O "Hotel Astoria", propriedade do empresário hoteleiro Alexandre d'Almeida, foi inaugurado em 28 de Março de 1926, na Avenida Navarro, em Coimbra, num prédio propriedade da Companhia de Seguros "A Nacional". A gerência deste hotel, com 62 quartos e de 1ª classe, ficou entregue a José Soleiro.
Em 1918 o Jornal "Gazeta de Coimbra" noticiava:
«Com referência ao predio que a Companhia Nacional vai mandar construir no terreno contiguo ao do antigo Hotel Avenida, tambem estamos informados de haver recomendação para que o projecto seja igualmente digno da cidade e, até alguem nos afirmou que, já pelas linhas gerais, se vê que êle ficará sendo um dos mais belos predios de Coimbra.»
O edifício do “Hotel Astória”, em Coimbra foi mandado construir pela Companhia de Seguros "A Nacional", eme 1919 sob o projecto do arquitecto Adães Bermudes, que já tinha sido o responsável pela "Agência do Banco de Portugal" de Coimbra, em 1907.
Em 1925 este edifício foi arrendado ao empresário Alexandre de Almeida, que ficou responsável pela conclusão do seu interior e adaptação à indústria hoteleira, de acordo com o projecto do arquitecto portuense Francisco de Oliveira Ferreira. O contrato tinha o prazo de 19 anos a partir de 1 de Janeiro de 1926, e o valor da renda mensal era de 4 mil escudos. A Companhia de Seguros "A Nacional" ficou com três divisões no 1º andar para funcionamento da sua agência.
O empresário Alexandre d’Almeida foi o criador da cadeia de equipamentos hoteleiros “Hotéis Alexandre de Almeida Lda.”, proprietário do Palace Hotel do Bussaco (1915), Palace Hotel da Curia (1922), Francfort Hotel (1917), Hotel Metrópole (1914) e Hotel de L’ Europe (1921) estes três últimos em Lisboa. Foi também da sua iniciativa a criação da primeira escola de ensino hoteleiro em Portugal, sendo com o seu apoio e com a colaboração da Federação dos Sindicatos da Indústria Hoteleira que surgiu a Escola Hoteleira Portuguesa, denominada durante alguns anos por Escola Hoteleira Alexandre de Almeida.
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Outra inovação de Alexandre d’Almeida foi que um hotel deveria ter a sua própria adega, à semelhança do que acontecia com os exuberantes locais de pernoita na Riviera francesa e italiana. Como ponto de partida, utilizou as vinhas da sua própria família, situada nos sopés da Serra do Bussaco, para produzir um vinho especial, engarrafado, numa altura em que esta era ainda uma actividade rara. Pelo que o vinho do “Palace Hotel do Bussaco”, sua propriedade e localizado na Mata do Bussaco (Luso), passou a ser distribuído exclusivamente pela cadeia de “Hotéis Alexandre de Almeida”.
A quando da inauguração do “Palace Hotel da Curia”, em 25 de Julho de 1926, a ementa do banquete era acompanhada da seguinte mensagem da autoria de Alexandre d’Almeida:
"A industria hoteleira é considerada benemerita em muitos paízes, tal é o seu valor como factor de progresso em todos os ramos da sua actividade. A essa eu tenho prestado toda a minha energia e dedicação para conseguir que o nosso Paíz alcance o lugar a que tem direito na civilisação mundial, pelo seu passado historico, pelos seus encantos naturaes e pelo seu clima sem egual:
"O Paíz aonde o sol sorri."
"Auxiliem-me todos n'esta cruzada, que de muitos vive e para todos produz!"
O “Hotel Astória” foi inaugurado em 28 de Março de 1926, considerado na altura como a catedral dos hotéis nacionais e internacionais, pela oferta de comodidades invulgares para a época como a central telefónica, o elevador – um dos primeiros a ser instalado na cidade – o aquecimento central ou o requintado e luxuoso mobiliário. Por este Hotel passaram as mais ilustres personalidades da nossa história. A festa de inauguração consistiu num banquete (almoço) e num chá dançante (jantar), um verdadeiro acontecimento social. A orquestra que animou estes dois momentos foi o sexteto de jazz com o nome "Jazz Band César Magliano".
O jornal "Gazeta de Coimbra" no dia 30 de Março noticiava a inauguração do "Hotel Astoria":
«Com grande concorrencia de pessoas e reinando a maior alegria, efectuou-se anteontem a inauguração deste Hotel mais um triunfo, senão o maior, - pelo que representa de iniciativa e de energia - do seu proprietario, sr. Alexandre d'Almeida, hoje incontestavelmente um português de raras qualidades e que muito tem beneficiado a sua pátria. O esplendor e o modernismo dos hoteis que possue e dirige, Palace Hotel do Bussaco, Palace Hotel da Curia, Hotel de L'Europe, Metropole, Francfort, os trez de Lisboa, e agora a inauguração do Astoria, são um esforço colossal, no sentido de proporcionar aos estrangeiros as comodidades indespensaveis, uma vez que o Turismo, só grandes beneficios traz a Portugal. (...)
