O fotógrafo João Francisco Camacho nasceu em São Pedro do Funchal em 19 de Setembro de 1833, sendo filho de Francisco Militão Camacho e de Maria Helena Vilas Boas Pombo. Foi o mais velho de 9 irmãos e casou com 24 anos com Júlia Alves.
Terá frequentado, entre 1852 e 1856, um curso de encadernação em Paris, oferecido por Amélia de Leuchtenberg, imperatriz consorte do Brasil, onde terá desenvolvido também um primeiro contato com a fotografia. Inicia depois a sua atividade fotográfica ria Madeira, Funchal, em 1863, com um primeiro atelier na Rua do Conselheiro que, em 1870, transfere para a Rua de S. Francisco. Viajou pela Europa e pelos Estados Unidos da América, tomando conhecimento dos desenvolvimentos da arte fotográfica. Em 1878 mudou-se para Lisboa e abriu um estúdio de fotografia numa dependência do "Hotel Gibraltar", que estava instalado no 2º andar da ala sul "Palacio Barcellinhos", propriedade do Visconde de Ouguella, no Chiado.
A 30 de Setembro de 1880, ocorreu um incêndio na ala sul do "Palácio de Barcellinhos", atingindo o "Hotel Gibraltar". Recordo que na ala norte do palácio, estava instalado o "Hotel de l'Europe". O incêndio teve início na parte do edifício que dava para a Rua do Crucifixo, tendo o jornal "Diario Illustrado" noticiado o acontecimento:
«Segundo consta o fogo começou n'uma cavallariça da rua do Crucifixo, nº 81, passando d'alli á loja de moveis do sr. Vidal na Rua Nova do Almada nº 102 e 104 subindo d'aqui para os outros andares com bastante rapidez.»
"Hotel Gibraltar" e o Palácio Barcellinhos após o incêndio de 30 de Setembro de 1880. Consequências do mesmo, visíveis no extremo sul do edifício
O fogo alastrou até à escadaria monumental interior do Palácio, que não chegou a ser atingida. O estúdio de fotografia de João Camacho, que estava instalado numa dependência deste hotel, foi atingido e consumido pelo fogo:
Nada tinha seguro. O sr. Camacho lamentava a sua desgraça de maneira que muito commovia. Perdeu grande numero de provas photographias de bastante valor artistico e que não mais poderá haver.
Os andares que olham para o Chiado nada soffeream, tendo contudo bastante damno as trazeiras d'este andar que deitam para a rua do Crucifixo.»
Apesar deste trágico acontecimento, que destruiu parte significativa do seu espólio, abriu, em 1883, novo atelier na Rua Nova do Almada, 116 que era uma das lojas no piso térreo ad mesma ala sul do palácio, e onde trabalhará até à sua morte, em 8 de Novembro de 1898.
Fotografou as mais altas figuras do meio artístico e social nacional, incluindo membros da família real, tal como os seus colegas fotógrafos, e em 1894 foi-lhe atribuída a chancela de "Photographo da Casa Real". Foi um dos fotógrafos paisagistas mais relevantes da fotografia portuguesa do século XIX, tendo participado em diversas mostras internacionais, onde foi distinguido com diversas medalhas, destacando-se a medalha de ouro na "Exposition Universelle de Paris", de 1882. Colaborou, ainda, com a revista ilustrada "Occidente".
João Francisco Camacho morre em 8 de Novembro de 1898 e seu filho João Augusto Camacho, que já tinha aberto no ano anterior, em 10 de Abril de 1897, um atelier de fotografia, na Rua Ivens, toma conta do atelier do pai até o passar ao fotógrafo Arnaldo da Fonseca (1868-1936). Transformou-o numa das suas oficinas photographicas, mantendo o nome do atelier de "Photographia Camacho", até 1906, ano em que o espaço é transformado em cinematógrafo: o "Salão Chiado", inaugurado em 25 de Dezembro de 1906, e propriedade da firma "Varona & C.ª" de Raul Lopes Freire. O atelier "Camacho" passa para o 2º andar.
fotos in: Museu de Fotografia da Madeira - Atelier Vicent's, Hemeroteca Digital de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Nacional da Torre do Tombo
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