O "Grande Hotel de Inglaterra", situado na esquina da Rua Jardim do Regedor com a Rua do Príncipe (actual Rua 1º de Dezembro), e propriedade de Abel Barros, foi inaugurado em 15 de Abril de 1906. O edifício já existia e foi alvo de grandes obras para ser transformado em hotel.
"Grande Hotel de Inglaterra", em foto de 1933
Este hotel teve como primeiros hóspedes «dignos e illustres medicos estrangeiros que vieram a Lisboa por ocasião do congresso de medicina».
“Grande Hotel de Inglaterra” à esquerda na foto e o “Avenida Palace Hotel” à direita, em 1906
"Grande Hotel de Inglaterra" e "Avenida Palace Hotel"
1913
Frente para a Rua Jardim do Regedor
Abel Barros, já era proprietário, da “Pension Hotel” na rua da Glória, 3 a 19, em Lisboa, com 100 quartos, inaugurada em 26 de Abril de 1896, cujos hóspedes eram na sua maioria portugueses regressados do Brasil.
1902
“Pension Hotel” na Rua da Glória em 1910 (à direita na foto)
Aquando da sua abertura, o "Grande Hotel de Inglaterra" foi descrito num artigo do jornal "Vanguarda", de 5 de Agosto de 1906 e que passo a transcrever, quase na íntegra:
«No Grande hotel de Inglaterra casam-se perfeitamanete as condições de hygiene, de conforto e uma primorosa disposição de compartimentos, com uma sumptuosidade e um finissimo gosto artistico, que serviria a attestar o alto valor e profunda competencia do considerado e distincto artista que dirigiu as decorações, o nosso amigo sr. Augusto Pina, se o seu nome não estivesse de ha muito merecidamente consagrado.
Os seis andares do referido hotel são servidos de um excellente ascensor Stigler, montado, assim como a illuminação e campainhas electricas e telephones - que os ha em todos os seis pavimentos - pela casa Gottschalk.
O segundo é a installação principal do hotel, onde se acham a saleta e "bureau", sala de leitura, de visitas, pequenas salas de jantar e o grande salão onde pódem ser servidas 100 pessoas. As paredes e estofos da saleta, mobilada com simplicidade, são côr de rosa secca; o papel que lhe reveste as paredes e as de todas as salas, é o papel "Tekko", japonez, susceptivel de soffrer lavagens; os sobrados são cobertos de oleados inglezes - o que ha de melhor e os "carpettes" de muita novidade, vieram todos de Paris. Da saleta passa-se á sala de leitura estylo Imperio, côr geral verde. Entra-se em segunda sala de recepção, sumptuosa, Luis XV, branco e ouro.
Sahindo d'alli, passa-se por um corredor, que tem á direita os pequenos gabinetes de jantar, "modern style". São dois: um vermelho, outro verde e amarello. Estamos ao fundo do corredor que dá para o salão de jantar, em estylo Luis XVI com lindissimos "panneaux" do distincto pintor Antonio Baeta, decorações de Augusto Pinna e ornamentações esculpturaes vindas da casa Auberlet, de Paris, entre as quaes quatro elegntes cariatydes.
Tambem são de Baeta as pinturas do salão de recepção, d'um gosto raro e acabamento primorosissimo.
Tem o Grande Hotel de Inglaterra, uns oitenta e tantos quartos nos 1º, 2º, 3º, 4º e 5º andares, decorados assim: 1º e 3º, côr de grão e ouro; 4º, verde; 5º, salmão e ouro. As mobilias são todas eguaes e feitas na casa Reis & Franco. Compõe-se de cama á ingleza, "toilette-commoda-"bureau", guarda-fato, lavatorio e bancas de cabeceira, em carvalho do norte encerado.
Em todos os andares ha casas de banho com esquentadores para agua, "Watterclosets" e todas as commodidades usadas nos grandes estabelecimentos do genero.
Apresenta ainda uma inovação muito digna de referencia: tem as cosinhas no sexto e ultimo andar, que se communicam com a copa por meio de um elevador apropriado.
O pessoal do hotel empregado no serviço de porteiros, "chasseurs" interpretes são allemães, inglezes e francezes, pertencendo tambem a esta ultima nacionalidade a "caissiére", contractada expressamente pelo sr. Abel de Barros, cujo retrato hoje publicmos. O demais pessoal é portuguez, estando a gerencia da casa acargo do sr. Joaquim Costa, que esteve no "Aevnida Palace" e em varios hoteis parisienses.»
Factura de estadia em 2 e 3 de Junho de 1922
1933
E como é difícil haver negócio sem problemas ... em 4 de Novembro de 1935 no jorna "Diario de Lisbôa", era publicado a seguinte declaração:
A demolição do edifício, já devoluto, onde esteve instalado o "Grande Hotel de Inglaterra", e do edifício adjacente, onde estava instalado o “Café Suisso” na Praça Dom João da Câmara, foi decidida em Março de 1948. As demolições tiveram início em 7 de Fevereiro de 1952.
Após a demolição do “Grande Hotel de Inglaterra”, e edifício adjacente
Projecto do conjunto de edifícios que viriam a ser construídos
Após a conclusão do primeiro edifício. O segundo demorou muuuuitos anos a ser construído.
fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian
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