Restos de Colecção: Hotel Durand

5 de janeiro de 2024

Hotel Durand

O "Hotel Durand", já existia em 1850 na Rua do Ferragial de Cima (actual Rua Víctor Cordon), aparecendo no "Novo Guia do Viajante em Lisboa" de 1863 como já instalado no nº 71 da Rua das Flores - rua que existe desde antes do terramoto de 1755 - localizado no Largo do Barão de Quintella (convergência da Rua das Flores com a Rua do Alecrim). 

Considerado de 1ª classe, pertencia a uma senhora inglesa de apelido Durand, e era casada com um suíço, pelo que se falava fluentemente o inglês e o francês e «que sendo sossegado e respeitável, os seus preços andam próximos do Braganza Hotel».


"Hotel Durand" à esquerda na foto


No guia "Hints to Travellers in Portugal" de 1852


No " Novo Guia do Viajante em Lisboa" de 1853



No " Murray's Handbook for Travellers", de 1854

"Hotel Durand", à esquerda no postal

Maria Letizia Rattazi (Marie-Lætitia Bonaparte-Wyse) (1831-1902), expressando a sua opinião acerca dos hotéis lisboetas, no seu mui polémico livro "Portugal de Relance" - "Le Portugal à vol d'oiseau; Portugais et Portugaises" -, de 1879, comentava, em relação ao "Hotel Durand":

«O Hotel Durand, na rua do Alecrim, é mais inglez do que portuguez; aspecto, habitos, alimentação, tudo londrino! E' indispensável até fallar inglez para ser admittido.»

No próximo anúncio num guia de viajantes inglês, de 1864:

«Durand's Hotel, onde se fala inglês e francês, na Rua das Flores, nº 71, e em frente ao Palácio do Conde de Farrobo, no Largo de Quintella.
Pelo conforto, limpeza e respeitabilidade, este hotel não é excluído por ninguém em Lisboa; tendo quartos de todos os tamanhos para famílias de todas as categorias, - mesa redonda e quarto 1.600 réis por dia, excluindo o vinho, cerveja, etc.
Este hotel merece a máxima recomendação.»


1862

A senhora Durand, que tinha em Sintra o "Hotel Durand" desde 1848, chegou a ser proprietária do, "Lawrence’s Hotel", por volta de 1888, também em Sintra. Esta hospedaria viria a ser adquirida, no final do século XIX, por Miguel Gallway. 

No "Novissimo Guia do Viajante em Lisboa e Arredores" de 1863: 

«Depois que em S. Pedro de Cintra se possa ter obtido a vantagem de percorrer a formosa quinta do sr. marques de Vianna, descer-se-ha a estrada que conduz á villa de Cintra, e o viajante ali encontrará conforto em qualquer das hospedarias de  - Sasseti, Durand, François, Hotel d'Europe, filial que tem o mesmo nome em Lisboa, e outras mais modestas, se julgar que o preço de 1:200 a 1:600 réis diarios é superior ao seu orçamento.» 


Hospedarias na Vila de Sintra, em 1880


1881


No " Murray's Handbook for Travellers", de 1882

A seguir, disponibilizo um pequeno artigo acerca do "Hotel Durand", publicado no jornal "Diario Illustrado" de 2 de Dezembro de 1882, expondo as virtudes e desvirtudes deste estabelecimento.


2 de Dezembro de 1882 (clicar para ampliar)

1885

O "Hotel Durand" foi o último hotel que o escritor Camilo Castelo Branco (1825-1890) se hospedou, em 1889, aquando das suas deslocações a Lisboa, antes da sua morte. Até então, tinha utilizado o "Hotel Universal", na Rua Nova do Carmo e o "Grande Hotel Borges", na Rua do Chiado.

O "Hotel Durand", em 1904 pertencia a Catharina Durand.

Já no livro "Cartas d'uma vagabunda" da autoria de Luzia (pseudónimo), publicado pela "Portugalia Editora", se descreve com alguma propriedade o "Hotel Durand" do final do século XIX. O texto é composto por "cartas" datadas de 192 ... e escritas a partir do "Avenida Palace Hotel" de Lisboa ... :

«Avenida Palace, 8 de Janeiro de 192 ...
Longe também d’aquelle querido, pacato Durand, onde decorreram n’uma tranquillidade quasi de provinda, tantos annos da minha vida. Em plena cidade tinha-se a impressão do campo. Não havia agua corrente nos quartos. Como em Tormes a agua subia da cosinha nas velhas chaleiras. As camas eram antigas. Cheiravam a alfazema e a lavado, os lençoes de linho. Encontravam-se sempre os mesmos criados. Alexandre - o imponente guarda-portão, que conhecia toda a nobreza de Lisboa e acompanhara á China um diplomata; Francisco - o maitre d'hotel, baixinho, com um bigode de mandarim; Joanna, um pouco trôpega já, cheia de rheumatismo. E, sempre também, os mesmos hospedes. 
Durand foi uma especie de refugio, asylo amavel, onde se acolhiam os sem casa e sem familia. Vivia-se e morria-se em paz sob aquelles velhos tectos. Depois do jantar, na salinha aconchegada, á sombra d’um venerável armario hollandez, senhoras faziam serão. D. Maria Luiza, a decana do hotel, recordava saudosos tempos; quando estavam em moda as arias de Donizetti e uma linda valsa : a Pérola...
No meu quarto, para o lado da travessa das Chagas - travessa ditosa, ainda não mimoseada com a passagem dos electricos - ouvia apenas, cada manhã, a toada dos pregões, refrain musical de Lisboa. Oh! quantas vezes o «cabaz de morangos» foi, para mim, suave mensageiro da primavera !
De noite, emquanto trabalhava, á discreta luz d’um candieiro de petroleo, os cães ladravam nos quintaes visinhos e doce fiosinho de melodia, a voz d’uni grillo... Porque havia um grillo, um delicioso griilo no Durand. Havia também baratas, que faziam o meu terror, mas essas já não as vejo.
A gente quando olha para traz vê só o que foi bom. O passado é a mais enganadora de todas as illusões.»


1888


1913

O "Hotel Durand" terá encerrado, definitivamente entre o final da primeira década do século XX. Na década de 20 do século XX já não existiria.

Edifício onde funcionou o "Hotel Durand", em foto de 1965 (edifício com a tabuleta da "Mutualista Açoreana, S.A.R.L.")


Actualmente, via Google maps

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca Nacional Digital, Archive.org

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