Restos de Colecção: "Chat Noir" - Café Concerto

24 de novembro de 2023

"Chat Noir" - Café Concerto

O café-concerto, brasserie française, e café-teatro "Chat Noir", abriu no início de 1893, na Rua do Alecrim, 23 em Lisboa. Era seu proprietário um francês de apelido Vuatelet. Foi uma « ... casa francesa onde se fizeram grandes pândegas com mulheres.»

"Chat Noir" com a sua tabuleta, à esquerda na foto (no rectângulo a vermelho)


Na revista "António Maria" de 23 de Fevereiro de 1893


No extremo sul do prédio ao lado do carro branco, onde está a tabuleta era o entrada do "Chat Noir"

Em 18 de Novembro de 1881 era inaugurado o que viria a ser considerado o mais importante de todos os cabarets da história, génese do cabaret moderno: "Le Chat Noir". Fundado por Rodolphe Salis (1851-1897) no bairro boémio de Montmartre, em Paris, era um estabelecimento totalmente intimista e informal, ocupando pouco mais de 15 m2. Comportava aproximadamente cinquenta pessoas, que bebiam, fumavam e conversavam, enquanto assistiam a uma série de apresentações artísticas, apresentadas pelos próprios artistas do local, frequentemente acompanhadas ao piano. Era o que se chamava um "café-concerto".


Rodolphe Salis (1851-1897)


Exterior e interior do "Chat Noir em Montmartre - Paris


«Morto Salis, a cerveja e o espirito da rue Victor Massé nunca mais tiveram o sabor que então tinham. E o Chat Noir começou a decahir. Demoliram-lhe as tradições; agora estão a demolir-lhe a casa. Tout passe!» in: revista "Serões" de 2 de Agosto de 1905.

Seria no "Chat Noir" parisiense que em 9 de Agosto de 1889, teria lugar uma homenagem a Raphael Bordallo Pinheiro (1846-1905), numa em soirée oferecida por Rodolphe Salis, fundador e proprietário deste cabaret.

Na revista "Arte Musical" de 15 de Junho de 1907, a propósito dos "Chat Noir" francês e português pode-se ler:

«Ha em Paris um cabaret, que quasi todos os estrangeiros visitam e que se chama o Chat Noir. Nada tem que vêr com o seu defunto (?) homonymo de Lisboa, a não ser por, n'um e n'outro, correr a cerveja a jorros... ; e mesmo assim pode muito bem dar-se que os taes jorros, na lojeca da rua do Alecrim, não passem d'uma figura rethorica um pouco descabellada. (...)
No theatro do Chat Noir o espectaculo é, como se pode suppôr, leve e despretencioso, mas não descamba nas vergonhas artisticas que por cá temos presenciado em tentativas similares.»


Na revista "António Maria" de 15 de Abril de 1893


6 de Agosto de 1893


Na revista "António Maria" de 26 de Agosto de 1893


17 de Março 1894

«Ha uns trinta annos, pouco mais ou menos, havia dois cafés na rua do Alecrim: o café de Paris, defronte do actual Chat Noir, pertencente ao José Maria, que morreu corretor do hotel Alliance, e o café do Hoffmann, n'um primeiro andar junto ao Arco Pequeno.»

Três referências ao "Chat Noir":

Em 1899, no livro "Lisboa d'Outros Tempos" de Pinto de Carvalho (Tinop):

«Ha uns trinta annos, pouco mais ou menos, havia dois cafés na rua do Alecrim: o café de Paris, defronte do actual Chat Noir, pertencente ao José Maria, que morreu corretor do hotel Alliance, e o café cio Hoff- mann, n'um primeiro andar junto ao Arco Pequeno.»

Na revista "A Paródia" de 11 de Fevereiro de 1904 ...

«A sogra do Conselheiro Falhado invectiva seu genro por motivos de privação domestica, que trazem inconsolavel sua pobre filha.
-O senhor é um perfido ! O senhor é um estroina! O senhor, na sua edade e na sua posição, não devia sair de casa á noite!,
- Mas ... ,
- Aqui não ha mas; nem meio mas! Deixe-se de forças ! O senhor gasta tudo quanto tem com as pecoras do Chat noir e depois volta para casa sem trazer sequer com que occorrer aqui ás primeiras e mais sagradas necessidades ... »


Ambos os anúncios são de um programa do "Theatro Nacional D. Maria II" de 5 de Maio de 1894



11 de Abril de 1897

No livro "Almas Femininas" de Maria O'Neill, de 1917 ...

«- São vulgares, mesmo nos homens mais sérios, estas verduras loucas, proprias dos poucos annos. A's vezes acompanham-nos durante toda a vida; mas o mais natural é pôrem-nas ode parte ao encarar a existencia pelo lado sério e pratico.
- E é esse o caso de Jorge?
- Assim o creio. Tinha uma d'essas ligações passageiras com uma hespanhola elegante e graciosa, que encontrou n'um café que ahi ha, chamado o Chat Noir. Ella cançou-se de o aturar e deixou-o.»


1900


Última referência que encontrei ao "Chat Noir", em 1904

O "Chat Noir" encerraria em 1905 e seria substituído pela "Cervejaria Alemã". Em 1943, já era o "Alecrim Bar".


Janeiro de 1943

Entretanto em 25 de Outubro de 1913, tinha surgido o seguinte artigo na revista "A Construção Moderna e as Artes do Metal":


fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, Le Chat Noir Restaurant

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