Em 1851 é fundada a firma "Couto & Moura", pelos joalheiros Manuel Dias Couto e Manuel Vicente de Moura (1815-1908), na Rua das Flores, 245 no Porto. Este último, era natural de Montalegre, tendo iniciado a sua aprendizagem em ourivesaria, com cerca de 16 anos, na oficina do mestre Manuel Dias do Couto, e tornar-se-ia sócio do seu professor e, a partir de 1865, exerceu o importante cargo de Contraste Ensaiador do Ouro no Porto.
Por morte de Manuel Dias do Couto, ocorrida em 1865, Vicente de Moura ficou à frente do negócio até 1876, ano em que trespassou a loja ao seu genro José Aires da Silva Rosas (1885-1958). Era transmontano de Carrazeda de Anciães - «e descende dos antigos Dragões de Chaves, cavallaria heroica e pesada» - que já exercia a actividade de ourives, surgindo, assim, a nova "José Rosas - Ourivesaria", que inicia a modernização do negócio com atendimento personalizado, no 1º andar, pela primeira mulher joalheira, D. Maria da Gloria Moura.
A par da rua Nova (hoje, do Infante D. Henrique), a rua das Flores foi uma das mais amplas e retilíneas da cidade, sendo calcetada em 1542. Em 1549, João de Barros, na sua Geografia de Entre Douro e Minho refere-a como sendo uma «rua mui nobre». O padre Rebelo da Silva, em 1789, aponta que a rua «contem as lojas mais ricas da cidade, tanto em fazendas de lã e seda como em todo o genero de mercearias, porcelanas, lojas de ourives de ouro e prata».
Rua das Flores no século XIX. "José Rosas" à esquerda da diligência (na foto)
Existiam igualmente, em meados e finais do século XIX, casas de tecidos, mercearias, algibebes e casas bancárias e de câmbios (especialmente na proximidade a S. Domingos) mas o que era de facto notável era a concentração de estabelecimentos de comercialização de artigos em ouro e prata que, acumulando nalguns casos a venda de relógios, eram em número de 41 em 1882, representando quase metade do total registado na cidade (93).» in: "O Tripeiro" - VII Série, Ano XIII, nº 2 - Fev. de 1994.
No século XIX, era moda, sobre a Rua das Flores, ser entoada a canção com o seguinte estribilho:
Ainda no século XIX, a "José Rosas" é junta-se ao restrito grupo de "Contrastes" para a cidade do Porto. Passam a contar com a preciosa colaboração do escultor António Teixeira Lopes (1866-1942). Na transição do século XIX para o século XX, esta ourivesaria realizou exposições e editou catálogos das peças que comercializava, o que possibilitou, não só a difusão dos objetos, como, atualmente, o conhecimento preciso das peças que vendia.
Seria, no entanto, o seu filho, José Rosas Júnior (1885-1958), que mais viria a influenciar a ourivesaria portuguesa. Por intermédio de Jaime Batalha Reis, que era cônsul de Portugal em Londres, e por solicitação de António Arroyo e do escultor António Teixeira Lopes, José Rosas Junior vai para Londres, inscrevendo-se no "Goldsmith's & Silversmith's C.º Institut" e, frequentando um curso livre no "South Kensington School of Art". Desloca-se a Paris, onde entra em contacto com oficinas de joalheiros e ourives, regressando finalmente de Londres em 1903.
O cenário em que se encontra a casa José Rosas aquando do seu regresso apanha os finais da Monarquia e as visitas reais de D. Carlos e D. Manuel II à capital do Norte. Ainda tentaria abrir uma segunda loja em Lisboa, mas com a proclamação da República acabou por não concretizar esse intento. Nestes primeiros tempos do século XX organizara aí exposições, do que dera notícia uma das publicações mais relevantes na época, a "Illustração Portugueza".
Em 17 de Dezembro de 1906 esta revista escrevia:
«José Rosas Junior, o artista que a Illustração Portuguesa tem hoje a honra de apresentar a Lisboa, é filho do ourives portuense José Rosas, o amigo dilecto de duas gerações de artistas, de quem foi o inseparavel e dedicado companheiro. Este industrial, íntimo confidente do glorioso e malogrado Soares dos Reis; este homem generoso, enthusiasta e bom, que n'uma cidade caracterizadamente commercial se aprouve sempre no convivio dos phantasistas e dos poetas, reuniu, durante mais de 20 annos, no seu estabelecimento da rua das Flores, uma verdadeira academia, onde estavam representadas todas as artes. Nas horas attribuladas e incertas do debute, quasi que a totalidade dos artistas portuenses d'estes ultimos vinte annos appellaram, e nunca em vão, para esse amigo certo. Elle está. como um protector affectuoso, na historia de quasi todos elles.»
