Restos de Colecção: setembro 2019

29 de setembro de 2019

Casa da Russia

A "Casa da Russia", propriedade da firma "Francisco Marques & C.ª", foi inaugurada na Rua Augusta, em Lisboa, em 15 de Outubro de 1908. Este estabelecimento estava instalado no mesmo "prédio dos arcos" do "Grande Hotel Duas Nações" que tinha sido fundado em 23 de Fevereiro de 1879.

                     “Casa da Russia” com a sucursal de “A Pompadour” a seu lado com a famosa “TáTá” no 1º andar


No dia da sua inauguração o jornal "Diario Illustrado" noticiava:
«Abre na Rua Augusta, 142 e 144, um lindo estabelecimento de pelles, malas e artigos de viagem, que tem por fundador o sr. Francisco Marques, antigo e bemquisto empregado da casa Cilia.
A inauguração da "Casa da Russia", que assim se denomina o estabelecimento de que fazemos menção, reveste innegavelmente o caracter d'um acontecimento da moda, que hoje não pode nem deve passar despercebido á "élite" do publico de Lisboa.
É com especialidade ás leitoras que vimos recordar a vantagem d'uma pequena digressão através d'aquellas "étalages" em que avultam as pelles destinadas a abafo e guarnição de vestidos para a proxima epocha de inverno, sem falar dos casacos e das capas impermeaveis do mais perfeito fabrico e dos mais elegantes feitios.
A "Casa da Russia" está magnificamente installada n'uma ampla loja, 1º andar e sub-solo, servindo este ultimo de armazem.
Em summa, trata-se de mais um raro estabelecimento, que por innumeros motivos ficará d'ora'avante, a honrar esta grande cidade que é Lisboa.»

"Casa da Russia" (dentro da elipse desenhada) no ano da sua abertura, no "Prédio dos Arcos"




30 de Junho de 1909


10 de Dezembro de 1910


Anúncio na revista "Illustração Portugueza" em 20 de Dezembro de 1915


De referir que esta inauguração foi uma das quatro que tiveram lugar nas lojas deste edifício, no último trimestre de 1908. E porquê? Porque, o proprietário deste prédio de rendimento, o sr. Leopoldino Ribeiro tinha mandado ampliar e alterar o piso térreo do mesmo, segundo projecto datado de 1906 e cujas obras foram realizadas pelo construtor civil João Rodrigues Sebolla. A partir deste ano de 1908, este edifício, e por causa dos aspecto exterior das suas lojas, passa a ficar conhecido pelo "Prédio dos Arcos", da Rua Augusta.



Assim, referia a revista "A Construção Moderna" em 20 de Junho de 1906:
«(...) o pavimento da galeria é uma inovação muito bem aproveitada e a disposição das plantas em que se dividem os pavimentos, quer para dois, quer para tres inquilinos, está bem estudada.
De resto, a intelligencia dos nossos leitores dispensa mais detalhada descripção, pois que os desenhos, bastante completos, mostram bem o que é a obra que tratamos.
O constructor, é o nosso amigo, sr. João Rodrigues Sebolla, activo, honesto e intelligente artista, a que se devem muitas das melhores edificações da capital.»

Disposição das lojas todas (ver legendas) inauguradas em Outubro e Novembro de 1908


Inauguração da "Ramiro Pinto & C.ª " em 1 de Outubro de 1908


                           
                            3 de Novembro de 1908                                                             5 de Novembro de 1908


Praticamente oito anos mais tarde, em 13 de Setembro de 1916, o jornal "A Capital", num artigo acerca do comércio na Rua Augusta, mencionava a "Casa da Russia" nos seguintes termos:

«A nossa visita á casa da Russia constitui um verdadeiro deslumbramento. São as marthes, as gebelines, as hemines, as astrockl, os renards, nas suas multiplas variedades, os chinchans, as lontras, os lynces, os petit gris - é enfim um mundo infinito de côres caprichosas e delicadas a que a phantasia na confecção empresta ainda mais belleza, mais graça e mais elegancia.
A casa da Russia tem as suas officinas artisticamente montadas, offerecendo paralello com as casa congeneres de Paris e de Londres.»
29 de Junho de 1935


E a concorrência bem perto, a “Casa da Sibéria” desde 1918, em anúncio de 14 de Dezembro de 1935 ...


... e a "Casa do Canadá ", em anúncio de 25 de Dezembro de 1941


Em Setembro de 1938, a "Casa da Russia", já propriedade da firma "Sociedade de Peles e Artigos de Viagem, Lda.", encerra para obras de beneficiação e renovação cujo resultado se manteria até ao seu encerramento definitivo, julgo que nos anos 80 do século XX.

14 de Agosto de 1938


"Casa da Russia" após as obras, em fotos dos anos 40 do século XX





1 de Setembro de 1940


1956


Actualmente, na antiga loja da "Casa da Rússia", está instalada a loja da cadeia "Buda" fundada em 1972

25 de setembro de 2019

Hotel Albatroz em Cascais

A “Estalagem Albatroz” abriu as suas portas em Abril de 1963, na Rua Frederico Arouca, junto à "Praia de Nossa Senhora da Conceição", em Cascais, ocupando o “Palácio do Duque de Loulé”, e em 1983 seria convertida em “Hotel Albatroz”.

