Restos de Colecção: Banco Colonial Português

25 de fevereiro de 2024

Banco Colonial Português

O "Banco Colonial Português" foi constituído por escritura celebrada a 7 de Agosto de 1918. Foram seus fundadores Cândido Sotto Mayor, Jaime Antunes dos Santos, Joaquim dos Santos Lima, António da Costa Correia Leite (filho) e António Morais, que ficaram constituindo o conselho de administração. Ficou provisoriamente instalado na Rua do Almada, 53, em Lisboa, tendo inaugurado as suas novas instalações na Rua do Ouro, 175-191 em 15 de Setembro de 1919.


Edifício do "Banco Colonial Portuguez" na Rua Aurea


1919

O nome Sotto Mayor já estava ligado ao mercado bancário, desde 1914, ano em que foi fundada a casa bancária "Pinto & Sotto Mayor - Banqueiros", fundada em 30 de Julho de 1914 por Cândido Sotto Mayor Junior (23 anos de idade) e António Vieira Pinto (26 anos de idade)., que, e segundo o jornal "A Capital", em 1916 ... «Esta firma, que ha largos annos gosa de um consolidado crédito em todo o Brazil, viu rapidamente desenvolvidas, na sua filial em Lisboa, todas as operações bancarias, tendo correspondentes em todo o paiz e no estrangeiro. As suas relações de grande vulto no Brazil valoram-lhe esse rápido sucesso em dois annos apenas de existencia.»


"Pinto & Sotto Mayor - Banqueiros"


1925

Cândido Narciso da Cunha Sotto Mayor (1852-1935), nascido em Chaves em 26 de Outubro de 1852,  começou a trabalhar como empregado de balcão. Aos dezoito anos rumou ao Brasil, onde vivia o seu tio, Joaquim Sotto Mayor, comerciante de fazendas. Treze anos depois fundava a financeira "Sotto Maior & C.ª" , que em pouco tempo se tornou a maior casa do género no Brasil. Lá s fundou as seguinte empresas: "Companhia Nacional de Porcelanas", "Companhia Corcovado", "Companhia Maria Candida", "Costa Pacheco & C.ª" e a "Araújo Costa & C.ª". No ramo financeiro o "Banco Portuguez do Brasil". Viria a fazer uma grande fortuna, por lá e mais tarde em Portugal, onde estabeleceria as bases de um dos maiores grupos económicos do país. Fundou, em 28 de Fevereiro de 1917, com António da Costa Correia Leite, Álvaro dos Santos Lima, Elysio do Rego Barreto, entre outros, a "Companhia de Seguros Luso-Brasileira Sagres, S.A.R.L.". Faleceu, em 29 de Outubro de 1935, já viúvo, deixando um filho advogado em Lisboa, e uma filha que vivia casada no Porto.


Cândido Sotto Mayor (1852-1935)

Palácio Sotto Mayor, na Avenida Fontes Pereira de Melo em Lisboa

Era propriedade desta companhia de seguros "Sagres", o edifício onde se instalou o "Banco Colonial Português". O edifício tinha sido adquirido a João Teófilo da Costa, pela "Sagres" em 1917. Foi alterado todo o seu interior, de modo a receber escritórios, assim como o seu pé direito alterado para 3 mts. As lojas foram igualmente alteradas, assim como  as águas furtadas foram transformadas em mansardas. A fachada do edifício foi completamente modificada, toda feita de novo e acrescentado um 4º piso. Nas lojas deste edifício tinha funcionado, até então, o conhecido "Café Aurea Peninsular". A "Companhia de Seguros Luso-Brasileira Sagres, S.A.R.L." manteria a sua sede neste edifício no 2º andar.


"Café Aurea Peninsular"


Na revista "Illustração Portugueza" de 6 de Outubro de 1919

A propósito da inauguração da sede do "Banco Colonial Português" o jornal "A Vanguarda" noticiava:

«... Há largos mezes que ali se via um grande predio em obras. Essas obras concluiram-se, retiraram-se os andaimes, desapareceram os gigantescos tapumes e eis que surge á vista dos transeuntes um magnificente palacio, onde o sr. Candido Sotto Mayor, installou o Banco Colonial Portuguez, que se inaugurou com toda a solennidade, no meio de uma enormissima e distincta concorrencia, vendo-se tudo quanto de mais eminente existe na finança, no commercio, na industria, nas letras, no jornalismo, todos os amigos e admiradores d'esse homem, que é um verdadeiro patriota, com uma energia invulgarissima, dotado de um scintillante espirito, coração lhano, alma pura e aberta como cristal.»

