A "Fabrica Ancora" especializada em licores, xaropes, aperitivos e cognacs foi fundada em 1882, no Largo do Marquez de Niza, em Xabregas - Lisboa, pelo médico Dr. Carlos Félix de Lima Mayer (1846-1910), tendo sido adquirida por Leopoldo Manillius Wagner em 1894.
Depósito e escritórios da "Fábrica Âncora" na Rua do Alecrim 32-42 (à esquerda na foto)
Dr. Carlos Félix de Lima Mayer (1846-1910)
Anuncio no "Annuario Commercial de Lisboa" de 1886
5 de Maio de 1894
Anúncio num Programa do "Theatro D. Amelia" em Novembro de 1899
Leopoldo Manillius Wagner nasceu por volta de 1850 em Lisboa e faleceu por volta de 1926/1927. Primeiro filho de oito, de Ernesto Victor Wagner (músico e 1º fabricante de pianos em Portugal) e de Leopoldina Carolina Neuparth. Fez o curso do "Instituto Industrial e Comercial de Lisboa". Após o serviço militar, cumprido em Viana do Castelo, torna-se contabilista da Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal, tendo chegado a Diretor-Gerente.
Em 1882 fixa-se em Lisboa com um escritório de agências e comissões.
A 23 de Agosto de 1883 casa com Virgínia de Oliveira Basto. Virgínia compôs de peças para canto, piano, violoncelo, órgão e orquestra, peças estas que só perto dos setenta anos se resolveu a publicar.
Deste casamento nasceram três filhos, Olinda (1884-c.1954), Mário (1885-1935) e Vitor Manuel (1887-1955). Os dois primeiros filhos ainda nasceram na cidade do Porto. Todos os filhos de Leopoldo Wagner seguiram o sucesso do pai. Olinda casou com João António Ribeiro, um empreendedor que viveu em S. Tomé, o qual trabalhou e foi sócio da Casa Morais, e na Companhia Agrícola das Neves, de que foi diretor. Em Portugal fez parte da direção da Fábrica de Licores Âncora e mais tarde foi seu proprietário, com o seu filho. Mário foi um físico e cientista de renome, o qual pertenceu à Sociedade Química Portuguesa. Victor sempre trabalhou com o pai na fábrica.
Leopoldo Wagner e a sua família habitaram o prédio seiscentista conhecido por palácio "Bichinho de Conta", adquirido à família dos Condes de Alva.
Leopoldo Wagner tinha-se estabelecido em Lisboa com um escritório de agências e comissões, na Rua dos Fanqueiros, 62-1º, em 1887, vindo a mudar de instalações em 1890 para a Rua do Alecrim (antiga "Casa Hoffman & Cruz"), altura em que junta ao seu negócio outro de vinhos e bebidas alcoólicas.
Instalações na Rua do Alecrim 32-42, em 1917
1904
Posters de 1908
Em 1894, Leopoldo Wagner adquire ao Dr. Carlos Lima Mayer a "Fabrica Ancora", que tinha a sua sede e fábrica em Xabregas, e monta o escritório e depósito nestas instalações na Rua do Alecrim 34. Em 1897 já mantinha uma sucursal na Rua do Ouro, 72, e no início do século XX abriria outra na Rua do Corpo Santo,7 ambas em Lisboa.
Na revista "Illustração Portugueza" em 1914
«Effectivamente, graças a uma direcção intelligente, a um precioso receituario (resultado de incessantes e penosos trabalhos de muitos annos no aperfeiçoamento dos seus productos), a um escrupulosos cuidado na sua confecção, cujos processos seguidos são exactamente os mesmos adoptados nas grandes fabricas estrangeiras d'este ramo, e graças tambem ao emprego de materias primas das mais superfinas qualidades e a sua invariavel divisa de não fornecer senão artigos perfeitíssimos, a Fabrica Ancora conseguiu attingir a mais elevada cotação porque todos os seus productos, sem excepção, não teme confronto com os similares das mais afamadas marcas francezas e holandezas. Em todas as exposições a que tem concorrido teem sido conferidas á Fabrica Ancora as maiores distinções, entre as quaes dois Grands-Prix nas Exposições Universaes de S. Louis (1904) e Rio de Janeiro (1908).
Aquando da "Exposição Internacional do Rio de Janeiro" em 1923
1926
Além dos seus magnificos e afamados xaropes (fabricados a vapor com assucar puro de cana e succos de fructos ou plantas e que em todo o paiz e colonias teem a preferencia dos consumidores) e dos seus extrafinos licores de fructos de Portugal, entre os quaes sobresahem os Tangerina de Lisboa, Ginja de Portugal, Laranja de Setubal, Morango de Cintra, Ananas de S.Miguel e Banana da Madeira, merecem especial menção os seus execellentes licores nos typos estrangeiros, taes como: Triplice Ancora (Triplice sec cointreau), Licor do Convento (Chartreuse), Fradictine (Benedictine), Licor do Ermita (Kermann), Marasquin de Zara, Anizette e Curaçao de Hollande, Kummel de Riga, Peppermint e Menthe Glacial, Anizado refinado e Aniz Crystal, cremes de Cacau, de Rosas, de Baunilha, etc., os quaes são indistinguiveis dos similares de origem estrangeira.» in: jornal "A Capital" de 27 de Março de 1917.
