O edifício onde se instalou a “Companhia dos Grandes Armazéns do Chiado”, e inaugurou o seu grande estabelecimento em 19 de Novembro de 1894, foi construído antes do terramoto de 1755 e foi pertença do Convento do Espírito Santo da Pedreira da Ordem do Oratório de São Filipe Nery, tendo sido sempre um edifício de referência em Lisboa pela sua dimensão.
19 de Novembro de 1894 fundados pela firma "Philipot & C.ª "
Convento do Espírito Santo da Pedreira
Tendo sido parcialmente destruído pelo terramoto de 1755, foi reconstruído e continuou sendo ocupado pela mesma Ordem religiosa até 1834 ano em que foram extintas as ordens religiosas. Depois deste edifício ter sido vendido e ter tido vários donos, transforma-se então no Palácio dos Barcelinhos residência do Barão de Barcelinhos e primeiro Visconde Ouguella, Carlos Ramiro Coutinho.
Depois de aqui ter estado instalado o "Hotel dos Embaixadores", em 1882 instala-se neste palácio o “Hotel Universal”, sucedendo ao “Hotel Gibraltar” ali instalado desde 1874 e que tinha encerrado pouco tempo antes.
Em 3 de Abril de 1888, dois irmãos Joaquim Nunes dos Santos e Abílio Nunes dos Santos fundam a firma “Nunes dos Santos & Cª”, e instalam-se na sobre-loja do número 12 da Travessa de São Nicolau a explorar o negócio de Importação de rendas e bordados. Foi com um insignificante capital de 600$000 réis (seiscentos mil réis) produto das economias das suas vidas, que foi formada esta sociedade.
Após dois anos de actividade, esse capital investido subira a três contos de réis, e devido ao crescente desenvolvimento dos seus negócios tornava-se exígua a sua sede tendo sido esta transferida para a Rua dos Correeiros, 113-1º, que apesar das sucessivas ampliações se tornou acanhada para o desenvolvimento gradual dos negócios da firma.
«Por altura de 1899, encontrando-se uma parte do andar nobre do Palácio de Barcelinhos com escritos, motivados pela falência da firma Philipot & C.ª, proprietária nessa época dos antigos Grandes Armazéns do Chiado, resolveu-se alugá-lo com grande inveja e espanto dos detractores, que perante tal ousadia redobraram na sua campanha de descrédito, afirmando que uma renda de tal importância- um conto e quatrocentos mil réis anuais - produziria a ruina de quem quer que fosse quanto mais de uma firma que se não sabia de onde tinha saído, nem quanto valia!»
Encontrando-se vago parte do andar nobre do "Palácio dos Barcelinhos" a “Nunes dos Santos & C.ª ", alugou-o e aí se instalou em 20 de Novembro de 1894. Esta firma era gerida por dois franceses Louis Boneville e Émile Philipot. Tratava-se de uma loja com variadas secções de retalho distribuídas pelo piso térreo do palácio. O lema desta firma era: «Bien Faire et Laisser Dire». Foram estes armazéns que iniciaram a era da luz eléctrica nos seus interiores.
Um ano mais tarde era alugado, um pequeno barracão na Rua do Bombarda, onde em alguns teares manuais teve início o fabrico de sedas, iniciando assim a actividade industrial da firma “Nunes dos Santos & C.ª ". Em 1945, esse pequeno barracão estava transformado numa verdadeira fábrica ocupando uma área de quinze mil metros quadrados.
Entrada da “Companhia dos Grandes Armazéns do Chiado”
1895
Entretanto nem tudo foram «rosas» e os franceses trespassaram o estabelecimento à firma “Nunes dos Santos & Cª”, que entretanto prosperava. Em 1904, porém a firma "Companhia dos Grandes Armazéns do Chiado", mudava de designação para “Santos, Cruz e Oliveira, Lda.”, com a entrada dos novos sócios José Nunes de Oliveira e António J. Cotrim da Cruz. A designação de "Grandes Armazéns do Chiado” manteve-se e sob um novo lema: «Ganhar Pouco Servindo Bem». Esta firma seria mais tarde dissolvida e integrada na "Nunes dos Santos & C.ª ", sua única credora acumulando assim nesse ano mais a modalidade de armazenistas e retalhistas, alargando a sua actividade.
