O "Salão Neuparth", propriedade do professor de música Erdamnn (Eduardo) Neuparth (1784-1871), abriu pela primeira vez as suas portas na Rua Nova do Carmo, em Lisboa, em 14 de Fevereiro de 1824, começando por vender instrumentos musicais e partituras de música impressas. A partir de 1854 estabeleceria a sua loja definitiva, na Rua Nova do Almada, 97-99.
Erdmann (Eduardo) Neuparth (1784-1871)
Eduardo Neuparth, natural de Poelwitz (principado de Reuss-Greiz, Voigtland - Alemanha), músico de profissão, de certo modo infeliz e aventureiro, serviu na banda das hostes de Napoelão, assistiu a dezenas de batalhas e assistiu às derrotas dos franceses, e em 1814 ofereceu-se para chefe da banda do "4 de Infantaria", de Portugal, que estava em Tolosa (Alentejo). Veio para Lisboa, tocou no "Theatro da Rua dos Condes" e o "Real Theatro de S. Carlos"; foi mestre da banda da Casa Real no Rio de Janeiro, onde em 1817 se associou com Valentim Ziegler, músico da real câmara, que tinha um estabelecimento de venda de instrumentos, e casou com a filha do consócio. Viria a fundar, em 1834, o "Monte-Pio Phiilarmonico".
15 de Setembro de 1849
Em 1821, Eduardo Neuparth regressa a Lisboa com D. João VI, e três anos depois estabeleceu-se no mesmo ramo na Rua Nova do Carmo, 23. O sócio morreu, a mulher também, mas voltaria a casar com D. Margarida Bohemier, e transfere a sua casa de instrumentos e músicas para o nº 47 da Rua Nova do Almada, uma sobreloja. Já era nascido seu filho, Augusto Neuparth (1830-1887), que viria a ser professor e secretário do "Conservatorio Real de Lisboa" e professor da "Real Academia dos Amadores de Musica", e o «mais extraordinario tocador de fagotte». Segundo Ernesto Vieira, foi Augusto Neuparth quem pela primeira vez tocou saxofone em Portugal.
Em Junho de 1854, Eduardo Neuparth transfere, de novo, para uma loja/armazém defronte onde permaneceria em definitivo, e a que chamará de "Salão Neuparth", tendo-se tornado num centro de cultura e música. Com o agravar da sua doença de olhos de que sempre tinha sofrido, deixou de exercer a arte e em 1859 entregou a direcção do estabelecimento a seu filho Augusto Neuparth.
Em 1863 o "Salão Neuparth" fazia-se anunciar na Rua Nova do Almada, 97-99 como «armazem de musica e instrumentos; Cordas de tripa e bordões para todos os instrumentos, rebecas, violetas, violoncelos, contrabaixos, violetas francesas e todos os pertences para os mesmos instrumentos. Pianos. Musica, flautins, flautas, clarinetes, saxhorns em todos os tons, cornetins, trompas, cornetas, trombones, figles, bombos, pratos, etc; aceita encomendas para a província; afina e constrói instrumentos; recebe dos melhores fabricantes de França e Alemanha; edições de música para todos os instrumentos».
Em Junho de 1854, Eduardo Neuparth transfere, de novo, para uma loja/armazém defronte onde permaneceria em definitivo, e a que chamará de "Salão Neuparth", tendo-se tornado num centro de cultura e música. Com o agravar da sua doença de olhos de que sempre tinha sofrido, deixou de exercer a arte e em 1859 entregou a direcção do estabelecimento a seu filho Augusto Neuparth.
Augusto Neuparth (1830-1887)
1863
1874
1882
1885
Com o falecimento do professor Augusto Neuparth, sucede-lhe no "Salão Neuparth" seu filho, Julio Candido Neuparth (1863-1919), que foi professor de harmonia no "Conservatório Real de Lisboa" e crítico no "Diario de Noticias", tendo-se associado a Ricardo Felgueiras, empregado da casa, dando origem à firma "Neuparth & C.ª". A esta firma sucederia a "Neuparth & Carneiro".
Julio Neuparth (1863-1919)
1893
Sucursal no Porto e publicidade à "Amphion" em anúncio de 1894
Numa entrevista ao jornal "Diario de Lisbôa" em 31 de Maio de 1948, Manuel Paz funcionário do "Salão Neuparth" desde 1886, relatava:
«Com tais antepassados na gerência comercial, professores e diletantes se explica que o "Salão Neuparth" já fosse em 1886, um paradouro de musicos, de amadores distintos, de artistas. Nesse tempo, e ainda anos depois, havia mais amadores de boa musica e apaixonados do que há hoje. Por motivos que escapam ao meu descernimento, apagou-se um pouco a chama dos amadores executantes. Isto chegou a ser quase uma sucursal do S. Carlos ...»
