A ourivesaria, joalharia e relojoaria "Barbosa, Esteves & C.ª ", foi fundada em 1902 por Daniel Barbosa, Joaquim Esteves Nogueira, Albano Barbosa e José Joaquim Barbosa, que abriram a sua primeira loja na Rua da Prata, 295, em Lisboa.
"Barbosa, Esteves & C.ª", na Rua da Prata 295, em foto de 1946
1905
Trabalhando na melhor harmonia e com um aprumo moral e técnico deveras apreciável, os sócios da sociedade recém-criada imprimiram-lhe notável incremento comercial, impondo-se à preferência de escolhida e numerosa clientela.
Correspondendo ao acolhimento recebido, em 1906 Barbosa, Esteves & C.ª pôde tomar de trespasse a Ourivesaria da Moda, na Rua Prata, 257, que remodelou com segura visão mercantil.
Prosseguindo dinamicamente a obra que estavam fomentando com o mais lisonjeiro dos êxitos, no ano de 1910 a firma adquiriu também a «Tabacaria Gusmão», instalada no torreão da Praça da Figueira, esquina da Rua da Betesga e Rua dos Correeiros, a qual a adaptou inteiramente à sua especialidade, pois até então essa casa, já existente há cêrca de cincoenta anos, explorava o negócio mixto de tabaco e ourivesaria, para o que havia sido dividida em duas secções autónomas. Como, porém, em 1928, a Câmara Municipal exigisse a transformação do negócio no quadro geral do mercado, Barbosa, Esteves & C.ª viu-se obrigada a iniciar nela o comércio de frutaria, que ainda hoje mantém. Compensando largamente as contrariedades sofridas, em 1938, como atrás referimos, ocupou a Ourivesaria Moitinho.
Para que as transacções da casa se realizassem neste progressivo ritmo tornou-se necessário a inclusão dentro da firma de dois elementos que desde há muito vinham trabalhando para a sua expansão : Maximino Esteves de Araújo e seu irmão António Esteves de Araújo, ainda parentes dos fundadores. O primeiro ingressara ao serviço do estabelecimento em 1904 e o segundo em 1906. Graças às qualidades que demonstraram e à valiosa cooperação que emprestaram ao movimento crescente da organização, a ambos lhes foi dada sociedade em 1922.
Depois da morte dos fundadores, Maximino Esteves de Araújo e António Esteves de Araújo assumiram a sua posição na sociedade e são hoje os únicos proprietários da firma que, impulsionada pela sua superior orientação, continuou consolidando de uma maneira extraordinária o prestígio alcançado, de molde a merecer agora a preponderância que brilhantemente exerce na praça de Lisboa, onde o seu nome é tido no maior aprêço.» Texto retirado do livro "Praça de Lisboa" organizado por Carlos Bastos (1946).
Em 31 de Dezembro de 1913, o jornal "A Capital" noticiava dois roubos um dos quais na "Barbosa, Esteves & C.ª", e que passo a transcrever:
Cerca das 14 horas, chegou ao governo civil um automovel conduzindo o agente Tavares e um individuo, trajando elegantemente, fato azul escuro, grande cacheol a roda do pescoco e chapeu molle, verde. Esse desconhecido, que tinha typo de estrangeiro, foi levado para o gabinete do ajudante do director da policia de Investigação e alli largamente interrogado pelo sr. dr. Abrahão de Carvalho. Findos esses interrogatorios, o preso recolheu ao calabouço n.° 9.
Pelas investigacões a que procedemos, conseguimos apurar que essa prisão foi efetuada pelo agente Tavares na casa de umas francezas, na rua da Gloria, 69, 1.°. Tambem soubemos que, alem d'esta prisão, foram detidas mais duas raparigas francezas, uma das quaes foi pouco depois posta em liberdade, um hespanhol e um outro individuo francez.
Como é natural, a policia guarda a mais absoluta reserva sobre taes detenções. Todos os presos recolheram incommunicaveis a varias esquadras.
Mals soubemos que o hespanhol que se encontra detido e um dos que ora accusado do fazer parte da quadrilha que ha tempos praticou o celebre assalto a ourivesaria da Guia. Por essa occasião o accusado foi, juntamente com os outros, enviado para a Boa Hora e depois mandado em liberdade, por falta de provas.
