O "Armazem de Musica, Pianos, Instrumentos e Lytographia de Lence & Viuva Canongia", teve a sua génese na "Lithographia e Armazem de Musica de J.I. Canongia e J.C. Lence" fundada em Lisboa, na rua Nova do Almada, nº 66 em 1849, por Joaquim Ignacio Canongia e João Cyriaco Lence.
Do livro "Diccionario Biographico de Musicos Portuguezes", de Ernesto Viera e publicado em 1900 pelo Editôr Lambertini, retirei as seguinte biografias:
Teve quatro filhos: Joaquim Ignacio, Thiago Henrique, João Baptista e José Victorino; os tres primeiros tambem se dedicaram á musica e filiaram se na irmandade de Santa Cecília. O quarto, José Victorino, seguiu o officio de ourives, e estabelecendo-se viu prosperar o estabelecimento que ainda existe dirigido por seu filho, o sr. Eustaquio Canongia. Um filho de João Baptista, o sr. João Canongia é tambem ourives e conserva um resto das tradicções de família, tocando violino nas orchestras de amadores musica.
Joaquim Ignacio Canongia Junior, o mais velho dos quatro sobrinhos de José Avelino, não se salientou como musico mas era dotado de grande sagaçicidade ; depois de ter sido copista e ponto no theatro de S. Carlos, estabeleceu em 1850 um armazem de musicas na Rua Nova do Almada, e no anno seguinte acceitou por consocio João Cyriaco Lence que tinha outro estabelecimento identico, conseguindo os dois dar grande incremento ao negocio, installando uma lithographia musical que activamente trabalhou durante muitos annos.
Falleceu da febre amarella em 1857.
Quanto ao sócio João Cyriaco Lence ...
Em Novembro de 1849, Joaquim Ignacio monta, na Rua Nova do Almada n.º 66, um estabelecimento de sua designação "Lithographia e Armazem de Musica de J.I. Canongia e J. C. Lence", em sociedade com João Cyriaco Lence, que era igualmente copista no "Real Theatro de S. Carlos" e que já possuía uma litografia, na Travessa do Secretario da Guerra, nº 2.
Depois de a sua denominação ter sido alterada sucessivamente por três vezes - passando a figurar apenas o nome de Ignacio Canongia - a partir de 1851 passa a designar-se : "Armazem de Musicas, Pianos, Instrumentos e Lithographia J.I. Canongia & C.ª ". Possivelmente Joaquim Ignácio teria um investimento superior ao sócio ou o seu apelido seria mais reconhecido perante um público consumidor devido à fama internacional de seu tio, José Avelino Canongia.
A principal publicação musical desta época era o periódico "Lyra de Apollo" que tinha sido iniciado por João Cyriaco Lence, ainda em nome individual, que divulgava as óperas representadas no "Real Theatro de S. Carlos".
Joaquim Ignacio Canongia morre em 1857, mas a firma continua a sua actividade sob a designação de "Viuva Canongia & C.ª" e cerca de 1860, muda de instalações para os números 94 e 96 da mesma Rua Nova do Almada - que viria a ser ocupada mais tarde pelo Loja "92" de Albino José Baptista após o encerramento do armazém de músicas.
Loja "92" após a sua ampliação ocupando os nos. 94 e 96 da "Viuva Canongia & C.ª"
Excerto do catálogo de participantes na "Exposição Internacional do Porto" em 1863
No ano de 1863, a viúva de Joaquim Ignacio, Carlota Angélica, casa de novo, e com José Pedro Baptista Abraldes, comerciante com loja na mesma rua Nova do Almada nº 100 sobreloja, e, pelo que a razão social, mais uma vez muda para "Armazem de Musica, Pianos, Instrumentos e Lytographia de Lence & Canongia Abraldes", apesar de nos registos das licenças da Câmara Municipal de Lisboa a empresa surge com a designação comercial de "Armazém de Modas e Ornatos para Casa", talvez para manter o contrato de arrendamento do inquilino anterior ...
Neste ano a produção deve ter sido diminuta, já que só se conseguiram recuperar três exemplares, sendo todos de música de salão para piano.
José Pedro Abraldes viria a falecer logo no ano seguinte, 1864, e a viúva Carlota Angelica casa novamente, nesse mesmo ano (!), com o espanhol Manuel Jesus Simão Serrano «de 24 anos solteiro, logista», estabelecido na Rua Nova do Almada n.º 81, tendo sido testemunha do casamento o sócio e já viúvo João Cyriaco Lence. Apesar deste terceiro casamento de Carlota Angélica, na razão social da firma apenas figuram os nomes dos dois sócios iniciais "Lence & Viuva Canongia".
16 de Junho de 1872
Teve início o período mais produtivo da empresa, publicando muita música para piano e também a "Gazeta Musical de Lisboa" que consistia num suplemento musical de um periódico dedicado à arte musical e que divulgou muita música de compositores portugueses da época.
A 2 de Maio de 1879 João Cyriaco Lence morre, e no ano seguinte a firma passa a ser gerida pelo terceiro marido de Carlota Angélica, passando a designar-se "Serrano & Viuva Canongia", anexando na morada o n.º 100, loja que pertencera a José Pedro Abraldes e que a viúva terá herdado, por sua morte. Mas é a partir desta altura que a gestão deste estabelecimento entra em desgraça. A 28 de Maio de 1885, é alvo de uma citação da firma francesa "A. Lecomte & Cia.", fabricante de instrumentos, devido a dívidas que ascendiam a um milhão de réis. As dívidas foram-se acumulando e a 22 de Dezembro de 1887, o Tribunal do Comércio declara falência à firma. Na queixa de um dos credores, o "Banco do Povo" - fundado em Lisboa em 1874 e tendo falido em 1894 -, é mencionado o seguinte:
A última informação encontrada sobre a firma é uma sentença do Tribunal do Comércio, datada de 15 de Junho de 1893, na qual se refere que ficou provado que a falência se deveu à má gestão do sócio Manuel de Jesus Serrano e que a sua mulher alheia à má gestão do marido não podia ser culpada. O culpado ficou sujeito a pena de prisão de 3 meses e pagamento das custas. Manuel de Jesus Serrano desapareceu do país e nunca compareceu em julgamento.»
Um irmão de Joaquim Ignacio Canongia, de seu nome Tiago Henrique Canongia, com duas gerações de antepassados músicos (pai português e avô catalão), foi professor de música e diretor de orquestra de salão. Em 1866 inaugurou uma loja de pianos e música, "Lyra de Apollo - Armazem de Musicas e Instrumentos de T.H. Canongia", na Rua do Ouvidor n.º 103 (antigo nº 111), no Rio de Janeiro. Um armazém e litografia de música, o qual, curiosamente, após a sua morte em 1872 adoptou a razão social de "Lyra de Apollo - Armazem de musicas, pianos e aguas mineraes da Viuva Canongia", mais tarde simplesmente "Viuva Canongia e C.ª".
Bibliografia:
Tese de Doutoramento "La edición musical en Portugal (1834-1900): un estudio documental - Volumen 1" de Maria João Durães Albuquerque - Madrid, 2014.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Municipal de Lisboa
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