Restos de Colecção: Vista Alegre

19 de outubro de 2011

Vista Alegre

Em 1812 José Ferreira Pinto Basto, adquire a Quinta da Ermida, e mais tarde os terrenos envolventes onde se inclui a Quinta da Vista Alegre, um sítio belo, perto da vila de Ílhavo e à beira da Ria de Aveiro, região rica em combustíveis, barro, areias brancas e finas e seixos cristalizados, elementos fundamentais para vidros e porcelanas. Pouco depois comprou também os terrenos envolventes, num total de 40 hectares, e lançou-se no seu projecto.

                                                                             José Ferreira Pinto Basto                               

                                                              

                                                                   Vista aérea do complexo “Vista Alegre”

                                        

                                                                            Vista a partir da Ria de Aveiro                                 

                                           

Em 26 Outubro de 1817 os bens do vínculo da “Vista Alegre” foram vendidos pela Fazenda Nacional, em hasta pública, e adquiridos por José Ferreira Pinto Basto e a 1 Julho de 1824 e Rei D. João VI, concede o alvará régio que autoriza o funcionamento da fábrica, passando esta a beneficiar de «todas as graças, privilégios e isenções de que gozam, ou gozarem de futuro, as Fábricas Nacionais». Apenas cinco anos depois, a Vista Alegre recebia o título de Real Fábrica, um reconhecimento pela sua arte e sucesso industrial; o fundador associa os seus 15 filhos, passando a fábrica a denominar-se "Ferreira Pinto & Filhos". No mesmo ano a fábrica da Vista Alegre recebe o título de Real Fábrica, pelo seu sucesso económico.

                                  Transporte de material refractário                                   Escola de Pintura

                       

                                         Transporte de esculturas                                       Secção de esculturas

                       

Em 1826 é construído um colégio com internato, onde se ensinava a instrução primária, música e ofícios inerentes à Fábrica e em 1832  a fábrica intensifica o trabalho e dedica-se ao aperfeiçoamento da porcelana e a contribuição de artistas estrangeiros, como Victor C. Rousseau, foi importante para a criação de uma escola de pintura ainda hoje famosa. Em 1834 é descoberto um importante jazigo de caulino perto de Ìlhavo.

 

 

José Ferreira Pinto Basto, que viveu pouco além da data de fundação da fábrica – faleceu em 1839 –, mas que deixou para sempre a sua marca nos destinos da região e das suas gentes. Esta herança, com uma componente social de peso e que se confunde com as próprias memórias da empresa, ainda hoje se mantém bem viva. Por exemplo, todos os funcionários da casa que comprovem dificuldades económicas, beneficiam, a título vitalício, de uma das muitas habitações que se distribuem pela propriedade, mandadas erguer sob diferentes tipologias, consoante as necessidades dos seus inquilinos.

                                           Secção de embalagem                                          Secção de expedição

                      

Em 1880 cessa a produção de vidro; Entre os anos de 1900 e 1918  as conturbações sociais levam grandes problemas à empresa, no entanto, o espírito introduzido pelo fundador e a manutenção da escola de desenho e pintura pelo pintor Duarte José de Magalhães, estimularam a sua reorganização e modernização e cerca de 1920 é promovida uma reestruturação que visa a transformação da empresa numa sociedade por quotas, passando a designar-se “Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre, Lda.”

O corpo de Bombeiros Privativo da Vista Alegre, criado a 1 de Outubro de 1880, é o mais antigo corpo de bombeiros privativo do país.

Para além de pioneira no fabrico de porcelanas, a família Pinto Basto teve um papel fundamental na introdução da prática desportiva do remo e do futebol em Portugal. Foram os bisnetos do fundador da Vista Alegre que introduziram a prática deste desporto no nosso país, Guilherme, Eduardo e Frederico Pinto Basto estudaram em Inglaterra, país que desenvolveu a modalidade, como hoje a conhecemos, em meados do séc. XIX. De regresso a Portugal, trouxeram este desporto consigo e que organizaram em Outubro de 1888 o primeiro jogo de futebol, em Cascais.

