Em 1890, John Peter Hornung e um pequeno grupo de investidores resolveram explorar extensas propriedades de cana-de-açúcar que possuíam em Moçambique e fundaram a "Companhia do Assucar de Moçambique", na região da Mopêa naquela colónia africana. Para além das propriedades agrícolas, a companhia possuía fábricas de açúcar e de álcool em Moçambique e em Lisboa.
1910
A primeira fábrica de açúcar em Moçambique foi montada em 1908, no Distrito de Buzi, no vale do rio Buzi, a “Companhia do Buzi”. Em 1914 uma outra pequena fábrica foi construída perto do rio Incomati, a “Incomati Estates, Ltd”.
“Incomati Estates, Ltd.”
Inaugurada em 12 de Março de 1909 pelo último rei de Portugal, D. Manuel II, a “Refinaria Colonial”, em Alcântara, começou com capacidade para cerca de 20 mil toneladas de açúcar (areados, branco e amarelo), provindo da cana-de-açúcar moçambicana.
Outra empresa a “Sociedade Portuguesa de Açucares” resultou da reunião de 23 refinadores de Lisboa que, entre si, constituíram uma sociedade por quotas no ano de 1907. Os fundadores da empresa abdicaram da sua actividade industrial em favor da exploração de uma refinaria mecânica, construída de raiz na Av. da Índia. Depois da inauguração desta unidade, Lisboa possuía duas fábricas mecânicas: a refinaria da Junqueira que foi comprada em 1907 e a Refinaria Colonial em Alcântara. Em 1911, estas duas fábricas foram arrendadas a John Peter Hornung.
“Refinaria Colonial”, em Alcântara
Inauguração da “Refinaria Colonial”, pelo Rei D. Manuel II
Outra companhia de refinação de açúcar a “Companhia Portuguesa de Refinação” , era uma sociedade anónima com sede no Porto, formada em 1906 para continuar a exploração de uma refinaria mecânica, unidade já instalada. Passados alguns anos, também esta empresa arrendou a sua refinaria à “Hornung & Cª.”.
Em 1918 foi formada a “Companhia Portuguesa de Açúcar”, com um capital social de 1.000 contos, com o objectivo de adquirir o activo e o passivo daquela sociedade, que entretanto se extinguira. No mesmo ano, esta sociedade anónima entraria num processo de fusão com as “Fábrica de Moagem Invicta”,” Viúva A. J. Gomes & Cª & Comandita”, e “Cruces & Barros”, do qual resultaria a “Sociedade de Moagem Aliança”.
Publicidade, em 1943
Depois de em 1920, a "Companhia do Assucar de Moçambique" ter mudado de designação para S.S.E. - “Sena Sugar Estates, Lda” , actual “Companhia de Sena” no distrito de Marromeu, província de Sofala, a “Refinaria Colonial” tornou-se uma empresa independente com as acções a pertencerem à S.S.E., sendo o seu nome alterado para “SIDUL - Sociedade Industrial do Ultramar, S.A.R.L.”. Nome emblemático, que veio a funcionar durante décadas neste bairro de Alcântara.
“SIDUL - Soc. Industrial do Ultramar, S.A.R.L”
“Sena Sugar Estates, Ltd.”, em 1920
Comboio da “Sena Sugar Estates, Ltd.”, carregado de cana
Exterior de fábrica de açúcar
Interior de fábrica de açúcar
Máquina com cilindros esmagadores Grupo de turbinas e caldeiras para cozer cana
A “Sena Sugar Estates” foi completamente estabelecida na primeira década do século XX, com a fabrica de Marromeu que veio a produzir em 1926. A produção também começou mais ao menos no mesmo período na fabrica de Luabo, situada a 20km de distância do Distrito de Marromeu onde a “Sena Sugar Estates” esteve situada.
Em 1967 é criada a “SORES - Sociedade de Refinadores de Santa Iria, SA”, resultante da fusão de pequenas refinarias. No entanto a SORES só coloca açúcar no circuito comercial em 1970, com uma capacidade de produção instalada na ordem das 260 toneladas por dia. A SORES foi construída de raiz em Santa Iria de Azóia a cerca de 10 Km a norte de Lisboa.