Em 1919, as primeiras agências do "Banco Colonial Português" eram abertas em Luanda e Lourenço Marques. Em 1920, abriram a sucursal em Benguela, e nos anos seguintes, Inhambane, Ilha de Moçambique (Nampula), S. Vicente (Cabo Verde), S. Tomé, Funchal e Moçâmedes. Devido à ligação privilegiada com o setor agrícola ultramarino, em 1920 é membro fundador da "Companhia da África Ocidental Portuguesa"

24 de Dezembro de 1921

"Banco Colonial Português" tinha o capital inicial de 10.000 contos, subscrito na totalidade pela "Casa Bancária Pinto & Sotto Mayor". Pela escritura de 18 de julho de 1922, o pacto social é alterado e o capital aumentado para 20.000 contos. Segundo os seus estatutos, a instituição tinha por objeto social o fomento e o progresso económico em geral, e agrícola, em especial, tanto no continente como nas províncias ultramarinas. Este banco podia adquirir maquinismos, alfaias agrícolas para as alugar à s associações e sindicatos agrícolas e da pecuária, assim como a consignação do fornecimento de sementes, insecticidas, fungicidas, etc. Além, evidentemente, das operações bancárias normais como depósitos, câmbios, descontos de letras, empréstimos, etc.

22 de Dezembro de 1923

A crise cambial da década de 20 do século XX e as alterações surgidas no regime bancário e monetário em Moçambique, pela aplicação da Portaria nº 233, (entrega do exclusivo das operações cambiais do Estado ao "Banco Nacional Ultramarino"), assim como a diminuição das transferências das colónias para a metrópole, foram fatores que deixaram os resultados da instituição muito aquém das expectativas. Por consequência, em 11 de Agosto de 1924, o "Banco Colonial Português" foi objecto de alterações orgânicas, das quais resultou a fusão com o "Banco Nacional Agrícola" (fundado em 8 de Julho de 1920), dando origem ao "Banco Colonial e Agrícola Português". 


29 de Março de 1921

1924

1925

O "Banco Colonial e Agrícola Português", após a fusão verificada, reforçou o seu capital social para 45.000 contos e manteve a sede em Lisboa. Porém, esta fusão não teve o efeito dinamizador desejado e em 26 de Agosto de 1925 suspende pagamentos. Viria a ser nomeado um comissário do governo: António Henrique de Oliveira e Silva em 28 de Agosto do mesmo ano. Entretanto, e por escritura de 22 de Fevereiro de 1927, o capital social é reduzido para 11.250 contos. Por meio de concordata, e por sentença do Tribunal do Comércio de Lisboa, de 26 de Abril de 1928, a instituição é reconstituída sob a designação de "Banco da Agricultura". A sua sede fica instalada no edifício herdado do "Banco Nacional Agrícola", sito na Rua de S. Julião, 188 a 198, em Lisboa, deixando de pertencer ao grupo empresarial encabeçado pela família Sotto Mayor e do sócio António Vieira Pinto. 

Entretanto Cândido Sotto Mayor faleceu a 29 de Outubro de 1935, com 83 anos de idade. Como  referiu o Relatório e Contas de 1935 ... «no próprio dia da sua morte e poucas horas antes do seu falecimento tomou ainda conhecimento da posição das principais contas do Banco, podendo dizer-se com rigorosa exactidão que por ele se interessou e trabalhou até ao último dia da sua vida laboriosa e honrada vida».

Em 1954, em situação de falência, com a sua sede hipotecada à "Caixa Geral de Depósitos", com um único balcão, só um telefone para todo o edifício e com apenas 12 empregados, foi comprado por um conjunto de investidores ligados à agricultura e à "A Pátria - Sociedade Alentejana de Seguros", fundada em 27 de Novembro de 1915 e sediada em Évora.

Entretanto a, já renomeada em 1939, a "Companhia de Seguros Sagres, S.A.R.L.", com o fim do "Banco Colonial e Agrícola Português", passa a ocupar por inteiro o edfício da Rua do Ouro, 175-191, exceptuado as lojas. Estas viriam a alojar a "Altamira" (mobiliário e decorações), "Tito Cunha" (vestidos para moivas) e o "Café Tofa" da "Torrefacção de Cafés de Portugal, S.A.R.L.".


1931

Bibliografia:

- "Dicionário de História Empresarial Portuguesa (Séculos XIX e XX) - Volume I Instituições Bancárias - Coordenação Miguel Figueira de Faria e José Amado Mendes - INCM
- Banco de Portugal (site)

Sem comentários: