Restos de Colecção: Transportes de Lisboa
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12 de junho de 2021

Companhia de Carruagens Lisbonenses

A "Companhia de Carruagens Lisbonenses", foi fundada em 1853, com cocheiras (e mais tarde garagem de automóveis de aluguer) no Largo de São Roque, no antigo Palácio dos Marquezes de Niza, e com  filiais em Alcântara e Sintra. Tinha como seus directores: Antonio d'Oliveira e Sousa e Julio Gomes Ferreira. Foi a principal concessionária de carruagens de aluguer em Lisboa.

Em 7 de Abril de 1834 é fundada a "Companhia de Carruagens Omnibus" e estabelecem-se carreiras regulares de carruagens, também chamadas de omnibus. sendo as primeiras carruagens exploradas por Luís Francisco Castinel e Aristides Fleury de Barros. Os preços eram baixos o que tornava o transporte acessível à generalidade da população. Foi a "Companhia de Carruagens Omnibus" que iniciou este tipo de serviço em regime de monopólio. A estação central das suas cocheiras situava-se na Rua do Crucifixo, donde durante trinta anos, entre 1835 e 1865, partiriam as pesadas e barulhentas carruagens para Belém, Benfica, Sintra, Lumiar, estendendo-se mais tarde a Cascais, Loures e Carnide. Porém, em 1865 um incêndio nas suas cavalariças dizimou metade dos animais e marcou o início do fim desta empresa, que aliando a uma gestão ruinosa aos altos preços praticados, acelerou o fim da mesma nãotendo sobrevivido a esta catástrofe.



9 de Fevereiro de 1848


1850

«Na Lisboa dos nossos avós a deslocação por via motorizada era um verdadeiro sonho. Em meados do século XIX começaram a circular os primeiros transportes colectivos de tracção animal.
Por volta de 1835, foram os “omnibus” (em latim, transporte para todos) os primeiros transportes colectivos que começaram a circular dentro da cidade. Eram carros grandes e desajeitados, com janelas de cada lado e porta nas traseiras, com lotação para 15 pessoas sentadas em bancos corridos, puxados por duas parelhas de animais.
Em 17 de Novembro de 1873 foi inaugurada a primeira linha de “Americanos” (comprados a uma firma de Nova Iorque), que ia desde a Estação da Linha Férrea do Norte e Leste (Sta. Apolónia) e o extremo Oeste do aterro da Boa Vista (Santos).»


Sede da "Companhia de Carruagens Omnibus" no Largo do Pelourinho

1853

Por mau serviço prestado, não são renovadas as concessões das companhias de omnibus, e aparecem em Lisboa empresas de transportes baratos, com veículos de menores dimensões, como o Chora (Eduardo Jorge), Salazar, Jacintho, Florindo, Campos Junior, Joaquim Simplício, Lusitana, etc ... aumentando o seu raio de acção por toda a Lisboa e arredores, acessível a toda a população a preços económicos. Na cidade do Porto, surge em 1839 a "Companhia de Transportes União", com o objectivo de fazer transportes nesta cidade, tendo importado, para o efeito, quatro carros denominados omnibus.


3 de Novembro de 1828


"Chora" do Eduardo Jorge


Jacintho


Salazar


Joaquim Simplício


1913


1875


1894


1900


Fornecedores vários, na revista "A Correaria Nacional" de Outubro de 1893

E na mesma revista ...

Só a partir de 1860, com a prescrição do anacrónico sistema da boleia a cavalo que, até então, dominou em exclusivo para o serviço de trens de praça, é que se abre a possibilidade a outros veículos de se adaptarem a viaturas de aluguer, sendo as carruagens mais comummente empregadas como trens, as sages, a traquitana, o coupé e as caleches, as tipóias de praça, o char-à-bancs, etc.para duas e quatro pessoas e o último podendo levar até dez. A principal concessionária de carros de aluguer era a "Companhia de Carruagens Lisbonenses".





Telheiro de recolha

Depois de em 1814 o Palácio dos Marquezes de Niza ter sido adaptado para albergar o "Teatro do Bairro Alto", em Dezembro de 1835 a Câmara Municipal de Lisboa manda a Casa de Niza a proceder à demolição do palácio por ameaçar a segurança pública. Em 17 Maio de 1836, Francisco José Caldas Aulete aforou o Palácio dos Vidigueira e demoliu parte da muralha fernandina. Em 1854 a propriedade de Caldas Aulete é adquirida por António Florêncio dos Santos, que depois a vendeu à "Companhia de Carruagens Lisbonenses", que, em 1864 ocupa também Palácio de Niza. Trinta anos mais tarde, em 1894, esta Companhia toma conta do pátio e restos do "Teatro do Bairro Alto" que ali existiu. 


