Restos de Colecção: G. Fontana & C.ª - Pianos e Harpas

4 de maio de 2024

G. Fontana & C.ª - Pianos e Harpas

A casa "G. Fontana & Cª", foi fundada em 1853 pelo harpista Galeazzo Fontana (1836-1875), na Rua das Portas de Sta. Catharina, renomeada no ano seguinte de Rua do Chiado, e futura Rua Garrett a partir de 10 de Junho de 1880, nos números 12 e 13 inicialmente e mais tarde nos 104 e 106. Para o efeito, constituiu a firma "G. Fontana & C.ª" e vendia pianos (ou alugados), orgãos, harpas, concertinas, cordas para harpa e rebecca, partituras de músicas, etc. Tinha como afinador de pianos o, então famoso, Tito Pagani que funcionava como ex-libris deste estabelecimento.


26 de Agosto de 1860



1863


Lista de 1863

27 de Julho de 1872

Era na Rua Nova do Almada, Rua Nova do Carmo e Rua do Chiado que, na segunda metade do século XIX, se encontravam os principais estabelecimentos de venda e fabrico de pianos, instrumentos musicais, e pautas de músicas. Por esses lados, apareceriam outros tantos, com o caminhar do século XIX e início do século XX, numa concorrência lado a lado ou frente a frente, nas renomeadas ruas Garrett ou do Carmo. A referir os principais: "Matta Junior & Rodrigues", "Guilherme Steglich" "Sassetti & C.ª ", "Ernesto Victor Wagner", "Lence & Viuva Canongia", "G. Fontana & C.ª", "Salão Neuparth", "Companhia Propagadora de Instrumentos Musicos", "Salão Mozartou "Custodio Cardoso Pereira & C.ª ". 

Nota: clicar nos títulos das lojas, que estão a dourado, para consultar as suas histórias, neste blog.


No "Almanach Commercial de Lisboa" de 1880


Loja onde tinha estado instalada a "G. Fontana & C.ª" (dentro da área delimitada a vermelho), na Rua Garrett


"Companhia Hamburgeza" onde Galeazzo Fontana era gerente

A maioria dos proprietários acumulava a profissão de músico, professor de música ou de instrumentos: Sassetti foi pianista, Ernesto Wagner tromptista e professor do "Conservatório Real de Lisboa", José Avelino Canongia clarinetista, Augusto Neuparth clarinetista e saxofonista, Galeazzo Fontana harpista no S. Carlos, etc.

O fundador e proprietário da "G. Fontana & C.ª ", Galliazo Fontana (1836-1875) era um dos três filhos de Caetano Fontana (1800-1884), um emigrado político milanês de 1835, que terá sido o primeiro harpista efectivo do "Real Theatro de S. Carlos". Seu irmão, Alfredo Fontana era «um verdadeiro prodigio, tocando violino, piano e harpa com egual facilidade. Todavia, apezar da sua grande vocação musical, Alfredo Fontana seguiu a carreira das armas, alistando-se no exercito italiano onde chegou a um posto superior.». E o outro seu irmão Achilles Fontana, «dedicou-se pela sua parte ao commercio, e dos seus antigos estudos musicaes conservou sómente o gosto pela arte, que tem satisfeito sendo um dos mais activos membros fundadores da orchestra da Real Academia de Amadores, como excellente contrabaixo» (*)

Quanto a Galliazo Fontana, nasceu em Lisboa em 1836 e foi um harpista notável, pena que teve uma vida curta tendo falecido tuberculoso em 1875 com apenas, 39 anos de idade. 

«Tinha apenas 11 annos quando se estreiou no theatro de S. Carlos. D'ahi por diante apresentou-se muitas vezes tocando a solo, tanto n'aquelle theatro como nos saraus das Larangeiras e concertos das academias, mostrando sempre rapidos e constantes progressos.
Em 1847 já substituía o pae na orchestra, e era convidado para as orchestras de Madrid e Sevilha.» (*)
(*) - in: "Diccionario Biografico de Musicos Portuguezes" de Ernesto Vieira (1900)

A "Revista Universal Lisbonense", de 25 de Julho de 1844, relatou uma sessão no "Real Theatro de S. Carlos" donde retirei as seguintes passagens:

«O sessão de 21 no theatro de S. Carlos foi uma demonstração brilhante do que póde a educação dada por um pae eminente nas materias, que ensina, a seus filhos. O distincto cavalheiro milanez emigrado, o sr. Fontana, harpista na nossa ópera, obtivera essa noite para beneficio da sua imberbe e interesantissima progenie. O programma annunciava, entre outas coisas, que ouviriamos - «variações de bravura de pianno e orquestra, sobre motivos do Prés aux cleres., de Herz executadas pelo jovem Achilles. Tercetto de duas harpas e pianno, executado pelos tres memninos. Tercetto de duas harpas e pianno, sobre motivos do Bravo, executado pelos jovens Achilles, e Galliazo, (o 1º e 2º irmão) e seu pae. (...)
Todas as damas os haveriam devorado com beijos, nenhum dos homens, que os palmeavam, deixou de sentir um abalo de inveja, aos gosos secretos e inefaveis do progenitor. Que tres musicos distinctos se não adivinham já, sem grande metamorphose, n'este apertado e mimoso ramalhete de tres botões!»