Atendendo ao rápido desenvolvimento foram abertas filiais no Porto e Coimbra, tendo-se seguido outras nas principais capitais de distrito.
1907 1910
O jornal "Vanguarda" de 5 de Abril de 1908 escrevia:
Estava feita a sua reputação e firmado o seu credito d'uma maneira inabalavel.
Hoje-pode dizer-se afoitamente - é o estabelecimento que maiores sympathias conta no seio da população da capital, pois em parte alguma como alli encontra maiores vantagens nos mais bellos produtos expostos á venda. (...)
Pois e n'estas condicões que o notável e acreditado estabelecimento tem percorrido durante tres annos uma orbita de gloria e de prosperidade sempre crescente.
A'manha, com todas as suas dependencias brilhantemente ornamentadas e cheias de surprezas, abre a estação de verão de 1908. O exito d'essa noya étape é inevitavel; e o enthusiasmo que ella determinará há de attingir o maximo grau pelas novidades surprehendentes que apresenta, segundo se deprehende do seu annuncio de hoje publicado no nosso jornal.
Mas de todas as surprezas a que nos referimos. a que maior curiosidade nos desperta é a exposicão d'um tear mechanico, identico aos da sua fabrica de sedas da rua da Bombarda, ao Intendente ou outra notavel iniciativa dos Grandes Armazens do Chiado, que ha de resolver o mais Importante problema sob o ponto de vista do interesse economico-financeiro do paiz e da industria nacional - diziamos, a exposição d'esse tear, movido pela electricidade, e produzindo á vista de todos os visitantes uma das afamadas sedas da sua fabrica, será extremamente surpreendente e reveladora do desassombro e espirito alevantado dos seus proprietarios, que, assim se não esquivam a mostrar o que os outros fazem mysterios. Alli não os ha; tudo o que alli ha, é o que é, á antiga portugueza.
Como na estação passada, será permittida a visita do publico aos seus importantes depositos: durante tres dias serão distribuidos bouquetss de flores e brindes a todos.
Inserimos, acompanhando esta noticia, tres gravuras que, so por si, mostram o valor da importante empreza dos Grandes Armazens do Chiado a ultima das quaes representa a sua succursal do Porto, outra casa enorme, expressamente construída para o fim a que se destinou e n'um dos melhores locaes da capital do norte. que egualmente inaugura amanha a estação de verão.
Empreza composta das duas maiores casas commerciaes do paiz e de quarenta e duas agencias espalhadas pelo paiz - eis em poucas palavras a grandeza e o valor d'aquelle emporio commercial.»
Em 1912 morre um dos fundadores, Joaquim Nunes dos Santos e nessa data entra para a firma um novo sócio, Abílio Nunes dos Santos Júnior, filho do outro sócio fundador Abílio Nunes dos Santos.
Em 1927, a firma “Nunes dos Santos & Cª”, acaba por adquirir o majestoso "Palácio dos Barcelinhos", depois de ter sido única arrendatária, depois co-proprietária, ficando assim única possuidora.
Hall de entrada (foto da autoria de Marina Tavares Dias)
Árvore de Natal em foto de 19 de Dezembro de 1929
Passagem de modelos em 28 de Abril de 1943, no salão de chá dos Armazéns do Chiado
Em 3 de Abril de 1945 são comemorados o 37º aniversário dos "Grandes Armazéns do Chiado". Na foto seguinte dessa comemoração e da esquerda para a direita: Augusto da Silva Santos, gerente da filial de Santarém; Isabel da Fonseca, mestra da fabrica de gravatas; José Maria Carvalho de Albuquerque, chefe de secção de sapataria; José Nunes de Oliveira Santos, coproprietário dos Grandes Armazéns do Chiado; Daniel dos Santos Cruz, director dos "Grandes Armazéns do Chiado"; Abílio Nunes dos Santos, coproprietário dos Grandes Armazéns do Chiado; António Jacinto Cotrim da Cruz, coproprietário dos Grandes Armazéns do Chiado; Francisco Baltazar, chefe de secção de meias; Jorge dos Anjos, guarda-livros dos Grandes Armazéns do Chiado.
1905 1906
Ao instalarem-se ao lado do poderoso “Grandella”, recorreram às mesmas técnicas de vendas, como por exemplo: Entrega das compras em casa dos clientes e forte publicidade nos jornais e revistas da época. Como se poderá ler no anúncio seguinte: «todas as compras feitas nos nossos armazéns serão mandadas gratuitamente a casa de todos os freguezes, para o que temos um bem montado serviço de automóveis marca Peugeot».