O Hotel Astoria é um vasto edificio, decorado e mobilado com luxo, podendo classificar-se um dos primeiros do país. É seu gerente o sr. José Soleiro.
A sala de mesa, o mais moderno que há em Portugal, é de trabalho importante da importante e acreditada casa Venancio do Nascimento da Rua do Bonjardim no Pôrto.
As paredes são guarnecidas com lambriz em madeira, com talha e papel género couro patinado. Do lambriz ao tecto as paredes são decoradas com papel, imitação de veludo, e a completar a decoração da sala existem colunas em marmelite e cestas ornamentais, com flôres iluminadas. A sala tem originais candeeiros de tecto e apliques.
A sala de visitas, decoração da mesma casa "Venancio do Nascimento, é formada por lambriz com panneaux em papel e madeira com talha.
A iluminação tanto das paredes, como dos tectos, é feita por cristais artisticos fundidos e assinados, uma das maiores novidades da exposição de artes decorativas de Paris.
Os quartos mobilados com muito gosto pela casa Bartolo e Lopes, de Vila Nova de Gaia, encerram todas as comodidades, como compartimento para banho e telefones.
As instalações electricas são da casa Otto-Biener de Coimbra, as secções de água da casa Lambate, de Lisboa. As cozinhas do hotel são tudo o que ha tambem de mais moderno e espaçoso.
Pela 1 e meia da tarde realizou-se o almoço com a comparencia de mais de 100 convidados. (...)
Ás sete horas da tarde, realizou-se na sala de mesa, iluminada artisticamente, oferecendo um conjunto surpreendente, um chá dançante que decorreu com muita animação.»
O “Hotel Astória” foi projectado de acordo com um modelo eclético afrancesado, de grande riqueza decorativa, com traços da estética Arte Nova e Art Déco (particularmente notórios nos interiores). À data da inauguração possuía 62 quartos «cheios de luxo e de conforto, com telefones para todo o país», distribuídos pelos seus 4 pisos. Este hotel tornou-se, desde cedo, num ex-líbris de Coimbra, sendo conhecido pelos seus chás dançantes, num ambiente de grande requinte.
1 de Abril de 1926
Em 1939, e segundo o guia "Hoteis e Pensões de Portugal" de 1939, os preços das diárias variavam entre os 35$00 e os 100$00. Pequeno almoço: 5$00, Almoços e jantares: 17$00. «O melhor da cidade. Instalação Moderna. Todos os aposentos com água corrente, aquecimento e telefone.»
Os seus concorrentes, em 1939, na cidade de Coimbra eram:
Hotel Bragança (fundado em 1878) - diária:24$00 a 35$00 - 3ª classe
Hotel Central (fundado em 1866) - diária: 25$00 a 50$00 - 3ª classe
Hotel Mondego (fundado por volta de 1860) - diária: 25$00 a 50$00 - 3ª classe
Em 1945, sofre obras de ampliação, passando a ocupar, também o prédio a seu lado - e igualmente propriedade da Companhia de Seguros "A Nacional", que terá adquirido à "Caixa Económica Portuguesa" - e restauro e por ali passam muitos jovens para obter formação no ramo de hotelaria. De referir que o prédio em questão, foi construído no lugar do edifício do antigo "Hotel Avenida", que depois de demolido passou para mais à frente onde mantinha a sua sucursal. O terreno tinha sido comprado pela "Caixa Económica Portuguesa", em 26 de Julho de 1918, por 30.000$00. O arrendatário e dono do "Hotel Avenida", José Garcia, recebeu uma indemnização de 15.000$00 ...
Em 1980 iniciaram-se a construção de casas de banho privativas em alguns quartos, o que limitou o número de quartos. Teve recentes obras de restauro (2002), que abrangeram as fachadas e os interiores. Aqui se conservam as cadeiras e mesas encomendadas à “Casa Venâncio do Nascimento”, no Porto, os revestimentos de madeira das paredes, os apliques e o pavimento.
Em 1990, é alvo de um minucioso restauro, por se encontrar bastante degradado. Conserva o aspecto romântico da época da abertura e contém autênticas relíquias no seu recheio artístico e arquitectónico.
Actualmente o “Hotel Astória” conta, com 60 quartos e 2 suites juniores, decorados com magnífico mobiliário original dos anos 20.
No dia 20 de Janeiro de 2011 foi anunciado que o “Hotel Astória” passou a integrar a lista de monumentos de interesse público, classificados pelo Ministério da Cultura. Ao imóvel foi ainda fixada uma Zona Especial de Protecção que impede qualquer intervenção, naquela área, sem autorização do IGESPAR.
fotos in: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais)
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