Foi em 1628 que Dom João Melo, bispo-conde de Coimbra, doou a mata do Bussaco aos primeiros frades da Ordem dos Carmelitas Descalços que queriam fundar uma casa de Deserto: o «bos sacrum» (é uma das etimologias possíveis do nome do sitio). Duas pessoas com os conhecimentos de base indispensáveis deram o início à construção do convento no dia 7 de Agosto de 1628: o Frei Alberto da Virgem, irmão donato da Ordem e natural de Chaves, que conhecia arquitectura, e o irmão António das Chagas, oficial de pedreiro. A vida regular da comunidade começa oficialmente no dia 19 de Março de 1630. Paralelamente à vida religiosa, os frades Carmelitas desenvolverão intensa actividade de plantio e conservação da mata.
"Palace Hotel do Bussaco" na Mata Nacional do Bussaco
O "Palace Hotel do Bussaco" está instalado, com esta designação desde 1917, num palácio de caça dos últimos reis de Portugal, - D. Carlos, D. Luiz e D. Manuel II - construído em 1888. Com a designação inicial de "Grande Hotel" é considerado um dos mais belos e mais românticos hotéis do mundo, sendo ainda reconhecido como um exemplar perfeito da arquitectura neo-manuelina. Fica rodeado pela mata do Bussaco, como já referido anteriormente, floresta implantada pela ordem dos Carmelitas no primeiro quartel do século XVII, com espécies vegetais de todo o mundo, além do mundialmente conhecido cedro do Bussaco.
Depois de inicialmente designado de "Grande Hotel", em 1912 já se chamava "Hotel da Mata" em alusão á mata do Bussaco, passando a designar-se "Palace Hotel do Bussaco" a partir de 1917.
Construção em 1885 do "Grande Hotel"
Artigo na revista "Ilustração Portuguesa" em 1917
Chegada de turistas
O edifício foi projectado no último quartel do século XIX pelo arquitecto italiano Luigi Manini, cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos. A sua construção foi iniciada em 1888 e contou ainda com intervenções, em diferentes fases, dos arquitetos Nicola Bigaglia, Manuel Joaquim Norte Júnior e José Alexandre Soares.
A partir de 1903, foram contratados diversos artistas para decorar os interiores do "Grande Hotel", entre os quais se encontram os pintores António Ramalho, Carlos Reis, João Vaz, o pintor de azulejo Jorge Colaço (que executou, entre outros, os painéis do vestíbulo, alusivos à Batalha do Bussaco, Os Lusíadas, Autos de Gil Vicente e a Guerra Peninsular), e o escultor Costa Motta Sobrinho, responsável pelos grupos escultóricos da Via Sacra. O arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnor ficou responsável, em 1905, pelo projecto da denominada Casa dos Brasões, que segue a lógica das Beaux-Arts.
Painel de azulejos da "Batalha do Bussaco" da autoria de Jorge Colaço
Casa dos Brazões Interior da Floreira no exterior ao Salão de Jantar
Galeria e esplanada
Os jardins e parque envolvente, o Convento de Santa Cruz do Buçaco, o Deserto monacal, o Sacromonte simbolizando Jerusalém e a paixão de Cristo, com os seus passos da Via Sacra, a Cruz Alta, as inúmeras ermidas e capelas, constituem o mais vasto conjunto arquitectónico edificado pela Ordem dos Carmelitas Descalços; o Vale dos Fetos e seus lagos, a Fonte Fria com a cascata artificial, de forte influência italiana pela mão de D. Maria Pia, e os miradouros românticos, são outras atrações.
Vestíbulo e Hall de entrada
Quarto de dormir da Suite "D. Manuel II"
Hall do 1º andar Quarto duplo
A majestosa sala de jantar do Palácio, "Restaurante João Vaz", outrora cenário de importantes banquetes reais, é hoje em dia um dos melhores e mais refinados restaurantes de Portugal, quer quanto ao serviço quer quanto às especialidades gastronómicas de autor ao gosto regional e toda a tradição da velha cozinha internacional que propõe e ainda quanto à sua garrafeira própria, constituída pelos exclusivos vinhos do Bussaco de renome mundial, e de referência máxima em todos os principais guias de vinhos internacionais.
Salão de Jantar no início do século XX
Salão de jantar a meio do século XX
Sala de Leitura Salão Nobre
Numa brochura de 54 páginas que acompanhou uma «representação» entregue pela firma "Figueiredo & Sousa" constituída por Fausto de Figueiredo e Augusto Carreira de Sousa, concessionária das "Termas do Estoril", à Câmara dos Deputados a 26 de Maio de 1914, pedindo a ajuda financeira do Estado ao empreendimento turístico no Estoril, Mariano de Carvalho ao apresentar o seu plano financeiro, referindo-se ao, ainda, "Grande Hotel do Bussaco" diria:
«Magnífico sem dúvida mas pequeno. Quer-se atrair o turista estrangeiro: fala-se-lhe do nosso clima encantador, no qual, em todas as épocas do ano, os jardins ostentam flores deliciosas. Mostram-se-lhe fotografias do monumental hotel do Bussaco. E ele vem surpreender-se com a desilusão de contemplar, através dos pórticos manuelinos, um campo de favas ou um tabuleiro de couves!»