Em 1901 o "Salão Neuparth" é alvo de uma remodelação e com ela desaparace um teatrinho, pintado por Alfredo Keil que existia no fundo da loja. Ali tocaram ou cantaram o maestro Arbós, o professor Alexandre Rey Colaço o seu fado, o guitarrista-concertista Julio Silva, Emilio Cabello, Angela Penchi, o viola rabel, Julio Camara, etc.
Factura de 29 de Outubro de 1894
1895
Postal enviado em 12 de Abril de 1908 (frente e verso)
Anúncio publicitário de 5 de Dezembro de 1909
De referir que foi no "Salão Neuparth" que Alfredo Cristiano Keil (1850-1907) compôs a canção de cariz patriótico "A Portuguesa", em 1890, com versos de Henrique Lopes de Mendonça, e que viria a transformar-se no hino nacional em 19 de Junho de 1911. Este compositor de ascendência alemã e português de gema, já editara na Neuparth, além da sua "Souvenir de Vienne" e o "Carnaval", a "Donna Bianca" (1888), opera cantada em 1888, no "Real Theatro Nacional de S. Carlos". Na mesma entrevista de 31 de Maio de 1948, Manuel Paz recordava:
«(...) - E então um disse: e se tu ó Keil, fizesses um hino? Olhe ... Estava aqui um piano, neste sitio, onde agora desce a escadaria nova. Foi aqui, precisamente aqui. Estou a ver o sr. Keil, com a sua barbinha muito elegante. Tinha para aí 34 ou 35 anos (com efeito o pintor e compositor nascera em 1854). Sentou-se, pensou um pedaço, trauteou e escreveu. Coisa de um quarto de hora. Depois foi a instrumentar, parece-me que por Ernesto Vieira, que ensinara harmonia e instrumentação ao sr. Keil.»
Num artigo acerca de estabelecimentos comerciais na Baixa de Lisboa, em Agosto de 1916, o jornal "A Capital" relatava:
«No predio 103, antes da viuva do tintureiro Francisco Alves, sogra de Alves Correia, esteve a luveira Cisneiros. Presentemente, além d'outras, encontra-se ali a Casa Neuparth, que é muito antiga. É um grande, um opulento armazem de pianos e musicas, cujos archivos são enormes. As edições de musica pertencentes ao Canccioneiro Popular portuguez, feitos pela casa Neuparth, são notaveis e representam um grande serviço prestado ao Folk-lore portuguez. A Casa Neuparth é ainda representante de varias casas fabricantes de instrumentos musicos, sendo as marcas que ella tem lançado no nosso mercado das de mais solida representação no estrangeiro. Musico illustre, um dos socios da Casa, o sr. Julio Neuparth, tem prestado á sua arte relevantes serviços, resentindo-se a sua casa da sua influencia intelligente e do seu apurado gosto artistico.»
Em 1923, o "Salão Neuparth" é trespassado ao senhor Valentim de Carvalho, (antigo empregado de Neuparth até 1914), que desde 1914 estava estabelecido numa loja na Rua da Assunção, 37 - "Casa Valentim de Carvalho" - e altera-lhe a designação social para "Valentim de Carvalho/Salão Neuparth", comercializando instrumentos musicais, gramofones e pautas de música. Cinco anos depois, em 1928, promove profundas obras de remodelação exteriores e interiores, segundo orientação e projecto do arquitecto Raúl Lino (1879-1974).
"Casa Valentim de Carvalho", ainda só na Rua da Assunção
Interiores já remodelados, em 1928
1927
1 de Abril de 1928
Postal enviado em 22 de Maio de 1928
Já como "Estabelecimentos Valentim de Carvalho, Lda.", e ocupando a cave, loja, 1º e 3º andares a antiga "Valentim de Carvalho/Salão Neuparth" sofreria, em 1947, profundas obras de remodelação, exteriores e interiores.
1947
Acerca do percurso histórico e ilustrado dos "Estabelecimentos Valentim de Carvalho" consultar, neste blog o seguinte link: "Estabelecimentos Valentim de Carvalho".
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Ephemera
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Ephemera
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