/Teatro

Na revista “Notícias Ilustrado”  em 23 de Junho de 1929 podia-se ler:
«Casa que rapidamente se impoz à consideração do público pela superior qualidade e elegância “rafinée” dos seus modelos de Cintos, Espartilhos e “Soutiens-gorges”, pelo seu sistema de vendas moderno e pratico, pelos seus gabinetes de prova onde as Exmas. damas podem vestir e experimentar os modelos que mais se adaptem ao seu busto, é com justiça considerada a primeira casa do paiz. Chic e moderno estabelecimento que ao Chiado dá uma nota de elegância parisiense e onde as nossas lindas lisboetas dão “rendez-vous”.
Os seus artigos não são feitos em serie, desarmoniosos e deselegantes, como os  que são feitos em "fabrica", mas lindos e cuidados como tudo o que produzem os seus meticulosos e exemplares "ateliers".
A Administração moderna e desempoeirada exercida pelos socios-gerentes, que do "metier" teem vastos conhecimentos, snrs, Joaquim Pinto de Lima e D. Virginia Costa, tem feito progredir esta grande organisação industrial.
Ali tudo é feito com modernismo e distinção tanto os artigos que apresenta como o modo de tratar os clientes, que saem encantados. É verdadeiramente a casa que na elegancia feminina dita leis. Dir-se-ha ainda inspirada do Além ... Madame de Pompadour, a rainha da elegância que aureolou de graça e sugestivo encanto o reinado magnificente de Luiz XV.
Na arte de bem vestir "A Pompadour" tem no nosso paiz a função maravilhosa dum perfeito instituto de elegancia feminina. Os seus Espartilhos, Cintas e Soutiens-gorges duma concepção originalissima, são hoje os preferidos pelas damas que desejam vestir com elegancia, etc.»

            


Catálogo gentilmente cedido por Carlos Caria


Fábrica de cintas e espartilhos de "A Pompadour"


Em 1934 "A Pompadour" inaugura uma sucursal na Rua Augusta, a "A Pompadour - Sucursal Económica", com o único propósito de ali vender os seus artigos a preços mais acessíveis. e mais tarde, em 1956, anexa a velhinha "Papelaria Verol" para ampliação deste, transformando-a dessa forma num grande e moderno estabelecimento em 1957.


Depois de ampliado o estabelecimento em 1957

Em 1935, com a necessidade de ampliar o seu fabrico, montou uma nova fábrica na Palhavã, em edifício próprio cuidadosamente apetrechado. 


Fábrica na Palhavã

Cinco anos depois, em 1940, alargando o sistema comercial, ao lado da sua "Sucursal Económica", inaugurou uma casa destinada à venda de malhas, lingerie, carteiras, etc, casa que no ano seguinte sofreu enormes obras de transformação, ficando ligada à Sucursal, com a qual passou a constituir um só estabelecimento.


Actualmente, e no lugar de "A Pompdour" Sucursal Económica, está em actividade a "Langiarte", que comercializa, igualmente, roupa interior e lingerie. Esta loja pertence ao Grupo com o mesmo nome, fundado em Janeiro de 1987 e propriedade de Mário Faria e Idalina Faria. 


Tampa de caixa em 1943

Em 1955 o arquitecto Raúl Lino executa os projectos de alteração da fachada da loja na Rua Garrett.




                            1941 (autoria: Maria Keil)                                                    1947 (autoria: Fred Kradolfer)





Depois de encerrada, por volta de 2003/2004 deu lugar, em 2005, a uma loja de pronto-a-vestir “Vitrine” que procedeu a grandes alterações na decoração, que depois de ter desaparecido todo o mobiliário original só restou a a "screen-fachada" do fundo da loja, elemento mais importante e determinante da sua arquitectura de interiores, juntamente com os candeeiros. Esta loja viria a encerrar em 2010 e foi substituída, pela cadeia de lojas de cristais “Swarovsky” em 2011.


"Vitrine" 

Paralelamente à fundação e abertura da loja "A Pompadour", surgiu no mercado uma linha de perfumaria com a mesma designação "Pompadour". Esta linha de perfumes, higiene e cosmética surge no mesmo ano de 1924, fabricada e comercializada pela "Perfumaria Mendonça" pertença da firma "Thomaz Mendonça, Filhos Limitada", localizada na Calçada do Combro, 43-45 em Lisboa.


31 de Março de 1924

Esta firma já existia em 1898, como depósito da «fabrica de gommas» e perfumaria de Thomaz Antunes de Mendonça, na mesma Calçada do Combro no nº 47. Como a loja de cintas e espartilhos "A Pompadour" também comercializava produtos da mesma linha "Pompadour", creio que esta marca terá sido utilizada por comum acordo entre as duas firmas, - e comercializada pelas duas - dada a coincidência de datas. Repito «creio», já que não consegui obter confirmação do que acabei de mencionar.


9 de Fevereiro de 1888


10 de Abril de 1898


Factura passada à Rainha D. Maria Pia em 13 de Janeiro de 1908


Agosto de 1924


Venda de perfumes e afins na loja "A Pompadour" pelo actor Erico Braga durante a "Semana dos Artistas" em 23 de Janeiro de 1928.


As actrizes Amelia Pereira e Maria Sampaio fazendo venda na secção de cintas e espartilhos durante o mesmo evento



Antiga loja "A Pompadour", actualmente "Swarovski", em foto do "Google Maps"