Restos de Colecção: Pastelaria "A Garrett" do Chiado

22 de setembro de 2019

Pastelaria "A Garrett" do Chiado

A Pâtisserie et Restaurant "A Garrett", localizada no Largo das Duas Igrejas (Largo do Chiado, a partir de 1925), em Lisboa, terá aberto as suas portas pela primeira vez em 1918. Digo "terá" já que a sua firma proprietária, a "Sociedade de Restaurantes, Lda." foi fundada por escritura de 18 de Abril de 1918 e segundo algumas fontes a abertura terá sido no mesmo ano. Esta sociedade era liderada por Francisco A. Roque Ramalho, antigo empregado do restaurante "Tavares" entre 1902 e 1918. 


Antes de "A Garrett", a casa de móveis e decorações "Raposo & C.ª" , em foto no dia do funeral do embaixador do Brasil Francisco Regis de Oliveira, em Janeiro de 1916


Nota: A propósito da casa de móveis e decorações "Raposo & C.ª", lembro que foi nesta mesma loja que tinha sido fundada a famosa loja de móveis e decorações "Barbosa & Costa" (sucessores de Gaspar), ainda só como armador-estofador, e que se mudariam daqui em 5 de Julho de 1877, para o Largo da Abegoaria, 7-12, no edifício denominado "Casino Lisbonense".

14 de Julho de 1921


Por outro lado há quem sugira a ligação desta pastelaria "A Garrett" a uma primeira existente na Rua Garrett - a "Casa Garrett" -  fundada pelo italiano Luiz Rembado em 19 de Setembro de 1880. Esteve instalada nos nos 112-114 do prédio do futuro "Grande Hotel Borges" (inaugurado em 29 de Outubro de 1882) e praticamente ao lado da "Confeitaria Gratidão", nos 104-106 futura "Pâtisserie Benard" a partir de 1902. Na minha modesta opinião não terá existido ligação alguma, até porque esta "Casa Garrett" ter-se-á mudado para a Rua dos Capelistas em 1885.

19 de Setembro de 1880


Entretanto em 1 de Janeiro de 1885, esta "Casa Garrett" aparece publicitada como "Patisserie Garrett", mudando de proprietário: António José Alves.


1 de Janeiro de 1885

"A Garrett", era o rendez-vous de todas as elegâncias lisboetas, frequentadoras assíduas do five o'clock tea mais famoso de Lisboa, e integrou, desde a sua fundação, o grupo das melhores e mais bem frequentadas pastelarias da Baixa lisboeta, grupo esse composto por: "Pastelaria Benard"; "Pastelaria Marques"; "Pastelaria Ferrari" e pastelaria/salão-de-chá dos "Grandes Armazéns do Chiado". Possuía uma banda permanente que animava os chás  e jantares.



Banquete oferecido ao Dr. Simões Raposo, em 7 de Março de 1926


Banquete oferecido ao Dr. Simões Borges, em 9 de Janeiro de 1927


As actrizes Eugénia Ilda Barco e Luisa Satanela a servirem à mesa na pastelaria "A Garrett", aquando da "Semana dos Artistas" em 23 de Janeiro de 1928



1924


Entretanto, em 27 de Março de 1926, era inaugurada na Avenida Sabóia, no Monte Estoril a "Garrett dos Estoris", pelas mãos de dois ex-funcionários da "Pastelaria Marques" e de "A Garrett" do Chiado: Pedro de Oliveira Lopes e Joaquim Pereira, que constituiram a firma "Pereira & Lopes". Abririam, posteriormente filiais desta como o "Café Central", o "English Bar", ambos na Avenida Sabóia, defronte do "Grand Hotel Estrade". Em 6 de Julho de 1935, abririam outra filial no Estoril, na Avenida de Nice, a "Pastelaria Garrett", que ainda hoje existe.


"Garrett" dos Estoris, na Avenida Sabóia no Monte Estoril



A existência da pastelaria "A Garrett" do Chiado foi algo de turbulenta, não a nível de freguesia, ou por o negócio correr mal, mas antes pelo contrário... O grande volume de proveitos gerados por "A Garrett", deu origem a descapitalizações constantes por parte dos sócios, o que originaram desavenças entre os mesmos, obrigando mesmo "A Garrett" ser encerrada, pela primeira vez, e temporariamente, em 1 de Julho de 1933.

Quanto a este encerramento forçado o "Diario de Lisbôa" publicava um anúncio intitulado "Pastelaria Garrett", em 4 de Julho de 1933 e que "rezava" o seguinte:
«Em virtude de a Pastelaria Garrett ter sido encerrada por divergencias que suscitaram entre os seus antigos proprietarios, no tocante á cedencia daquela casa aos nossos amigos srs. Afonso de Macedo e Julio Caldas, e havendo nesta data diversos serviços de lanches e banquetes já encomendados, aqueles nossos amigos informam-nos que esses serviços serão fornecidos pela Patisserie Versailles, propriedade dos mesmos senhores, sem que se dê qualquer alteração na data e na confecção das encomendas feitas.
Todos os assuntos referentes á Pastelaria Garrett passam a tratar-se, até á sua proxima reabertura, na Patisserie Versailles, avenida da Republica, 15.»

"A Garrett" "A Garrett" reabriria em Dezembro do mesmo ano de 1933, com os sócios Afonso de Macedo e Júlio Caldas, que eram proprietários da não menos famosa "Pâtisserie Versailles", inaugurada em 25 de Novembro de 1922 na Avenida da República.

2 de Dezembro de 1933



31 de Dezembro de 1933


30 de Dezembro de 1935


Mas os problemas de "A Garrett" persistiriam e entraria em insolvência. Seria encerrada, definitivamente, em 1 de Julho de 1936, apesar do mesmo ser anunciado por motivo de obras e a sua reabertura anunciada para 1 de Outubro do mesmo ano.
30 de Junho de 1936


1 de Julho de 1936


As instalações deixadas por "A Garrett" viriam a ser ocupadas pela sucursal do "Diário de Notícias", que não alteraria em nada a sua decoração exterior, incluindo a manutenção do alpendre em ferro, até à sua alteração efectuada, em 1955, sob projecto do arquitecto Francisco Conceição Silva (1922-1982).

Sucursal do "Diário de Notícias" em duas alturas diferentes



Actualmente, o mesmo espaço é ocupado pela loja "Hermès", da francesa "Hermès International, S.A."  fundada em 1837


fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Garfadas on line

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