O “Hotel Nunes”, propriedade de João Nunes, abriu as suas portas entre 1864 e 1875, na Vila de Sintra, junto ao “Palácio da Vila” ou “Palácio Nacional de Sintra”, na Rua do Arrasario (actual Conselheiro Segurado). Nesta Rua, e em 28 de Maio de 1879, e praticamente à sua frente, abriria em 28 de Maio de 1879.,o “Hotel Netto” propriedade de José Maria Netto, e cuja história poderá ser consultada neste blog, utilizando o seguinte link: “Hotel Netto”.
Na foto seguinte: dentro da elipse branca o “Hotel Nunes” e dentro da elipse vermelha o “Hotel Netto”
Em 1863 eram indicadas no "Novo Guia do Viajante em Lisboa e Seus Arredores”, de J.J. Bordalo (Rua Augusta), as seguintes hospedarias em Sintra:
«Victor, a mais antiga e mais afamada da villa; Durand, tambem acreditada ha longo tempo; Hotel d'Europe, moderna e dependente da hospedaria do mesmo nome em Lisboa; Francois, fóra da villa, em S. Pedro de penaferrim, e outras de menos luxo. O preço do quarto e comida regula entre 1200 e 1440 réis diarios por pessoa.»
“A Handbook for Travellers in Portugal” de 1875 1877
No capítulo VIII do romance “Os Maias” de Eça de Queirós, publicado em 1888, o “Hotel Nunes” é referido por diversas vezes, uma delas ao descrever o passeio de Carlos e Cruges por Sintra. Carlos procura Cruges na sua residência em Lisboa, mas vem a encontrá-lo na Rua de S. Francisco, casa da sua mãe, que lhe implora para trazer queijadas. Os dois partem em direcção à vila num break, e ao chegarem perto de Sintra, Carlos informa Cruges:
«Nós não vamos para a Lawrence (hospedaria Lawrence’s) - disse Carlos, saindo bruscamente do seu silêncio e espertando os cavalos. - Vamos para o Nunes (Hotel Nunes), estamos lá muito melhor! (…)
- Vamos para o Nunes que se come melhor!. (…)
E apenas o break parou à porta do Nunes, foi-lhe ainda dar um olhar, tímido e de longe - receando alguma palavra rude da sentinela.
Carlos, no entanto, saltando logo da almofada, tomou à parte o criado do hotel, que descera para recolher as maletas. (…)
- Então, depressa dois quartos! - exclamou Carlos, com uma alegria de criança, certo agora que “ela” estava em Sintra. - E uma sala particular, só para nós, para almoçarmos.»
Pelo caminho, o recordar da Vila Velha, com o seu mercado e três dos seus hotéis: «O Nunes "das pandegas fáceis", o Victor funcionando também como uma espécie de Casino, e o Lawrence’s, o mais antigo da Península Ibérica e o mais requintado de Sintra.
No edifício onde se instalou o “Hotel Nunes” tinha funcionado desde 1850 a “Pensão de Bragança”. A propriedade pertencia nessa época ao 7º Visconde de Asseca (1825-1852), e posteriormente à Viscondessa d’Asseca . Pelos documentos abaixo publicados, José Nunes em 1903 ainda era o proprietário do Hotel. Em 1913, o “Hotel Nunes” já era propriedade do galego Antonio Lopez Alvarez.
No livro “Paço de Sintra - apontamentos historicos e archeologicos do Conde de Sabugosa” (1903)
1907
1913 1914
Nota: no anúncio publicitário anterior, de 1913, está indicado, erradamente, como proprietário António Lopes Alves. O proprietário do “Hotel Nunes” era o galego António Lopez Alvarez, irmão de José Lopez Alvarez, dono do “Hotel Netto” a que lhe sucederia Manuel Lopez Alvarez.
1933
1934
Hotéis Nunes e Netto
Em 1944, no livro “The Portugal Journal”, de Mircea Eliade, pode-se ler (depois de traduzido):
«Nós comemos no Hotel Nunes (onde comemos da última vez também); divertimos-nos e aborrecemo-nos, alternadamente, porque era um domingo e, por causa das multidões, demoraram três horas a servir a nossa mesa!). A primeira vez que estive aqui foi com A. Cotrus e a família Antohi, em Fevereiro de 1941. Tinhamos acabado de chegar de Inglaterra e eu estava à espera de dinheiro para nos permitir voar para casa. Como eu poderia ter imaginado que ficaria em Portugal quatro anos e que as coisas acabariam assim? . ..»
Em Agosto de 1967 o grupo hoteleiro “Tivoli”, adquire o “Hotel Nunes”, para o demolir e erguer um novo hotel a que chamará “Hotel Tivoli Sintra” de 4 estrelas e com 77 quartos, inaugurado em 20 de Setembro de 1980. A sua construção pelo tempo decorreram - entre 1977 e 1980 - chegaram a ser apelidadas de «obras de Santa Engrácia».
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Rua dos Dias que Voam, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Rio das Maçãs
5 comentários:
Maravilha de publicação!!! Vivi em Sintra desde os meus 10 anos até aos 26. (1958 - 1974) Estudei no Externato Académico de Sintra que estava sediado no fundo ao Arrassário numa bela vivenda que atualmente está em completa ruína. Até faz pena! Todos os dias passava duas a quatro vezes pelo Hotel Nunes e pelo Hotel Netto Estas imagens dizem-me muito!
Obrigada!
D. Graça Sampaio
Eu é que agradeço, não só, a sua visita assídua, com os sempre amáveis e interessantes comentários.
Os meus cumprimentos
Gosto muito desta publicação.
Pena já ser quase impossível revistar alguns locais praticamente esquecidos
Muito obrigado.
José Jardim
O Hotel Nunes da minha infância e inícios de adolescência.
O Hotel Nunes com as passagens secretas do gabinete do proprietário para a adega.
Mais outro que desapareceu para dar lugar a arquitectura vergonhosa.
Bem-Haja pelas suas memórias.
É um crime o Hotel Nunes ter sido reconstruído e transformado no Hotel Tivoli Sintra, sem manter o traçado original. É uma destruição de património cultural que nenhuma Câmara devia permitir. Podemos continuar a associar o Lawrence´s Hotel à obra de Eça de Queiroz, Os Maias, mas sobre o Hotel Nunes, também um espaço referido na mesma obra, nunca mais vai ser possível.
O Hotel Tivoli Sintra é uma aberração que destrói a identidade arquitetónica de Sintra. Que tristeza.
Enviar um comentário