A "Real Caza da Opera", ou "Real Opera do Tejo", projectada pelo arquitecto italiano e natural de Bolonha, Giovanni Carlo Sicinio Galli Bibiena (1717-1760), foi inaugurada em 31 de Março de 1755, ou em 2 de Abril de 1755 - segundo o manuscrito "Historia politica economica do reinado de S. Rey D. Jozé I" que afirma que o dia do aniversário da Rainha caiu naquele ano na semana santa, pelo que se adiou o evento para o dia 2 de Abril de 1755 (reprodução a seguir) - junto ao Paço Real, onde é hoje o Terreiro do Paço, em Lisboa. O seu desmesurado custo, ascendeu a «ciento ochenta tres millones noventa nueve mil cuatrocientos setenta y tres reís (183:099$473 réís)».
"The City of Lisbon as before the dreadful Earthquake of November 1. st 1755" = Ville de Lisbon d... / J. Couse sculp. - London : Rob. t Wilkinson, [entre 1755 e 1760?]
A sua localização poderá ser descrita da seguinte forma: A nascente, o limite possível é o Palácio da Ribeira; a norte, situa-se o complexo da Patriarcal; a sul, a Ribeira das Naus e, a poente, o Palácio do Infantado. «Ao beco da fundição segue a caza da Opera q(ue) tem de extençáo pella Sua frente athe o Arco do Ouro ou da Ribeira das Naus, cento outo varas quatro palmos e quatro decimos». Devido a estas limitações, foi construído para a "Real Opera do Tejo" um edifício demasiado longo, e de eixo paralelo ao rio Tejo.
Recriação virtual da "Real Opera do Tejo" (à esquerda na imagem) coordenada por Gago da Câmara
No Palácio Real da Ribeira uma sala foi destinada as apresentações teatrais, seria a "Sala dos Embaixadores", já que o local permanece ligado à memória teatral ao longo do reinado, e é o local escolhido para a construção do primeiro teatro construído por Giovanni Carlo Sicinio Bibiena. Este primeiro teatro no Palácio da Ribeira, era um teatro em menor escala enquanto não se construía o grande teatro real, a "Real Opera do Tejo".
Se o terramoto não tivesse mudado o curso dos eventos, o teatro do torreão da Ribeira teria ficado como segunda sala teatral utilizada para celebrações festivas de menor importância. O palácio imperial de Viena servia de modelo, onde o Grosses Hofburgtheater de Francesco Bibiena se destinava à encenação de óperas italianas durante as principais ocasiões celebrativas e festivas (aniversários e onomásticos do casal imperial; celebração do carnaval), e uma sala teatral de menor dimensão utilizada para ocasiões músico-teatrais de menor investimento e fausto» in: vide 2ª fonte referenciada em Bibliografia, no final deste artigo.
Assim, D. José I (1714-1777) amante de ópera e concretizando um antigo sonho de seu pai, o rei D. João V (1689-1750), manda construir um magnífico e grandioso teatro para ópera em Lisboa, contratando os melhores arquitectos e artistas para que o prédio ficasse marcado na lembrança de quem o visitasse. E assim aconteceu, pois alguns viajantes, membro de governos, e outros fidalgos relataram a grandiosidade na "Real Opera do Tejo".
Sobreposição da secção transversal espelhada do projecto da "Real Opera do Tejo"
Os administradores desta obra, que apenas demorou sete meses a ser construída, foram:
Giovanni Carlo Sicinio Galli Bibiena - arquitecto
Estevão Pinto de Moraes - Tesoureiro «Official Mayor da Secretaria de Estado»
Jose da Costa Patrão - Apontador das reaes obras particulares do rey
Pedro Gualter da Fonseca - Apontador
António de Sousa Bastos (1844-1911), no seu belíssimo livro "Diccionario do Theatro Portuguez" de 1908 descreveu este fabuloso teatro assim:
Os primeiros cantores do mundo ali estavam contractados: Elisi, Cafarelli, Manzuoli, Giziello, Veroli, Balbi, Luciani, Raaf, Raina, Guadagni e Babino. Cada um d'estes artistas recebia por dois mezes dez e doze contos de réis, o que n'aquella epocha era espantoso.
O director era o celebre David Perez. Na opera Alessandro nell'Indie, letra de Metastasio, entrava um esquadrão de cavallaria; a phalange macedonica era representada por 400 homens. Havia uma grande marcha para manejar em scena o cavallo de Alexandre, o celebre Bucephalo. Para nada faltar ao luxo de tal theatro, até havia gravadores celebres para illustrar os librettos das operas, que eram distribuidos aos espectadores.
Sete mezes depois de concluida esta monumental obra, que não tinha rival em todo o mundo, um terrível incêndio e o terramoto a reduziram a um montão de ruinas.»
O Segundo andar de oito camarotes, foi destinado a hum para os Inviados, outros para os Officiaes da Caza da Rainha e os mais para Senhores da primeira grandeza da corte.
No 3º andar havia outros camarotes que se repartirão por pessoas particulares tuda a eleição do Mordomo Mor. A platéa acomodava 600 pessoas, nella estavão destinadas 10 ou 12 bancos para a corte, os mais para Ministros de Beca, Officiaes Militares de Capitão para cima, e para o que tivessem o foro de fidalgo. Os camarotes chamados = forcuras = erão para os creados da Caza Real de todos od foros athe o de goara roupa.»
Durante os, apenas, sete meses de existência da "Real Opera do Tejo" ali foram representadas três grandes óperas sérias, todas com libreto de Pietro Metastasio, grande reformador da poesia dramática graças à meticulosa atenção que dava à língua italiana e à estrutura dos textos em função do conteúdo musical.
- "La Clemenza di Tito", de Antonio Maria Mazzoni - estreia a 6 de Junho de 1755 (aniversário de D. José I)
- "Antigono" de Antonio Maria Mazzoni - estreia a 16 de Outubro de 1755
Mas cerca das nove horas e trinta minutos de 1 de Novembro de 1755 (Dia de Todos-os-Santos), um sismo de magnitude entre 8,7 e 9 da escala de Richter, seguido de marmoto, destruindo quase por completo a cidade de Lisboa, provocando milhares de mortos. Nesta tragédia o sonho do rei D. João V (1689-1750), concretizado por seu filho D. José I, foi completamente destruído e não mais foi reerguido.
Bibliografia:
- "Ópera do Tejo - Investigação e reconstituição tridimensional" de Eduardo Francisco Durão Antunes - Dissertação de natureza científica para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura - Faculdade de Arquitectura de Lisboa (2015)
- "Ópera do Tejo: o prelúdio de uma pesquisa" de Maria Aparecida Stelzer Lozorio - Graduanda em História Universidade Federal do Espírito Santo (Brasil) - (2015)
- "Lisboa e a Real Ópera do Tejo: Um módulo Iluminado, entre Atlantes e Tritões" de Luís Alves da Costa (Professor na Escola Superior de Artes Decorativas, Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva)
2 comentários:
Agradeço-lhe este seu belíssimo trabalho de reconstituição histórica e iconográfica.
E desejo-lhe um bom resto de Domingo.
Eu é que agradeço a gentileza do seu comentário.
Um bom resto de Domingo também para si.
Melhores cumprimentos
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