Gama de alguns produtos da "Fábrica Âncora" nos anos 40 do século XX
De referir que além destas bebidas atrás mencionadas a "Fábrica Âncora", produzia, cognacs da marca "Ancora" «que são realmente uma especialidade muito apreciada pelos entendedores que os classificam a par das marcas Martell e Hennessy» e aperitivos.
Outros licores eram fabricados por esta fábrica «que teem geralmente largo consumo, como sejam: Granito Ancora, Creme de Ovos, Elixir de Cintra, Luso Africano, Vasco da Gama, Ponche Ancora, Casador, Cyclista e Grande Ancora-Tutti Frutti e que todos os seus productos são elegantemente apresentados e adornados com artisticas etiquetas.»
Nos anos 40 do século XX o prédio Largo do Marquez de Niza, em Xabregas, onde estava instalada a fábrica já tinha sido demolido, e a fábrica já tinha sido transferida para a Rua de S. Cyro, 23.
Entretanto, a empresa "Leopoldo Wagner (Sucrs.), Lda.", proprietária da "Fábrica Âncora", não resistiu às novas regras de distribuição implementadas nos anos 80 do século XX e fechou. Seria vendida, posteriormente, a um grupo indiano. Em 1990, as suas instalações form convertidas num antiquário, por João Trindade, que manteria muitos pormenores da fábrica, como as tabuletas, vendendo parte do espólio de onde se destacaram os rótulos.
Sabe-se que o último Wagner com ligações à "Fábrica Âncora", António Augusto Wagner Ribeiro, faleceu em 1996. Era filho de Olinda Wagner (1884-1954) filha de Leopoldo Wagner.
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital
Rótulos
Entretanto, a empresa "Leopoldo Wagner (Sucrs.), Lda.", proprietária da "Fábrica Âncora", não resistiu às novas regras de distribuição implementadas nos anos 80 do século XX e fechou. Seria vendida, posteriormente, a um grupo indiano. Em 1990, as suas instalações form convertidas num antiquário, por João Trindade, que manteria muitos pormenores da fábrica, como as tabuletas, vendendo parte do espólio de onde se destacaram os rótulos.
Publicidade na "Gazeta dos Caminhos de Ferro" em 1 de Janeiro de 1966
Postais
13 comentários:
Leopoldo Wagner adquiriu o prédio na rua do Século que torneja com a meia-laranja frente ao palácio Pombal, e conhecido por palácio "Bichinho de conta". Durante anos vi uma placa em latão com o seu nome ao lado da porta.
Cumprimentos
Gonçalo
Caro Gonçalo
Grato pela informação adicional
Cumprimentos
José Leite
Excelente artigo! sigo o blog desde há cerca de 2 anos e aprecio imenso as vossas reportagens, plenas de informação histórica. Continuem o bom trabalho e cordiais saudações!!!!
Muito grato pelo seu amável comentário.
Os meus cumprimentos
José Leite
Um artigo muito interessante - Obrigado!
Um artigo muito interessante - Obrigado!
Caro amigo JOSÉ LEITE
Não podia deixar de lhe dar os meus parabéns pela publicação deste tema, que me é bastante familiar (no que diz respeito à minha infância). Nasci neste sítio, provei algumas delicias ali fabricadas, comi as laranjas e os limões descascadas que eles davam ao público etc.
Foi realmente uma grande fábrica de bons produtos na vertente dos licores e champanhes, teve o seu apogeu, hoje já nada resta, a não ser o chão mal tratado. Tudo na vida nasce e morre, temos de nos mentalizar que assim acontece.
Incentivo-o que continue a deliciar-nos com estas recordações do passado.
Mais uma vez muito obrigado e despeço-me com um abraço de amizade.
Agostinho Paiva Sobreira
Amigo Agostinho
Muito grato lhe fico por este comentário, sempre generoso e gentil.
Como já tive a oportunidade de lhe expressar no e-mail que lhe enviei, em resposta ao seu, muito lamento que tenha parado com as publicações no seu belíssimo blog "Ruas de Lisboa com Alguma História". Mas temos de respeitar a sua decisão, assim como o meu terá um fim ...
Um abraço com amizade do
José Leite
Alguém tem ideia da idade que terá uma garrafa de brandy wagner da fabrica ancora que faz parte da minha colecção. Tenho apenas uma que foi bem conservada e irei abrir neste Natal...São servidos? Obrigado
Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca
Bom dia, sou barman e apreciador de gin português e tenho um grupo no Facebook onde já publiquei o gin âncora e com este blog descobri quanto grande somos tenho uma garrafa de gin âncora guardada, é um pouco da nossa história num líquido.
Parabéns pelo blog.
Muito obrigado.
Cumprimentos
Boa noite!
Adquiri uma garrafa de licor superfino Triplice Ancora que vem dentro de um suporte de cobre como se fosse uma lanterna em que o mesmo suporte tem gravado Fabrica Ancora Lisboa em dois lados na internet não consigo ver nenhum igual, tem conhecimento desta garrafa?
Posso enviar foto se assim quiser.
Obrigada
mshenriques71@gmail.com
Bom dia!
Essa garrafa existiu.
Meu falecido pai teve uma, nos anos 60. Lembro-me bem.
Cumprimentos.
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