Restos de Colecção: Colégio de Portugal

29 de outubro de 2023

Colégio de Portugal

O "Colégio de Portugal" foi fundado em 1922, na Travessa de André Valente, nº 7 em Lisboa, por «três jovens professores que às coisas do ensino se vinham dedicando desde os seus tempos de Universidade»: Dr. Artur de Sousa Carvalho, Dr. Cipriano Nunes Barata e Dr. José d'Almeida Correia. Este Colégio conseguiu, num curto espaço de tempo, tornar-se num dos estabelecimentos de ensino particular mais completos e melhor organizados do país.




"Colégio de Portugal", ainda na Travessa de André Valente, em 23 de Dezembro de 1922

Pelo que, num artigo publicado na revista "Ilustração Portuguesa", de 16 de Março de 1926, era referido: «Para poder, no próximo ano escolar, aumentar o número de alunos internos, visto os pedidos das familias continuarem a a exceder a lotação da casa, e para organizar o regime das classes infantis em condições inteiramente adequadas ás suas necessidades e capacidade, a Direcção resolveu adquirir, na formosíssima povoação de Linda-a Pastora, a 20 minutos da estação da Cruz Quebrada, na linha férrea de Cascais, uma espaçosa quinta, com vastos jardins, campos de recreio, pomares, terras de semeadura, na qual existem dois magnificos prédios, onde funcionarão as três classes de Instrução Primária: Classe Infantil, Classe de Instrução Primária e Classe de Admissão aos Liceus.»


Vista aérea do "Colégio de Portugal" e do "Aquário Vasco da Gama" inaugurado em 20 de Maio de 1898


Algés e Dafundo e a área ocupada pelo "Colégio de Portugal" (dentro da elipse desenhada)


Estação de caminhos de ferro da Cruz Quebrada em 1889, e por volta de 1900 (foto seguinte)


Desviando-me um pouco, aqui fica a referência à publicidade na Estação à casa "Cycledor" de José Diogo d'Orey e Emílio Segurado ...


28 de Setembro de 1897


1 de Novembro de 1926

E as aspirações da Direcção deste Colégio iam mais longe ... «Como a quinta se presta ás varias espécies de cultura agricola e possui instalações para animais domésticos, tais como vacas de leite, porcos, coelhos, galinhas, etc., a Direcção do Colégio pensa também em criar uma Secção de Ensino Elementar de Agricultura, de cujo programa estão já encarregados dois distintos engenheiros agrónomos, diplomados um pelo Instituto de Agronomia, outro pela Universidade de Louvain.
Por esta forma o Colégio de Portugal vai ao encontro da aspiração de muitas familias e da conveniência de descongestionar as chamadas profissões liberais, desviando parte da mocidade estudiosa para a cultura da terra e procurando despertar o interêsse pela instrução agricola.»


24 de Setembro de 1927

Em Setembro de 1927, a Direcção deste Colégio estava entregue ao Dr. Artur de Sousa Carvalho, assistente e naturalista da Faculdade de Ciências de Lisboa, e ao Dr. Manuel de Sousa Peres, Presbítero e professor.


4 de Outubro de 1929

A quinta a que se refere o texto, era o "Palácio Castello Melhor" (do Marquês de Castello Melhor D. João de Vasconcellos) - antigo "Forte S. José de Ribamar" , «que Dom António Luís de Meneses, conde de Cantanhede e, depois, marquês de Marialva, então governador das Armas de Cascais, mandou construir em 1649, no quadro da defesa do estuário do Tejo.  Degradada e sem interesse militar, a fortificação já se encontrava, em 1802, transformada em habitação. E é nesta situação que a Casa Castelo Melhor adquiriu o imóvel, para, sobre ele, mandar edificar, cerca de 1825, o seu palácio de Verão. Ainda na posse dos marqueses de Castelo Melhor, aqui funcionou o Grande Casino Lusitano, pelo menos na segunda década do século XX, até que, cerca de 1922, veio a acolher o Colégio de Portugal. Antes da sua demolição, que ocorreu ao começo da década de 50, ainda serviu de posto da Guarda Nacional Republicana. Com tal passado secular, melhor sorte e cuidado merecia este elemento patrimonial... o colégio. 


