Restos de Colecção: "Riviera Palace" e "Casino Central" em Cascais

19 de maio de 2024

"Riviera Palace" e "Casino Central" em Cascais

O casino-restuarant "Riviera Palace", da Vila de Cascais, abriu a sua primeira fase a 15 de Agosto de 1918, apenas com o restaurant no piso térreo. Posteriormente, inauguraria os espectáculos de variedades e seus salões, no 1º piso, em 6 de Setembro seguinte. Era seu proprietário o advogado Dr. Herlander Ribeiro, que, para tal, tinha adquirido o velho palácio do Conde da Guarda, junto ao edifício da "Câmara Municipal de Cascais".


Palácio do Conde da Guarda após a saída do "Riviera Palace"


6 de Setembro de 1918

«Embora se desconheça a data da construção do Palácio, sabe-se que foi na década de 1790 que a sua proprietária, D. Inês Margarida, o mandou reconstruir após o terramoto de 1755.
Em 1807, durante as invasões francesas, o palácio foi ocupado pelo Almirante Cotton (o coronel-general Junot ficou instalado no Solar dos Falcões).
Após a morte da proprietária em 1812, o Palácio foi adquirido pelo então presidente da Câmara João Lopes Calheiros e Meneses para sua residência.
Só em 1860 o filho, herdeiro da casa, recebeu o título de Conde da Guarda, data a partir da qual passou a ser conhecida como Palácio dos Condes da Guarda.
Após a morte do 2º Conde da Guarda o advogado Herlander Ribeiro adquiriu o Palácio e logo escreve ao Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal (07 de Maio de 1918) pedindo autorização para “(…) deitar abaixo uns tabiques interiores e modificar o telhado para ficar tudo num só nivelamento(…)”. Solicitou ainda que os vários serviços da Câmara ali instalados gratuitamente abandonassem as instalações.
Foi nestas obras que o 3º piso foi demolido, desmontando o painel central de azulejos que representavam Santa Bárbara e São Francisco de Borba. O edifício ficou somente com 2 pisos, como atualmente.
Uns dias antes, em 21 de Abril de 1918, tinha sido colocado um anúncio no jornal “O Século” anunciando a venda daquele painel de azulejos.
Estas obras visaram a adaptação do edifício a um grande hotel, casino, casa de banhos salgados e de água natural, restaurante e outras diversões.
E assim se instala aqui o Casino Riviera-Palace que não teve vida longa… Os Paços do Concelho só viriam para aqui em 1932.» in: "Histórias da História de Cascais"

Na época dos Condes da Guarda, o palácio era constituído por três corpos, revestidos a azulejos, possuindo o central mais um piso, que mantinha o revestimento azulejar. Segundo um artigo, publicado no final do século XIX, no jornal "Costa do Sol", a casa, ainda na posse dos Condes da Guarda, servia de alojamento a vacas, a venda de leite e outros produtos da quinta dos proprietários.


Palácio do Conde da Guarda na sua versão original

Antes de mais, lembro que, a designação casino, que não possuía o mesmo sentido actual, aplicando-se então aos estabelecimentos de âmbito recreativo e privado, nos quais, entre as muitas actividades de lazer que se podiam realizar, tais como leitura, organização de bailes, concertos, espectáculos de variedades, casamentos, jantares, etc., e onde também se jogava.

Num extenso artigo/guia que o jornal "A Capital" publicou no dia 2 de Agosto de 1918, intitulado "De Algés a Cascaes", acerca do "Riviera Palace" (a inaugurar), referia:

