Restos de Colecção: Savoy Hotel na Cidade da Beira

12 de outubro de 2011

Savoy Hotel na Cidade da Beira

Em finais dos anos 1800, a Beira, capital dos territórios de Manica e Sofala e porto natural de trânsito para a Rodésia, conheceu um grande impulso na construção de infraestruturas de serviços públicos, com a criação da “Companhia de Moçambique”, criada em 1891.

                                             Anúncio da “Companhia de Moçambique”, em 1928

                                          

A primeira Companhia de Moçambique instalou a sua sede em Lisboa, tendo por seu primeiro administrador delegado o historiador, Joaquim Pedro Oliveira Martins. Para dar início à sua actividade em Moçambique, a companhia fixou-se em Macequece, na circunscrição de Manica. Até Agosto de 1889, os planos de acção de Joaquim Paiva de Andrada, administrador da “Companhia de Moçambique”, decorreram com êxito, tendo conseguido o reconhecimento e organização das vias de comunicação, além do projecto de construção de um caminho de ferro consignado na concessão, e a pesquisa e estabelecimento de contratos de exploração mineira.

                                      Sede da “Companhia de Moçambique” na Rua Ivens, em Lisboa

                                           

Logo a seguir, nas primeiras duas décadas dos anos de 1900, surgiram vários estabelecimentos hoteleiros nesta cidade, como por exemplo os “Avenida Hotel”, “Queens Hotel”, “Internacional Hotel”, “Savoy Hotel”, etc. Estes estabelecimentos hoteleiros visavam responder à crescente procura de serviços para os visitantes vindos de diferentes regiões do país e do estrangeiro.

                                                                    “Avenida Hotel”, em 1930

                               

                                                                     “Queen’s Hotel”, em 1930

                               

                                                                 “Internacional Hotel”, em 1930

                               

O “Savoy Hotel” na cidade da Beira, na província de Sofala em Moçambique e a 1.200 quilómetros de Lourenço Marques, foi inaugurado em 1907. Este hotel foi construído por um italiano de seu nome José Martini, e sofreu um grave incêndio em 1910 tendo sido reconstruído de seguida.

                                                                      “Savoy Hotel” , em 1930

 

                                  Vestíbulo                                                                              Sala de visitas

 

No mesmo ano de 1907 e para comemorar a visita que lhe iria fazer o Príncipe Real D. Luís Filipe, a Beira foi elevada, por decreto régio de 29 de Junho, «à categoria de cidade com a denominação de - Cidade da Beira».

         Comboio Real que transportou o Príncipe Filipe na sua viagem pelas províncias de Sofala e Manica

                              

Em 1910, a sua população era de 6.665 habitantes (tendo efectivamente o sector europeu da população diminuído, nos dez anos anteriores, de 1.172 para apenas 860), mas a cidade estabelecera agora a sua função como sede administrativa da “Companhia de Moçambique” e principal porto que servia a Rodésia do Sul. Tornara-se numa cidade com um sabor nitidamente britânico. Criaram-se hotéis, bares e instalações desportivas para servir a comunidade britânica que, a seguir aos portugueses, constituía o maior elemento da população europeia. O carácter britânico da cidade era acentuado pela circulação da libra esterlina emitida pelo “Banco da Beira”.

                              Salão de jantar                                                                             Quarto

 

                                      Esplanada da entrada                                 Varanda do 1º piso

                          

                                                                      Terraço e sala de jogos

                                

fotos in: Direcção Geral de Arquivos

Em 1912 o “Savoy Hotel” é vendido á “Companhia de Moçambique”.

Em 1955 encerra, e o Diário de Moçambique, a 16 de Julho de 1955, escreve a seguinte evocação:

«(...) O Hotel Savoy, construído nos princípios do século, situa-se entre duas épocas, entre dois períodos distintos da história portuguesa. Por ele passaram, até aos nossos dias, as personalidades portuguesas e estrangeiras mais em evidência no campo da política, das artes e das ciências. Recordamos, neste momento de evocação, que nele se hospedou a comitiva do Princípe Real D. Luís Filipe e, anos depois, já implantado o regime republicano, a comitiva do presidente Marechal António Óscar Fragoso Carmona.
Entre uma e outra época, quantas festas e bailes nele se realizaram, uns ao compasso da valsa e da «polka», outros, do «slow» e do tango! (...)»

Reabre mais tarde e ainda hoje funciona, sem nenhuma estrela de classificação e é o hotel mais barato e mais antiquado da Cidade da Beira, sendo o mais caro o “Hotel Tivoli” ,de 3 estrelas.

3 comentários:

Senador disse...

Viva, amigo e Sr. Jose Leite,
E´so´para lhe lembrar que tenho varias peças da Companhia de Moçambique no meu blog, que pode utilizar no seu post.
Este blog e´uma MARAVILHA!
Os meus parabe´ns!!!
Valdemar

José Leite disse...

Amigo Sr. Valdemar

Mais uma vez agradeço as sempre amáveis palavras.

Já tinha visto que no seu interessante blog, tem objectos da antiga Companhia de Moçambique.

Já noutras alturas tomei a liberdade de recorrer a fotos do seu blogue para alguns dos meus artigos.Exemplo o do "Banco do Minho" em Agosto de 2011.

Mais uma vez obrigado pelas suas palavras e disponibilidade

Cumprimentos

José Leite

carlos dias disse...

Prezado
Eu tenho um cinzeiro desse hotel, que trouxe da Beira, 1974, «cidade onde morei dos 5 aos 18 anos».
Um abraço

carlos dias