Restos de Colecção: Maison Benard

13 de dezembro de 2023

Maison Benard

A "Maison Benard", propriedade de Elie Benard, abriu as suas portas pela primeira vez no final de 1875, na, então, Rua Chiado (actual Rua Garrett), 76 a 78, em Lisboa. Tratava-se de uma elegante loja onde os lisboetas podiam adquirir luvas, perfumes, loiças e brinquedos – artigos em grande parte provenientes de Paris. Por outro lado a "Maison Benard" era uma loja fascinante, cheia de brinquedos muito bonitos e muito caros, que se podiam ver, mas não acessíveis a qualquer bolsa.


"Maison Benard" em fundo


Interior da "Maison Benard"

«É variadissimo o sortimento de brinquedos, proprios para brindar creanças por esta occasião de festas, que estão em exposição na perfumaria e luvaria franceza, ao Chiado 76 e 78.
O sr. Elie Benard, proprietario d'aquelle estabelecimento, esmerou-se no adorno da casa, collocando no centro uma arvore illuminada por grande quantidade de balões, e guarnecida dos mais bonitos brinquedos que ultimamente trouxe de Paris.
Veja-se o annuncio que hoje publicamos.» in: "Diario Illustrado" de 24 de Dezembro de 1875.


24 de Dezembro de 1875

Até 1875, tinha funcionado nesta loja o famoso botequim "Café Central" propriedade de Domingos Antonio, e frequentado pelos marialvas, pelos famosos abas direitas, pelos toureiros e destemidos, pelos Maniques, pelo marquez de Castello Melhor, por D. Jose Avilez, etc.


Pinto de Carvalho ("Tinop"), escreveu acerca do "Central":

«O Central pertenceu ao Domingos Antonio, que andava sempre de sobrecasaca e chapeu alto. Ia para a cozinha fazer os 'beefs' sempre de 'casquête'. Foi ele o primeiro homem que estabeleceu o serviço de 'restaurants' nos cafés. Eté aí os botequins só forneciam ovos quentes á portuguesa.»


1877


20 de Dezembro de 1885


24 de Dezembro de 1899

«... Entre uns e outros preferimos os innocentes brinquedos, que fazem os dias mais alegres da nossa existencia, e porque estes dias são de festa e a criança tem o melhor quinhão n'essa festa, ahi lhe apresentamos a montre do sr. Elie Benard, onde os bébés encontram com que satisfazer a sua pequena phantasia.» in: "Occidente" de 21 de Novembro de 1890.

21 de Novembro de 1890

Elie Benard (?-1897) originário de uma família de padeiros e conserveiros franceses, estabeleceu-se em Lisboa com os pais e irmãos, em meados do século XIX, e aqui abriu, na rua do Loreto 21-23, uma Padaria Franceza, inaugurada a 6 de Setembro de 1868.

Esta , após a sua morte viria a estar na origem da fundação, por seus dois filhos Casimiro e Pedro Benard, da famosa "Patisserie Benard" inaugurada em 1902 na Rua Garrett. Os dois irmãos tinham trespassado a "Padaria Franceza" e ao separaram os ramos de actividade, Casimiro Benard ficou com o negócio alimentar e transferiu-se para a rua Garrett, agora sob a designação de "Patisserie Benard". A "Maison Benard" ficava para o seu irmão Pedro Benard.

Elie Benard (?-1897)



"Pastelaria Benard" e sua vizinha a "Maison Benard", à direita da entrada do "Hotel Borges"


Pedro Benard


"Pastelaria Benard" e sua vizinha a "Maison Benard"


Igualmente vizinhas nesta publicidade de 24 de Dezembro de 1903


1903


Na revista "Illustração Portugueza" de 6 de Janeiro de 1908

Duas páginas do artigo "Memorias d'uma boneca de trapos" na "Illustração Portugueza" de 6 de Janeiro de 1908 «Bonecos da Casa Bénard»

Lembro que outra loja de brinquedos, provavelmente a mais cara e famosa de Lisboa, a Kermesse de Paris”, propriedade de José Cierco, tinha sido inaugurada em 19 de Novembro de 1901, na, então, Rua do Principe, futura Rua 1º de Dezembro, em Lisboa, no edifício do "Avenida Palace Hotel".


É na primeira década do século XX que a "Maison Bènard" inicia comercialização de soldadinhos de chumbo, então, fabricados pela firma "Ribeiro & C.ª" situada na Rua Eduardo Coelho, 76-1º D. à Rua da Quintinha, 16-2º E. em Lisboa. «Visitei hontem essa fabrica minuscula, verdadeiro palacio de fadas para as crianças, onde de uma fila de cadinhos vi o chumbo derreter-se, passar por eternos moldes de bronze e sair transformado como por milagre em invenciveis soldados, com todo o seu formidavel armamento, a que as mãos ageis e delicadas de dezoito senhoras imprimiam o berrante colorido das fardas nacionaes. Missão patriotica e educadora esta da firma Ribeiro & C.ª, primitivamente lançada com enorme esforço no mercado pela conhecida casa Bénard, do Chiado ...» in: jornal "O Século".

No início dos anos 40 do século XX, o filho Pedro Benard, Elias Bénard, trespassa a sua "Casa Bénard" à "Livraria Sá da Costa", que para ali se mudou e inaugurou as suas novas instalações em 10 de Junho de 1943. Já antes tinha sido inaugurada, em 30 de Outubro de 1942, a nova loja de brinquedos, perfumaria e utilidades "Casa Bénard", na mesma Rua Garrett mas agora nos 82 a 86, ao lado da loja de fotografia e artigos fotográficos "Garcez, Lda." inaugurada em 22 de Fevereiro de 1923.


1 de Outubro de 1942 com os avisos de mudança de instalações

Na véspera da inauguração, da nova "Casa Bénard" o "Diario de Lisbôa" noticiava:

«Não saem os brinquedos, nem sai o Bénard. Casa Bénard, do Chiado - apenas se mudou, do 100-102, á esquina da Serpa Pinto, onde já levava dezenas de anos, para o 80-86, onde era a Casa Godefroy. O Chiado foi sempre inquieto; a sua cronica é uma sucessão de quadros e de semblantes - uma mutação á vista!
Elias Bénard mantém a tradição de seu pai e de seu avô: os brinquedos - no Chiado.
Abre amanhã as suas portas: as crianças de Lisboa, as aristocraticas, as burguesinhas, as de mediania que não dispensa os seu joguete - a boneca, o balão a côres - voltam a aencontrar no Bénard a catedral dos briquedos. Lá estará o mundo infantil e o rotundo e simpatico Elias mostrando as ultimas novidades.
Entretanto a Livraria Sá da Costa prepara a sua instalação onde foi a tradicional casa do primeiro Elie Bénard.»


1915

No dia seguinte, o da inauguração no mesmo jornal: «... Entre centenas de curiosissimas novidades, para todas as economias, e daquelas que sempre o são pelo gosto das crianças, que não muda - ha o melhor sortido de perfumarias e utilidades, que se integram ainda no mundo das crianças bem nascidas.»



1943


"Bénard" a seguir à "Farmácia Durão" no Natal de 1966


Nova "Livraria Sá da Costa" inaugurada em 10 de Junho de 1943

A "Casa Bénard" foi mais uma das lojas históricas, que prestes a fazer 113 anos de existência, foi consumida pelo incêndio do Chiado em 25 de Agosto de 1988, tendo ficado por aí a sua actividade.

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