O "Theatro do Rato", teve a sua origem no "Novo Theatro de Variedades", propriedade do Dr. José Maria Couceiro da Costa e inaugurado em 27 de Março de 1880, na quinta do Ferreira, na Rua Direita do Rato, em Lisboa, com a peça "O Crime do Benformoso" de Costa Braga e a peça sacra "Martyrio e Gloria, ou Torquato", o Santo" de Antonio Mendes Leal.
O mesmo arco de entrada para o pátio, em foto de 1944
No dia seguinte, 28 de Março de 1880 o jornal "Diario de Noticias", noticiando a abertura do "Novo Theatro de Variedades", comentava:
«Surgio com alleluia a nova casa de espectaculos do rato, bonita, decente, com uns ares de elegancia despretenciosa, salão de sophás estofados, ouvreuses para abrir os camarotes e obsquiar as senhoras, bôa iluminação dando relevo às alegres decorações, mais de 500 espectadores e razoavel orchestra. (...)
Algumas vistas de emerecimento. Escreve-se isto no meio do espectaculo. Parabens á empreza pelo exito total da inauguração e pelo bom arranjo do sympatico theatro popular. Parabens a todos os que cooperaram neste resulatdo principalmente ao inteligente director e actor macedo, garantia de futuras prosperidades.»
Dentro da elipse desenhada a localização do páteo onde esteve instalado o “Theatro do Rato”. Planta de 1911
Páteo onde esteve instalado o “Theatro do Rato”, por ocasião de um comício republicano em 1 de Maio de 1907
Foi empresário deste teatro Dr. José Maria Couceiro da Costa e como director e ensaiador o actor António Augusto Macedo, e como maestro Lagrange. Ao fim de seis récitas, e após ruidosas manifestações de desagrado, a empreza acabou e este Teatro encerra. Já neste mesmo local tinham estado instaladas diferentes barracas de espectáculos da “Feira das Amoreiras”, mas sem o carácter permanente desta.
Um ano depois, em 1881 o Marquês Francisco Palavicini, proprietário do terreno, moveu, uma execução judicial contra o proprietário do Teatro, o Dr. José Maria Couceiro da Costa. Para pagamento dessa execução, foi à praça três vezes, a última das quais em 23 de Março daquele ano com todos os seus pertences e dependências.
Fechado o Teatro em resultado do litígio judicial, reabriria em 22 de Setembro de 1881, já como "Theatro do Rato", com uma Companhia dirigida por Salvador Marques, da qual faziam parte Adelina Abranches e o António Cardoso do "Theatro do Gymnasio".
Salvador Marques Gravura da entrada para o páteo
Por ocasião da reabertura do “Theatro do Rato” em 23 de Setembro de 1881
O jornal "Diario de Noticias" informava, em 21 de Setembro de 1881:
«Reabre amanhã, quinta feira, o theatro do Rato, um theatro popular, de preços economicos e de boas commodidades. A empreza tenciona apresentar um variado e escolhido repertório, começando pela peça de inauguração, o Zé Povinho, escrita pelo sr. António de Menezes, e cheia de situações de magnifico effeito. Em deguida representar-se-ha a Estrella do Norte, escrita pelos srs. Alcantara Chaves e pessoa, e a comedia-drama em 3 actos A Riqueza do Trabalho, escrita pelo sr. Julio Rocha, offerecida á classe operaria. Os preços da plateia são entre 300 réis os mais caros e 100 réis os mais baratos; os camarotes de 1ª ordem 1$500 e 1$200, e frizas 1$200 e 1$000 réis. O Theatro está publico de quinta feira em diante para quem o quizer vêr.»
1883
Pouco tempo depois fechou o Teatro, de novo, e ora aberto ora fechado, - uma das vezes vítima de um incêndio, em Setembro de 1888 - foi sempre arrastando uma vida difícil com raros meses de bons resultados financeiros que lhe proporcionavam as revistas de Baptista Diniz, como "O Livro Proibido", e outras. «Este theatro dava quasi sempre prejuízo por estar longe, por não ter commodidades e por ser edificado dentro d'uma quinta e ao lado de uma casa de comidas e bebidas».
24 de Dezembro de 1888 21 de Janeiro de 1892
Actor António Manuel dos Santos Junior, proprietário do “Theatro do Rato”
Até que em 1906, O “Theatro do Rato”, já propriedade do actor António Manuel dos Santos Junior, sofre um incêndio que o destruíu por completo, «perdendo êste artista, no sinistro, tudo quanto possuía, scenário, guarda-roupa, aderêcos e repertório. O que conseguira alcançar em cinco anos de trabalho lá ficou nos escombros.» textos transcritos anteriormente, retirados do livro “Depois do Terremoto - Subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa” de Gustavo de Matos Sequeira, Vol III de 1922.
O incêndio também destruiria uma barraca, chamada de "Bazar-Tourada", que era de um feirante chamado Dias, e que estava instalada junto ao Teatro. Chegou a dizer-se que o fogo não fora acidental, tendo mesmo sido preso o sogro do actor Santos Júnior, mas nada se provou. De referir que já anteriormente tinha havido outro incêndio que danificara esta modesta casa de espectáculos.
Largo do Rato em 1944
«Como edificio foi, pois, pequena a perda, mas muitos choraram a destruição do popular teatrinho, porque aquele tablado estreito e modesto representava o ganha-pão de alguns artistas, primeiro degrau de uns para gloriosas carreiras e ultimo asilo dos mais desafortunados.»
Resta dizer que o actor e proprietário deste Teatro, viria a ser compensado por sua madrinha D. Antónia Bárbara da Cunha, que mandaria construir o “Teatro Moderno” inaugurado em Arroios nos finais de 1909, e no qual o actor Santos Junior viria exercer as funções de actor, empresário e gerente. Acerca deste Teatro publicarei a sua história brevemente.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Hemeroteca Municipal de Lisboa
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