A pastelaria e confeitaria "Maison Ferrari" ou “Casa Ferrari” foi fundada por Mathias Ferrari, em 1846, na Rua Nova do Almada, em Lisboa, onde tinha funcionado o atelier de modista de Madame Oliver Botto «tão notavel confeiçoadora de toilettes como Madame Justine, na mesma rua».
Mathias Gonçalo Ferrari era filho do genovez Hilario Arcanjo da Cruz Ferrari, conserveiro, que em 1821 se estabeleceu numa casa que mais tarde viria a ser demolida para no seu lugar ser construído o Palácio Ribeiro da Cunha, à Patriarchal Queimada, actual Praça do Príncipe Real.
Anúncio em 1871
Anúncio de 24 de Dezembro de 1890
1903
Hilario Ferrari tendo exercido «altas funções» de cabo de polícia, quando os liberais entraram em Lisboa, em 24 de Julho de 1833, este e sua mulher tiveram de fugir para Elvas. De volta a Lisboa encontraram a casa reduzida a cinzas. Crê-se que chegou a reedifica-la e que terá sido a partir desta, que seu filho Mathias Ferrari foi para a Rua Nova do Almada.
Mathias Gonçalo Ferrari
Segundo Luís Pastor de Macedo, Mathias Ferrari teve o sonho de «conseguir mediante a perfeição do serviço exclusivo do fornecimento dos grandes jantares, dos lanches, das ceias e dos vários púcaros de água que se dessem em Lisboa». Sendo a confeitaria mais famosa de Lisboa, a "Maison Ferrari" forneceria durante anos os botequins do "Teatro Nacional de S. Carlos", tendo requerido, em 1857, ao ministério do Reino para que modificassem as condições de preço pro que os arrematar. Era igualmente fornecedora da Casa Real e do “Marrare do Polimento”. De referir que, este botequim devia o seu nome ao seu fundador Antonio Marrare e “Polimento” pelo facto de até certa altura as suas paredes serem forradas por madeira polida e que nas palavras de Henrique Lopes de Mendonça, tinha as paredes forradas de «uma facha de pau polido, que o Marrare inventara para deposito de todo o macassar e pomada de urso, com que os coiffeurs ungem a cabeça dos seus freguezes».Tendo aberto as suas portas por volta de 1824, era o mais famoso de Lisboa, também apelidado do «príncipe dos botequins» ou «café do bom tom».
Publicidade no “I Salão Automóvel de Lisboa” de 1935
Com a morte de Mathias Ferrari em 1885 a “Pastelaria Ferrari” passa para a propriedade da sua sobrinha que, por sua vez, a legaria ao funcionário de balcão, João Luiz Pereira, em 1904. Em 1907 a “Casa Ferrari” é adquirida, por José Joaquim Correia d’Oliveira que a reabre em 7 de Abril de 1907. Em 1908, seria vendida em leilão ao proprietário da “Pastelaria Pomona” (“Conservaria Pomona de Lisboa”) na Rua da Prata, José d’Alcobia (ex caixeiro da “Confeitaria Rosa Araújo”), que a reabre em 22 de Dezembro de 1908.
Em 1919, a "Pastelaria Ferrari" foi adquirida por Alfredo Araújo Mourão, regressado de África, onde na Beira e Lourenço Marques tinha realizado uma apreciável carreira profissional, tendo, inclusivé, fundado na última o "Paris Hotel". Alfredo Araújo Mourão que era, em 1945 Presidente da Direcção do "Grémio dos Comerciantes de Confeitaria de Lisboa", tinha iniciado a sua carreira profissional como empregado na pastelaria de Baltazar Castanheiro, da qual saíu em 1896 para tentar a sua sorte em Moçambique.
Em 1925, toma de trespasse o famoso "Café Martinho da Arcada". A "Pastelaria Ferrari" seria, posteriormente, herdada por sua filha Albertina Sá Mourão.
D. Albertina de Sá Mourão
1904 1905
1905
1907
1908 1922
Foto, nos anos 80 in. "Lisboa Desaparecida" - Vol II de Marina Tavares Dias
Com o grande incêndio do Chiado de 25 de Agosto de 1988, a “Pastelaria Ferrari” seria totalmente consumida pelo fogo. Ainda viria a ter umas instalações provisórias repartidas entre um edifício das Escadinhas de São Francisco e uns fundos da “Pastelaria Marques” na Rua Garrett, mas acabaria por desaparecer em definitivo.
“Pastelaria Ferrari” (com o letreiro luminoso direito e tombado) à esquerda nas fotos durante e após o incêndio
O que restou …
(foto da autoria de Marina Tavares Dias)
Em Agosto de 2014, abriu uma “Pastelaria Ferrari” na Rua Augusta que de igual só tinha o nome, mas, passado pouco tempo, decerto que foi obrigada a mudar o nome por o antigo nome ainda estar com o registo válido, para “Pastelaria Ferrary” (!!!). Aqui ficam as fotos com os dois nomes.
“Ferrari” “Ferrary”
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital,
3 comentários:
Há pouco tempo abriu uma "nova" Ferrari na Rua Augusta e não sei porque raio meteram um Y no lugar do I final
Grato pela sua informação adicional.
Não só não sabia da sua existência, como este nome "Ferrary" ( com y !!!!)
Decerto que foram obrigados a alterar a designação por o registo da marca "Pastelaria Ferrari" ainda estar activo.
Para não alterarem totalmente o nome, a sempre prodigiosa imaginação do português mais uma vez funcionou ... desta vez para pior.
Os meus cumprimentos
Sim, concordo, para muito pior!
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