Despacho de licenciamento de 19 de Dezembro de 1864



4 de Novembro de 1872


Tabela de preços em 1880



Bilhete



Gentilmente cedido por Carlos Caria



Diferentes tipos de carruagens

Em 1873, surge um novo meio de transporte movido a força animal mas deslocando-se sobre carris de ferro, chamado de "Americano" e introduzido pela "Companhia Carris de Ferro de Lisboa", que tinha sido fundada no Rio de Janeiro em 1872 e reconhecida como S.A.R.L. portuguesa em 1876. A primeira linha de carros deste género tinha sido inaugurada no Porto um ano antes, em 1872, entre a Foz e Matosinhos, sendo a primeira do país.

"Americano" a entrar na Largo de S. Paulo

Em 1880 os "Rippert", começam a fazer concorrência ao "Americano", chegando a utilizar os seus carris, uma vez que tinham rodas e comprimento de eixos semelhante, dando origem a conflitos de vária ordem. Para tal foi constituída a "Companhia de Carruagens Rippert", cujos seus directores eram: Antonio Maria dos Santos Viegas, Firmino Augusto Lopes Brothas Cardozo e o Visconde da Azarujinha. A seguir notícia na revista "Occidente" da constituição da empresa.


1 de Julho de 1882




1883


1888

Outro grande concorrente da "Companhia de Carruagens Lisbonenses" abria as suas portas, em 1891: o "Deposito de Carruagens de Anastacio Fernandes & C.ª", propriedade de Anastacio Fernandes e Guilherme Augusto d'Almeida, instalado no Palácio do Conde de Burnay (ex-Palacio do Conde de Povolide), na Rua de Santo Antão, em Lisboa. 

1897

«De Anastacio Fernandes é muito o que temos a dizer. Este incansavel industrial que apenas conta hoje 40 annos de edade tem a sua vida juncada de virtudes. Como trabalhador, poucos, tanto como elle, teem comprehendido a sua dificil missão. (...)
Depois, Anastacio Fernandes uniu-se logo de principio a um cavalheiro tambem um extremo trabalhador e emprehendedor, o sr. Guilherme Augusto d'Almeida.(...)
Assim é que o deposito de carruagens de Anastacio Fernandes e C.ª deve o credito de que hoje gosa á sua boa administração, o que tem conseguido augmentar nélle a procura de todos os que desejam ser bem servidos.» in: 
jornal “Folha de Lisboa” de 14 de Outubro de 1894. Consultar a sua história no seguinte link neste blogDeposito de Carruagens de Anastacio Fernandes & C.ª

Contudo a "Companhia Carris de Ferro de Lisboa" sobrepõe-se à concorrência das outras concessionárias de transportes públicos de Lisboa como a "Rippert", a "Companhia de Ascensores Mechanicos de Lisboa" e a "Empreza de Viação Urbana a Vapor". Pouco a pouco as velhas companhias de omnibus são absorvidas, carruagens e concessões, à excepção do "Chora" (Eduardo Jorge) que resistiria até 1917.

11 de Novembro de 1874

Em 1912, a "Companhia de Carruagens Lisbonenses", tinha adquirido «automóveis exclusivamente reservados ao serviço de remise» - remise palavra francesa equivalia a aluguer - e criava tarifas especiais para os mesmos. Os «automóveis de luxo» ofereciam, por um «preço reduzido», «todas as comodidades e o prazer de um carro próprio (...) fazendo o serviço por hora ou por kilometro». Já nesta época eram apontadas críticas aos táxis, na altura apelidados de "automóveis de praça": «nem sempre estão disponíveis e offerecem os encantos e comodidade de um carro particular ou de remise.» A forma de os pedir era simples: bastava ligar para o telefone com o nº 35e solicitar um. Mas ... se fosse aos domingos ou feriados, o pedido teria de ser feito «com a necessária antecedência».






4 de Março de 1914

Gentilmente cedido por Carlos Caria

Recibo em 1916



1917

Por volta de 1922 a "Companhia de Carruagens Lisbonenses" viria a ser liquidada, e as suas instalações em São Roque foram adquiridas pelo capitalista Deniz M. de Almeida, que assumiu o activo e passivo da Companhia. Em 12 de Setembro de 1923, vende-as à firma "C. S. Dias de Figueiredo & C.ª", que aqui possuía as cocheiras, cavalariças, celeiros, palheiros e oficinas. Em 1926 esta venderia à "Santa Casa da Misericórdia de Lisboa" o que restava, do antigo Palácio dos Marquezes de Niza, desfigurado em absoluto. 

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca Nacional DigitalBiblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)