Em 23 de Julho de 1909, entram para sócios da firma, José Rosas Júnior (1885-1958) e João Teixeira Duarte.
José Rosas Junior (1855-1958) em foto de 1950
Os tempos da primeira República haveriam de trazer algumas dificuldades, que a casa vai ultrapassando. O seu casamento, ocorrido em 1911, com D. Maria Antónia Castro Ramos Pinto, torna-o participante de uma família com marcada influência económica, destacando-se a figura de seu sogro, António Ramos Pinto, também ele um esteta e grande coleccionador de obras de arte.
Exposição da "José Rosas & C.ª", no "Salão Bobone" em Lisboa em 17 de Janeiro de 1910
Com um gosto requintado e influenciado por Londres e Paris, onde estudou, tornaria este estabelecimento portuense num dos mais importantes do País. José Rosas Júnior contactava, desde muito cedo, com o círculo de amizades de seus pais, entre os quais se encontravam nomes grados da Arte da época. José Rosas Júnior na primeira metade do século XIX, com o apoio do seu avô materno, modernizou o negocio de família, passando a ourivesaria a ter um atendimento personalizado, chegando a ter uma mulher a desenhar joias para a mais importante clientela do Porto e até Lisboa.
Dezembro de 1907
A primeira marca comercial puncionada no metal, foi criada neste período, usada a partir desta data, nas peças de prataria de prata graúda. As marcas de joalharia vêm mais tarde na década de 1920, com o filho Manuel Rosas até à data.
Com o falecimento de José Rosas (pai) em 7 de Setembro de 1923, na sua casa da Rua das Flores, e de João Teixeira Duarte, em 21 de Junho de 1944, a sociedade seria renovada.
Assim, em 1944, entra para a firma, o Dr. Manuel Ramos Pinto Rosas, filho de José Rosas Júnior e de Maria Antónia de Castro Ramos Pinto Rosas, os quais passam a constituir a sociedade com denominação social de “José Rosas & C.ª”.
A casa continuou com seu filho, Dr. Manuel Ramos Pinto Rosas, biólogo de formação, mas com um curso de Gemologia em Londres. As marcas de joalharia vêm mais tarde na década de 20 do século XX, com ele até à data.
A "José Rosas & C.ª", esteve presente em diversos eventos internacionais em representação de Portugal e nos quais foram obtidos assinaláveis prémios atribuídos às Secções Portuguesas de Ourivesaria, tendo concorrido e estado presente em exposições nacionais de que são prova, entre outras, as realizadas no Porto, em 1894, Lisboa ( 1905-1910-1923) e Lourenço Marques (actual Maputo) em 1948.
Em 1951, decorridos 100 anos sobre as primitivas origens da firma, o Dr. Artur Magalhães Basto promove uma edição particular de um livro comemorativo daquele centenário.
Livro comemorativo do I centenário
Rua das Flores nos anos 60 do século XX
Nos anos 70 do século XX, a "José Rosas & C.ª" mudaria as instalações comerciais da Rua das Flores para a zona da Boavista, na zona comercial do empreendimento Graham (Rua Eugénio de Castro), onde se mantém. Actualmente com mais de noventa anos, o Dr. Manuel Rosas ainda há pouco tempo orientava esteticamente alguns dos objectos vendidos neste estabelecimento. De há anos a esta parte, passou a contar com a colaboração de seu filho, Eng.º José Rosas, e sua mulher, Sónia Rosas. A marca "Rosas" foi registada em 2000.
Bibliografia:
- blog "Porto de Antanho"
- "José Rosas Júnior (1885-1958) e a criação da joalharia portuguesa da primeira metade do século XX". de Gonçalo de Vasconcelos e Sousa – "Actas do III Colóquio Português de Ourivesaria". Porto: UCE-Porto.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal do Porto, Ourivesaria José Rosas
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