O "Restaurante Aviz" abriu pela primeira vez as suas portas na Rua Serpa Pinto, 12-C, em Lisboa, em 1962. Teve a sua gênese no famoso "Aviz Hotel" (inaugurado em 24 de Outubro de 1933), implantado na Avenida Fontes Pereira de Melo e entretanto encerrado em 1961 (e demolido em 1962) donde Anthony Ruggeroni, Alberto Rapetti, o barman António Fadda e o chef João Ribeiro constituíram a sociedade "Locanda Aviz do Chiado, Lda." com sede na Rua Serpa Pinto, 12-C.
Localização do edifício na esquina da R. Garrett com a Rua Serpa Pinto
Nota - a enumerar outros estabelecimentos (da esquerda para a direita): "Sapataria Chiado", "Sapataria Garrett" (ambas da firma "Castella, Lda.); "Farmácia Durão" e "Garcez, Lda." do fotógrafo Arnaldo Garcez. Nas sobre-lojas: os laboratórios de "Garcez, Lda." e um salão de cabeleireiro.
No mesmo 1º piso do nº 12, tinha funcionado outro não menos famoso e luxuoso restaurante, o "Restaurant Club", também de apelidado de "Restaurant Silva" e inaugurado em 3 de Dezembro de 1874, na ainda Travessa Estevão Galhardo, actual Rua Serpa Pinto (desde 1885). Foi seu proprietário José António da Silva. Existiu até 1937. No seu lugar ali se instalaram os escritórios da firma americana "Remington Tipewriter Company, Portugal", que representava e distribuía as máquinas de escrever "Remington" no nosso país. Acerca da história do "Restaurant Silva" consultar neste blog o seguinte link: "Restaurant Club" no Chiado
Anúncio de 6 de Maio de 1875 e fotografia de 1939
O novo "Restaurante Aviz" era um luxo. Uma escadaria revestida a azulejos pintados, um bar com balcão em madeira maciça, bancos de cabedal verde marroquino e sofás de veludo, salas com paredes revestidas a seda, cortinados elegantes, espelhos, estátuas, cristais e as pratas de sempre. E ainda curiosidades, como a coleção de relógios de bolso oferecidos pelos clientes.
«Em meados dos anos 60, Carlos Monjardino trabalhava na banca e começa a levar convidados almoçar ao Aviz do Chiado. Ficavam “impressionadíssimos com o espaço e a qualidade da comida, que era uma coisa absolutamente fantástica”, cada vez mais sofisticada e aperfeiçoada. Clássicos como os patés de fígados de aves ou de porco, os “Lagostins”, o “Chateaubriand com molho Béarnaise”, o “Tornedó Rossini”, a “Santola recheada à Aviz” e a “Lagosta”, “Bacalhau à Conde da Guarda”, a “Perdiz à Convento de Alcântara” ou à “Serra Morena”, “Filetes de linguado com laranja e cogumelos”, o “Bacalhau à Gomes de Sá”, que “dizem ser o melhor do país”, refere Monjardino, que recorda ainda o “Frango à Kiev”, que é uma das perdições de Francisco Pinto Balsemão, e os “Crepes flambeados à Aviz”. Apreciadas eram ainda as “Borboletas de gambas à moda do Aviz”, que consistiam num camarão tigre aberto ao meio, panado e acompanhando com arroz de passas e pinhões. Em 1974, o Aviz conquistou uma Estrela Michelin, coroando o talento de João Ribeiro. Foi renovada até 1976.
Depois da Revolução de Abril, o restaurante perdeu muitos clientes habituais. Um dia, Monjardino repara no “ar tristíssimo” dos empregados e disponibiliza-se para ser sócio. “O que é que eu fui dizer...”, confessa. Passou a ser sócio minoritário e, mais tarde, maioritário. “Custou-me largos milhares de contos por ano, saídos da minha algibeira, durante não sei quanto tempo. Não queria que o Aviz acabasse, era uma pena desaparecer o nome, o seu simbolismo era muito grande. (…) Continuei alegremente a perder dinheiro, todos os anos, mas isso era uma opção minha, queria era manter o restaurante aberto”, justifica. Conseguiria fazê-lo durante muito tempo, também com a ajuda de outros investidores, como Jardim Gonçalves, Américo Amorim e a família Espírito Santo. (…)
Carlos Monjardino, Luiz Felipe Scolari e Gilberto Madaíl no "Restaurante Aviz"
O restaurante tinha fumeiro próprio, por onde passavam o salmão, o espadarte, sável e pato. Aí mesmo encontramos, em fotos antigas, o cozinheiro Fernando Amaral, que começou a trabalhar no Aviz do Chiado em 1982, já Abel Barbedo lá estava na cozinha. Foi com o chef Armando que aprendeu “quase tudo” nesta cozinha de exceção, que era uma autêntica escola. “Quando lá cheguei, o restaurante era muito bonito e o melhor de Lisboa. O Aviz e o Tavares eram os únicos restaurantes de luxo”, assinala Fernando, que se lembra de um pormenor delicioso: quando o chef Ribeiro reaparecia de visita no Chiado, “já velhote”, Armando Valente de Sousa cedia-lhe o lugar, para que o mestre “se sentasse sempre no lugarzinho dele, na cozinha”, em deferência ao seu enorme legado. » in: "Expresso 50 anos, 50 Restaurantes" - autor: Pedro José Barros - 15 de Dezembro de 2022.
Em novembro de 1995, o "Restaurante Aviz", teve de mudar de instalações, e em Fevereiro de 1996, mudou-se para o "Centro Comercial das Amoreiras", funcionando só ao almoço. Em Setembro de 2001 muda-se, de novo, para o Monte Estoril, num espaço da "Fundação Oriente". Porém, o resultado, segundo o próprio Carlos Monjardino «foi uma desgraça».
Em 2005, ano que se comemorou o 50º aniversário da morte de Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), foi inaugurado na Rua Duque de Palmela, junto ao Marquês de Pombal, o "Hotel Aviz", propriedade da "Fundação Oriente" de Carlos Monjardino, e proprietária do "Restaurante Aviz". Uma das grandes apostas do novo hotel foi o também a recriação do célebre “Restaurante Aviz” que, depois de ter passado pelo Chiado, Amoreiras e Estoril, regressava, agora, às suas origens, mantendo não só as suas receitas e uma garrafeira de excepção, como também, na sua decoração, peças do restaurante original.
«Dessa sala no primeiro andar da Rua Serpa Pinto resta hoje, no novo Aviz na Rua Duque de Palmela, onde esta viagem começou, resta… quase tudo. Está lá a baixela de prata Christofle, o serviço Vista Alegre, a colecção de relógios de bolso oferecidos por clientes e expostos em antigas chaves do hotel, a estátua de uma índia, os banquinhos verdes para apoiar os pés ou pousar as malas, o carrinho das bebidas em prata e o rechaud, onde ainda se trincha o rosbife e se servem os molhos. Está o atencioso Américo Miranda, chefe de sala e guardião das tradições de sempre. E, na cozinha, Cláudio Pontes respeita e reinventa os grandes clássicos do mestre João Ribeiro, acrescentando as suas criações - e em cada prato, cada faca, cada garfo, vigia, atenta, uma águia de asas abertas.» in: "Público" autora: Alexandra Prado Coelho - 6 de Abril de 2014.