Restos de Colecção: Campanha do Trigo

5 de outubro de 2023

Campanha do Trigo

A "Campanha do Trigo" teve lugar entre 1929 e 1938, delineada pelo, então, Ministro da Agricultura Henrique Linhares de Lima, como resposta ao problema de abastecimento do país em trigo.

A sua implementação foi consequência do ambiente económico, social e político que se tinha criado na Europa no pós-guerra de 1914/18 e da preocupação sobre a autossuficiência e do abastecimento alimentar. Decorreram campanhas similares nesta mesma época, noutros países - a célebre "Bataglia del Grano" de Itália e em Espanha e na Grécia. Estabeleceu o incremento da produção cerealífera como uma iniciativa de fomento lançada em Portugal, para diminuir substancialmente a importação de trigo e restaurar financeiramente o país. As bases da Campanha do trigo foram aprovadas pelo Decreto nº 17.252 de 1929, estabeleciam uma Junta Central, Comissões distritais, Comissões municipais e Comissões de freguesia. Estações de cultura mecânica, Estação de ensaios de máquinas e da Escola prática de agricultura de Queluz.

 
"Comboio do Trigo" inserido na "Campanha do Trigo" 

«No âmbito da Campanha, em prol da cultura trigueira, a D.G. do Ensino e Fomento Agrícola do M.A., organizou em 1928 um comboio de exposição e propaganda dos mais avançados processos culturais, à semelhança do que noutros países se tinha feito.
O comboio do trigo iniciou a sua marcha em Agosto, partindo de Alcântara, onde esteve em exposição, e percorreu o Alentejo e o Ribatejo na época das ceifas e debulhas. Num dos vagões apresentavam-se sementes selecionadas, pequenas alfaias agrícolas e gráficos com os diferentes métodos culturais, enquanto no outro se expunham grandes alfaias, com ceifeiras, debulhadoras mecânicas, selecionadores de sementes que em algumas localidades, foi posto à disposição dos lavradores para selecionarem a semente que apresentassem (…)» in: "A propaganda em prol do protecionismo cerealífero" de José Machado Pais, et al., S.d.





«Em 1928, o peso da importação de trigo atingia 12% do total da balança comercial. Foi num contexto de elevado défice que decorreu a instauração do protecionismo do Estado, exercendo a sua dupla missão de estudo e propaganda.

Para tentar debelar a crise, o governo lançou mão de vários recursos que aplicou sucessivamente: a construção dos celeiros, a redução do preço do trigo, a restrição da cultura e a exportação. O preço do trigo foi reduzido em função duma “regra-limite” da produção. Os trigos seriam pagos ao preço da tabela oficial, até ao limite de 330.000.000 quilogramas. Por outro lado, era preciso evitar a redução da fertilidade das terras, a erosão e a delapidação do solo.

Foram concedidos aos agricultores subsídios de arroteia, facilidades para a aquisição e escolha de adubos e sementes, aluguer de máquinas, prémios e subsídios de cultura.


Elementos da "Campanha do Trigo"


Apresentação e demonstração do tractor "McCormick"



Locomotiva a vapor que impulsiona a engrenagem da debulhadora




A criação da Federação Nacional de Produtores de Trigo (FNPT) é apontada como um modelo de organização do género. Pelo D.L. n.º 26.276, de 27 de Janeiro de 1936, foi autorizada a vender trigo dos seus associados, para mercados externos. Foi um dos primeiros organismos corporativos da lavoura de carácter nacional e uma das consequências diretas da Campanha do Trigo.
A interligação da lavoura e da técnica conseguiu-se com a Campanha do trigo, pela intervenção das Brigadas técnicas que circulavam então pelas várias regiões do país. Reuniam com os agricultores, trocavam com eles impressões, respondiam a consultas, auxiliavam e esclareciam. Estabeleceu-se um contato mais estreito entre os agricultores e os técnicos, permitindo o conhecimento dos problemas da lavoura a resolver. Terminada a Campanha do trigo, estas brigadas subsistiram como órgãos ativos de assistência técnica junto dos agricultores, enquadrados na orgânica dos serviços agrícolas oficiais.» in: Galeria GPP (Julho 2021).


Feira de máquinas e alfaias agrícolas, nos finais dos anos 30 do século XX

3 comentários:

CR 35 disse...

Interessante esta parte da história

Gonçalo Alexandre disse...

Excelente artigo e resenha histórica acerca do trigo 🌾. Contudo falta a parte da transformação na EPAC- mas antes até da da própria Federação Nacional de Produtores de Trigo 🌾- anos subsequentes, assim como a construção de vários silos pelo país de norte a sul passando pelas ilhas pois existem vários desses silos e celeiros.

Faltam abordar pontos como a FNP, EPAC e toda uma autonomia muito grande, embora não de total independência, na produção cerealífera 🌾 🌽 trigo, milho, centeio, cevada, etc...!

José Leite disse...

Caro Gonçalo Alexandre

Grato pela sua crítica/sugestão.

Este artigo não pretendeu dar uma explanação exaustiva ou tanto completa como seria desejável, mas sim apenas um pequeno "apontamento" acerca deste evento.

Os meus cumprimentos