Restos de Colecção: Casino "Eden de Santo Amaro"

2 de outubro de 2019

Casino "Eden de Santo Amaro"

O Casino "Eden de Santo Amaro", propriedade de Álvaro dos Santos, João Duarte e José Neves Leal, e que esteve localizado em Santo Amaro de Oeiras, frente à praia, teve a sua origem no Balneário "Eden de Santo Amaro", que abriu pela primeira vez em 13 de Setembro de 1914, tendo aberto o Casino em 26 de Setembro do mesmo ano. Lembro que o conceito de Casino, nesta época, nada tinha a ver com jogo, como viria a proliferar nos anos 20 do século XX. A seu lado ficava a "Quinta do Barracão", propriedade de Luís de Albuquerque d'Orey.


"Eden de Santo Amaro" e "Quinta do Barracão" à direita no postal


                                  13 de Setembro de 1914                                                           26 de Setembro de 1914


O "Eden de Santo Amaro", promovia além de serviço de restaurante e chás elegantes, matinés-concerto e à noite concertos de música e variedades, e bailes com «um magnifico sexteto», contando com as imprescindíveis actuações de bailarinas. A partir de 1916, passa a oferecer sessões de cinema (ainda mudo) - "Eden Cine" - acontecendo «às quintas-feiras sabbados e domingos magnificos espectaculos cinematographicos».

2 de Outubro de 1916


"Eden de Santo Amaro" e "Quinta do Barracão" à direita na foto


9 de Agosto de 1918


Em 26 de Agosto de 1918 o jornal "A Capital" escrevia:

«O Casino é sumptuoso, nada lhe faltando do que impõe estas casas de especial natureza, condemnadas ao abandono durante o inverno, por isso mesmo mais queridas quando abrem os seus salões ás festas de epocha balnear.
Dirigido pelo sr. Julio Galvão, um technico competentissimo no assumpto, é o Eden de Santo Amaro propriedade dos srs. Alvaro dos Santos, João Duarte e José Neves Leal, três apaixonados cultores das bellezas d'esta praia, que vão dotar para o anno com um vasto e modelar hotel, sempre seguindo a sua norma de proporcionar aos frequentadores do Santo Amaro as maiores commodidades e distracções.
Possue o casino um soberbo balneario com banhos doces e salgados, quentes e frios, de "douche", de chuveiro e de agulheta, optimo para os exigentes em assumptos de hydrotherapia, sendo a sua sala de jantar o "terrasse" verdadeiras obras primas architectonicas pela decoração e priviligiada situação, panoramica que disfructam.
Ali, ainda, n'um bello e amplo palco que será inaugurado nos primeiros dias d'este mez, vae a empreza do Eden de Santo Amaro transformar de vez o soberbo edificio n'um casino ideal, tendo contractado uma companhia lyrica portugueza, composta de artistas consagrados, que cantarão ainda n'esta epocha, com scenarios e fatos proprios, as melhores operas do reportorio moderno.»

2 de Outubro de 1918


1 de Novembro de 1926


«Além do lazer derivado do Casino e das práticas de saúde de feição marítima, um Diccionario Chorographico publicado a partir de 1929 desvenda que, ao edifício principal, se somavam dois anexos: o restaurante e o balneário. Sobre o último destaca-se que “na linha de Cascaes é este o único balneário ou estabelecimento hidroterapico onde se encontram banhos salgados, quentes ou frios. Além d’esses, ministra-se toda a sorte de banhos: douches, escoceses, doces, de imersão, chuveiro, agulheta, emfim, todas as aplicações, em que a medicina ache útil o emprego da agua.” Diversificada era, assim, a oferta de serviços facultada à clientela do Eden que, em 1935, tinha como gerente e proprietário o senhor Aires Gameiro Júnior.



Centremo-nos, por ora, nesse Verão de 1935, escutando ao longe as notas de Jazz saltitando entre o restaurante e o bar (cujos serviços eram assegurados pela Pastelaria Garret do Chiado) e a folia das festas que, anunciava-se, “a exemplo dos anos anteriores, se revestirão do maior  brilhantismo.”10 Impressões de uma década marcada pela crise mundial, pelo alicerçar da ditadura civil em Portugal e pela crescente defesa de valores culturais e artísticos nacionais, no mesmo periódico de tiragem nacional encontram-se outros dois eventos decorridos no Eden de Santo Amaro. Em Agosto de 1935 aborda-se o sarau que teria lugar no dia 17 e cujo programa integrava algumas das maiores vedetas do show-bizz coevo, tais como o agrupamento Canção Regional Portuguesa, a actriz e cantora Maria do Céu Foz (interpretando um trecho de Madame Butterfly, de Pucini), a ante-estreia de números de nova revista a apresentar no Teatro Variedades (musicada pelo Maestro Raul Portela), entre outros. Os trajos eram cedidos pelo Guarda-Roupa Paiva, as entradas custavam 10$00 por pessoa e o produto final seria entregue à Colónia Balnear Infantil de O Século, em São Pedro do Estoril.

17 de Agosto de 1935



Quatro anos mais tarde, o mesmo periódico reporta no Eden a realização de uma verbena de caridade em prol da Mocidade Portuguesa Feminina, dos Bombeiros Voluntários e da Liga dos Combatentes de Oeiras. Organizada por uma comissão de senhoras residentes,a iniciativa prolongar-se-ia entre os dias 2 e 10 de Setembro, incluindo a diversão barracas de tômbolas, serviço de chá, entre outros, e sendo o apoio facultado por raparigas que envergavam trajes regionais.» texto de Cristina Carvalho in: "O Casino Eden de Santo Amaro nas Décadas de 1920 e 1930"

Beldade com o “Eden de Santo Amaro” e “Quinta do Barracão” em fundo em foto de 1962



O edifício do "Eden de Santo Amaro" assim como o da "Quinta do Barracão", viriam a ser demolidos no início da década de 70 após a construção nas suas traseiras do complexo habitacional "Parque Oceano".


"Parque Oceano" em construção


Depois de finalizada a construção e após as demolições do "Eden de Santo Amaro” e da “Quinta do Barracão”


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