A “Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses’”encarregou o arquitecto José Luiz Monteiro, de elaborar um novo projecto, onde fossem estabelecidas as dependências da estação e um luxuoso restaurante, que pretendia ser o melhor de Lisboa, e que pela sua localização deveria ser dos mais concorridos.
«Damos hoje aos nossos leitores a gravura do edifício annexo à estação central de Lisboa, o qual, pela elegancia da architectura e pelas comodidades que ha de oferecer aos passageiros e empregados da linha, em tudo será digno d'uma cidade de primeira ordem.» in: Revista Occidente
Gravuras do “Annexo à Estação Central do Rossio” no “Diario Illustrado”
Depois de posto a concurso a execução do edifício ficou a cargo da ‘Companhia Nacional de Construções’, cuja direcção estava a cargo de David Xavier Cohen. As cantarias e os mármores vieram dos arredores de Lisboa, Pêro Pinheiro e Dois Portos entre outras. O primeiro andar seria ocupado pelo restaurante e o segundo piso a vários serviços da exploração.
Durante a construção a responsabilidade da arquitectura passou para as mãos do arquitecto Duray, e foi decidido instalar neste «annexo» o “Grand Hotel Internacional”. Em 10 de Outubro de 1892, o “Grand Hotel Internacional’” foi inaugurado, sob a direcção de Edmundo Eloy.
1892
Notícia da sua inauguração no “Diario Illustrado”
Em 1895, com a entrada ainda pela Praça dos Restauradores
Anúncio e foto do "Grand Hotel Internacional", de 1892
1896
Foto de 1908
Exteriores do “Avenida Palace Hotel’” nos anos 40 do século XX
A nível da rua encontravam-se lojas chiques como as emblemáticas “Kermesse de Paris” , a melhor e mais cara loja de brinquedos de Lisboa, e a alfaiataria “Lourenço & Santos”. A primeira transformou-se mais tarde na perfumaria “Marionnaud” e a segunda, desapareceu igualmente mais recentemente e dando lugar à loja de modas italiana ”Calzedonia”
Loja de Brinquedos “Kermesse de Paris” Alfaites “Lourenço & Santos”
Este famoso Hotel foi considerado sobretudo na Belle Époque, um dos melhores hotéis da Europa pelo seu glamour, localização e serviço. A decoração interior primitiva era requintada, estilo Belle Époque’ com mobília adquirida na “Casa Maple”, de que subsistem alguns vestígios, com os seus 220 quartos forrados de seda ou papel de couro. Eram equipados com aparelhos de aquecimento e ventilação, iluminação eléctrica e tendo todos uma casa de banho.Os hóspedes dispunham de um elevador hidráulico.
Piso térreo e salão de jantar nos anos 40 do século XX
Em 1893 o “Grande Hotel Internacional” passa a chamar-se “Avenida Palace Hotel”, e no ano de 1900 o hotel é vendido à “Companhia Internacional dos Grandes Hoteis” da “Wagons-Lits”, companhia belga ligada ao transporte ferroviário (consultar post “Wagons-Lits em Lisboa” de 22 de julho de 2011 etiqueta «comboios»). Em 1910 é feita a ampliação de um piso (mansarda) e em Outubro o hotel sofre alguns efeitos da Revolução. Em 1912 o acesso ao Hotel deixa de ser feito pela Praça dos Restauradores, fechando-se a passagem entre as 2 colunas da fachada, conducente ao pátio interior
Publicidade, em 1901
1904
Interiores do “Hotel Avenida Palace”, actualmente
Entrada Salão Palace
Em 1919 o hotel foi vendido à ‘Sociedade Portuguesa de Hotéis, Lda.’, composta por elementos da família Frade, Castanheira e Moura; 17 Novembro foi vendido a um grupo de industriais que formou a Companhia Portuguesa de Hotéis, estando na posse 45 anos.
Em 1931 é elaborado um projecto de remodelação do hotel, encomendado pela ‘Companhia Portuguesa de Hotéis’, com a construção de um alpendre em ferro e vidro, que ligasse a saída da Estação do Rossio ao edifício; pretendia-se a alteração do Salão, uma nova sala de jantar e novos apartamentos sob o projecto do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro; para o Salão desenhou uma falsa clarabóia com vitrais; sala de jantar com tecto dividido em três quadrados, com três grandes candeeiros; novas portas para o Salão, com puxadores em tubo de aço; revestimentos de pilastras a mármore com candeeiros de parede com tubo néon à vista.
Bar Sala de jantar
O “Avenida Palace Hotel’” foi frequentado por individualidades da finança, da política, da igreja e das artes, assistiu à implantação da República Portuguesa, à Guerra Civil de Espanha e à 2ª Guerra Mundial, tendo então sido activo palco da intriga política e da espionagem. Os ingleses consideravam que era aqui neste hotel que os espiões alemães se alojavam, durante a II Guerra Mundial, tal como nos hotéis Vitória, Suíço-Atântico, Duas Nações, gerido por um alemão. No 4.º andar deste hotel, durante a II Guerra Mundial, existiu um corredor que ligava directamente o cais dos comboios da estação do Rossio, para possibilitar a chegada incógnita e sem controlo policial de personalidades importantes e espiões.
Em 1948 nova remodelação pelo arquitecto Jorge Segurado. Entre 1955 e 1958 novas remodelações pelo arquitecto Trindade Chagas.
Corredor de acesso aos quartos Quarto Duplo superior
Em 1963 os Serviços de Turismo avisam os proprietários que se não fizerem obras, o hotel seria desclassificado pelo que a 1 de Março de 1964, a “Soportel - Sociedade Portuguesa Hoteleira, Lda.’” adquire o Hotel, fazendo profundas obras de remodelação, dirigidas por Carlos Ramos, reparando os estragos causados pelas obras do Metropolitano de Lisboa. Em 1990 novas obras de remodelação, por parte do gabinete de Carlos Ramos e em 1998 é feita a remodelação do interior, com introdução de um vitral, por Lucien Donnat e João Chichorro.
Exteriores do “Hotel Avenida Palace”, actualmente
1944 1962
fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hotel Avenida Palace
2 comentários:
Os meus parabéns por o magnifico blog que criou e vai alimentando.
Deixe-me só fazer uma pequena correcção, o HOTEL (entenda-se o edifício) continua na posse da Companhia Portuguesa de Hotéis.
Muito grato pelas suas amáveis palavras e pela informação adicional.
Os meus cumprimentos
José Leite
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