Já em estado de abandono, em foto de Junho de 1951

Por outro lado ... «Se considerarmos o relato de Branca de Gonta Colaço e de Maria Archer, na sua obra de 1943, facilmente cremos ter ocorrido somente nos últimos anos da centúria de oitocentos a construção dos primeiros chalets de veraneio no Dafundo. Segundo as autoras, em 1893, o sítio era quási deserto; para além-hortas e do areal, havia duas casas de pasto, o Palácio Castelo Melhor e a quinta da família Palha. Se o primeiro, construído em 1825, contíguo ao palácio dos Palha, foi demolido na década de 1950; no outro encontra-se actualmente instalado o Instituto Espanhol. Assegura D. José Coutinho de Lencastre que no ano de 1968, na casa da família Palha, veraneou El-Rei D. Fernando que, na companhia de sua segunda mulher, a condessa d'Edla, ali apreciaram a estação Balnear.» in: "Encontros de História e Património - Diálogos em Noites de Verão 2006-2007"


22 de Agosto de 1897


18 de Agosto de 1910

Em 30 de Agosto de 1910 o jornal "Diario Illustrado", num pequeno apontamento, noticiava:
«Foi ante-hontem um verdadeiro dia de festa n'este esplendido Casino no Dafundo. Durante a noite dançou-se animadamente, vendo-se no elegante salão tudo quanto ha de mais distincto na nossa sociedade.
Bevemente realisar-se-ha alli um extraordinario "cotillon", sendo as marcas para esta festa escolhidas a capricho.»


30 de Maio de 1917


20 de Agosto de 1920

E a concorrência sempre presente, ali bem pertinho ...


6 de Março de 1917

«O Colégio de Portugal depressa se terá afirmado tanto pela qualidade das instalações e equipamento didáctico como pela sua orientação pedagógica e disciplinar. A sua divisa "Paulatim sed firmiter" (paulatinamente mas firmemente) terá ultrapassado o plano das intenções para se confirmar na prática. Tomar-se-ia numa casa de educação de prestígio. Os cursos ministrados abarcavam diversos níveis de ensino e grupos etários: infantil, instrução primária, liceu (completo), comercial, além de línguas vivas (prático). O seu corpo docente, como se regista em publicação de 1933 ("Manual de Informações" ), seria "recrutado entre os melhores professores e assistentes das Faculdades de Ciências e Letras".» in: artigo de Jorge Miranda "Jornal da Região" (2002)

Neste ano de 1933, o "Colégio de Portugal" era propriedade dos seus directores  Dr. Amaro Joaquim Monteiro, então, assistente de Física da Faculdade de Ciências de Lisboa, e o Dr. Carlos Monteiro Serra, ex-professor do Liceu e Seminário de Évora. 


20 de Setembro de 1933

Não consegui saber ao certo, mas o "Colégio de Portugal" terá encerrado, definitivamente antes do ano de 1940. Lembro que, em 1930, já existia um concorrente bem perto: o "Colegio de S. Jose de Ribamar", instalado no "Palácio Ribamar" onde tinha funcionado o "Casino de S. Jose de Ribamar", entre 1917 e 1928.


6 de Outubro de 1930

O edifício do "Colégio de Portugal" viria a ser demolido na década de 50 do século XX, e no seu lugar ...


Entretanto, praticamente com o mesmo nome, a partir de 20 de Maio de 1941 funcionaria na Parede, (no "Chalet Fiuza") o "Colégio Portugal", - ex- "Colégio Pedro Álvares Cabral" desde 1938 e ex- "Casino Oceano" - leccionando os 1.º; 2.º; e 3.º Ciclos do Ensino Básico. Tendo sido autorizado o Ensino Secundário em 23 de Fevereiro de 1948.


"Colégio Portugal" no "Chalet Fiuza", na Parede. Seria demolido (já como "Colégio Elias Garcia") na década de 80 do século XX

Mais recentemente, e também praticamente com o mesmo nome, existe actualmente no Paço do Lumiar, em Lisboa, o "Real Colégio de Portugal", fundado em 2015, bem perto (a 100 metros) de outro bem antigo e famoso: o "Colégio Manuel Bernardes", fundado pelo Padre Augusto Gomes Pinheiro em 6 de Novembro de 1935, e que frequentei entre 1972 e 1977.

fotos in: Hemeroteca Digital, A Gazeta de MirafloresArquivo Municipal de Lisboa

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