O primeiro “Ritz Club” foi inaugurado, na ala sul do “Palácio Foz” (ou “Palácio de Castelo Melhor”) na Praça dos Restauradores em Lisboa, em Julho de 1921 vindo a ocupar as antigas instalações da americana “Colonial Oil Company”, que dali saíra aquando da sua integração na “Vacuum Oil Company”.
1922
1922
No 1º andar desta ala viria a instalar-se o "Ritz Club"
Anúncio publicitário mais antigo a que tive acesso, de 26 de Abril de 1921
Em meados de Fevereiro de 1921, os estabelecimentos autorizados a estarem abertos da meia-noite às quatro horas da madrugada, incluíam já o “Monumental Club”, o “Bristol Club” (Rua Jardim do Regedor), o “Maxim’s - Club dos Restauradores” (ala norte do "Palácio Foz”, o “Palais Royal” (esquina da Avenida da Liberdade junto ao "Ascensor da Glória"), o "Ritz Club" e o “Club dos Patos” (no Largo do Picadeiro).
O “Ritz-Club” iniciou a sua atividade após o fim da I Guerra Mundial (1914-1918), a exemplo de outras já existentes, como casa de jogo, diversificando progressivamente os seus serviços com o duplo objetivo de cativar mais clientes, - serviço de barbearia, salas de leitura, salas de fumo, jazz bands e espetáculos, entre outros - e camuflar a sua principal atividade e fonte de lucro: o jogo de casino. Além do consumo de substancias ilícitas como ópio, o absinto, morfina; em menor escala a heroína mas a grande novidade era sem dúvida alguma, a cocaína, também conhecida como fada branca ou neve.
Entrada para o "Ritz Club" no "Palácio Foz"
O restaurante era um dos principais serviços dos clubes nocturnos lisboetas. "Maxim´s", o "Clube dos Patos", o "Monumental Club", o "Regaleira Club" o "Bristol Club", o "Olympia Club", o "Ritz-Club" e o "Club Montanha" encontravam-se licenciados como restaurantes. Os próprios clubes anunciavam-se como restaurantes, juntando a esta designação o dancing, actividade que acrescentavam à primeira. A existência de uma jazz-band em restaurantes ou mesmo casas de chá começava a generalizar-se em Lisboa.
16 de Julho de 1921
Os Clubs menos bem frequentados, seriam o “Ritz Club” e o “Clube dos Patos”, e os mais elitistas eram o “Maxim’s - Club dos Restauradores” ou o “Monumental Club” (ex- “Majestic Club”, por sua vez ex- “Palace Club”) «o mais rico e civilizado de Lisboa» , que obviamente geravam receitas mais avultadas.
13 de Janeiro de 1921
Artigo em 24 de Dezembro de 1922
Infelizmente, eram frequentes desacatos, e até assassinatos dentro e à porta de alguns clubes nocturnos. Exemplo disso, em Outubro de 1926 era noticiado um incidente no "Ritz Club":
«Esta madrugada, cerca das 2 horas e meia, apareceram no Hospital S. José (...) dois indivíduos que levavam nos braços um homem gravemente ferido (...). os dois passageiros, um empregado do Ritz Club e um frequentador dessa casa contaram o sucedido, "um azar" ...».
1 de Março de 1926
«Esta madrugada, cerca das 2 horas e meia, apareceram no Hospital S. José (...) dois indivíduos que levavam nos braços um homem gravemente ferido (...). os dois passageiros, um empregado do Ritz Club e um frequentador dessa casa contaram o sucedido, "um azar" ...».
1 de Março de 1926
24 de Outubro de 1926
O jornal "Diario de Lisbôa" complementava a notícia anterior, com mais pormenores:
«Pelas averiguações a que a polícia procedeu, apurou-se que o caso do Ritz Club, de que resultou a morte do alfaiate José Saraiva, foi motivado pela imprevidencia do barbeiro daquele Club, João Pereira.
Este vai ser enviado para o tribunal da Boa Hora, acusada de homicídio involuntario. O barbeiro tinha licença de porte de arma, encontrando-se detido para averiguações o ex-agente Candeias da P.I.C. que assistiu a toda a scêna.»
Artigo no "Diario de Lisbôa" em 13 de Julho de 1927
A última referência ao “Ritz-Club” no “Palácio Foz”, a que tive acesso, foi um anúncio no “Diario de Lisbôa” de 20 de Agosto de 1927, pelo que deduzo que terá encerrado definitivamente pouco tempo depois, já que nem nos festejos de passagem desse ano para 1928 aparece. Lembro que foi nesse ano de 1927 em 3 de Dezembro que foi publicado um decreto-lei nº14.643 (que criou o Conselho de Administração dos Jogos, atribuindo lhe funções de administração, regulação e fiscalização) que proibia definitivamente com o jogo ilegal em Lisboa e arredores, e decretando que «só será permitido o jogo de fortuna ou azar em casino ou casinos construídos a Oeste de São João do Estoril» . No Monte Estoril existia o "Grande Casino Internacional" desde o primeiro decénio de 1900. O "Casino Estoril" (primeiro) seria inaugurado em 15 de Agosto de 1931.
