Restos de Colecção: dezembro 2025

3 de dezembro de 2025

Cabaret "Alster Pavillon"

O cabaret e tea-room-restaurant "Alster Pavillon" , abriu pela primeira vez em 22 de Março de 1924 na Rua do Ferragial, 36-40, em Lisboa. Seu nome tinha origem num célebre pavilhão de exposições em Hamburgo, em 1910. O "Alster Pavillion" autointitulava-se de cabaret.


O "Alster Pavillon" descrevia-se como: «(...) o mais lindo cabaret de Lisboa, é hoje o ponto de reunião obrigatorio de todos aqueles que arrancam da vida o maximo de alegria, de prazer e de entusiasmo. 
Os mumeros de variedades do Arster Pavition, que são verdadeiras trouvarties artisticas, animam os grandes bailes que ali se realisam com a musica vibrante dum esplendido jazz band.
A cerveja alemã que ali é servida, bate todas as outras pela sua fina qualidade e sabor.
O Alster Pavilion que tem uma grande afluencia de estrangeiros que o elogiem comparando-o com os mais bem decorados lá fora, esta sendo a casa de diversões preferida por pessoas que têm a noção da arte e do prazer..»


22 de Março de 1924


2 de Junho de 1925

Na passagem seguinte é explicada sucintamente a diferença entre club nocturno e cabaret

«Noutra perspectiva, os clubes individualizam-se conquistando uma posição na hierarquia social distinta dos restaurantes e casas de pasto, leitarias ou cafés, pelas particularidades que lhe imprimem o cunho de novidade e sofisticação: uma delas, é a jazz-band. Apesar de também servirem refeições e estarem abertos depois das 0 h – o Bristol Club publicitava a sua ceia na imprensa bem como o Salão Alhambra ou o Olímpia – os clubes noturnos afastam-se dos restaurantes pela presença do ring no seu espaço, as luzes elétricas, o barulho frenético do jazz e a contorção dos corpos a dançarem o foxtrot e o charleston – "A humanidade já não marcha: dança…" .
Outra das grandes diferenças entre estes estabelecimentos reside no facto de os clubes eram locais semipúblicos, de entrada paga - exceto para portadores de bilhetes de identificação, semelhantes a cartões de sócios - sendo a clientela selecionada por um porteiro que se torna também ele, uma figura mítica associada a estes equipamentos, como o porteiro do Alster Pavillon.
Relativamente ao horário de funcionamento, poderá ser sucintamente enquadrado: às 20h o jantar dos empregados; às 23h chegavam os primeiros clientes, existindo um pico por volta das 24h quando chegavam clientes de outros espetáculos; às 02h ceava-se e era a hora mais concorrida do dancing. Depois das 03h, aparentemente, ficavam somente os jogadores até perto das 06h.» (*)

«O cabaret já á mais volúvel, mais ruidoso, mais movimentado e a ele está ligado uma ideia de boémia e de cenas galantes» .  in: revista "ABC" de 6 de Janeiro de 1927

Há mesmo os que alertam para a necessidade de multiplicar estes últimos. «A nossa época, complexa e trepidante, tem uma diversão própria, característica, inédita, que não tem antecedentes e que dificilmente terâ consequentes. Queremos falar do Cabaret, esse teatro sem bastidores, essa amálgama de dancing e casa de chá (...)  ê pois preciso modernizar as nossas cidades, dando aos clubs a feição nítida de cabarets, creando quanto antes essas lanternas mágicas de alegria» in: revista "ABC" de 25 de Agosto de 1927.

15 de Junho de 1925

Entretanto, no jornal "Diario de Lisbôa", de 11 de Julho de 1925 ...

«O Alster Pavillon continua sendo, pelos seus numerosos atractivos, o melhor cabaret de Lisboa.
Querem passar uma noite alegre? Uma noite de imprevisto, com musica, sensações e bons espectaculos de carte? Ide ao Alster Pavillon, que todas as semanas renova o seu programa teatral.
Lolita Pinet, a mais graciosa bailarina e a mais extraordinaria coupletista que tem vindo a Lisboa, conquistou o publico, na primeira Doite que se apresentou. Dansando com entusiasmo, num delirio estonteante de linhas, cantando o amor, a paixão, a merte e o ciume  - os frequentadores do Aister Pavillon todas as noites se sentem arrastados e entusiasmados pelo maravilhoso poder artistico da linda Lolita Pinet.
Boa musica, musica moderna, com abismos de ritmo desencadeado, onde o coração estremece de loucura, febril, ancioso e doloroso, só a que se ouve no Aister Pavilion, maravilhosamente interpretada pela Troupe Gounod.
O Alster Pavillon é a grande estrela vermelha das noites de Lisboa, a boite de alegria, sempre cheia e bem frequentada.» 


27 de Setembro de 1925


25 de Fevereiro de 1926

Contudo podemos, dizer que o tipo de cabaret mundano e cosmopolita não existiu em Portugal. Apenas verificámos um estabelecimento que assim se autodenominou nos anos 20 do século XX - o "Alster Pavillon". Todos os outros, que apresentam características semelhantes ao cabaret moderno, são os clubs-dancing de topo.

O "Alster Pavillon", que se fazia anunciar como o «Único cabaret artístico de Lisboa», não gozava de boa fama, como o demonstra a passagem do romance  «A virgem do Bristol Club», do Repóeter X:

«A «ex», está pilulas!
A «ex», deu no ordinário!
A «ex», esiá aqui está no Alster Pavillon»
 

Outro famoso cabaret em Lisboa dos anos 20 do século XX, foi o "Bal-Tabarin - Club Montanha" desde 1921 e cuja história pode consultar neste blog no seguinte link: "Ritz Club e Club Montanha"

9 de Fevereiro de 1928

Bibliografia:

(*) - Monografia realizada no âmbito da finalização do curso de História da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia de Lisboa de.Manuel Domingos de Moura Teixeira - "Mundanismo, Transgressão e Boémia em Lisboa dos anos 20: o Clube Noturno como paradigma -, 2012

 - "Os Night Clubs de Lisboa nos anos 20" de Júlia Leitão de Barros, 1990 

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaCasa Comum