O negócio da joalharia na família Pinto da Cunha terá começado quando na década de 90 do século XIX, quando os primos António Pinto da Cunha, ambos com o mesmo nome e residentes em Lousada, rumaram ao Brasil, mais concretamente para a cidade de Belém, capital do Estado do Pará, fundado em 12 de Janeiro de 1616 como o povoado colonial português "Feliz Lusitânia" pelo capitão Francisco Caldeira Castelo Branco.
«De acordo com os registos de passaportes, o primeiro a viajar foi António Pinto da Cunha (1849-?) casado com Margarida Augusta Ribeiro de Sousa, que havia iniciado a sua vida profissional como carpinteiro. Desconhecemos as suas motivações, mas, no ano de 1899, fez duas viagens ao Pará, sendo identificado no passaporte como negociante. Seis anos mais tarde, no ano de 1905, António Pinto da Cunha (1856-1915), casado com Maria da Conceição Ribeiro de Sousa, já contando 49 anos de idade, viajou por duas vezes à região do Pará, desconhecendo-se se teria sido o seu primo quem suscitou as viagens. O facto de os dois terem o mesmo nome dificulta a compreensão de que negócios cada um terá tido no Brasil, pois todas as referências que encontramos nesse país mencionam o nome de António Pinto da Cunha, sem, naturalmente, indicar o nome da esposa, que poderia ser o elemento diferenciador.» (1)
Seria António Pinto da Cunha (1856-1915), casado com Maria da Conceição Ribeiro de Sousa, que geria os negócios da firma "J. M. Ferreira & C.ª" de Belém do Pará, desde a morte do seu fundador José Maria Ferreira Rodrigues em 1892. Esta firma além de vários ramos de negócio mantinha uma ourivesaria/joalharia, «Bazar de Joias», de prestígio: "Á la Ville de Paris".
No "Almanak Paraense de Administracão, Commercio, Industria e Estatística para o Anno de 1883"
«Se o capitalista António Pinto da Cunha (1856-1915), casado com Maria da Conceição Ribeiro de Sousa, não desenvolveu em Portugal o negócio de joalharia que incrementara no Brasil, poderá ter sido através dessa sua vertente comercial que esse comércio passou a outros membros da família. Seu primo António Pinto da Cunha e Margarida Augusta Ribeiro de Sousa foram progenitores de uma grande prole e o seu primogénito, Alfredo Pinto da Cunha, já natural de Torno, Lousada, onde nasceu em 20 de fevereiro de 1884, também viajou para o Brasil, pelo menos, no ano de 1930. Com 46 anos de idade, deslocou-se ao Rio de Janeiro. Porém, esta viagem não se realizou dentro de um processo de imigração. Desde 1911 que Alfredo Pinto da Cunha era um conceituado ourives, associado ao seu tio José Pinto da Cunha.» (1)
Ao snr. Pinto da Cunha desejamos todas as prosperidades de que é digno pelas suas grandes faculdades de trabalhador e pelo bom caracter.» in: "Jornal de Louzada" de 21 de Março de 1909.
Em 1924, Alfredo Pinto da Cunha (1884-1957) adquire a joalharia "Raúl Pereira e Cª Ltda.", localizada na Rua do Carmo em Lisboa, em sociedade com o seu irmão Gabriel Pinto da Cunha, passando a casa a designar-se de "Joalharia do Carmo". Em 1925, é registado o respetivo logótipo, que passou a integrar a decoração da fachada, desenho da autoria do arquiteto Manuel Norte Júnior. No interior mobiliário em mogno talhado, candeeiros em cristal Baccarat, paramentos revestidos por lambris de madeira a meia altura e expositores em madeira e vidro, seguindo os ambientes luxuosos que os Pinto da Cunha atribuíam aos seus estabelecimentos.
"Joalharia do Carmo" na Rua do Carmo em Lisboa
Pouco antes do início da II Grande Guerra Mundial (1939-1945), Jacinto dos Santos Machado (1913-2005) vai trabalhar para Alfredo Pinto da Cunha, na "Ourivesaria Cunha", e em 1954 já era sócio da firma. Jacinto Machado, natural de Massarelos, era o decano do comércio de prestígio da cidade do Porto. Iniciou a sua carreira aos 11 anos numa ourivesaria na Praça da Universidade, passou pela "Ourivesaria Moura", na Rua das Flores, e pela "Ferreira Marques" no Porto - que daria origem, em 1926, à "Joalheria Ferreira Marques", em Lisboa.
Jacinto dos Santos Machado (1913-2005)
E «Com a entrada de Jacinto Machado o negócio cresceu visivelmente, quer pela sua enorme carteira de clientes quer pelas modernas técnicas de comunicação. Pinto da Cunha, que já nessa época tinha uma noção avançada de relações-públicas, passou-se então a acompanhar por Jacinto Machado para todo o lado, incentivando-o a uma convivência com potenciais clientes. A ascensão social beneficiou desde logo o negócio, mercê das ligações que mantinham com a alta burguesia portuense. As constantes viagens pela Europa, de comboio, em especial a Paris, onde ia comprar directamente pedras preciosas e procurar inspiração para o desenho das suas peças, tinham feito de ambos, homens cosmopolitas e de gostos requintados. À morte de Pinto da Cunha em 1957, dá-se a transferência para a dinastia Machado. E a renovação da imagem da loja.
Em 1978, numa política de expansão da firma, dá-se a abertura da primeira loja com o nome Machado Joalheiro, um pouco mais abaixo da Ourivesaria Cunha, ainda na 31 de Janeiro. Dois anos mais tarde, a empresa celebra o seu centenário e convida para o evento, em que se mostrou peças extraordinárias, os seus principais clientes. Nas décadas seguintes, Machado Joalheiro firma o seu estatuto dinamizador e inaugura uma nova loja no novo pólo do comércio de luxo da cidade e a sua histórica loja na Rua 31 de Janeiro é classificada, por despacho governamental, como Imóvel de Interesse Publico, procurando assim preservar na modernidade, a tradição.
(...) Machado Joalheiro continuou a sua política de expansão e inaugurou em 2008 a sua primeira loja em Lisboa, na Avenida da Liberdade, dando mais um passo na estratégia de modernização e crescimento que vem sendo realizada.» in. Machado Joalheiro» in: Machado Joalheiro (história)
Na maior parte do espaço anteriormente ocupado pela "Ourivesaria Cunha" situa-se, hoje, a "Confeitaria Serrana", com entrada pelo n.º 52. Apesar de muito deteriorados, é ainda possível observar-se parte dos interiores originais e as colunas da frontaria. No n.º 46 encontra-se a "Casa Arcozelo", de menor dimensão e com menos vestígios da ourivesaria original. Porém, aí, ainda se percebe parte das escadas que davam acesso à mezzanine.
(1) Bibliografia: "A família Pinto da Cunha" - Rosa Maria dos Santos Mota - CITAR/UCP - Centro de Investigação em Tecnologia das Artes, Universidade Católica Portuguesa.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Delcampe.net, Arquivo Municipal do Porto, Garfadas on line, Machado Joalheiro, Biblioteca Nacional Digital do Brasil
Sem comentários:
Enviar um comentário