Restos de Colecção: Papelaria da Moda

7 de abril de 2021

Papelaria da Moda

A "Papelaria Vieira", (futura "Papelaria da Moda") foi fundada em 7 de Março de 1915, por António Pina Vieira, na Rua do Ouro 167-169, nas antigas instalações da papelaria do antigo palhaço Wythoine do "Theatro-Circo de Price".


António Pina Vieira, natural de Amieira, concelho de Niza, tinha iniciado a sua carreira profissional em Lisboa em 1895, com dez anos de idade. Começando a trabalhar na casa de fazendas "Barbosa & Barbosa"  (mais tarde adquirida pela "Eduardo Martins, & C.ª "), transitou, depois, para a papelaria "Estevão Nunes & Filhos", na Rua do Ouro. Aí deu os primeiros passos no ramo, a qual abandonou voluntáriamente para ingressar na "Papelaria Progresso", na mesma rua, onde aperfeiçoou os conhecimentos anteriormente adquiridos.


António Pina Vieira

Quanto à "Papelaria Vieira" (futura "Papelaria da Moda")  o jornal "A Capital" em Agosto de 1916, escrevia:

«Nos nos 167 e 169 está presentemente instalada a Papelaria Vieira, cuja especialidade consiste na venda de penas com tinta, tendo uma collecção enorme e riquissima.
Antes estava ali uma casa de brinquedos varios, pertencente ao sr. Antonio Candido de Menezes. Foi nessa loja que o palhaço Wythoine teve a sua tabacaria. É curiosa a historia d'esse palhaço, que trabalhou com Sechi e Alfano, no Circo Price, à esquina da travessa das Vaccas. Sahindo d'essa casa de espectaculos, Wythoine fundou a empresa de onde sahiu a do Colyseu dos Recreios, dando-lhe o nome "Lisbon Pavillon and Summer Garden's". Mais tarde, porém, como fosse posto fóra da empreza, fundou a tabacaria alludida, onde passou o resto da vida.
A papelaria Vieira está na antiga loja de Whythoine ha dois annos o maximo. Entretanto, conta já uma notavel clientella, recrutada na alta roda lisboeta, sendo notavel o negocio que ella faz de penas com tinta e dos respectivos acessorios. Na sua especialidade, esta casa virá dentro em pouco a ser uam das mais importantes de Lisboa.»




Interior da "Papelaria da Moda" aquando da "Semana dos Artistas", em 24 de Janeiro de 1928


1920


Carro alegórico da "Papelaria da Moda", nas "Festas da Cidade de Lisboa" em Junho de 1928

A, já "Papelaria da Moda", foi acolhida com lisonjeiro êxito e António Vieira soube imprimir-lhe todo aquele desenvolvimento que pretendia. Rápidamente cresceu o número de clientes e se tornaram exíguas as dependências, facto que levou o proprietário a ampliar o seu negócio ao prédio anexo, nos 171 e 173, após grandes obras de transformação e adaptação, que deram ao estabelecimento um belo aspecto, compatível com o progresso atingido.


Janeiro de 1930


"Papelaria da Moda", já propriedade da empresa "Vieira & Cª." viria a ser, a partir de 1935, importadora e representante para Portugal das canetas "Parker". A partir dos anos 50 do século XX passaria a importação desta marca de canetas, a ser feita por outra empresa da família a "Vialga - Representações S.A.R.L." sediada na Avenida António Augusto de Aguiar, em Lisboa.

Além de ser societário da "Papelaria Progresso", António Vieira fez parte, entre outras, da firma "Palhares, Lda.", com oficina de encadernação na Rua Almirante Pessanha, 11 e da "Relojoaria Girassol", por ele fundada na Rua do Ouro,161.


1930



1935


1936






1959

A "Papelaria da Moda", viria a sofrer obras de remodelação de interiores, em 1948 sob projecto do engenheiro Francisco Silva Mata. Em 1969 seria alvo de outra intervenção desta vez pelo arquitecto Raúl Hestnes Ferreira (1931-2018), tendo reaberto a 18 de Dezembro do mesmo ano, precisamente 8 anos após a reabertura da "Papelaria Progresso", após obras de renovação como já aqui referenciado.



1969



Variantes de montras da "Parker"

Por essa ocasião o jornal "Diário Popular" escrevia:

« (...) É curioso salientar que o seu fundador, Sr. António Pina Vieira, cerca de 1915, lançou no mercado português a caneta de tinta permanente.
Sendo, portanto, a mais antiga papelaria da Baixa, alia uma experiência de quase meio século a um sentido prático de actualização e bom gosto. As suas amplas secções de artigos de escritório, papelaria, pintura e desenho oferecem ao cliente a possibilidade de uma escolha fácil e a rápida aquisição de qualquer artigo.»


1949


1955

Maria Violante Vieira e Maria Antónia Vieira Gagean sucederam a seu pai António Pina Vieira, na firma "António Vieira, Lda." e à frente das "Papelaria Progresso", da "Papelaria da Moda", e do escritório "Vialga - Representações S.A.R.L", representante de diversas marcas como a "Parker", "Ronson" e outras. Maria Violante Vieira afastou-se da gerência nos anos 70 do século XX, para se dedicar exclusivamente ao "Comité Português para a UNICEF".



A "Papelaria da Moda" viria a encerrar, definitivamente, por volta de 2010, e em 2013 foi adquirida pela "Papelaria Fernandes" (fundada em 1891), passando a ser designada por "Papelaria Fernandes - Loja Moda". «A loja mantém o ênfase na escrita de prestígio, oferecendo ainda, uma oferta diversificada de gift, embalagem, papel e artigos de papelaria, bem como todos os exclusivos Papelaria Fernandes.»


2013


2018

3 comentários:

APS disse...

Uma maravilha!
Parabéns pelo seu aturado trabalho e competente investigação (como é habitual...).
Saudações cordiais!

José Leite disse...

Eu é que agradeço a gentileza do seu comentário (como é habitual ...) :)

Os meus cumprimentos

José Leite

SSP disse...

Descobri hoje o seu blog e isto é realmente um incrível manacial para quem gosta de História e tem interesse em imagens de outros tempos.

Muito obrigada pelo seu trabalho de pesquisa e por trazer até nós factos novos e surpreendentes.