Por outro lado, em 1921 podia-se ler na revista "Revista de Turismo" « (...) o segundo hotel foi o do Bussaco, que o mesmo senhor (Alexandre d'Almeida) tomou ha pouco d'arrendamento e que está transformado radicalmente, tanto nas salas como nos quartos e nas demais dependencias do magestoso edificio. Estive ali ha anos e a impressão que então colhi foi desoladora, pois o seu arrendatario tinha maculado aqueles azulejos magnificos e aquela architectura manuelina, com moveis de fancaria, cadeiras austriacas e mesas de pinho. Agora não. O hotel parece outro».
Anúncio em 1921
O "Palace Hotel do Bussaco", depois de ter sido durante muitos anos arrendado pelo Estado, ao grupo "Hotéis Alexandre de Almeida", foi comprado e presentemente é um hotel de 5 estrelas deste grupo.
Proposta de prorrogação da concessão em 1922
Alexandre d'Almeida
O empresário Alexandre d’Almeida foi o criador da cadeia de equipamentos hoteleiros “Hotéis Alexandre de Almeida Lda.”, arrendatário do “Palace Hotel do Bussaco” (1917), “Palace Hotel da Curia” (1921), “Hotel Astória” em Coimbra (1926), “Hotel Francfort”, “Hotel Metrópole” e “Hotel de l'Europe” (1921) estes três últimos em Lisboa. Foi também da sua iniciativa a criação da primeira escola de ensino hoteleiro em Portugal, sendo com o seu apoio e com a colaboração da Federação dos Sindicatos da Indústria Hoteleira que surgiu a Escola Hoteleira Portuguesa, denominada durante alguns anos por "Escola Hoteleira Alexandre de Almeida".
Edifício do "Hotel Francfort" no Rossio, com publicidade a outros "Hotéis Alexandre d'Almeida"
Outra inovação de Alexandre d’Almeida foi que um hotel deveria ter a sua própria adega, à semelhança do que acontecia com os exuberantes locais de pernoita na Riviera francesa e italiana. Como ponto de partida, utilizou as vinhas da sua própria família, situada nos sopés da Serra do Bussaco, para produzir um vinho especial, engarrafado, numa altura em que esta era ainda uma actividade rara. Pelo que o vinho do “Palace Hotel do Bussaco”, sua propriedade e localizado na Mata do Bussaco (Luso), passou a ser distribuído exclusivamente pela cadeia de “Hotéis Alexandre de Almeida”.
Alexandre d'Almeida nas vinhas do Bussaco e Adega do "Palace Hotel do Bussaco"
Rótulos de garrafas de vinho tinto e branco
Conta actualmente com 64 quartos que incluem as suites palacianas D. Manuel II, D. Luís e D. Amélia, e ainda a soberba "Suite Real D. Carlos", constituída por uma fabulosa sala de estar, sala de jantar, vestiário e quarto com amplo terraço a dominar os jardins e a floresta envolvente com uma panorâmica deslumbrante. Todos os quartos mobilados com peças de estilo, numa heterogeneidade que abrange desde D. Maria e D. José a exemplares de Art Noveau.
Postal de 1899 Postal de 1901
Etiqueta de bagagem
Em Janeiro de 2012 Os grupos "Hoteis Alexandre de Almeida" e "Lágrimas Hotels & Emotions" assinaram um acordo que visa a fusão operacional das suas unidades hoteleiras e de restauração. O "Lágrimas Hotels & Emotions", liderado por Miguel Júdice, passou a ficar com um portfólio total de 675 quartos espalhados por 10 hotéis e mais de 400 colaboradores, e gerir activos como o “Palace Hotel do Bussaco” e a “Quinta das Lágrimas”, em Coimbra, e o “Hotel Infante Sagres”, no Porto.
Palace Hotel do Bussaco, actualmente
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Biblioteca Nacional de Portugal, Hemeroteca Digital, Delcampe.net
5 comentários:
Gostava de lá ir.
D. Margarida Elias
Se lhe for possível, é só decidir-se.
Cumprimentos
Onde me foi barrada a entrada, em julho, porque tinha que me comprometer, antecipadamente, que ia consumir algo.
Como é que posso assumir esse compromisso se não me é permitido consultar o que posso consumir??
Caro Pedro Coimbra
Penso da mesma forma.
Os meus cumprimentos
A ler este artigo no quarto 17.
Delicioso.
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