“Sores”, em Santa Iria da Azóia
No início da década de 70 do século XX, são introduzidas as maiores alterações na SIDUL, instalando-se um processo de refinação ao nível do que existia de mais evoluído na indústria de refinação do açúcar em todo o mundo. Nessa mesma época, são instaladas as primeiras máquinas de formação e enchimento automático de pacotes de 1Kg para utilização doméstica. Iniciou-se também o abastecimento da indústria com açúcar a granel em camião cisterna.
Fotos seguintes do interior das refinaria da “Sores” , em Santa Iria da Azóia
Após a independência de Moçambique, em 1980, e depois dos accionistas da S.S.E. terem perdido a posse de todas as fábricas nesta colónia, estes formaram a “Alcântara-Sociedade de Empreendimentos Açucareiros S.A.” e, dez anos depois, surgiu a “Alcântara Refinarias Açúcares”. Em 1983, aquando da publicação de "Marcas de indústria no ambiente de Alcântara", obra fruto de uma pesquisa coordenada por Ana Luísa Janeira e Conceição Lobo Antunes, trabalhavam nela 360 pessoas de ambos os sexos. Produzia, então, cerca de um quarto do açúcar consumido em Portugal.
A sua oferta consistia já em: pacotes de açúcar (que variam entre 6g a 1kg), sacos (que variam entre 10 a 50kg), contentores de 1.100 quilos e até açúcar em granel transportados em camiões cisterna de 26 toneladas.
Gama de oferta doméstica, da Sores
Em 1983, os accionistas ingleses da Alcântara, que representavam 60% do capital, venderam as suas acções à “Tate & Lyle”. E em 1986 a “Alcântara - Sociedade de Empreendimentos Açucareiros, SA” compra as acções da SORES pertencentes à família Espírito Santo, passando a ser então o maior accionista da SORES. Em 1989 a Alcântara - Sociedade de Empreendimentos Açucareiros, SA torna-se accionista único da SORES num processo em que o Banco Espírito Santo deixa de ser accionista da SORES ao trocar as suas acções naquela Sociedade por acções da Alcântara - Sociedade de Empreendimentos Açucareiros, SA .
Em 1993 a “Tate & Lyle” adquire a totalidade do capital da “Alcântara - Sociedade de Empreendimentos Açucareiros, SA”, e em 1994 é desactivada a refinaria de Lisboa e toda a actividade de refinação passa para Santa Iria de Azóia, situação que ainda hoje se mantém. A capacidade de produção passa para 800 Toneladas por dia.
A desactivação da refinaria de Alcântara, verificada em 1994, deu lugar a um exemplar de arqueologia industrial, infelizmente em ruína, ou seja, mais um valioso testemunho destruído, em nome de projectos urbanísticos aprovados pela Câmara Municipal de Lisboa, no mandato de 2003.
Em Março de 2005, a “Alcântara Refinarias Açúcares, SA” passa a chamar-se "Tate & Lyle Açúcares Portugal, SA", não existindo contudo nenhuma alteração ao seu capital.
Em 2007, a “Companhia do Sena”, com uma área de 24.000 ha e 8.000 trabalhadores retomou a plantação de cana-de-açúcar nos campos explorados pela extinta “Sena Sugar Estates” na Zambézia, após muitos anos de abandono devido à guerra civil. Esta Companhia, a maior unidade industrial de açúcar de Moçambique, com sede na vila de Marromeu, em Sofala, iniciou nesse ano, o processo de lavra dos terrenos tendo preparado 600 dos 15 mil hectares previstos para a campanha agrícola 2007/2008.
Finalmente, em 2010, o Grupo “ASR - American Sugar Refining” compra o negócio europeu do açúcar ao Grupo Tate & Lyle.
fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Municipal de Lisboa, Companhia de Moçambique, Direcção Geral de Arquivos
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