O "Cine-Teatro Vale Formoso", localizado na Rua de São Dinis, no Porto, foi inaugurado em 30 de Dezembro de 1948. Os seus promotores foram: Alberto Simões Carneiro, Arnaldo Caldeira Pato, Álvaro de Oliveira Bastos, Abel Lúcio Garcia e António Sabino Simões Neto, sócios da empresa "Empresa Cinematográfica Vale Formoso, Lda." que deu o nome ao Cine-Teatro. O projecto modernista foi da autoria do arquitecto Francisco Fernandes Granja da Silva (1914-1988),
No dia da inauguração o jornal "Diario de Lisbôa" informava:
«Com a presença das autoridades e Imprensa, realiza-se hoje, pelas 16 e 30. a inauguração oficial do novo Cine-Teatro Vale Formoso, onde após aquele acto se realiza um "Porto de honra". Seguir-se-á a primeira produção do filme português "Uma Vida para Dois". »
Para a sua inauguração foi escolhido o filme "Uma Vida para Dois", produzido e realizado por Armando de Miranda em 1948 e que tinha tido a sua ante-estreia em 27 de Dezembro do mesmo ano, no "Teatro Sá da Bandeira" em Santarém. O "Cine-Teatro Vale Formoso" rapidamente se tornou num espaço de referência nas duas décadas seguintes. «Mais do que um cinema de bairro da freguesia de Paranhos, foi, por essa altura, um equipamento que adquiriu honras de protagonista na cena cinematográfica do Porto a par com o Cinema Batalha».
O "Cine-Teatro Vale Formoso" era constituído por uma grande sala de espetáculos, com 1076 lugares, foyer, zonas de estar, salão de festas, uma zona de bar com acesso ao "parque de recreio" e áreas de serviço: vestiários, sanitários, zonas de arrumos e administração.
Além de Cinema, foram exibidos vários tipos de espectáculos, culturais, musicais, e festas, mas quanto à sua função teatral foi pouca, pois neste espaço só foram exibidas 8 peças teatrais, todas representadas pela companhia do "Teatro Experimental do Porto", entre 1958 e 1964, conforme lista abaixo.
7 de Agosto de 1951
A cantora Maria da Luz (1955- ) no programa "Festival" das "Produções Fernando Gonçalves", no "Cine-Teatro Vale Formoso", em 7 de Agosto de 1967
Figura de destaque na história do cinema português, Edmundo Ferreira de Almeida (1914-1989) foi protagonista de uma extensa e importante atividade designadamente como, realizador, argumentista, produtor, no contexto da "Produtores Associados" (sócio). Além de distribuidor de filmes, através da "Exclusivos Triunfo" (sócio), foi, também, exibidor de filmes no "Cine-Teatro Vale Formoso", função igualmente exercida no desparecido "Cine-Teatro de Paços de Arcos" - inaugurado em 1945 como "Cinema Filipe Taylor".
Cabine de projecção do "Cine-Teatro Vale Formoso"
1964
O "Cine-Teatro Vale Formoso", após praticamente 35 anos de existância, e depois de ter sido explorado pela distribuidora de filmes "Lusomundo", encerraria em definitivo como cinema no final de Dezembro de 1984. Viria a ser adquirido pela "Igreja Universal do Reino de Deus" (IURD), que ali se instalou passando a local de culto, após a tentativa falhada de adquirir o "Coliseu do Porto".
Funcionou como casa de culto, ou «templo» da "IURD" até 2010, ano em que a igreja mudou-se para um novo edifício localizado no cruzamento das ruas Egas Moniz e Serpa Pinto. Este edifício tinha sido construído de raiz para aí concentrar as suas actividades na cidade do Porto.
Quanto ao edifício do antigo "Cine-Teatro Vale Formoso" os responsáveis da "IURD" declararam em 2011: «Neste momento, o cine Vale Formoso encontra-se encerrado, mas está a ser ultimado um projecto de âmbito social e cultural, o qual irá ser uma mais-valia para a cidade do Porto»... mas em 2012, a "IURD" colocou o imóvel à venda.
Entretanto, o Edital 978/2021 da Câmara Municipal do Porto, de 27 de Agosto de 2011 e publicado em "Diário da República" estipulava:
Mais faz saber, que o referido conjunto representa para o município do Porto um valor cultural de significado relevante, uma vez que se configura através da sua escala, da sua linguagem moderna e conteúdos programáticos, como um dos equipamentos urbanos de proximidade de maior notabilidade social, enquanto exemplar do cinema de bairro promovido na época do Estado Novo. A sua classificação como conjunto de interesse municipal representa uma mais-valia, enquanto testemunho que ilustra os conceitos socioculturais e políticos da década de 40 do século xx português que, ultrapassando a escala de cinema de bairro, adquiriu presença na memória coletiva portuense.»
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