O espaço anteriormente ocupado pelo “Ritz-Club” e "Palace Dancing" viria a ser ocupado pela nova sede do “SCP - Sporting Club de Portugal”, inaugurada em 15 de Junho de 1933.
Dia da inauguração da nova sede do SCP em 15 de Junho de 1933
Quanto ao “Club Montanha” ou “Bal-Tabarin - Club Montanha”, ter-se-á instalado na Rua da Glória, 57 igualmente em 1921, vindo a ocupar o antigo edifício-sede da “Tuna Commercial de Lisboa” fundada em 1903 e resultado da fusão de dois grupos de bandolinistas ativos no início do século XX: o da Associação de Caixeiros de Lisboa e o de Alcântara. A sua primeira apresentação pública da foi realizada no dia 17 de Abril de 1904 no “Theatro D. Amelia”, em Lisboa, sob a direção de Miguel Ferreira.
A inauguração deste edifício mandado construir por Feliciano da Silva (benemérito desta instituição), e projectado pelo arquitecto Jorge Pereira Leite, teve lugar em 11 de Outubro de 1908.
Como se pode depreender da designação de “Bal-Tabarin - Club Montanha”, - O Bal-Tabarin foi um conhecido cabaret parisiense inaugurado em 1904 e encerrado em 1953, que acolheu em 1915 o Moulin Rouge após um incêndio que destruiu as suas instalações - outras como esta, acusavam tentativas de internacionalismo (ou melhor francesismo) numa tentativa de luxo e sofisticação: “Moulin Rouge”, o “Olympia Club”, “Palais Royal”, “Magestic Club” (ex- “Palais Royal”), “Ritz-Club”, “Maxim’s”, etc.
Inauguração do edifício-sede da "Tuna Commercial de Lisboa"
"Tuna Commercial de Lisboa"
30 de Dezembro de 1921
Artigo em 24 de Dezembro de 1922
Os clubes nocturnos com as licenças de jogo mais altas nos primeiros anos dos anos vinte do século XX , seriam o “Maxim’s” (quatro mil escudos), o “Majestic Club” (três mil escudos), o “Regaleira Club” , o “Ritz-Club” (mil e quinhentos escudos) e por fim os “Bristol Club” e “Club dos Patos” (mil escudos). Em 1925, o “Maxim’s” pagava, anualmente, o valor de dez mil escudos, o “Bristol Club” sete mil escudos, o “Monumental Club” pagou no primeiro semestre desse ano, nove mil escudos assim como o “Club Montanha” que pagou quatro mil, trezentos e vinte escudos. Em 1929, o “Maxim’s” pagou ao Governo Civil um total de vinte e quatro mil escudos, apesar da lei antijogo de 1927 ter já sido publicada.
"Slot-Machine" em Portugal nos anos 20 do século XX
Capas de partituras de músicas alusivas ao jogo e à cocaína nos anos 20 do século XX
1924
O “Club Montanha” do empresário Maximiano Ferreira era assim descrito num apontamento publicitário em 3 de Janeiro de 1927:
«Mais uma vez este elegante cabaret, da rua da Gloria veiu demonstrar ser o unico que no seu genero existe em Portugal, devido aos esforços empregados pelo seu empresario sr. Maximiano Ferreira, que não se cança de contratar para a sua casa de espectaculos as melhores artistas espanholas (...)
O "Bal-Tabarin" Montanha, além de ter um magnifico salão para "soirées", tem tambem um esplendido restaurante que fornece magnificamente jantares completos a 10 escudos e ceias completas a 12 escudos.»
O "Bal-Tabarin" Montanha, além de ter um magnifico salão para "soirées", tem tambem um esplendido restaurante que fornece magnificamente jantares completos a 10 escudos e ceias completas a 12 escudos.»
Nos primeiros meses de 1928 encerraria e só reabriria em 4 de Outubro de 1930, cujos pormenores da sua reabertura poderá ler no anúncio publicitário seguinte.
25 de Janeiro de 1928
4 de Outubro de 1930
A última referência ao “Club Montanha”, a que tive acesso, foi um anúncio no “Diario de Lisbôa” de 4 de Março de 1934, pelo que terá encerrado definitivamente pouco tempo depois, já que por altura da passagem de ano já não aparecia publicidade sua em jornais.
4 de Março de 1934
Apesar de existirem referências (nunca indicando o espaço temporal) dum “Treze da Glória” neste edifício, nunca vi em parte alguma referencia noticiosa ou publicitária, em jornais, revistas, etc, acerca do mesmo, pelo que permitam-me duvidar da sua existência.
