Restos de Colecção: Portugal na Exposição Internacional de Paris

24 de outubro de 2011

Portugal na Exposição Internacional de Paris

Exposição Universal de Paris de 1937, oficialmente denominada "Exposition Internationale des Arts et des Techniques Apliqués a la Vie Moderne" , teve lugar de 25 de Maio a 25 de Novembro de 1937, em Paris. Lembro que o famoso quadro «Guernica» de Pablo Picasso foi exibido nesta feira pela primeira vez, no pavilhão de Espanha, país que vivia neste ano em guerra civil.

Alguns cartazes promocionais da Exposição Internacional de Paris de 1937

     

                  Guia Oficial da Exposição                                            Planta e esquema da Exposição

 

Esta exposição ficou marcada pela "guerra" entre os pavilhões da Alemanha de Hitler (que esteve para desistir da participação deste país no evento) que apelavam ao anticomunismo extremo, e o da União Soviética que, contrariamente, publicitava o comunismo exacerbadamente. Estes pavilhões ficaram frente a frente na alameda principal da feira .... Esta Exposição Universal de Paris de 1937 teve 44 países participantes e cerca de 31 milhões de visitantes.

Pavilhão da Alemanha à esquerda e da União Soviética à direita

Num contexto de pré-guerra, o convite para participar na exposição, surgiu como uma oportunidade de rever a imagem, não do país mas sobretudo do seu governo, mostrando um Estado Novo capaz, construtivo e actualizado. Indo além da mera evocação histórica, sobretudo por influência de António Ferro, que toma a suposta defesa do “modernismo”, como argumento para a sua actuação inicial como director do “S.P.N. - Secretariado de Propaganda Nacional” . Respondendo aos desejos do Dr. Oliveira Salazar, António Ferro criou uma exposição transmissora de uma imagem de um regime responsável por um ressurgimento idílico: «(…) a participação nacional é composta pela definição de “arte” traduzida como modo de governar um povo e de “técnica” entendida como demonstração da complexidade desse governação…» in: Diário de Notícias

É com a “Exposição Internacional de Paris”, e com a presença de Portugal com o Pavilhão de Portugal, que se observa um momento renovação. António Ferro foi o comissário-geral e autor do programa do participação portuguesa. Simpatizante do fascismo, fascinado por Benito Mussolini e pelos regimes autoritários da época, foi ele quem sugeriu a Salazar a criação de um organismo que fizesse propaganda aos feitos do regime. Esse organismo chamou-se “SPN - Secretariado de Propaganda Nacional” até ao final da II Guerra Mundial, quando passou a chamar-se “SNI - Secretariado Nacional de Informação”. António Ferro dirigiu o organismo até 1949, quando partiu para a legação portuguesa em Berna.

Keil do Amaral foi o arquitecto projectista deste Pavilhão de Portugal, após ter vencido um concurso para o mesmo. Com este projecto foi galardoado nesta “Exposição Internacional de Paris” com a medalha de ouro. No ano seguinte ingressaria na Câmara Municipal de Lisboa, como arquitecto urbanista, até 1949.

Notícia do evento na revista “Ilustração”

«Enfim!… É-nos agradável ouvir falar assim da nossa querida Pátria …» in:  final da notícia publicada

Condicionada, talvez pelo próprio tema da exposição “Artes e Técnicas Aplicadas à Vida Moderna”, a presença portuguesa pela primeira vez é mais que uma reconstituição histórica, à semelhança de participações anteriores.

Exterior do Pavilhão de Portugal

O Pavilhão de Portugal, foi concebido segundo imposições do próprio programa, como estrutura única de 1.500 m2, distribuídos por oito salas. Exteriormente destacaram-se as superfícies lisas que valorizavam a função do edifício, composto por dois corpos distintos, de definição vertical e horizontal. O corpo que se desenvolve em altura avançava sobre o rio Sena, marcado por uma moldura aberta sobre o rio e ornamentado com o escudo nacional. Às formas de cariz racionalista são sobrepostas elementos decorativos de carácter simbólico, que remetiam para citação de tradição nacional, como o Escudo, a Cruz de Cristo, e os relevos de figuras nacionais.