"Estalagem Albatroz"


O segundo Duque de Loulé e Conde de Vale dos Reis, D. Pedro Agostinho de Mendonça Rolim de Moura Barreto (1830-1909), em 1870 pede à Câmara Municipal de Cascais o aforamento de terrenos junto à Ermida de Nossa Senhora da Conceição para construir o palacete, para sua residência de veraneio. Em 1872 é iniciada a construção do palácio sob projecto do arquitecto Luís Caetano Pedro de Ávila, com ajuda do génio artístico de Rodrigo Cantagallo, vindo este palácio a ser conhecido como "Caixa de Amêndoas".

2º Duque de Loulé, D. Pedro Agostinho de Mendonça Rolim de Moura Barreto (1830-1909)


Em 1873, e segundo Pedro Barruncho: «a casa tem, no piso nobre, o quarto do duque, virado ao mar, com os gabinetes e quartos da condessa, conde e das duas filhas; no piso superior, quartos para hóspedes, para criados, despensa, casa de engomar». Em 1881, o 2.º Duque de Loulé, Pedro José de Moura Barreto, pede licença à Câmara para tirar saibro da praia para a construção da casa, denotando que continuava em obras.

Vista da baía de Cascais e do Palácio do Duque de Loulé (na elipse desenhada), nos finais do séc. XIX


Perspectivas do "Palácio Duque de Loulé" e o chalet de D. António Almada de Lencastre (à direita nas 2ª  e 3ª fotos)




Já no século XX o “Palácio do Duque de Loulé”, é vendido a a Eduardo Alberto Plácido (1874-1934) e em 1943 passaria para a posse do 3º Marquês da Foz, e 4º Conde de Cabral, Jacinto Brandão de Melo Magalhães Guedes de Queirós (1931-2013), que nos anos 60 do século XX, o alugou, ao "Grupo Albatroz" que o transformaria na “Estalagem Albatroz”, segundo projecto do arquitecto Alberto Cruz (1920-1990).

Vista aérea de Cascais em 1930, com o "Palácio Duque de Loulé" dentro da elipse desenhada


"Palácio Duque de Loulé" antes de ser convertido em Estalagem



Quando abriu, em 1963, a “Estalagem Albatroz”, tinha 11 quartos, um salão restaurante, um bar e um relvado que mais tarde viria a ser substituído por uma piscina. Ao seu lado esquerdo encontra-se a “Praia de Nossa Senhora da Conceição” e no seu lado direito a “Praia Rainha D. Amélia”.

Fotos do interior da “Estalagem Albatroz”, em 1963








Entretanto, em 1978, a “Estalagem Albatroz”, passa para a propriedade da família Simões de Almeida, liderada por João António Simões de Almeida (1910-1990) - proprietária de outros equipamentos hoteleiros - primeiro com João Simões de Almeida, depois com Carlos e, finalmente, Frederico.




Em 1981, o “Grupo Albatroz” compra o Palácio e a “Estalagem Albatroz”, e constrói uma nova ala com 29 suites, projectada pelo arquitecto Alberto Cruz, e procedendo a renovações necessárias, reabre 18 meses depois de iniciadas as obras, em Abril de 1983 já como “Hotel Albatroz”.



Posteriormente, no ano 2000, é adquirido o chalet de D. António d’Almada de Lencastre (1857-1944), de traça arquitectónica italiana e cuja construção data do início do século XX e situada por detrás da “Estalagem Albatroz”, passando a designar-se “Palácio Albatroz”.

Chalet de D. Antonio de Lencastre, em postal de 1907



Depois da última remodelação no Inverno de 2003/2004, passou a oferecer uma única suite de luxo, no último piso, com vista panorâmica das suas 3 varandas, virada para a baía de Cascais.

Postal promocional


É, também, em 2003, que o grupo adquire a Casa D. Nuno, mais conhecida por “Casa Amarela”, mandada construir em 1922 por D. Nuno Miguel d”Almada e Lancastre, que não tendo filhos a doou ao seu afilhado Bernardo Manuel Pinheiro Espírito Santo Silva. O edifício manteve-se na família Espírito Santo até 2000, tendo sido vendido primeiro a estrangeiros e, mais tarde, ao “Hotel Albatroz”, que adquiriu, pela mesma altura, a rua que dava acesso a este palacete, a Travessa da Conceição.
Piscina do "Hotel Albatroz" e a "Casa Amarela"



Em Outubro de 2014 a família Simões de Almeida vende o “Hotel Albatroz”, ao empresário russo Leonid Ranchinskiy segundo o site “Dinheiro Vivo”. Passando a ser gerido sob novas orientações, Frederico Simões de Almeida, filho de Carlos e neto de António (o membro da família que adquiriu inicialmente o grupo), ter-se-á mantido como director-geral do hotel.

Juntamente com o edifício anexo, construído junto ao Palácio original, este conjunto de edifícios de seu nome “Hotel Albatroz”, de 5 estrelas, possuí actualmente 52 quartos - 44 quartos, 3 júnior suites e 5 suites, distribuídos pelos vários edifícios históricos.










O grupo “Condé Nast Johansens”  forma o “The Albatroz Collection” que se divide, actualmente, em três hotéis: o “Bayside Villa”, na Praia dos Pescadores; o “The Albatroz Hotel”; e o “Beachside Palace”, todos de cinco estrelas e todos localizados na baía de Cascais.

"Bayside Villa", instalado no antigo chalet da escritora Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921), construído em 1903



Configuração actual do complexo de edifícios do “Hotel Albatroz”


Actualmente, e desde 12 de Outubro de 2006, o imóvel é considerado de Interesse Municipal (IM), abrangido por ZEP ou ZP (Zona Especial de Protecção).