Capa de partitura de 1873, composta por Tito Pagani, que também era afinador de pianos para a "G. Fontana & C.ª "

Muitas casas de instrumentos musicais, procurando chegar a uma clientela mais vasta, promoviam o aluguer de pianos, pagamentos a prestações e abatimentos: na casa do harpista Galeazzo Fontana «alugam-se aos meses, e com abatimento aos trimestres e semestres, recebendo tambem em pagamento piannos usados», na "Guilherme Steglich" «vendem-se pianos a prestações mensaes», a "Companhia Propagadora de Instrumentos Musicos" anunciava com letras gordas «venda a prestações sema-naes e mensaes, pelo prazo de 36 meses e sem juro», S. Alberto Xisto envia «catalogos gratis a quem os requisitar com os instrumentos e partituras disponíveis, com 15 por cento de desconto sobre o preço do catalogo ou 10 por cento livre de todas as despezas, e postos na estação do caminho de ferro mais proximo da localidade dos destinatarios»...


30 de Agosto de 1874


9 de Abril de 1875

A casa "G. Fontana & C.ª " em 1874 já tinha sido ampliada aos nos 112 e 114 da Rua do Chiado. Após a morte do seu fundador Galleazo Fontana em 1875, a empresa deixa os nos 112 e 114 e fica, de novo, instalada só nos 104 e 106, entre a entrada do "Grande Hotel Borges" e a loja de perfumes, luvas, e brinquedos "Maison Benárd" - futura "Livraria Sá da Costa" - na esquina com a Rua Serpa Pinto. Nos números 112 e 114, em 1893 uma nova casa de instrumentos musicais: "Matta Junior & Rodrigues ", que vendia instrumentos musicais para bandas e orquestras.

7 de Maio de 1877


21 de Dezembro de 1879


No "Anuario Commercial de Lisboa" de 1885


1 de Janeiro de 1872


"Matta Junior " e "Guilherme Steglish" lado a lado


Após ter alterado a designação em 1897 para "Matta Junior", em anúncio de  1904

Tanto a "Matta Junior & Rodrigues" como a "Matta Junior", foram sempre referidas e conhecidas pelo "Armazem de Músicas e Pianos".

«Tal como os outros editores retalhistas não possuía oficina própria de litografia, recorrendo a litografias nacionais, como a litografia Moreira na Rua das Flores, ou então estrangeiras, como a litografia de Geidel, em Leipzig. Quando muda de razão social para Matta Junior, passa a empregar marca de editor, na qual utiliza uma moldura decorada por motivos geométricos.
Editou fados, arranjos de excertos de obras de teatro musical ligeiro e alguma música de salão e divulgou principalmente compositores portugueses.» (1)

O sucessor do armazém de pianos de "Matta Junior" foi a loja de musicas e pianos "José Rigoni de Vasconcellos" que se instalou na Rua de S. Roque, 112 e 114.


22 de Dezembro de 1906


No " Annuaire des artistes et de l'enseignement dramatique et musical" de 1893

O estabelecimento "G. Fontana & C.ª ", ainda apareceria no "Annuaire des artistes e de l'enseignement dramatique et musical" de 1893 na secção de 1893. Encerraria em definitivo em um ou dois anos depois, dando lugar à "Confeitaria Gartidão", que. por sua vez, daria lugar à "Patisserie Benárd" em 1902.


24 de Dezembro de 1901


"Patisserie Benard" na loja onde funcionou a "G. Fontana & C.ª ". Ao lado a casa de perfumes, luvas e brinquedos "Elie Benard"

25 de Dezembro de 1902

Entretanto, nas terceira e quarta portas, mais à frente, nos  números 116 e 118 novo concorrente, a partir de 1886. O armazenista e oficina de pianos, harpas e harmoniuns : "Guilherme Steglish"" (que quando encerrou definitivamente, entre 1904 e 1906 deu lugar à retrozaria "Irmãos David" - mais tarde "David & David".


1886

Retrozaria "Irmãos David" onde tinha estado anteriormente "Guilherme Steglich", em foto de 1960

(1) - "La edición musical en Portugal (1834-1900): un estudio documental" de Maria João Durães Albuquerque - Universidad Complutense de Madrid - Obtenção de Grau de Doutora em 2014.

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