Anúncio de 1905 digno de ser lido em pormenor
Salão Nobre com a secção de decorações (foto da autoria de Marina Tavares Dias)
Entretanto já em 30 de Setembro de 1924, Abílio Nunes dos Santos Júnior, introduz em Portugal a telefonia sem fios (TSF), através de uma estação amadora - “P1AA – Rádio Lisboa” (futura CT1AA). - instalada nos “Armazéns do Chiado” que eram então, representantes em Portugal dos rádios Philips e R.C.A.
Adriano Lopes Vieira (locutor)
“Hotel de L’ Europe” e “Grandes Armazéns do Chiado”, em 1910
Camioneta de transporte dos "Grandes Armazéns do Chiado" em 1940, na zona dos Olivais
1913 1947
1968
1961
Em 1980 este edifício é vendido a uma sociedade constituída por Manuel Martins Dias, proprietário da extinta rede de supermercados “Paga-Pouco” e José Pereira Dias, dono dos também extintos “Armazéns Conde Barão”.
Em 25 de Agosto de 1988, os “Grandes Armazéns do Chiado” são literalmente «devorados» pelo grande incêndio do Chiado. Restaram a fachada, sacada e o brazão e nada mais.
“Grandes Armazéns do Chiado” em chamas
A recuperação arquitectónica foi delegada a dois arquitectos portugueses de renome internacional, Álvaro Siza Vieira e Souto Moura, para que assegurassem a qualidade e a integridade histórica do edifício. A construção teve início em 1997 e foi concluída em Outubro de 1999 e o novo edifício apresenta hoje uma área de 10.300 m2, distribuída por 6 pisos que integram 41 lojas, entre as quais as designadas âncoras - “Fnac” e “Sportzone” - e 11 restaurantes. Os dois últimos andares estão ocupados pelo “Hotel do Chiado” de 4 estrelas, com 40 quartos.
Maqueta da reconstrução
Em parceria com o IPPAR e considerados Património Cultural pelo Ministério da Cultura, os “Armazéns do Chiado” foram distinguidos com o prémio de melhor Centro Comercial, em 2000, na conferência anual do ICSC (International Council of Shopping Centers), realizada em Berlim.
Fases da reconstrução
Entrada actual
Fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Lisboa Desaparecida, Telefonia Sem Fios, CML - Urbanismo
Foram consultadas também as seguintes fontes:
Bibliografia: “Lisboa Desaparecida” - volume 2, de Marina Tavares Dias - Editora Quimera, 1990
Blogue: “Ruas de Lisboa com Alguma História”
10 comentários:
Mais uma belíssima reportagem histórica! Parabéns!
Cara D. Carolina
Sempre atenta e amável.
Grato pelo seu comentário
Cumprimentos
José Leite
Obrigada. Já agora informo que me chamo Graça, mas assino-me por Carol que era o nome que usei sempre como professora de Inglês.
Acredite que aprecio muito o seu blogue com as suas entrada extremamente cuidadas.
Cumprimentos
Graça Sampaio
D. Graça,
Desculpe ter chamado de Carolina, pois como o nome que aparece é Carol... e como tenho uma filha chamada Carolina e lhe chamamos por vezes Carol ...
Grato pelo seu esclarecimento, e mais uma vez pelas suas sempre amáveis palavras
Cumprimentos
José Leite
qual wikipedia qual quê? :) parabéns pelo excelente artigo...
Caro(a) Anónimo
Grato pelas suas simpáticas palavras
Cumprimentos
Muito legal o texto. Incríveis fotos. E parabéns aos portugueses que não desistem nem diante de terremotos e incêndios. Resgatam e mantém seu patrimonio, sua Históra.
Saudades desse tempo
Sou filho de Abilio Nunes dos Santos Junior tenho 82 Anos e Pai da Sofia temos assim saudades dum passado que acabou em 1980 e tambem em 1988 com um incendio de explosão as 5h da manhã no Grandella do qual o arrendatario era o mesmo e proprietarios dos Grandes Armazens do Chiado com testemunha ocular na Costa do Castelo
Artigo historico de grande qualidade e elucidativo com imagens da época Obrigado cumprimentos
Grato pelo seu comentário. Cumprimentos
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