Em 22 de Janeiro de 1889, organizaram o primeiro jogo público em Portugal, que se realizou no Campo Pequeno em Lisboa, contra uma equipa inglesa, que os portugueses venceram por 1-0. Com outros estudantes que regressavam de Inglaterra e com os ingleses que viviam em Portugal, o desporto foi ganhando cada vez mais adeptos e não tardou a que surgissem vários clubes em Lisboa, Porto e Aveiro.

                1ª Loja no Largo da Biblioteca Pública, em Lisboa e em 1924 e 2ª loja no Largo do Chiado, em 1947

                         Vista Alegre.15 (1947)

Anúncio no “Diário Illustrado” de 16 de Dezembro de 1880

Iniciam-se em 1947, os contactos internacionais, a formação de quadros técnicos especializados, a aquisição da “Empresa Electro-Cerâmica” (principal concorrente) e da “Sociedade de Porcelanas”, impulsionando o desenvolvimento técnico e industrial da “Vista Alegre”, assim como ao alargamento da oferta a novos mercados. É inaugurado o museu nos terrenos da fábricas. É construída uma creche (ainda em funcionamento) para os filhos dos trabalhadores.

                                      

Em 1983 é criado o Gabinete de Orientação Artística (GOA), e em 1985 o Centro de Arte e Desenvolvimento da Empresa (CADE), com a finalidade de fomentar a criatividade, contribuir para a formação nas áreas de desenho, pintura e escultura, apoiar a fábrica técnica e artisticamente.

                                                                     Fases de fabrico e acabamento

                                      

                                      

Em 2001 dá-se a  fusão do grupo “Vista Alegre” com o grupo “Atlantis”, formando o maior grupo nacional de tableware e sexto maior do mundo nesse sector: o “Grupo Vista Alegre Atlantis”. 

Hoje a “Vista Alegre”, para além de ser líder de mercado em Portugal e possuir uma das melhores e mais bem equipadas fábricas de porcelana de todo o mundo, continua a desenvolver e a preservar a porcelana feita e trabalhada à mão, honrando a sua história e tradição. É sem dúvida uma instituição, em Portugal e no mundo, sinónimo de excelência e inigualável qualidade.

                                  1923 Exposição Internacional do Rio de Janeiro                                 1944

                        

                                                                                            1950

                                                          

fotos in: Vista Alegre Atlantis Portugal, Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa

6 comentários:

Unknown disse...

Talvez é do conhecimento de poucos o contributo da esposa de Pinto Basto para a Vista Alegre. Filho de um importante comerciante do Porto, Pinto Basto casou com D. Bárbara Inocência Allen, filha de Edward William Allen, que foi cônsul inglês em Viana do Castelo, bem como um importante exportador de vinho do Porto para Inglaterra. Parte relevante da influência inglesa que se fez sentir em inúmeros actos e actividades da vida da família Pinto Basto ter-se-á, devido às origens da sua mulher. Nomeadamente no que concerne ao movimento industrial da Inglaterra, que estive na base da natureza da fundação da Vista Alegre, bem como em outros projectos em que se envolveu. Gostaria; por fim dar-lhe os meus parabéns porque tem um excelente blog.

José Leite disse...

D. Carla

Muito grato não só pela informação que adicionou como pelas simpáticas palavras em relação ao blogue

Os meus cumprimentos

José Leite

Flávio Texeira disse...

INFORMAÇÃO fantastica!!! permita-me que utilize no meu blog!!!

José Leite disse...

Caro Flávio Teixeira

Pode utilizar o que pretender no seu blog.

Os meus cumprimentos

José leite

Fernando Martins disse...

Vivo perto da Vista Alegre...cuja história conheço. Mas é sempre agradável reler o que vai sendo publicado sobre esta empresa que é um verdadeiro símbolo do concelho de Ílhavo. Obrigado pelo seu trabalho. Tomei a liberdade de o partilhar no meu blogue (pela positiva), com a foto de fundador e o respetivo link.

José Leite disse...

Caro Fernando Martins

Muito grato pelo seu amável comentário e disponibilidade.

Os meus cumprimentos