No Carnaval do ano de 1940 já o edifício da Rua da Glória, 57 era ocupado pelo Bar-Dancing “Concha”, dirigido por Pedro Saldanha ex-gerente do “Eden Bar-Dancing”, que funcionava no edifício do Teatro e Cinema “Éden”. Creio que a propriedade do Bar-Dancing "Concha" era do maestro Sousa Pinto. Esta casa não teve grande existência e em 1943 já estava encerrada.
3 de Fevereiro de 1940
10 de Setembro de 1942
Em 29 de Janeiro de 1944 era inaugurado o "Ritz", salão de chá e restaurante, instalado no 1º andar do nº 240 da Avenida da Liberdade, esquina com a Rua Alexandre Herculano (onde hoje está a loja "Cartier"). Não sei se foi coincidência de nome, ou não, mas como a sua abertura ocorreu praticamente 2 anos antes do novo "Ritz Club" e o seu desaparecimento aquando da abertura deste, arriscaria a dizer que o proprietário poderia ser o mesmo, mas certeza não tenho nenhuma. De referir que após o desaparecimento deste salão de chá e restaurante "Ritz" foi criada a "Pensão Ritz" no mesmo prédio.
Dentro da elipse desenhada o edifício onde se instalou o "Ritz" salão de chá-restaurante, podendo-se avistar no último piso o reclamo à "Pensão Ritz"
No dia 6 de Dezembro de 1945 foi inaugurado o novo "Ritz Club" na Rua da Glória, 57 no mesmo edifício construído para a "Tuna Commercial de Lisboa" e onde já tinham estado instalados o "Club Montanha" e o Bar Dancing "Concha".
A propósito da sua inauguração, o jornal "Diario de Lisbôa" noticiava na véspera:
«É amanhã que se realiza, na Rua da Glória, a inauguração dum novo recinto de variedades, com uma festa especial dedicada á Imprensa de Lisboa - "Ritz-Club" que está montado com um luxo extraordinário, de requintada elegância, com salas cheias de conforto, "bars" e "dancing". Exibir-se-á no palco um programa organizado pela Agência Dulini, que apresenta as atracções The Jasmin's Torr Ballet, as bailarinas de classe, Argentina Moral e Nita Uchés e a orquestra Espña-Marins.»
Interior do “Ritz-Club” nos anos 70 e nos anos 50 do século XX
Anúncio publicitário em 1 de Agosto de 1954
No anúncio anterior, e no seu final, pode-se ler uma referência ao "Casino de São Jorge". Em 1953, o "Ritz Club" tinha aberto a sua sucursal na "Feira Popular de Lisboa", na Palhavã, com a designação de "Casino de São Jorge", auto intitulando-se de «ponto de reunião da Lisboa elegante». Lembro que a "Feira Popular de Lisboa", nesta altura, possuía três dancings: o "Meia-Noite", o "São Jorge" e o "Tamariz".
1 de Junho de 1955
Segundo um artigo de Raquel Moleiro publicado no jornal "Expresso" em 2004, o "Ritz Club" «Foi poiso de artistas, prostitutas, nobres e fadistas. Foi palco de vaudeville e striptease. Dali partiam os soldados para o Ultramar. Ali chegavam os marujos de além-mar"
1 de Junho de 1955
1 de Junho de 1956
9 de Dezembro de 1953
Mas não só de espanholitas "viveu" o "Ritz Club". De vez em quando também ali se cantava o fado, como o anúncio seguinte o demonstra. Claro, que dias depois, as ditas voltavam "à carga" ...
2 de Setembro de 1958
15 de Setembro de 1958
Interior do “Ritz- Club” já no século XXI
O mesmo artigo, conta que o "Ritz Club" era um cabaret popular que se gabava de ser o mais barato de Lisboa. Estava sempre em festa: «No palco, a Grande Orquestra Ritz – bateria ao centro, metais alinhados em primeiro plano, ao estilo big band americana - tocava música de baile, tangos, boleros». Décadas depois, nos anos 80 do século XX, quando o cantor Vitorino, o seu irmão Janita, a actriz Maria do Céu Guerra e outros sócios ficam à frente da casa, o "Ritz Club" tornou-se palco de eventos culturais. É nesta fase que aqui são lançadas bandas como os Da Weasel ou os Blasted Mechanism, além de terem lugar representações teatrais.
10 de Agosto de 2012
Em 2 de Março de 2013
12 de Abril de 2013
Apesar o edifício se ter degradado, a autarquia lisboeta, liderada pelo presidente de então, João Soares, entre 1995 e 2002, tomou em mãos a sua recuperação e conservação com enfoque na sua lindíssima fachada e nos seus azulejos da "Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego" (fundada em 1849), refazendo a sua designação original em azulejos: "Tuna Commercial de Lisboa".
Depois de vários "abre e fecha" e de várias tentativas de revitalização do espaço, ao longo dos últimos anos - em que a última reabertura em 2012 se confrontou com as queixas da vizinhança do ruído além do aceitável, tendo sido forçado a encerrar em 2013 - o edifício encontra-se, actualmente, para venda.
Sem comentários:
Enviar um comentário