«Aproxima-se o momento em que o Riviera Palace ha de manifestar os seus magnificos salões e dominar em Cascaes com a soberania da sua arte e elegancia. Não podemos deixar de lhe consagrar uma notícia e de o visitarmos - visita de que guardamos as mais gratas impressões.
Alem de tudo já estão concluídas as obras para adaptação do palacio do conde da Guarda, hoje propriedade do sr. dr. Herlander Ribeiro - diz-nos o nosso cicerone - para o casino que aqui se abrirá ainda este anno e que apresentará um elegante restaurant nos baixos conservando o estylo portuguez e as salas do 1º andar, tres vastos salões para concertos e diversos jogos, entre elles alguns completamente novos em Portugal. Nos andares superiores, está, como vê, o hotel com 90 magníficos quartos e na parte de traz um balneario com dez cabines para banhos communs e salgados, quesntes e frios.
Para serviço de hospedes haverá dento do edificio estação telegraphica postal e posto telephonico, assim como um elevador ligará os andares.
Este anno, em 15 de Agosto deve inaugurar-se o restaurant que está a cargo do acreditado estabelecimento de Lisboa e o casino dirigido por um dos proprietarios do um dos mais notaveis casinos do estrangeiro, havendo um apreciado quintetto no salão de concertos e outro no salão de jantar onde serão executadas as mais inspiradas joias da musicographia classica e moderna, assim como se farão ouvir as maiores celebridades nacionaes e estrangeiras.
O projecto do grande edificio é de um distincto architecto.
O nosso informar calou-se. Puzemo-nos a cogitar, enquanto os nossos olhos percorriam velozes aquellas maravilhas. Cascaes, pois, fica com o primeiro estabelecimento do genero em Portugal e constituirá um explendido ponto de reunião de portuguzes e estrangeiros durante o inverno.
Soubemos ainda que a illuminação será electrica, fornecida por motor proprio e a condução dos hóspedes far-se-ha commodamente em dois grandes automoveis, de Lisboa, directamente das gares e pontos de vapores.
Ao terminarmos estas despretenciosas linhas, não queremos deixar de frisar que, dispondo este nosso bello paiz de pedaços de terreno, como este que a iniciativa particular tanto completou pois, o turismo nada deve aos governos é pena que os nossos homens politicos tudo sacrifiquem aos seus odios pessoaes e politicos e esqueçam que este nosso bello clima antes convida á paz, á ordem e ao trabalho.»


                                   13 de Setembro de 1918                                                      2 de Outubro de 1918

No final, o hotel não foi "para a frente", e apenas funcionariam o restaurante e casino "Riviera Palace", mas sem o sucesso pretendido e encerraria no ano seguinte. 

Entre 1920 e 1925, o palácio já era propriedade da "União Comercial de Cascais" e o piso térreo ocupado por vários estabelecimentos comerciais. A 11 de Agosto de 1930, cinco anos após a primeira intenção de compra, era aprovada em sessão de Câmara a compra do palácio por 380.000$00, apesar do valor inicial pretendido pelos proprietários ser de 650.000$00.


Palácio, à esquerda, já com as tabuletas da "União Comercial de Cascais". Ao fundo edifício da Câmara (com os sinos)


1930



*****   "Casino Central"   *****

O "Casino Central", foi inaugurado na Rua Visconde da Luz, nº 41, em Cascais, no dia 11 de Agosto de 1899, onde «foi servido um magnifico jantar. Durante o jantar tocou um magnifico sextetto dirigido pelo distincto musico, o sr. Carlos Pone. Este sextetto continuará rocando alli todas as quintas feiras e domingos.»


Jardim e Rua Visconde da Luz (a subir e de frente na foto). Foto entre 1890 e 1900


12 de Agosto de 1899


14 de Agosto de 1899

Mas, já em 16 de Outubro de 1894 ... «um descaramento inaudito»


O "Casino Central" ficava no nº 41, na correnteza dos prédios da Rua Visconde da Luz de frente para o jardim, (rua de frente na foto e a subir) como mostram as fotos publicadas de entre 1890 e 1900.  Talvez no prédio com os andaimes ... que se podem ver nesta foto, repetindo a sua publicação.


Em 14 de Agosto seguinte o jornal "A Folha de Lisboa" noticiava:

«Inaugurou-se a semana passada, em Cascaes, na Rua do Visconde da Luz nº 41 este magnifico casino de que são proprietarios dois honestos e honrados cavalheiros, que se mostraram incançaveis para dotar aquella magnifica cidadella com um estabelecimento em tudo digno d'ella.
O Casino Central é uma das casas mais encantadoras que temos visto, encontrando se alli o util aliado ao agradavel.
Vastissimo, salas ricamente mobiladas, e com todos os requintes indispensáveia á vida: deslumbrante mobiliario; formosos aparadores; estofos magnificos; espelhos do mais fino crystal de Veneza se encontram ali em profusão.
A sala de bilhar é deslumbrante, bem como deslumbrante é tambem o restaurant, a cargo de um dos mais habeis cosinheiros de Lisboa, como é o sr. Jeronymo Barroso.
No Casino Central ha todos os dias jantares de mesa redonda, opiparamente servidos por 800 réis, incluindo vinho e café, o que torna mais recommendavel ainda tão bello edificio.»


1900


10 de Agosto de 1901

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