Nota prévia: a publicação seguida de duas unidades hoteleiras neste blog, deve-se ao facto da estreita ligação histórica entre os dois. Seguir-se-á, ainda, um terceiro artigo acerca do "Hotel Francfort", que existiu na Rua de Santa Justa, pelas mesmas razões.
O "Francfort Hotel", foi fundado, entre 1894 e 1895, pelo industrial hoteleiro António José da Silva, no gaveto da Praça D. Pedro IV (Rossio) com a Rua da Betesga, em Lisboa, e propriedade da firma “A. J .da Silva & Cª.”. Este Hotel veio ocupar o lugar de outro que já existia em 1853, o "Hotel Dois Irmãos Unidos", cuja história pode consultar no artigo anterior neste blog.
Projecto do quarteirão do “Francfort Hotel” após o terramoto de 1 de Novembro de 1755 (frente Praça D. Pedro IV)
Frente Rua da Bitesga
Este modesto “Hotel Dois Irmãos Unidos”, que teve anos mais tarde a sua designação simplificada para “Hotel Irmãos Unidos”, já era propriedade do galego Domingo Antonio Gonzalez y Oubiña em 1888, e seria adquirido por volta de 1893 pela firma “A.J.Silva & Cª.”, - de Antonio José da Silva e sua esposa Joaquina Pereira da Silva - que era proprietária do “Hotel Francfort”, na rua de Santa Justa, tendo mudado o nome de “Hotel Irmãos Unidos” para “Francfort Hotel”.
“Hotel Dois Irmãos Unidos” com o “Restaurant Irmãos Unidos” na elipse desenhada e anúncio de 1888
1898
Oferta dos principais hotéis em Lisboa no guia “Spain and Portugal, handbook for travellers”
Lembro que no “Hotel Dois Irmãos Unidos”, tinha numa das suas lojas no piso térreo, e desde 1832, o muito conhecido “Restaurant Irmãos Unidos” fundado pelos dois irmãos galegos Florêncio Abril Bugarin e António José António Abril Bugarin. Foi neste restaurante - conhecido pelo «matafomes» - com entradas pela Praça D. Pedro IV e pela, então, Rua das Gallinheiras (futura Rua dos Correeiros) que em Outubro de 1915 foi fundado o grupo e a revista modernista “Orpheu” .
Em 1906, já os dois hotéis - “Hotel Francfort” e “Francfort Hotel” - tinham cada um o seu proprietário (ambos irmãos), ficando o “Francfort Hotel” do Rossio na posse de Arthur da Silva, e o “Hotel Francfort” da Rua de Santa Justa na posse de João Narciso da Silva.
1901 1914
1913
O “Francfort Hotel”, de 3ª categoria e com 140 quartos, viria a ser tomado por trespasse, em 1917, pela empresa “Hotéis Alexandre d’Almeida”, fundada em 1917 por Alexandre d’Almeida. Esta empresa já era proprietária do “Hotel Metrópole”, também no Rossio, desde 1914. Em 1921 torna-se arrendatária do “Palace Hotel do Bussaco”, e no mesmo ano adquire o “Hotel de l'Europe”, no Largo de Camões em Lisboa, e o “Palace Hotel” da Curia, a que se seguiria o “Hotel Astória” em Coimbra, em 1926.
Frente para a Praça D. Pedro IV
Traseiras para a Praça da Figueira
1915
1921
Alexandre d’Almeida Hotéis de Alexandre d’Almeida em 1927
“Francfort Hotel” com publicidade aos outros hotéis do grupo
Foi também iniciativa de Alexandre d’Almeida a criação da primeira escola de ensino hoteleiro em Portugal, sendo com o seu apoio e com a colaboração da Federação dos Sindicatos da Indústria Hoteleira que surgiu a “Escola Hoteleira Portuguesa”, denominada durante alguns anos por "Escola Hoteleira Alexandre de Almeida".
20 de Setembro de 1935
Banquete oferecido aos Empregados do Comércio com mais de 50 anos de actividade, em 23 de Janeiro de 1938
Incêndio nas águas-furtadas do “Francfort Hotel” em 1940
Ementa para 6 de Janeiro de 1961 e etiqueta de bagagem
O “Francfort Hotel” viria a encerrar definitivamente entre 1977 e 1978, e o seu edifício permanece, desde então, devoluto e em estado avançado de degradação e abandono a nível interior …
Em 2006 o quarteirão desde a ”Pastelaria Suiça” até à Rua da Betesga, era propriedade da “Sociedade Hoteleira Seoane” viu o seu projecto de instalar um hotel de 5 estrelas com 110 quartos e 20 suites, aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa, em Abril de 2009, mas não deu sequência.
Entretanto, em 27 de Junho de 2018, o jornal “Observador” noticiava a propósito do encerramento da “Pastelaria Suiça”, que teve lugar em 31 de Agosto de 2018:
«O fundo de investimento que comprou todo este conjunto de prédios tem sede em Espanha, chama-se Mabel Capital, e trabalha com marcas como o Real Madrid ou os restaurantes Tatel. É liderado por Abel Matutes Prats e Manuel Campos Guallar e conta com a participação (minoritária) do tenista maiorquino Rafael Nadal.»
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Hemeroteca Municipal de Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário