Restos de Colecção: F. Street & C.º Lda. - Engenheiros

24 de março de 2021

F. Street & C.º Lda. - Engenheiros

A empresa "F. Street & C.º, Lda. - Engenheiros", foi fundada em 1887 por uma família de origem inglesa e instalou-se no Palácio Flor da Murta, no gaveto da Rua do Poço dos Negros com a Rua de S. Bento, em Lisboa. Tinha a sua sede na Rua Ferreira Borges (mais tarde na Rua Sá da Bandeira, 64-68), na cidade do Porto. 




22 de Dezembro de 1894

Esta casa liderada por Silvester Fish e que tinha iniciado a sua actividade desde os finais do século XIX na área dos motores estacionários e de máquinas para a indústria e lavoura, vem logo no início do século XX a iniciar a distribuição dos automóveis a vapor, da marca "Locomobile", que era nessa altura a viatura mais vendida nos Estados Unidos. Esta seria uma das primeiras marcas de automóveis a serem comercializadas em Portugal: a americana "Locomobile" (junção dos nomes "locomotive" e "automobile"). Esta marca, fabricada pela "Locomobile Company of America" fundada em 1899 foi pioneira no mundo automóvel.

16 de Outubro de 1902

A empresa fabricou pequenos carros a vapor acessíveis até 1903, quando a produção mudou inteiramente para automóveis de luxo movidos a combustão interna. A "Locomobile" foi adquirida em 1922 pela "Durant Motors" e acabou fechando as portas em 1929. Todos os carros já produzidos pela empresa original sempre foram vendidos sob a marca "Locomobile". A "Durant Mototors" despareceria em 1929.

Em 17 de Agosto de 1902, tiveram lugar no "Hipódromo de Belém" as corridas velocipédicas e de automóveis organizadas pelo "Sport Club de Lisboa". Segundo o jornal "O Século" do dia 18 de Agosto ...

«Teve finalmente lugar a grande corrida de automóveis na qual tomaram parte as seguintes: do sr. Street & Cº - guiado pelo sr. Abbott, do sr. Beauvalet - pelo sr. Panhard e do sr. Alfredo Vieira – pelo sr. Darracq. O sr. Street apresentou uma máquina magnífica e muito elegante, que chegou com duas voltas de avanço sobre os outros automóveis, causando esta corrida grande entusiasmo».

Por outro lado o jornal "O Ciclista" de 20 de Agosto ...

«O primeiro prémio foi ganho pelo Locomobile com a força de 4 ½ cavalos, que chegou à meta com cerca de 2000 metros de avanço. O segundo e o terceiro foram ganhos respectivamente pelo Panhard e Darracq, também com 4 ½ cavalos de força. Pode dizer-se afoitamente que foi a corrida que maior entusiasmo despertou atendendo a que foi a primeira que se fez em Portugal.»

O vapor era outra das alternativas mas também essa pouco vingou no mercado nacional. Vários distribuidores apostaram nessa forma de motorização entre nós, com particular destaque para a "F. Street, Lda," com a "Locomobile" e com a qual chegou a participar em competições desportivas, anunciando mais tarde um contrato de distribuição exclusivo com a inglesa "Thornycroft", que também produzia automóveis desse tipo.

Publicidade à "F. Street & C.ª ", na esquina do Arco de Jesus com a Rua Cais de Santarém, em Lisboa

Os pequenos «buggies» a vapor da "Locomobile" também eram propostos a 1.100$000 réis, nas suas versões mais acessíveis, enquanto os automóveis "Ader" tinham no pequeno 9 cavalos de 2 cilindros o seu modelo mais barato, que valia 1.950$000 réis.

15 de dezembro de 1905

Porém, os automóveis mais baratos anunciados na imprensa portuguesa eram os pequenos "Oldsmobile", uns buggies semelhantes na sua concepção e simplicidade aos "Locomobile" mas equipados com um motor a gasolina de um único cilindro, que valiam, na sua versão mais acessível, a 850$000 réis.


16 de Dezembro de 1902

No princípio de 1903, o exército ainda promoveu testes com outro tipo de veículos, nomeadamente com os "Locomobile" a vapor, mas os resultados não terão correspondido às exigências do caderno de encargos imposto pelas chefias militares.


30 de Março de 1903

Com a mudança estratégica da "Locomobile", que decidiu abandonar a produção dos pequenos «buggies» a vapor em favor dos luxuosos automóveis a gasolina, a "F. Street & C.º ", em 1903 já anunciava  a representação de outra marca americana, igualmente caracterizada pela sua simplicidade de construção, a "Oldsmobile", bem como da marca inglesa "Wolseley"


1904


1905


1905

Mais tarde, em 1907, passou a distribuir também os veículos da marca holandesa "Spiker", marca fundada em Amesterdam em 1898, por Jacobus e Hendrik-Jan Spijker - «o único carro que não necessitou de mudar qualquer peça durante o percurso de 14.000 km” da prova Pequim-Paris».