 

Apesar da representação portuguesa não descuidar a glorificação do passado, sobressaiu a preocupação em realçar e em valorizar o presente nacional, desde do património intemporal à arte, mas também a técnica e a actualidade, objectivos expressos oficialmente no anúncio da participação de Portugal na exposição: «mostrar a contribuição portuguesa para a civilização do mundo; a obra e o pensamento do Estado Novo; as realizações, os métodos e os ideais colonizadores portugueses no presente e no passado; as riquezas artísticas mais notáveis do país; o interesse turístico e etnográfico e a importância dos principais produtos da industria e do solo nacionais.» in: Diário de Notícias

            Vestíbulo principal e estátua do Dr. Oliveira Salazar        Sala de Honra e estátua do General Óscar Carmona

 

A exposição era dividida em oito salas: do “Estado”, das “Realizações do Estado”, do “Ultramar”, da “Arte Popular”, das “Obras”, das “ Riquezas Naturais” e do “Turismo”, do “Trabalho”.

                                        Sala do “Estado”                                                Sala das “Realizações do Estado”

 

                                      Sala do “Ultramar”                                                         Sala da “Arte Popular”

 

O Pavilhão de Portugal, contava com a concepção do plástica e a execução dos interiores do grupo de «decoradores modernistas do SPN» Bernardo Marques, Carlos Botelho, Fred Kradolfer, Emmérico Nunes, Paulo Ferreira e Tom; as esculturas de António de Azevedo, António Duarte, Luís Fernandes, Henrique de Bettencourt, Antónío da Costa, Francisco Franco, Rui Gameiro e Canto da Maia e as pinturas de Abel Manta, Soares, Camarinha, Dordio Gomes, Malta, Estrela Faria, Smith, Barradas, Júlio Santos, Lino António, Maria Keil. Destaque para os trabalhos emblemáticos: a «Imagem do Estado Novo Português», baixo-relevo de Bettencourt e «A pirâmide do Corporativismo».

                                       Sala das “Obras”                                                     Sala das “Riquezas Naturais”

 

                                     Sala do “Turismo”                                                                Sala do “Trabalho”

 

É significativo que para um importante acontecimento internacional, não só tenha sido procurado uma imagem de modernidade, como tenham optado por um arquitecto em início de carreira, Keil do Amaral. Ainda que seja uma modernidade condicionada pela identificação das raízes da arquitectura tradicional portuguesa, representou um momento de renovação na visão oficial da arquitectura.

Publicação do Pavilhão de Portugal divulgando a indústria portuguesa (parte)

 

 
Publicação in: Ephemera

Serviços Administrativos do Pavilhão de Portugal

Varanda e Esplanada

Bar

Fotos do pavilhão português in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)

A presença de Portugal nesta exposição foi passada ao cinema pelo comentário "Portugal na Exposição de Paris de 1937" , realizado pelo grande cineasta português António Lopes Ribeiro, em 1942. Acerca deste cineasta consultar post intitulado: António Lopes Ribeiro

2 comentários:

Maria de Nogueira disse...

Parabéns ao autor. Este seu trabalho com o titulo "Restos de Colecção" transporta-me virtualmente para uma época, que, ainda não sendo viva, representava um país orgulhoso da sua industria, da sua economia e da sua gente.
Hoje, sinto que o nosso Português é um "resto" de todo o seu passado.Viva Portugal.E bem haja por se ter lembrado dele.

José Leite disse...

D. Maria de Nogueira

Muito grato pelas suas amáveis palavras.

O objectivo deste blogue é precisamente lembrar, relembrar e informar os mais novos, que não sendo grande Portugal foi muito maior, e mais motivo de orgulho que é hoje, mesmo com os seus defeitos de vária ordem.

Quem diria que, por exemplo, em 1958 Portugal contava com 465 fábricas de lanifícios? Hoje ....

Cumprimentos