Após a morte de Rudolpho Baltresqui, em 1866, sucedeu-lhe a viúva Maria Baltresqui, «é uma verdadeira dynastia que se nos depara!», que fundou e instalou a "Antiga Casa Baltresqui", na rua do Chiado, 49 e 51. E esta sucedeu-lhe o administrador da casa, Mathias Heinz. Ficavam a existir a "J. A. Pucci - Sucessor de Baltresqui", na Rua dos Capellistas e a "Antiga Casa Baltresqui" .
14 de Dezembro de 1877
«Como um dos mais manifestos pontos de encontro dos snobs da moda e da erudição, a Baltresqui reunia à porta, ou em redor das clássicas mesas de tampo de mármore de Itália, onde se servia o chá ou se tomava neve, uma tertúlia de modos enfatuados, com o propósito firme de impor uma estirpe que nem sempre se fazia respeitar, e que, na opinião de Tinop, era constituída por um grupinho de "inválidos da madracice", décor cheio de excentricidade, que servia de gáudio aos olhares trocistas dos transeuntes do Chiado.» in: "O Chiado pitoresco e elegante", de Mário Costa (1965).
No "Almanach Comercial de Lisboa" para 1880
«As ruas não tinham movimento. A’s quatro da tarde, a Rua do Oiro deixava escoar das repartições publicas, caminho de um taciturno jantar de sôpa, vaca e arroz, toda uma população de funccionarios mal pagos. A’s oito da noite, á porta da Havaneza e do Baltresqui, a joven aristocracia, que não tinha ainda onde reunir se, contendia com as mulheres que passavam e dava gebadas nos chapéus altos.» in "Lisboa", de Alfredo Mesquita (1903).
No último quartel do século XIX, algumas confeitarias e pastelarias mais conceituadas de Lisboa eram: "Antiga Casa Baltresqui" na Rua Garrett, 49-51 (depois 50-52); "Casa Ferrari" na Rua Nova do Almada, 91-93; "Confeitaria Lisbonense" na Rua Larga de São Roque (actual Rua da Misericórdia) 133 a 135; "Confeitaria Gratidão", na Rua do Chiado (actual Rua Garrett), 108-110; "Confeitaria Portugueza de Manuel José da Silva Araujo" (com os seus famosos «cocós», pastéis folhados de ovos) na Rua de S. Nicolau, 44-48; "Confeitaria Pomona", na Rua da Prata 111-113, gaveto com a Rua de S. Nicolau; "Confeitaria Nacional", na Rua da Betesga esquina com a Rua dos Correeiros.
"Tenda Suiisa" propriedade da "Casa Baltresqui" em 30 de Outubro de 1887
O Baltresqui! Que de recordações! Umas galantes como as fidalgas de Luis XIV, outras alegres como o Champagne da propria casa!
(...) É devido a estes estimaveis rapazes que a pequena patisserie recatada, com uns pequeninos bonbons e pastilhas, postos com arte nas salvas, se mudou para defronte, augmentando em tudo. Temos uma admiração pelos trabalhadores incansaveis, e estes bem o são.
A casa agora é deveras elegante.
É um estabelecimento á moderna, como um dos mais parisienses e boulevardianos.
Amplo, com risco largo, tem mezas e cadeiras de mogno que convidam ás tardes a ver passar, pisando os passeios do Chiado, as nossas silhouettes mais em moda.
O serviço é digno de uma casa assim bem posta.
Desde o Old tom gin e das garrafas de Malaga, até aos sorvetes e ás pistaches coloridas, por entre os crystaes e os espelhos que cobrem as paredes, tudo é de primeira ordem. É mais uma casa a não destoar do Chiado e a assegurar-lhe os fóros de rua elegante por excellencia.
As neves do dia são annunciadas nos espelhos do fundo. Hontem eram créme de baunilha e de ananaz.
Continuará, pois, o Baltresqui do Chiado a ser o nucleo dos rapazes da primeira sociedade, e a bateria onde dardejam - lá vai a banalidade - as settas do Cupido, mas um Cupido todo chic, de luva branca, mólho de lilaz na lapella e botas de polimento faiscantes.»
Entretanto, em 1897 a "Antiga Casa Baltresqui", transfere-se para a Rua de S. Nicolau, 91-93, como se pode ver na publicidade seguinte, de 1898. Daria lugar ao estabelecimento de “Armadores e Estofadores Pereira Gonçalves & Irmão” até 1903, altura em que é substituído pela "Ourivesaria do Chiado" de "Teixeira & Comandita", depois ourivesaria e joalharia "Miranda & Filhos" em finais de 1916, e a actual "Ourivesaria Aliança" inaugurada em 21 de Dezembro de 1944.
A "Antiga Casa Baltresqui", encerraria definitivamente, pouco tempo depois, em 1899 e daria lugar primeiramente ao estabelecimento de alfaiate "Benjamim" a que se lhe seguiria a "Pharmacia Cortez" (à esquerda na foto acima).
24 de Dezembro de 1899
"Pharmacia Cortez" onde esteve instalada a "Antiga Casa Baltresqui", na Rua de S. Nicolau, 91-93
E para terminar ...
- Eu não sei se essa comida será estomacal para a hygiene da noite, observa o snr. Barata guardando o apito.
Vão todos, para o Baltresqui do Chiado.
As meninas vão-se pelos «marrons glacés» e pelos «bonbons» ; o snr. Silva prefere os canellões : o Avelino gosta dos que tem agua de cheiro : o primo noticiarista despeja três copos de Carcavellos ; o snr. Barata e a madama apreçam todas as caixas e Álvaro bebe apenas agua, pensando saudoso no Alviella.
- Quanto se deve? pergunta o primo noticiarista.
- Foi um kilo de «bonbons», uma quarta de amêndoas, e uma garrafa de Carcavellos : não? Três mil, quinhentos e quarenta.» in: "A Comedia de Lisboa" de Gervasio Lobato (1911)
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