1909


1909

No início da segunda década do século XX, a "F. Street & C.º" terá deixado o negócio dos automóveis e passou a dedicar-se a trabalhos de engenharia, serralharia e fundição, aliadas à comercialização de máquinas, tubagens, correias, baterias "Tungstone" e dos pneus ingleses "Avon" através da sua firma no Porto, a "Streets, Limitada".


1892


1906


17 de Fevereiro de1912


16 de Dezembro de 1926


29 de Dezembro de 1914


1929


1929

Quanto aos trabalhos de engenharia passo a transcrever os seguintes textos, que atestam a sua actividade especializada em determinados sectores:

Em 1912 por ocasião do concurso de fornecimento de uma máquina a vapor, dois dínamos e um quadro de distribuição, para a "Companhia Eborense de Electricidade":

«Face ao aumento crescente do consumo neste mesmo ano a Companhia de Electricidade começou a encarar a hipótese de montar um motor de 300HP e substituir os motores a gás existentes na Central por motores a vapor. Assim, em 1912 abriram um concurso para o fornecimento de uma máquina a vapor, dois dínamos e um quadro de distribuição. Em 30 de Julho de 1912, altura em que terminava o prazo do concurso, concluiu-se que tinham sido entregues propostas pelas seguintes seis empresas: A.E.G. Thompson Houston Ibérica; F. Street & C.ª; Companhia Portuguesa de Electricidade; Siemens Scherckertverke; Empresa Eléctrica H.B.C.; R. Wolf, Magdeburg Buckan. Após a análise das condições apresentadas pelas várias empresas decidiu-se adjudicar o fornecimento da maquinaria necessária à empresa F. Street & Cª, Ldª do Porto, que se propunha entregar o material pronto a funcionar no prazo de 6 meses. A máquina a vapor era do sistema Compound e conjugada com os dois dínamos podia desenvolver a energia eléctrica para alimentar 150.000 velas. O quadro eléctrico de grandes dimensões era de lousa esmaltada e possuía “todos os aparelhos eléctricos mais modernos e aperfeiçoados de modo a garantir uma regularidade absoluta no funcionamento da luz e uma fácil verificação e manobras por parte do maquinista». in: A electricidade na cidade de Évora: da Companhia Eborense de Electricidade à União Eléctrica Portuguesa - Ana Cardoso de Matos

Aquando do concurso público para Central Hidroeléctrica de Santa Rita, em Fafe a 18 de Setembro de 1913:

«Em 18 de Setembro de 1913 o Presidente da Comissão Executiva apresentou à Câmara o projecto e o orçamento do açude, canal e central de Santa Rita, com vista ao fornecimento de energia eléctrica para iluminação pública e particular. Concorreram quatro casas de material eléctrico: a F. Street & C.ª, Lda., Porto (23.100$00); os Ateliers de Constructions Oerlikon, Suíça (22.500$00); a Companhia Portuguesa de Electricidade Siemens Schuckert Werke, Lda., Lisboa, (20.293$00); e a A.E.G. Thomson-Houston Ibérica (18.550$00).»  in: A Central Hidroeléctrica de Santa Rita e o advento da electricidade (Fafe, 1914) - Paula R. Nogueira

Nota: Foi consultada Dissertação para obtenção do Grau de Doutor em História, Filosofia e Património da Ciência e da Tecnologia "A Implantação do Automovel em Portugal (1850-1910)" - José Carlos Barros Rodrigues - 2012 UNL.

fotos in: Arquivo Municipal de LisboaHemeroteca Digital de Lisboa

1 comentário:

João Celorico disse...

Caro José Leite
É sempre com satisfação e curiosidade que deparo com fotos do Palácio da Flor da Murta. Faz-me regressar aos meus 4 anos (ainda vislumbro o prédio de esquina da rua Fresca onde vivia minha avó) e vou verificando que a história desse edifício daria para um volumoso livro. É inúmera a utilização que lhe tem sido dada ao longo dos tempos!
No caso da foto, o curioso é que os carris infletem em direcção da que é hoje a Avenida de D. Carlos I. Decerto seria um trajecto que viria pela rua de São Bento e não podia seguir pelo trajecto de hoje porque ainda não teriam terminado as obras de ligação do aterro até às Cortes, com início em fins de 1881 (ou porque ainda não havia o 28).

Cumprimentos,
João Celorico