O agente Correia, do posto anthropouetrico, esteve hoje durante, a tarde examinando varias impressões digitaes, a fim do verificar se ellas condizem com as dos individuos presos e com as que foram encontradas na porta da ourivesaria dos srs, Barbosa, Esteves & C.ª»
Em 1938, a "Antiga Ourivesaria Moitinho", de "Santos & Pimenta, Lda.", passou para a posse da "Barbosa, Esteves & C.ª".
Em 1 de Outubro de 1942, era inaugurada A "Ourivesaria Portugal", na Praça D. Pedro IV (Rossio), gaveto com a Rua da Betesga, em Lisboa, sendo seus proprietários, Afonso Teixeira de Carvalho, António Esteves Nogueira e Amândio Gonçalves Barbosa, estes dois últimos ambos de Monção e «dois homens novos, mas antigos profissionais muito conhecidos no comércio de ourivesaria.»
António Esteves Nogueira tinha saído de Monção cerca de 1918 para se empregar na ourivesaria "Barbosa, Esteves & C.ª", na Rua da Prata, onde se manteve por vinte anos, trabalhando em várias funções, até lhe ser confiada a gerência de um dos estabelecimentos da firma. Amândio Barbosa, chegou a Lisboa, em 1920 para ingressar como marçano na ourivesaria "Narciso Barbosa, Lda." na Rua da Madalena, 38, mudando-se, 12 anos depois, para a "Barbosa, Esteves & C.ª", como empregado de balcão. Entretanto, conhecendo profundamente o ramo e animados pelo desejo de autonomia, deliberaram ambos estabelecerem-se por conta própria. Dentro de um espírito de fraternidade e harmonia, pondo em prática tal projecto, despediram-se da "Barbosa, Esteves & C.ª" para fundarem a "Ourivesaria Portugal", em sociedade com Afonso Teixeira de Carvalho, que para tal criaram a firma "Carvalho, Nogueira, Barbosa, Lda."
Por escritura pública de 22 de Maio de 1959, a firma "Barbosa, Esteves & C.ª" é transformada em sociedade por quotas de responsabilidade limitada, e é acrescentado o "Lda." à sua denominação, passando a denominar-se definitivamente "Barbosa, Esteves & C.ª, Lda.". Ao mesmo tempo o capital social passou para 300.000$00, repartido igualmente pelos dois sócios-gerentes, Maximino Esteves de Araújo (150.000$00) e António Esteves de Araújo (150.000$00). Nesta data a empresa era detentora da "Antiga Ourivesaria Moitinho", da loja principal "Joalharia Barbosa, Esteves", ambas na Rua da Prata, da "Grande Ourivesaria da Moda" e do prédio onde esta última estava instalada, ou seja na esquina da Rua da Prata, 257 com a Rua de Santa Justa, 34.
A ourivesaria principal "Barbosa, Esteves" nos 293-297 da Rua da Prata, foi alvo de diversas obras que lhe conferiram o aspeto que se manteve até ao fim; as mais significativas tiveram lugar entre 1927 e 1932, segundo projeto dos arquitectos Luis da Cunha e José Ângelo Cottinelli Telmo, e, depois, entre 1974 e 1979 quando o estabelecimento foi ampliado sob a direção do engenheiro Augusto Relvas Pires, passando, então, a ocupar também o espaço de uma antiga leitaria e a dispor de um piso em cave construído com requisitos especiais de segurança para acolher o cofre e uma sala de exposição.
O projeto de arquitetura de 1927 foi muito arrojado para a época. A experiência do arquitecto e cineasta José Ângelo Cottinelli Telmo (1897-1948) nas artes gráficas, e a sua especial apetência pelo detalhe ornamental permitiram-lhe o uso de materiais modernos para além das fórmulas mais convencionais, nomeadamente, pintura a alumínio, placas lisas de marmore colorido, paineis de espelho e ferragens niqueladas.
Em 2018 esta loja encerraria em definitivo e a firma "Barbosa, Esteves & C.ª, Lda.", liquidada e dissolvida no ano seguinte em 2019, já com todos os seus três estabelecimentos encerrados. O estabelecimento ainda reabriria em 2020, como loja de souvenirs, mas encerraria alguns meses depois ...
Após o que ... Em 19 de Outubro de 2020, o Gabinete da Secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, «classifica como monumento de interesse publico a Ourivesaria Barbosa e Esteves, incluindo a cave com acesso pelos mesmos numeros de polícia e o patrimonio movel integrado, na Rua da Prata, 293 a 297, em Lisboa, freguesia de Santa Maria Maior, concelho e distrito de Lisboa.»
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa,, Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo


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